segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Diversidade na Umbanda



Por
Arauto de Aruanda

“Cada casa mexe a panela do seu jeito”

Em minha opinião, um dos assuntos que mais gera polêmica na religião consiste na ampla diversidade que possuímos na Umbanda, e até mesmo, entre os diferentes terreiros existentes. Diversidade cultural, de opinião, ritos, regras, práticas e etc.

Muitos ao se depararem com essa diversidade ficam confusos, talvez por não entenderem algumas características da religião umbandista, que abordarei, a seguir, em tópicos para melhor elucidação do tema. A saber:

- a Umbanda é uma religião eclética;
Nossa religião possui o melhor de diferentes religiões: o Espiritismo nos legou as extensas laudas sobre mediunidade e a moral evangélica; do Candomblé herdamos o culto aos orixás e o culto à natureza; do Xamanismo recebemos além do culto à Mãe Terra, vocábulos, ritos e práticas magísticas do povo indígena; já a Bruxaria convencional nos proporcionou o conhecimento da magia em um sentido mais amplo, incluindo magia com uso dos elementos e elementais e, talvez, a nossa roda, círculo ou corrente de médiuns – que formamos na gira – comum a todos os terreiros de Umbanda a exemplo dos círculos mágicos que os bruxos formam em seus rituais; e do Catolicismo recebemos o culto a alguns santos, bem como o sincretismo religioso. Essa ecleticidade demonstra que a Umbanda é uma religião que vive em perfeita harmonia com as diferenças culturais e religiosas da humanidade, inclusive, dentro dos próprios terreiros, o que significa que a nossa religião não tem nenhum problema com o novo, diferente ou diverso; característica que torna a umbanda uma religião única!

- não possui uma liderança centralizada;
A Umbanda não possui nenhuma liderança ou governo centralizado como o Catolicismo Romano, as igrejas Ortodoxas, as diferentes igrejas evangélicas e outras religiões em que o conjunto de normas e dogmas é ditado por um grupo seleto de indivíduos detentores do poder religioso. Embora haja muitos núcleos umbandistas que ofereçam cursos sobre a religião, suas práticas e, até mesmo, sobre sacerdócio umbandista, estes núcleos se diferem das religiões supramencionadas, pois não ensinam dogmas, tampouco nomeiam os sacerdotes umbandistas que atuarão nos terreiros e nem mesmo criam normas que devem ser acatadas por todas as casas de Umbanda do Brasil. Também não possui poder centralizado em uma única pessoa, como ocorre no caso do Catolicismo Romano que possui como chefe e detentor do poder imediato e absoluto o Papa, Primaz da Itália, Bispo de Roma, como queira chamar. As federações e associações umbandistas que existem, longe de ser um Vaticano Umbandista, são órgãos que respondem, em alguns casos, juridicamente pelos grupos a elas vinculados, e a afiliação de um terreiro ou casa de umbanda a algum desses órgãos é apenas facultativa, portanto, não consiste em algo que se equipare a um governo monopolizado da religião. Tanto é que, hoje em dia, tem-se falado em Umbandas (no plural), o que automaticamente implica que nenhum órgão regional, estadual, nacional ou internacional possua poder legislativo sobre os diferentes grupos umbandistas e nem mesmo uma patente do nome Umbanda.

Casas de Umbanda surgiram, e surgem até os dias atuais, a todo instante e de forma totalmente independente no nosso país. Por este motivo, devemos ser cautelosos ao procurarmos um terreiro para dele nos tornar parte integrante.

Por não possuir um governo centralizado, não há normas nem dogmas gerais a que todos os umbandistas devam aceitar; o que faz com que não haja nenhuma padronização dos terreiros. Sendo assim, torna-se uma lei umbandista natural – embora não imposta, e tampouco criada por lideranças – o ditado que diz: “cada casa mexe a panela do seu jeito”.

