terça-feira, 17 de janeiro de 2017

15 dicas de como se portar na 

Umbanda: 15 - Tenha paciência com os mais novos e respeito pelos mais velhos 


15. Tenha paciência com os novos e respeito pelos mais velhos.
Nunca duvide do potencial de alguém.  Muitas vezes, quando um médium jovem começa seu desenvolvimento num templo de Umbanda, outros costumam torcer o nariz e se esquecem que um dia já estiveram nessa condição. Todos um dia começaram...  somos todos eternos aprendizes.

Por outro lado é comum (ainda mais em tempos de internet, que facilita o acesso a informações - nem sempre confiáveis) vermos o conhecimento dos mais velhos (e experientes) ser menosprezado ou colocado em dúvida.  Não podemos esquecer que a maior faculdade de Umbanda é o terreiro e os maiores mestres são os pretos velhos, caboclos, exus...  De nada valem cursos, faculdades, ter dado duas, três ou quatro obrigações aos orixás...   Nada disso equivale à experiência, e isso só se adquire com o tempo, que nem todos têm paciência para respeitar.

Então nunca esqueça: todos são importantes dentro de um ritual de Umbanda. Jovens que desenvolverão sua potencialidade e os mais velhos, que transmitirão seu conhecimento. A vida é uma eterna escola.

  14 - Fale menos e escute mais 


14. Fale menos e escute mais.
Somos todos meros aprendizes e se estamos em um templo espiritualista é porque os espíritos que ali se manifestam sabem mais que nós.  Os mais antigos na religião também, portanto é fundamental manter os ouvidos abertos aos ensinamentos e às experiências que eles podem nos transmitir.

Dizem os antigos que "quem fala demais dá bom dia a cavalo", ou seja, acaba falando besteira, perdendo a grande oportunidade de ficar calado.  Quem fala demais fala o que não deve, fala dos outros, é maledicente, inconsequente e se torna desagradável.  Quem fala demais é porque cuida demais do comportamento e da vida dos outros e, por consequência, deixa de fazer a sua parte.

Não deixe de falar o que é necessário, mas antes avalie se realmente aquilo é necessário, senão você acabará caindo em descrédito, pois é isso que fatalmente acontece com quem fala demais.  E quem fala de um, fala de todos.

Os antigos também diziam que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca justamente para ouvirmos mais e falarmos menos.  Sábios esses antigos...

 13 - Não apresse os acontecimentos; tudo acontece no tempo certo 


13. Não apresse os acontecimentos. Tudo acontece no tempo certo.
A maioria das pessoas que entra para a corrente de Umbanda é tomada por um certo fascínio, o que é perfeitamente compreensível, afinal ver a dança dos orixás, ouvir as entidades cantando seus pontos, o som dos atabaques é algo indescritível e só quem está dentro de um templo de Umbanda compreende.

Assim, os novatos na Umbanda ficam ávidos pelos acontecimentos. Querem a todo custo desenvolver a sua mediunidade, querem dar passagem aos seus guias, querem fazer obrigações, amacis, e tudo mais que faz parte do ritual.

Mas na Umbanda não existe curso supletivo. Tudo é fruto de caminhada passo a passo, sem atalhos.  É preciso paciência e resignação para vivenciar cada passo da caminhada do desenvolvimento. Primeiro sentir apenas alguns arrepios, depois a vibração das entidades e todo o processo até que elas tenham firmeza para estar realmente em terra e realizar seus trabalhos.

De nada adianta querer fazer obrigações a esse ou aquele orixá. É preciso antes de tudo estar preparado para fazê-los, pois é uma questão de responsabilidade, conhecimento e firmeza.

Cai em grave erro o médium que força a situação e coloca a carroça na frente dos bois.  Assim ele estará impedindo que a mediunidade realmente se manifeste e estará "furando a fila", impedindo que seus guias consigam realmente ter o controle da situação.

A Umbanda é uma escola e as conquistas vêm de degrau em degrau. E subir respeitosamente os degraus nos torna mais fortes, sábios, competentes e responsáveis.

12 - acate as regras do terreiro, elas são fruto de um trabalho construído 


12. Acate as regras do terreiro. Elas são fruto de um trabalho construído.
Lembre-se que quando você chegou ao terreiro ele já existia e as regras que o regem também.  Elas são fruto de um trabalho construído ao longo de anos, a partir das necessidades percebidas pelos dirigentes e pelas entidades da casa.  Cada vertente umbandista (e existem várias) segue uma tradição, portanto não tente impor ou subverter uma tradição que é nova para você.  Se em outro terreiro você praticava os rituais de uma forma diferente, lembre que você estava em OUTRO terreiro.

Você não é o dono da verdade e nem o juiz das situações. Muitas vezes não concorda com determinada regra ou forma de trabalho, mas ela foi instaurada a partir da observação atenta de quem já trabalhava na casa antes de você.  Se não concorda ou não entende, procure o dirigente e pergunte, mas não tente ser o revolucionário tentando levantar bandeiras que irão subverter o que já existia antes e que provavelmente você não sabe a razão.  Se essas regras e esses costumes existem é porque são necessários para o bom funcionamento dos trabalhos.

E mais importante ainda: JAMAIS USE O NOME DAS SUAS ENTIDADES para dizer que essa ou aquela regra está errada.  Errado está você ao não compreender que quando suas entidades aceitaram trabalhar naquela casa, automaticamente elas já aceitaram as regras que haviam lá.  Ao usar o nome das entidades para dizer o que você não teve coragem de dizer à paisana, você cai num duplo erro: o da insubordinação e o da mistificação. Então, se tiver que falar, fale por você, diga que VOCÊ não concorda, mas tenha fundamentos, argumentos sólidos e não esqueça que as regras já existiam quando você chegou lá e ao entrar, automaticamente você as aceitou.

 11 - Use menos o "eu" e mais o "nós"


11. Use menos o "Eu" e use mais o "NÓS".
Não se iluda. Sozinho você não abre uma gira de Umbanda. Sozinho você não dá passes, sozinho você não tem mironga e nem axé.

