Mediunidade Gratuita
Os médiuns modernos - pois os apóstolos também tinham a mediunidade -
também receberam de Deus um dom gratuito: o de serem os intérpretes
dos Espíritos para a instrução dos homens, para mostrar-lhes a estrada
do bem e conduzi-los à fé, e não para vender-lhes palavras que não lhes
pertencem, porque não são produto de sua concepção, nem de suas
pesquisas, nem de seu trabalho individual. Deus quer que a luz alcance
todos; não quer que o mais pobre fique deserdado dela, e possa dizer:
Não tenho fé porque não a pude pagar; não tive a consolação de
receber os encorajamentos e os testemunhos de afeto daqueles que
choro, porque sou pobre. Eis porque a mediunidade não é um privilégio,
e se encontra em toda parte. Portanto, cobrar por ela seria desviá-la de
sua finalidade providencial.
Todo aquele que conhece as condições nas quais os bons Espíritos se
comunicam e a repulsa deles por tudo o que é de interesse egoísta,
e que sabe quão pouco é preciso para afastá-los, esse nunca poderá
admitir que Espíritos superiores estejam à disposição do primeiro que os
convoque, a tanto por sessão. O simples bom senso rejeita tal pensamento.
Também não seria uma profanação evocar por dinheiro os seres que
respeitamos ou que nos são caros? Mas, sem dúvida, também é possível
haver manifestações desse tipo; no entanto, quem poderia garantir sua
sinceridade? Os Espíritos levianos, mentirosos, travessos, e toda a
multidão de Espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, sempre
vêm e sempre estão prontos a responder ao que se lhes pede, sem
preocupação com a verdade. Aquele, pois, que quer comunicações sérias,
deve primeiro pedi-las com seriedade, e, depois, instruir-se sobre a natureza
das simpatias do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira
condição para se obter a benevolência dos bons Espíritos é a humildade,
o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material.
Ao lado da questão moral apresenta-se uma consideração efetiva,
não menos importante, que atém à própria natureza dessa faculdade.
A mediunidade séria não pode ser - e nunca será - uma profissão.
Não apenas porque seria desacreditada moralmente, e logo assimilada
aos ledores da sorte, mas porque um obstáculo material se opõe a isso:
a mediunidade é uma faculdade essencialmente instável, fugidia e variável;
ninguém pode contar com sua permanência. Portanto, para o explorador,
seria um recursos totalmente incerto, que pode lhe faltar no momento
em que mais lhe seria necessário. Coisa diferente é um talento adquirido
através do estudo e do trabalho, e que, por isso mesmo, é uma propriedade
da qual naturalmente se permite tirar proveito. Mas a mediunidade não é
uma arte nem um talento, e por isso não pode tornar-se uma profissão.
Só existe pelo concurso dos Espíritos; se faltarem esses Espíritos, não há
mais mediunidade. A aptidão pode substituir, mas seu exercício fica anulado.
Além disso, não há um só médium no mundo que possa garantir a obtenção
de um fenômeno espírita num momento determinado. Portanto, explorar a
mediunidade é dispor de algo sobre o qual não se é o real dono. Afirmar o
contrário é enganar quem paga. E mais: não é nem de si mesmo que se
dispõe, é dos Espíritos, das almas dos mortos, em cujo concurso se põe
um preço; esse pensamento repugna instintivamente. É esse tráfico,
degenerado pela superstição que motivou a proibição de Moisés[¹].
O Espiritismo moderno, compreendendo o lado sério da coisa - devido
ao descrédito que se lança sobre essa exploração - elevou a mediunidade
à categoria de missão. (Ver O Livro dos Médiuns, Segunda Parte,
cap. XXVIII; O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. XI.)
A mediunidade é uma coisa santa que deve ser praticada de forma santa,
religiosamente[²]. E se há um tipo de mediunidade que requer essa
condição de uma maneira ainda mais absoluta, esse é o da mediunidade
curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, que muitas vezes fez à
custa de sacrifícios penosos. o magnetizador dá seu próprio fluido,
frequentemente sua própria saúde; eles podem pôr seu preço.
O médium curador[³] transmite o fluido salutar dos bons Espíritos:
não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, embora pobres,
não cobravam as curas que operavam.