- não possui dogmas;
Um dogma é uma verdade de fé inquestionável, por exemplo, a concepção virginal de Jesus Cristo no Cristianismo. A Umbanda não possui dogmas, considerando que todas as suas práticas devem possuir fundamentos. Nenhum umbandista é obrigado a aceitar qualquer coisa sem antes saber o motivo pelo qual aquilo é feito. Alguns umbandistas acreditam em dogmas, mas isto não é uma coisa própria da religião! Considerando que a Umbanda não possui um conjunto de dogmas que norteiem a prática umbandista, os membros da religião são livres para aceitar ou rejeitar determinadas crendices após haver verificado se estas possuem ou não fundamento. Algumas destas crendices consistem em não acender velas para guias em casa, não cantar cantigas de Umbanda fora do terreiro, não firmar a vela virando-a de ponta cabeça, entre outras. Desta forma, o umbandista deve buscar conhecer a razão de tudo quanto há e de tudo quanto é feito dentro da religião. Devido à ausência de dogmas, muitas vezes, as tendas de Umbanda, e, até mesmo, os umbandistas de um mesmo terreiro, divergem entre si, pois, para alguns, determinada prática é justificável, enquanto para outros não! Porém, não estamos perdidos num mar de dúvidas e confusão, pois, como descreverei a seguir, temos a espiritualidade que nos orienta nas nossas práticas.

- é conduzida pela espiritualidade;
A nossa religião, como relatou o médium mais famoso do Brasil, Francisco Cândido Xavier, no programa Pinga Fogo, é uma criação dos espíritos. Além de ser criação dos espíritos, nós umbandistas a definimos como “a manifestação do espírito para a prática da caridade”, o que implica que os espíritos são os encarregados de nos guiar nessa tarefa que consiste na prestação de serviço fraternal e caritativo. São os espíritos que nos ensinam e orientam nossas práticas espiritualistas. Muitas vezes a espiritualidade não faz questão de se manifestar sobre algo insignificante como acender as velas com palito de fósforo ou com um isqueiro, no entanto, sempre nos conduz em questões de maior importância. Outras vezes a espiritualidade conduz a coisa gradualmente, pois um passo demasiadamente grande poderia colocar tudo a perder ao invés de trazer benefícios. Além desses, há muitos outros motivos para a espiritualidade tolerar algumas práticas irrelevantes nossas, como respeitar as próprias normas do terreiro ou respeitar o foro íntimo daqueles indivíduos a quem determinadas práticas são extremamente importantes. Contudo, tudo em uma casa de umbanda caminha como a espiritualidade daquela casa vê que é necessário! Casas e pessoas diferentes possuem diferentes necessidades e a espiritualidade em sua sabedoria sabe conduzir as coisas conforme é preciso! Por isso, os espíritos que assistem uma tenda de umbanda conduzem a casa de um jeito, ao passo que em outra casa a espiritualidade guia os integrantes de outra maneira!

- está em constante evolução.
A Umbanda também está em constante evolução, o que significa que sempre está passando por mudanças. Antigamente, pensavam que era ofensivo oferecer água aos exus por considerá-los entidades do fogo.  Em algumas casas alegavam que exu não incorporava em dias chuvosos. Algumas tendas de umbanda afirmam isso até os dias atuais, no entanto, a maioria dos terreiros umbandistas deixou de acreditar nessa crendice. Coisas que antigamente eram feitas de um jeito, hoje se faz de outro, e a Umbanda segue crescendo e evoluindo com a ajuda dos mentores que a assistem! Dizem os gurus da Umbanda que num futuro próximo os guias deixarão de trabalhar com bebidas alcóolicas e com fumo nas giras. Alguns terreiros já até adotaram esse procedimento, contudo, devemos respeitar ambas as práticas, pois como a espiritualidade nos ensina tudo tem um por que e o seu tempo para acontecer. Qualquer processo de mudança realizado dentro da religião – assim como em qualquer organização – não ocorre do dia para a noite, e tampouco é aceito por todos os seus integrantes e, por isso, gera, na maioria das vezes, divergências que serão superadas com o tempo. A mudança é um processo natural que acontece até mesmo dentro de organizações seculares, tais como empresas, bem como dentro das famílias, gerando muitas repercussões e suscitando muita divisão de opinião.