Sabe por que não?  Porque sozinho você é apenas o médium, o instrumento, a ferramenta.  Além dos seus irmãos encarnados, que fortalecem e fazem funcionar uma gira de Umbanda, você precisa dos orixás e dos seus guias (mentores), e sem eles você não é nada. Você não é um mago, um super-médium e nem nada disso.

Você é importante dentro dos trabalhos. Mas não é único e nem insubstituível, então pare de alimentar seu ego com falsas crenças num potencial ou num super-poder que provavelmente você não tem. Você terá sim, muita força para ajudar as pessoas, mas desde que tenha todos os seus irmãos fortalecendo a corrente, os guardiões dando a devida proteção, os orixás emanando as radiações necessárias e as entidades para falar através do seu aparelho.  Senão, você será só o aparelho...  desligado. Só isso.

Então pare de falar que fulano foi ao terreiro por causa do "seu" baiano ou do "seu" caboclo ou do "seu" preto velho.  Eles não são seus. Você que é um mero instrumento para a prática da caridade. E só será um instrumento eficiente se estiver de coração e espírito puro e estar puro inclui lavar-se do ego também.

Então, se  quer ser um bom trabalhador de Umbanda, pare com o estrelismo. Não precisamos disso. Deixe seu ego em casa, de preferência trancado num baú a sete chave e passe a usar o "NÓS" no lugar do "EU".  Afinal, já diziam os antigos, que uma andorinha só não faz verão... imagina uma gira de Umbanda então.

10 - Cuide da linguagem usada e dos assuntos abordados dentro do templo 

10. Cuide da linguagem usada e dos assuntos abordados dentro do templo.
O templo de Umbanda é nossa igreja, e assim sendo, merece todo nosso respeito. Não é um ambiente qualquer, não é um ambiente mundo e não deve ser profanado com palavras e assuntos inadequados.

Entendemos perfeitamente que além de ser a nossa igreja, é também o local onde encontramos nossos amigos, muitos dos quais só os vemos ali e só ali temos a oportunidade de conversar. No entanto, o respeito ao sagrado deve ser maior...  sempre.

A palavra tem poder, isso é fato aceito por praticamente todas as correntes espiritualistas.  Portanto, palavras de baixo calão não contribuirão em nada para o bom andamento dos trabalhos espirituais.  Ao contrário disso, servirão para dispersar a atenção e até mesmo os seres iluminados que se fazem presentes e primam pelo ambiente respeitoso.

Pior ainda é quando além de palavras chulas, os assuntos abordados são de mau gosto ou má intenção.  Fofocas, comentários maliciosos, abordagens deselegantes, piadas de mau gosto, maledicência... nada disso combina com o ambiente espiritualista e com certeza dão forças àqueles que querem  encontrar uma fragilidade para quebrar a corrente.

Portanto, cuide de seus atos e pensamentos, mas cuide também de suas palavras. Elas possuem mais poder do que você imagina e portando-se de maneira adequada, você estará contribuindo com os trabalhos mais do que imagina.

 09 - Não imite as atitudes de seus irmãos-de-fé e suas entidades; seja você mesmo 


09. Não imite as atitudes de seus irmãos-de-fé e de suas entidades. Seja você mesmo.
É muito comum, principalmente aos iniciantes na Umbanda, admirar um ou outro médium e suas entidades. É comum (e compreensível) também o desejo de ser como eles, afinal bons exemplos devem ser seguidos. No entanto, se olharmos nossas mãos, veremos que os dedos são todos diferentes, embora igualmente úteis e necessários.

Se um determinado médium, ao incorporar seu caboclo, usa um penacho na cabeça, não significa que você deve fazer o mesmo. Se ele faz isso (em se tratando de um médium sério), é porque aquele penacho possui algum fundamento e é, portanto, uma ferramenta de trabalho dele.  Se você, em sua admiração e deslumbre, fizer o mesmo ao incorporar seu caboclo, certamente o fará sem utilidade alguma, pois provavelmente seu caboclo não precisa de um instrumento de trabalho igual ao do outro.

Ou pior: provavelmente (e isso é mais frequente), você estará tomando a frente da entidade. Pois pediu um apetrecho de trabalho desnecessário, por pura vaidade e se é que havia um caboclo com você, ele se afastará.

O mesmo ocorre com postura.  Não é porque um exu, ao se manifestar, solta uma gargalhada, que todos devem fazer o mesmo, transformado uma gira que deveria ser séria, em uma disputa de gargalhadas, como se a entidade mais barulhenta fosse a mais habilitada e competente.

Mais habilitado e competente é o médium que se entrega sobriamente aos seus trabalhos, sem necessidade de espetáculos e sem querer imitar ninguém - nem encarnados ou desencarnados.  É aquele que deixa que a entidade tome conta da situação e guarda sua vaidade no íntimo do seu ser, entendendo que a entidade possui a sua personalidade e suas admirações pessoais e sua vaidade jamais devem interferir na manifestação dos espíritos que se manifestam para praticar a caridade.

Agindo assim, com sobriedade, você estará contribuindo para que suas entidades ganhem força e credibilidade. Para que sejam elas mesmas e que você comece a construir sua identidade espiritual, afinal assim como na vida material, no mundo espiritual também existe a personalidade e a individualidade, que devem ser respeitados.

 08 - Trate bem a assistência, um dia você esteve lá 


08. Trate bem a assistência. Um dia você esteve lá.
É fundamental lembrar que quem procura um templo de Umbanda geralmente o faz pela dor. Raros são os que o fazem por amor ou por curiosidade acadêmica (pesquisa), ou mesmo atendendo a um simples convite para conhecer o local.

O consulente chega ao templo, na maior parte das vezes, machucado, fragilizado, assustado e inseguro. Diante desse quadro psicológico é fundamental receber bem as pessoas, desde a sua entrada no recinto, cumprimentando-as com um singelo "boa noite", até o momento do atendimento e maiores orientações.

Somos o espelho daquilo que praticamos.  Se nos portarmos com civilidade e gentileza, passaremos uma imagem positiva da nossa religião.  Na mesma proporção em que, se agirmos de maneira grosseira, passaremos uma imagem negativa.  O que vão pensar de nossa religião depende de nós mais do que imaginamos.