Portanto, aquele que não tem do que viver procure recursos alhures,
e não na mediunidade. Que consagre a ela, se preciso for, apenas
o tempo do qual pode dispor materialmente. Os Espíritos irão render-lhe
contas de seus devotamento e de seus sacrifícios, ao passo que se afastarão
dos que esperam tornar-lhes seu arrimo.
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, por Allan Kardec - Cap. XXVI - Mediunidade Gratuita)
[¹] - Em seu tempo, Moisés precisou se utilizar tanto de conhecimentos
sagrados para coordenar seu povo espiritualmente, como também se
utilizou de algumas leis mais "humanizadas", para conseguir lidar com
a índole dos povos de sua época. Eram muitas crenças, cultuavam-se
diversos Deuses e Dinvindades, e aliado ao desconhecimento espiritual
de muitos povos, cometiam-se atrocidades, tais quais sacrifícios, em
determinados cultos. Outro problema era a barganha, a troca pela
vil moeda, de que muitos se utilizavam para alcançar seus objetivos
mais egoísticos, com o mundo espiritual. Moisés era conhecedor das leis
espirituais, sabia da existência dos Espíritos, tanto sérios como
enganadores, e sabia que o intercâmbio com os Espíritos tinha sido
deturpado e invertido, através da barganha e comércio espiritual, por isso
criou leis que proibissem esse intercâmbio.
[²] - "Religiosamente", de maneira disciplinada, sistemática, ordenada, repetitiva.
[³] - Bom que deixemos claro uma coisa, médium curador, é aquele que
possui determinada faculdade, que é coisa bem rara, onde é dotado
de uma cota de magnetismo animal, fluidos ectoplasmáticos, acima do
normal, e que com o auxílio dos Espíritos benfeitores, ao simplesmente
tocar em alguém, cruzar um olhar ou dirigir uma rogativa a determinada
pessoa enferma, essa pessoa é curada quase que instantaneamente,
seja de doenças físicas, fluídicas ou espirituais, tais como obsessões mais
complexas.
Criou-se um chavão em diversos centros e agremiações religiosas,
onde se confunde muito a mediunidade de cura, com as técnicas
utilizadas para manipulação e potencialização do magnetismo do ser
humano, aliado aos Espíritos técnicos especializados na cura, os tão
conhecidos Passes.
Temos que compreender que as técnicas de aplicação magnética,
ou seja, os passes, podem ser executados de diversas maneiras, e não
é necessário que a pessoa seja um médium curador para tanto. O que
acontece nesses momentos de aplicação dos passes é que, aliado
ou não com bons Espíritas, o magnetizador doa de sua cota
energética, juntamente dos seus pensamentos e emoções, uma
certa parte que irá unir-se com o organismo da pessoa enferma,
e assim, irá movimentar certa quantidade vital de energia para que
o corpo dessa pessoa se cure aonde esteja enfermo. Durante os
passes nos Centros Espíritas, onde não existem incorporações para tanto
com os médiuns, os Espíritos se utilizam dessa doação consciente,
aliando seu próprio magnetismo astral com os médiuns, aplicando
essências naturais a esses fluidos, e juntamente com seus aparelhos
mediúnicos, ambos se utilizam de técnicas sérias e com fundamentos,
para efetivar os tratamentos de cura, que necessitam de continua
persistência e dedicação semanal dos atendidos.
Obs: Deixemos bem claro que esse trecho retirado de um dos livros
trazidos pelos Espíritos e codificado por Allan Kardec, é de aplicação
para todos aqueles que desejam ou já trabalham com as faculdades
mediúnicas e estudos em prol do bem da humanidade, independendo
de credo religioso.
As palavras que nos são ditas são bem claras, e nos alertam para os
perigos que iremos enfrentar se desejarmos negociar aquilo que
deve ser treinado, aprimorado e oferecido gratuitamente.
Que possamos abrir nossos olhos para a extensa gama de Cursos
Mágicos que nos são oferecidos; Centros e Terreiros milagrosos,
onde os guias resolvem tudo, cobrando ou não; Jogos de búzios
e leituras de cartas, das mais variadas, onde nos prometem tudo,
dizendo conhecer nossos ancestrais, Orixás e diversos guias.
Enquanto o ser humano não parar de barganhar com o outro
plano da vida, em busca de resultados imediatos e sem esforço,
continuaremos a encontrar diversos antros de enganação que se
denominam pertencerem a diversos segmentos, mas na maioria das
vezes destoam intensamente dos mesmos. Usemos do bom senso!
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