Como apresentado nos tópicos acima, a Umbanda possui diversos fatores que geram sua diversidade, inclusive a diversidade de opiniões. Devemos aprender a conviver com as diferenças presentes entre os vários terreiros de Umbanda e, sobretudo, com a diversidade que encontramos dentro de nossa própria casa ou núcleo umbandista. Temos que abandonar radicalmente a mentalidade cristianizada que rotula tudo como certo ou errado! Na Umbanda, assim como em muitas outras sendas espiritualistas, não existe o certo e o errado, sobretudo, porque nossa religião não é feita de dogmas. O certo e o errado só existem em nossa relação com o mundo, conosco mesmos, com os nossos semelhantes e com os animais, e isso, não aprendemos em livros ou normas ditadas pela religião, e sim com a evolução de nossa consciência. Sendo assim, respeite a Umbanda que o seu irmão pratica! Respeitar não é sinônimo de concordar e nem mesmo de praticar!

Se na casa que você frequenta possuem práticas que você não aceita ou estranha, lembre-se que algum dia isso poderá mudar, pois a Umbanda está em constante transformação espiritual. Contudo, não queira promover mudanças através de contendas, pois, fazendo “certo” ou “errado” essa casa está caminhando, funcionando, ajudando as pessoas por meio da prática da caridade, além de estar sendo conduzida pela espiritualidade.

Seria necessário abordar aqui também o tema egrégora e como essa força atua dentro das diferentes instituições, sobretudo nos terreiros. No entanto, não desejo estender mais este artigo, o qual já está um pouco longo, deixando, assim, esse tema para postagem posterior.

Em suma, respeite as diferenças dentro das casas de Umbanda. Elas existem devido à liberdade muito peculiar que há na nossa religião. Recorde-se também que, se as coisas não estão como deveriam estar, elas estão a caminho, pois, existem muitas forças que agem na gestão de uma casa e estão empenhadas no progresso espiritual dela. Apendemos com a natureza que tudo tem o seu tempo, e isso não é exceção no que se refere aos assuntos espirituais. Leve em conta também que antes de mudarmos um terreiro ou qualquer outra coisa, devemos mudar nossos atitudes, trabalhar nossa evolução espiritual e praticar a caridade incondicionalmente. Temos muito trabalho para fazer em nós mesmos que deixamos de realizar por nos ocuparmos em fatores externos.

Não critique a diversidade! Respeite! Aprendemos muito com a diversidade. Ela nos faz sábios e flexíveis, e, sermos flexíveis é melhor do que sermos ortodoxos e fundamentalistas, radicais zeladores do “certo” ou “errado”, pois esta última foi a causa de inúmeras barbáries que ocorreram na história da humanidade.

Muita luz e paz a todos!
Axé!

Umbanda: religião da caridade e não de dogmas




Por
Arauto de Aruanda

Certa vez fui, juntamente com um amigo, à uma casa de Umbanda Sagrada na zona norte da Grande São Paulo. Assistimos à gira e após seu término meu amigo desejou se inscrever para se tornar filho de santo daquele núcleo umbandista. Como estava junto dele, acompanhei-o em seu cadastro, o qual foi realizado por umas das dirigentes do terreiro e me surpreendi com o que presenciei.

Ao notar que meu amigo usava guias no pescoço ela começou a indagá-lo:

- em que terreiro mandaram você usar essas guias (fios de conta)? Por que você está com três guias no pescoço? Quem te deu permissão para usá-las?

Obtidas as respostas do meu amigo a essas perguntas, a nossa correligionária lhe retrucou:

- na Umbanda nós usamos apenas duas guias: uma quando participamos dos serviços dentro do terreiro e outra quando saímos na rua.

Pelo amor de Oxalá! Quando escutei isso me segurei, até mesmo porque a tal dirigente estava com três fios de conta no pescoço!