E não se trata apenas de transmitir uma imagem positiva da Umbanda.  Trata-se, acima de qualquer coisa, de um ato de civilidade, solidariedade e amor fraterno.  Como se sente um doente que procura um médico e no lugar do remédio recebe o desprezo, como infelizmente sabemos que tanto acontece em nosso país?

Não esqueçamos, então, que a Umbanda é o hospital para muitos, que não encontram o remédio para males do corpo e da alma.  E como dizia o profeta: gentileza gera gentileza.

 07 - Controle seus olhares e seus desejos dentro do templo 


07. Controle seus olhares e seus desejos dentro do templo.
O templo de Umbanda é um solo sagrado, é a nossa igreja, um recanto de harmonia, respeito e fé, onde não deve existir espaço para olhares maliciosos e desejos não condizentes com o local.

Pessoas bonitas sempre existirão e apreciar o belo não é pecado, mas em sua devida hora e lugar, e principalmente com respeito. Admirar não equivale exatamente a desejar, mas infelizmente nem sempre é isso que acontece.

Dentro de um templo de Umbanda todos devem se portar como irmãos.  E entre irmãos não existem olhares maliciosos e desejos de cunho sexual. Pensamentos libidinosos são armas eficientes nas mãos daqueles que de tudo fazem para quebrar a harmonia de uma casa e os elos da corrente de fé e espiritual que a protegem.  Por outro lado é importante que cada um se preserve também, a fim de evitar que esses olhares sejam despertados nos irmãos/irmãs de fé.  Roupas decentes e adequadas devem ser usadas no trabalho, afinal sendo o templo de Umbanda a nossa igreja, não é lugar também para o uso de roupas provocativas.

Não se trata de puritanismo ou conservadorismo, e sim de bom senso diante do comportamento esperado pelos praticantes de uma religião dentro do solo que para eles deve ser tratado como sagrado.

06: Jamais faça comentários desnecessários


06. Jamais faça comentários desnecessários.
Não existe ferramenta mais eficaz para derrubar um terreiro de Umbanda do que a fofoca.  As forças contrárias à luz e à evolução dos encarnados parecem perceber isso e fomentam esse tipo de comportamento, portanto vigiar as próprias palavras é mais do que uma opção, é um dever de cada filho-de-fé.
Se você viu ou ouviu algo que não considera correto ou incomodou, procure o dirigente da casa e peça para que ele o coloque face a face com a pessoa que causou o transtorno para que o caso seja esclarecido amigavelmente (um bom dirigente tenta sempre conciliar, evitando agravar os desentendimentos).
Se as suas palavras, os seus comentários sobre o que você pensa, viu ou ouviu não vão acrescentar nada, guarde-os para você.  Isso é um exercício de reforma íntima e com o tempo perceberá que você mesmo está sendo beneficiado com essa ação.
Nunca esqueça o valor das suas palavras deve ser maior que o valor do seu silêncio.

05: Tenha o mesmo respeito por todas as entidades 


05. Tenha o mesmo respeito por todas as entidades.
Não é porque um médium está na Umbanda há mais tempo ou porque você tem mais afinidade com ele, que as suas entidades são melhores ou merecem um tratamento diferenciado. Você pode ter e tem direito às suas afinidades, mas o respeito deve ser igual a todos, independente das suas preferências e independente da função que o médium ocupa no templo. Se a Espiritualidade maior permitiu àquela entidade vir em terra para trabalhar é porque ela está pronta para isso e merece nosso respeito, que na escala evolutiva estamos degraus abaixo.  Quando um médium, usando o pretexto do cargo que ocupa no terreiro, exige que suas entidades recebam um tratamento diferenciado, é sinal de quem naquele momento quem está falando é o seu ego aflorado, e não a própria entidade. E quem cai nesse engodo de servir a essas vontades mesquinhas torna-se uma marionete nas mãos dessas pessoas despreparadas.
Tratar a todos de forma respeitosa mostra sua capacidade de altruísmo e superação frente às suas vontades pessoais, que devem ficar do lado de fora do terreiro.

 04: Trate a todos como você gostaria de ser tratado 


04. Trate a todos como você gostaria de ser tratado.
Nunca esqueça que quem procura um templo de Umbanda geralmente o faz pela dor. Receber as pessoas com educação, carinho e amor fraterno é dever de cada membro da corrente. Trate-os como você gostaria de ser tratado ao entrar pela primeira vez em um lugar que ainda não conhece: com respeito e hospitalidade.  Não importa se você é o dirigente, médium, cambone ou a pessoa que anota o nome dos consulentes. Todos são importantes para o bom funcionamento dos trabalhos espirituais e ninguém possui um posição hierárquica superior, possuem apenas funções diferentes. Perante a espiritualidade somos todos seres humanos encarnados usados como instrumentos para a prática da caridade. Não trate com desdém os problemas de quem procura ajuda, não os trate como estranhos, e sim como um irmão que nada mais pede do que solidariedade.  E da sua boa educação dependerá a impressão que ele terá sobre toda a religião, pois a tendência do leigo é generalizar aquilo que ainda não conhece.  Ou seja, você é responsável pela imagem que os outras fazem sobre a nossa religião.

03 - Nunca se julgue insubstituível 


03. Não se julgue insubstituível.
Você é um médium, ou seja, um intermediário, uma ferramenta. Não deixe que seu ego supere as suas qualidades. Insubstituíveis dentro de um templo de Umbanda é Deus, seus guardiões e orixás. Nós, meros mortais, médiuns agimos apenas como instrumentos para que esses seres mais evoluídos realizem o seu trabalho. Não deixamos de ter o nosso mérito por conta disso, mas esse mérito não pode se tornar vaidade a ponto de nos acharmos superiores aos demais trabalhadores da casa. Muitas vezes aquele médium que está quietinho em um canto, em prece apenas, está realizando um trabalho extremamente eficiente e nem e nem os demais se dão conta disso. Portanto, não deixo que se ego fale mais algo que o valor de sua mediunidade. Dentro de um templo somos todos irmãos e como tais temos nossos valores, qualidades e defeitos. E a espiritualidade, sábia como é, saberá substituir um médium corrompido pela vaidade por alguém que ainda tenha o coração puro e livre desse vício.

02: Não prometa o que não poderá cumprir


02. Não prometa o que não poderá cumprir.
Lembre-se que quem procura um templo de Umbanda geralmente o faz por desespero e dor. Falsas promessas não ajudarão essa pessoa. Se não consegue ver uma solução para os problemas dessa pessoa, ofereça seu ombro amigo, ofereça a sua solidariedade e o amor fraterno, mas não crie falsas esperanças que poderão causar ainda mais sofrimento no futuro. Na Umbanda trabalhamos com a honestidade e a verdade.  Falsas promessas nada fazem do que causar mais transtornos a quem precisa de ajuda e alimentar o orgulho mesquinho de quem as faz, acreditando que assim irá arrebanhar adeptos. E na Umbanda não precisamos de adeptos, precisamos de amor fraterno.

Respeito

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A base de todo o bom e saudável relacionamento é o respeito.

Por viver em sociedade, deve o ser humano observar uma série de leis, normas, procedimentos, etc., que tem por dever respeitar para que possa viver harmonicamente com os outros, isso é fato.

Respeitar o outro, porém, no convívio diário, seja familiar, no trabalho, no templo, requer ainda mais cuidado, pois que são relacionamentos emocionais envolventes.

No caso dos templos em geral, o respeito é regra básica. A partir do momento em que se pisa o chão de um templo, mesmo que não seja da religião preferencial daquele que ali comparece, é com respeito que a pessoa deve fazê-lo, mesmo porque foi atraído ao templo por alguma razão e ai já podemos perceber que não apenas o templo deve ser respeitado, mas todos os que ali estão.

As religiões que utilizam a mediunidade como forma de praticar a caridade e o auxilio ao próximo, enfrentam, muitas vezes, o escárnio desrespeitoso dos que não as compreendem, porém, a essa carência de respeito não se devem ater nem as religiões, nem tampouco os médiuns que ali trabalham, mas, uma vez que alguém busque auxilio num templo que utilize a mediunidade como ferramenta de auxilio, observar o devido respeito para com o médium e para com a entidade comunicante não apenas é questão de respeito, mas também de boa educação e senso de oportunidade.

Se o respeito é fator primordial para um bom convívio social, não é menos importante quando se busca ajuda pelas vias da mediunidade, aliás, requer respeito duplo, pois são duas inteligências que ali estão dispostas a ajudar e que merecem todo o respeito por parte de todos e não apenas dos que os buscam a procura de auxílio.

Observar o respeito pelo templo, pelos médiuns e pelos espíritos desencarnados que ali se manifestam para servir em nome do Sagrado é, pois regra a ser seguida por todos, porém, muito mais por aqueles que compõem o grupo não apenas mediúnico, mas também de apoio ao templo. Esses devem, obrigatoriamente, respeitar-se não apenas entre si, mas também a toda e qualquer entidade que venha a se aproximar ou trabalhar com seus irmãos de fé e de ideal.

“Amar ao próximo como a si mesmo”, palavras eternizadas pelo Divino Mestre, referem-se ao respeito que o ser humano deve ter por todos assim como quer ser respeitado, pois o outro, seja espírito liberto da matéria ou encarnado, é seu próximo e como tal deve ser respeitado.

Um templo só resiste ao tempo e às investidas do mal se abrigar em seu seio o respeito, o amor e a paz, virtudes a serem cultivadas por aqueles que ali se reúnem em Nome do Senhor.

Muita Luz a todos,


São os votos de Shaà e Anna

Umbanda – Fatos Históricos –




Umbanda – Fatos Históricos –


O período, chamado de legitimação da Umbanda, aconteceu entre 1929 a 1944, em plena era Vargas que assumiu o poder em 1930.

Nessa época já existiam tendas/terreiros de Umbanda em todo o território nacional.

Começa também, nesse período, a surgir a Umbanda mesclada a outras religiões, como o Candomblé, por exemplo, e uma grande confusão se inicia.

Esse período marca a necessidade de o Umbandista explicar o que é e o que não é Umbanda, necessidade esta que perdura até os dias de hoje.

Por conta da perseguição policial aos terreiros, nessa época, começa a surgir outra necessidade, a de legitimar os terreiros/tendas, a fim de que a ordem e a liberdade de culto fossem preservadas em bases legais.

Em 1933, Leal de Souza, médium preparado pessoalmente por Zélio de Moraes, publica o primeiro livro sobre a religião de Umbanda com o título: “ O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”.

Este livro foi escrito com base na vivência de terreiro de Leal de Souza e é um registro histórico, muito valioso, da religião.

Nessa época, Leal de Souza dirigia a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição. Todo seu trabalho foi fundamentado nos ensinamentos do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Em 1934, Gilberto Freyre realiza em Recife, o primeiro congresso afro-brasileiro. Fato que fortaleceu a vontade de os Umbandistas se organizarem melhor.

Zélio de Moraes sempre se manteve presente e atuante no período de organização da Umbanda e, em 1939, por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, foi fundada a primeira Federação de Umbanda do Brasil.

No ano de 1940, Zélio consegue registrar, em cartório, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, berço da religião. Foi um longo período até a consumação desse registro, muito por conta do preconceito e má vontade das autoridades.

Em 1941, a primeira Federação de Umbanda realiza o Primeiro Congresso Nacional de Espiritismo de Umbanda em 1941.

Zélio de Moraes se alia com Benjamim Figueiredo e os intelectuais da época como Leal de Souza e tantos outros para num Congresso Nacional sobre a religião de Umbanda, começar a dar algumas diretrizes, algumas normas e dar orientação para que os demais praticantes da religião também comecem a registrar os seus Terreiros em cartório para que todas as outras Tendas de Umbanda ao modelo desta Federação e desta Tenda de Zélio, também começassem a se legalizar.

Com base nesta ação, outras Federações de Umbanda começam a surgir, bem como o intercâmbio entre dirigentes de vários Estados. Em São Paulo e no Rio Grande do Sul a Umbanda começa a ganhar força.

Estes fatos ocorreram em 1941 durante o congresso acima citado que marca, também, o surgimento de outros autores Umbandistas como Lourenço Braga, por exemplo, com a obra “Umbanda e Quimbanda”.

O primeiro a falar sobre sete linhas de Umbanda é Zélio de Moraes, sete linhas de Umbanda é um fundamento da religião.

O primeiro a escrever sobre sete linhas de Umbanda é Leal de Souza e o primeiro a estruturar as sete linhas de Umbanda com legiões para cada linha mais sete vibrações é o autor Lourenço Braga, que é também um autor importante dentro do nosso estudo histórico da religião de Umbanda.

Os fatos ocorridos no Congresso estão registrados em livro e aqueles que tiveram acesso a tal material,  comentam que, os responsáveis pelo Congresso em questão, tinham a firme “preocupação” em desafricanizar a Umbanda.

 As teses que foram aceitas são as teses que tentam desafricanizar a Umbanda porque naquele momento era o caminho para vencer o preconceito contra a influência afro dentro da religião de Umbanda ou de qualquer outra religião. Então, surgem teses curiosas, teses interessantes.

Entre as teses que aparecem, podemos destacar uma, bem peculiar, que é a tese da Tenda Mirim apresentada pelo senhor Diamantino no primeiro Congresso.

É a tese da “Aumbandã” de que a Umbanda seria a mais antiga de todas as religiões e que o nome dela seria “Aumbandã” e que teria vindo da Lemúria, da Atlântida, passado pela Índia, pela África e depois chegava ao Brasil.

Essa é uma tese que aproxima a Umbanda exatamente da teoria sobre a Teosofia e, nesse momento, marca já no começo da religião, um perfil daqueles que querem estudar a Umbanda misturando-a com alguns conhecimentos do Ocultismo e do Esoterismo, portanto, nasce na Tenda Espírita Mirim aquilo que no futuro se chamaria “Umbanda Esotérica”.

Já temos na Umbanda, a partir desse Congresso, o perfil do trabalho de Umbanda de Zélio de Moraes e, começa a surgir um perfil de Umbanda Esotérica ao mesmo tempo em que temos também a chamada “Umbanda Popular” que é a Umbanda praticada sem exatamente se saber o porquê de cada um dos elementos, os fundamentos da religião.

Em 1940, temos, portanto, pelo menos três vertentes de Umbanda: a Umbanda mais tradicionalista de Zélio, a Umbanda Popular e surge a Umbanda Esotérica.

Falar em Umbandas, de forma plural, não é algo novo.

Como em todas as religiões há diversidade.

Na Umbanda também é assim, de qualquer forma, estão todos juntos trabalhando num Congresso e entendendo: você tem a sua particularidade, o outro tem a particularidade dele, mas todos estão praticando uma única religião, a religião de Umbanda.

Annapon
02.12.2014

( Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Alexandre Cumino)

DIÁLOGO ENTRE UM EXÚ E UM PRETO VELHO

        
    Na Umbanda temos maravilhosas Entidades de Luz. Entidades essas
que evoluíram de tal forma em suas vidas encarnadas que foram
abençoadas por Zambi (Deus) para se tornarem seres iluminados que
trazem a caridade, a paz, o amor, a saúde, aconselhamentos, aberturas
de caminhos e evolução a nós, simples seres humanos, repletos de
defeitos, mesquinharias, sentimentos de ódio, inveja, desamor.

    Essas Entidades de Luz vem de diversas formas, linhas e
irradiações. São determinadas a esses trabalhos árduos, de fazer
chegar a compreensão a nós, seres inacabados, pelos poderosos Orixás
de Deus, fazendo assim que essas Entidades divinas fiquem entre a
força divina da natureza do Pai Maior, que são os Orixás, e entre nós,
humanos repletos de erros e sentimentos ruins.

Essas Entidades maravilhosas vem como Pretos Velhos, Caboclos,
Boiadeiros, Ciganos, Erês (Ibeijadas, Crianças), Malandros, as Pombo
Giras e nossos amados Exús.

    E vamos falar justamente dos Exús, claro englobando também as
Pombo Giras.

    Essas Entidades são extremamente dedicadas as causas que são
determinadas a elas. Tem uma segurança incrível, uma determinação
maravilhosa, uma luz sem igual, um apego divino a seus protegidos,
enfim, são Entidades de Luz, voltadas para a pura caridade, sempre
mostrando o caminho correto, sempre pregando que o mal nunca deve ser
pedido, sempre ensinando a nós, seres não evoluídos e egoístas, que
temos livre arbítrio, que amarração é algo de pessoas sem amor
próprio, que desejar o mal a seu semelhante e algo que só vai servir
para trazer o retrocesso da evolução espiritual.

    Mas se essas Entidades agem assim, se elas pregam essas palavras,
se elas fazem de tudo para nos ensinar fazer o bem, porque são
temidas, porque usam o nome delas para fazer o mal, porque é pregado
que nossos amados Exús tem ligação com seres das trevas?

    A verdade disso tudo é a falta de informação, a pregação dada por
pessoas que se fiam no dinheiro, a mistificação e a falsidade de
alguns líderes de algumas religiões, principalmente algumas ditas
evangélicas, que necessitavam arrumar algo para demonizar, e assim
fazer seus fiéis temerem algo que não conheciam, obrigando-os a se
entregarem as falsas pregações desses líderes, e claro pagando seus
dízimos, ofertas, obrigações, entre outros vários tipos de cobranças
feitas por esses líderes mal intencionados.

    Também vemos dentro da própria religião umbandista, alguns líderes
com essa mesma intenção, a de surrupiar bens de consulentes mal
informados. Só que nesses casos não pregam que os Exús seriam ligados
as trevas demoníacas, e sim que eles faziam magias para levar o mal a
um semelhante, eles traziam e amarrariam pessoas em um amor falso,
trancariam caminhos, levariam doenças e infortúnios. E tudo isso
mediante a uma cobrança em dinheiro.

    E os pobres Exús, o quão tristes ficam com toda essas mentiras,
todas essas falsidades, todas essas hipocrisias usando seus nomes.

    Alguém já pensou nisso?

    Alguém já parou para refletir, como uma Entidade de Luz, que foi
acolhido pelo amor e pelos braços de Deus, que foi abençoado e
presenteado em virar uma Entidade trabalhadora em prol da caridade,
fica quando um consulente chega frente a frente com essa Entidade e
pede para trancar a vida de um irmão, ou amarrar uma pessoa que tenha
seu livre arbítrio de amar ou não amar alguém, ou de destruir uma
família unida pela paz e o amor?

    Acredito que muitas pessoas nunca pensaram nisso, nessa
mediocridade, nessa injustiça, nessa falta de respeito com a Entidade
de Luz, quando chega para pedir absurdos assim.

    E nessa visão vamos ver um diálogo de um Exú e um Preto Velho que
nos demonstra que as Entidades são luz, são divinas, são caminhos, mas
sentem uma tristeza em ver seus filhos, consulentes e protegidos
tentando fazer deles escravos espirituais.

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    Em um certo dia na beleza das terras espirituais de Aruanda,
cidade de luz onde encontramos nossas amadas Entidades, um Exú que
acabara de retornar de um trabalho espiritual de incorporação em um
médium trabalhador de uma casa umbandista, vai até um Preto Velho,
que se encontrava sentado em seu toco de madeira, pitando calmamente
seu cachimbo, soltando a fumaça no ar e observando toda a bela
natureza da cidade espiritual. O Exú chega olhando firme para o velho
negro, e assim se inicia o diálogo:

Exú: Sua benção meu velho.

Preto Velho: Que Pai Oxalá te abençoe meu fio.

Exú: Será que posso ficar um pouco com o senhor meu velho?

Preto Velho: Claro meu fio. Mas porque esse semblante tão
entristecido?

Exú: Acabei de chegar de uma Gira em um Terreiro de Umbanda, no qual
trabalhei com um médium muito honesto, que me deixa a vontade em me
expressar, sem que ele tente interferir ou mistificar.

Preto Velho: Mas isso não é para nos deixar feliz fio? Tantos médiuns
que são tomados pela vaidade, arrogância, falta de humildade. Esse fio
que vosmicê trabaia, sendo um exemplo na religião, e vosmicê chega
tristonho?

Exú: Sim meu velho, eu tenho muito carinho e respeito por esse médium
caridoso, trabalhador da honestidade. Mas, essa tristeza que está
apertando em meu peito meu pai, não é pelo meu amado aparelho. São
pelas pessoas que foram ao terreiro, pessoas que se consultaram
comigo, com meus irmãos e minhas irmãs.

Preto Velho: Sim meu fio, estou começando a entender essa sua
tristeza. Mas vamos tirar ela de seu peito, encoste sua cabeça no
ombro desse veio, deixe seu coração falar, deixe sua luz se acender,
desabafe tudo aquilo que você trouxe la da terra, dos sentimentos dos
homens sem sentimentos.

    O Exú encostando a cabeça no ombro do Preto Velho, como se
pedisse um afago, fez uns segundos de silencio, e logo após se pôs a
falar, num tom baixo, um tanto desanimado, cabisbaixo, parecendo
tentar esconder algumas lágrimas que teimavam em cair de seus olhos.

Exú: Sabe meu pai, nessa gira de hoje tive muitos atendimentos. Homens
que desejavam que seu semelhante perdesse a vida, para que assim
pudesse se apropriar de cargo superior em local de trabalho de ambos.
Mulheres que traziam ódio no coração por um suposto amor, que só ela
entendia que existia, entre ela e um homem, que por seu livre
arbítrio, achou por bem que deveria tomar outro caminho. Tantas
maldades pedidas, tantos desamores, tantas angústias, tanto ódio
espalhados em palavras, tantas cobranças, tantas aberturas dadas a
obsessores, que invadiam os corações e mentes dessas pessoas, fazendo
delas fantoches do espírito do mal.

Preto Velho: Sim meu fio. Entendo o que deseja dizer. Já vi muita
dessas pessoas nas casas de Umbanda, e isso sempre nos traz essa
tristeza que você tem em seu peito.

Exú: Meu velho, tive que lutar muito no dia de hoje, ´para tentar
salvar as almas dessas pessoas. A cada pedido para que seja feito o
mal, novos obsessores chegavam. Meus irmãos que tomavam conta da
tronqueira, lutavam firmemente e arduamente para que nossa gira
não fosse dominada por Kiumbas e Zombeteiros. Minhas irmãs, Pombo
Giras, tentavam se fazer entender, falando as pessoas de coração
sombrio e cheio de ódio, que o amor não se amarra, se conquista. Eu
via por todos os cantos da casa grandes obsessores tragos pelos
filhos que ali estavam simplesmente para pedir o mal, e trazendo nas
mãos marafo, charutos, materiais orgânicos, tentando comprar magias
não existentes. E achando tudo isso a coisa mais natural do mundo.

Preto Velho: E alguns de vosmicês aceitaram essas trocas meu fio?

Exú: Não meu Pai. Estamos acima dessas vontades materiais e orgânicas.
Mas infelizmente temos alguns médiuns mistificadores que usam nossos
nomes para tal recebimento. Dizendo fazerem amarrações, trancamentos,
maldades, fechamentos de caminhos, e muitas outras coisas sujas.

Preto Velho: E vosmicês alertaram o Babalorixá da casa, do acontecido?

Exú: Mas meu velho, era o próprio Babalorixá que se prestava a essas
cobranças, usando o nome de um de nossos irmãos.

Preto Velho: Cada vez mais entendo sua tristeza meu fio. Mas diria a
ti para não se deixar ser levado por esses medíocres da religião, pois
meu fio, a Umbanda está muito acima disso, está muito além dessa falta
de compreensão, muito acima dessa ganância, muito acima desses
obsessores encarnados e desencarnados.

Exú: Sim meu pai. Eu creio nisso também.

Preto Velho: Creia sempre meu fio. Pois Deus espera de nós, Entidades,
essa grandeza de fazer o bem, lutar contra o mal, ensinar os
incompreensíveis a compreender, mostrar o caminhos de luz a quem
teima em buscar escuridão.

Exú: Sabe meu pai, no meu caminho de volta para Aruanda, para não
chegar aqui com tantas cargas negativas, tantos obsessores trancados,
tantos sentimentos humanos ruins, fui até aos irmãos da Calunga
Pequena, para que me auxiliassem a me livrar de tantos pesos deixados
pelos consulentes e seus pedidos incoerentes. Vi muitas moradas de
corpos inertes, corpos esses que as almas estavam presas nas
profundezas clamando por ajuda. Um desses corpos me chamou a atenção
meu velho. Era de um antigo consulente que hora ou outra vinha até mim
pedir para que seus caminhos abrissem, e para isso ele deveria então
passar por cima de um semelhante.
    Esse homem, certa vez me disse que ali onde nos encontrávamos não
teria o "trabalho forte" que ele tanto buscava. Que ali só se falava
em Deus, que ali não abria caminhos que ele desejava abrir, do modo
que ele pretendia. Escutei calmamente aquelas palavras, olhei em seus
olhos e disse, que o caminho dele era ele mesmo que fazia, seu livre
arbítrio era respeitado, assim como ele deveria respeitar o livre
arbítrio de todos.

Preto Velho: Fez muito bem meu fio.

Exú: Lhe disse também, que ele poderia partir, que levasse Deus no
coração, e refletisse sobre aqueles pedidos. E certamente um dia nos
veríamos de novo, e dependendo de seu modo de agir e pensar dentro da
religião, nosso encontro seria ou em um caminho de luz, ou em um
caminho da escuridão, onde eu certamente teria que resgatá-lo.

Preto Velho: Belas palavras meu fio. Vosmicê sabe muito bem como é o
caminho dessa escuridão, esteve lá milhares de vezes resgatando almas
perdidas, buscando seres sem humildade, sem amor, entregues ao ódio,
que muito se arrependeram após conhecer a verdadeira desgraça da
maldade criada em seus próprios corações.

Exú: Isso mesmo meu pai. Um lugar dominado pelo mal, por obsessores,
kiumbas, eguns e Zombeteiros, tomados pela enorme vontade de sugar
todas as energias, todas as formas orgânicas, todos os sentimentos de
ódio que os seres humanos possam espalhar uns para os outros, fazendo
assim que esses espíritos do mal possam ser fortalecidos dia após dia.

Preto Velho: Sim meu fio. Muito triste que os encarnados não
compreendam isso. Esse fortalecimento do mal. Fortalecimento esse
feito pela ganância, por esses pedidos de prejudicação a semelhantes,
entregas de materiais orgânicos, como carne, sangue, e ainda dizendo
que são para os Exús. Muito triste isso meu fio.

Exú: Sim meu velho, muito triste mesmo.

Preto Velho: Mas fio amado, continue me falando desse consulente.
O que aconteceu? Você o encontrou novamente?

Exú: Sim meu velho. Ao ver aquele corpo inerte na Calunga Pequena, e
ao reconhecê-lo, fiquei imaginando onde estaria o seu espírito. E foi
ai que decidi ir até abaixo da linha da luz divina para tentar
encontrá-lo.

Preto Velho: E o encontrou meu fio?

Exú: Sim meu velho. Ele estava nas profundezas, quase sem energia
nenhuma, tomado por obsessores de todos os lados, segurando em uma das
mãos uma imagem de gesso, que ele acreditava ser minha. Uma imagem de
um homem de pés de bode, chifres e cauda do demônio. Em outra das mãos
ele segurava firmemente um grande pedaço de carne sangrenta, meio
apodrecida já, juntamente com uma garrafa de bebida alcoólica e alguns
charutos. Dizia que era sua oferenda para Exú, e que assim que
conseguisse fazer essa entrega, todos seus desejos mais obscuros iriam
se realizar.

Preto Velho: Pobre alma. Não entendeu ainda que só estava energizando
os obsessores, e assim deixando seu espírito sem chance nenhuma de
sair dali.

Exú: Isso mesmo meu pai. Foi ai que eu cheguei perto dele, chamei-lhe
a sua atenção para mim, ergui minha mão em sua direção e lhe disse,
"Venha comigo meu filho. Deixe essas coisas nesse chão imundo. Você e
nem eu precisamos disso."
Ele me olhou firmemente, abraçando junto ao peito todas aquelas
coisas, e disse: "Quem é você? O que quer de mim?"

    Eu respondi tentando ser o mais sereno e convincente possível:
"Sou o Exú que você um dia foi procurar. O Exú que você não aceitou
como protetor. O Exú que lhe disse que um dia íamos nos encontrar
novamente. O Exú no qual você deu as costas e partiu. O Exú que você
afirma que precisa dessas coisas materiais e orgânicas como oferendas.
O Exú que está aqui para tentar lhe mostrar que seu livre arbítrio
ainda tem um poder para te salvar da escuridão eterna e dos obsessores
que tomam toda sua energia para que não tenhas forças para vencer. O
Exú que está lhe dando a mão para sua evolução verdadeira. Deseja vir
comigo?

Preto Velho: E ele aceitou meu fio?

Exú: Infelizmente não meu velho. Ele me olhou de modo desconfiado, de
cima a baixo, e disse: "Você não é um Exú. Onde está seus pés de bode,
seus chifres e cauda. Onde está seus olhos flamejantes, seu odor de
enxofre? Você deseja me enganar para levar minhas oferendas, e assim
eu nunca vou conseguir fazer com que meus inimigos caiam para que eu
consiga o lugar deles, eu nunca vou conseguir fazer os males da doença
seja espalhada a quem um dia me ignorou, eu nunca vou conseguir aquele
amor que deveria ser meu. Preciso amarrar aquela mulher. E você
desejando tudo que tenho para comprar a magia dos Exús de verdade."
Saia daqui, afaste-se de mim."

Preto Velho: Sim meu fio, ele ainda não tinha aprendido a usar o livre
arbítrio para fazer o bem.

Exú: Não meu velho. Ele só via o próprio ódio que estava em seu
coração. Infelizmente não pude fazer nada, além de insistir mais um
pouco, tentar mostrar que eu era um Exú, e que somos Entidades de
Luz, Entidades enviadas por Deus, e não apenas escravos das
oferendas, que para nós é totalmente sem importância. Tentei mostrar
que minha imagem humanizada, que minha voz serena, que minha face
tranquila era exatamente a de um Exú, uma Entidade evoluída que tenta
auxiliar todos os filhos que ainda se prendem aos erros impostos por
alguns médiuns mistificadores ou interesseiros. E deixei bem claro que
só poderia resgatá-lo pela menção de sua vontade, pois respeitaria
seu livre arbítrio eternamente.

Preto Velho: E isso deixou vosmicê bastante tristonho não é meu fio?

Exú: Sim meu Pai. Não conseguir resgatar uma alma da obsessão, dos
espíritos caídos, das trevas eternas, é de maltratar muito os
sentimentos de protetores que nós, Exús e Pombo Giras temos. Mas ainda
ficamos mais tristes quando são colocados nossos nomes como autores
das crueldades, das más intenções, das amarrações, e de tantas coisas
ruins, criadas pelos encarnados, feitos pelos Eguns, pelos
Zombeteiros, pelos Kiumbas e depois cobrados a quem fez esses pedidos
por dezenas e dezenas de obsessores, que vão sugar todas as energias
desses encarnados até eles entregarem seus espíritos as trevas
eternas. E depois nós, Exús e Pombo Giras, temos ainda a missão de
tentar resgatar essas almas, dentro do livre arbítrio delas, as vezes
não conseguimos, e muitas vezes conseguimos. E temos que ouvir alguns
líderes de algumas religiões nos taxando de demônios, senhores das
trevas, vagabundos, prostitutas e amaldiçoados.
Ah meu velho, como é difícil esse trabalho.

Preto Velho: Sim meu fio. Mas vosmicê acredita se fosse fácil seria
uma missão divina?

    Será fio meu, que se ocês, Exús e Pombo Giras, não tivessem essa
missão tão árdua, vosmicês estariam nesse grau tão maravilhoso de
evolução?

    Será que ter essa luta diária contra o mal, sem se deixar ser
levado por oferendas sangrentas, por marafo entregue na encruza, por
pito que faz uma fumaceira que esconde as más intenções, por ebós
banhados por dendê, não faz dos amados Exús e Pombo Giras Entidades
supremas, acima do grau de evolução de muitos seres?

    Será meu fio que quando um encarnado vem com a arrogância pedindo
que faças uma amarração amorosa ou espiritual a um semelhante, e ocês
com toda a humildade, mostram que o amor não pode ser amarrado, que o espírito é livre até
que ele seja entregue aos obsessores através das maldades feitas pelo
próprio encarnado. Mesmo que esse encarnado menosprezem seus
trabalhos, chamando de "trabalho fraco", "trabalho sem força". Mesmo
assim, ocês continuam tentando demonstrar que o bem não pode ser
trocado pelo mal, que a luz não pode ser trocado pela escuridão, que o
amor não pode ser trocado pela amarração. E se mesmo assim esse
encarnado lhe der as costas, ocês o acompanham e o protege, mesmo
sendo vistos ou como Exús fracos, ou como seres do demônio, mas sempre
ali levando a luz.

Exú: Sim meu velho, é assim nosso trabalho. É assim que agimos.
É assim que somos.

Preto Velho: Sabe meu fio, eu enquanto encarnado, nas fazendas de
café, no cativeiro das senzalas sujas e frias, acorrentado nas
correntes da ignorância do homem branco, sendo açoitado nos troncos da
morte, já tive a mesma tristeza que ocês, exús e Pombo Giras trazem
no coração. Então eu elevava minha fé a Zambi, rezava uma oração,
pedia a nosso Deus poderoso para perdoar aqueles feitores que nos
castigavam cruelmente, aqueles coronéis sedentos da ganância que nos
vendiam como animais, aqueles homens e mulheres de peles branca como a
nuvem que nos açoitavam, nos humilhavam, nos matavam friamente, apenas
para demonstrar poder, apenas porque éramos negros na pele, esquecendo
que tínhamos um coração que batia e chorava igualmente a todos, que
tínhamos o sangue vermelho correndo nas veias como todos os seres de
Deus, que amávamos, sentíamos dor, fome, sede, e tudo mais como os
brancos. Mas mesmo assim éramos vistos como fracos, diferentes,
escória, feiticeiros, endemoninhados.
Então meu fio, talvez seja melhor fazermos uma prece para essas almas
perdidas, para esses mistificadores que tentam se passar por ocês,
para esses falsos líderes religiosos que necessitam de criar um
inimigo que venha das trevas para induzir aos pobres fiéis sem
conhecimento, e assim tirar todo seu ouro e prata, para todos que por
ignorância imagina que a linha "docês" traz o mal, faz feitiçarias,
amarra almas e sentimentos, tudo isso trocado pelo sangue, carne,
velas, marafo, ebó, padê, como escravos das trevas.
A prece acalma, traz luz a esses seres, afasta obsessores, encaminha
almas, traz alegria. Vamos fazer essa prece meu fio?

Exú: Meu velho, o senhor tem uma sabedoria grandiosa. suas palavras já
acalmaram meu coração. Vamos meu velho, vamos fazer nossa prece.

Preto Velho: Antes meu fio, dá cá um abraço nesse veio, que já está
com lágrimas no zoio.

Preto Velho/Exú: Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade...

... Que assim seja!
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    Respeitem as Entidades de Luz. Amem essas Entidades assim como
elas amam a todos.

    Ao se consultarem com uma Entidade de Luz, reflita muito bem sobre
o que vai pedir. As Entidades nunca fazem o mal, elas agem dentro da
caridade suprema, elas não são escravas que trabalham em troca de
migalhas e nem em troca de todo ouro do mundo. As Entidades tem como
lema, fazer sempre o bem, nunca vai contra o livre arbítrio das
pessoas, nunca iria fechar caminhos de alguém simplesmente porque
outro alguém pediu, nunca iria amarrar um amor ou um espírito, pela
falta de amor próprio ou prepotência de um consulente desavisado,
nunca fariam parte das trevas do demônio, tendo a luz divina de Deus
iluminando sua caminhada e sua evolução.

    As Entidades da Umbanda, nossos amados Pretos Velhos, Caboclos,
Boiadeiros, Ibeijadas, Malandros, Ciganos, Pombo Giras e os nossos
mais que amigos e guardiões Exús, são anjos enviados pelo Pai Maior
para nos salvar de nós mesmos.

Reflita muito bem sobre isso, antes de levarem seus supostos problemas
a um terreiro de Umbanda.

Salve a Umbanda!

Salve os Orixás!

Salve todas as Entidades de Luz!

Carlos de Ogum.