Ela tentava corroborar suas afirmações, argumentando que se usamos mais de uma guia (fio de conta) é porque não confiamos nos guias (mentores espirituais), pois se confiássemos uma guia apenas bastaria.

Tal argumento é fraco e poderia ser desconstruído apenas por um único contra-argumento afirmando que devemos usar todos os fios de conta dos guias espirituais para não discriminar nenhum deles, o que também não seria necessariamente verdade, pois não fazê-lo não implica que a pessoa os despreze. O que quero mostrar aqui é que um argumento tão fraco como o segundo pode facilmente desconstruir o primeiro que é mais ridículo ainda!

Se não bastasse isso, ela prosseguiu:

- o que eu estou lhe dizendo é o correto. Se você quer iniciar terá que seguir as coisas corretamente, porque na Umbanda é assim!

Quando escutei isso (me segura meu pai Omolu!), perguntei:

- desculpe-me, eu só estou acompanhando meu amigo e não pude deixar de escutar, mas gostaria de fazer uma pergunta: o que a senhora está dizendo é o correto ou é norma da casa?

Ao que ela replicou:

- o que eu estou ensinando é o correto, porque na Umbanda é assim;

Contestei:

- pois bem, sou médium de Umbanda, conheço várias casas umbandistas e nunca havia escutado isso, até mesmo porque dentro da Umbanda aprendemos que “cada casa mexe a panela à sua maneira”, então não existem normas (fora os princípios umbandistas básicos) que valham para todos os terreiros, sobretudo, considerando que a Umbanda está em constante evolução;

Então, ela respondeu:

- o que eu estou dizendo é o correto para a nossa casa.

Moral da história: a todo instante ela estava ensinando as normas da casa e transmitindo-as como se fossem a prática de todos os terreiros de Umbanda!

Filho de Umbanda aprenda que nossa religião está constantemente passando por transformações, que em cada casa de axé a espiritualidade conduz as coisas da maneira como é preciso ser feito ali, e que na Umbanda não existe um Vaticano para impor suas normas sobre os demais! Não temos papas, nem patriarcas e nem Grão Mestres!

Sou capaz de aceitar as normas da casa da dirigente acima mencionada, mas sou incapaz de aceitar que isso seja uma norma em todas as casas de Umbanda!

A Umbanda é uma religião centralizada principalmente na prática da caridade e não nos dogmas. Sendo assim, menos dogmas e mais prática da caridade, afinal, desta segunda depende nossa evolução espiritual e o progresso da humanidade.


Que Oxalá abençoe a todos!

Aprendendo com o exemplo dos Pretos Velhos

Lição de Preto Velho: Aprendendo com o exemplo dos Pretos Velhos



Por
Arauto de Aruanda

“Preto Velho de batalha, faça de mim batalhador! Me abençoa Preto Velho, Santas Almas do Senhor”

Ao lidarmos com magia, bem como com os espíritos, queremos que tudo saia à nossa maneira. Desejamos que nossas vidas se tornem um mar de rosas, e, quando não queremos estar isentos dos problemas que surgem no decorrer de nossa vida, auspiciamos pelo menos não vivenciá-los numa proporção grande.

Quem não é assim? Somos todos humanos!

Se você, caro leitor, se identifica com a realidade acima retratada, acompanhe-me nessa lição de um Preto Velho.

Todos sabemos, ou ao menos deveríamos saber, que os Pretos Velhos quando ainda revestidos de seu invólucro material, isto é, ainda encarnados, vivenciando sua peregrinação terrestre, eram exímios conhecedores da magia e a manipulavam com muita facilidade, bem como nos dias atuais em sua condição de espíritos desencarnados. Cultuavam os orixás, faziam suas mirongas, possuíam sua fé e práticas religiosas, e, assim o é, até os dias de hoje quando estes espíritos iluminados vêm aos nossos terreiros nos aconselhar, curar e nos consolar.

Muitos sabem, embora, queiram ignorar este fato por algum motivo, que apesar dos Pretos Velhos terem suas práticas religiosas, cultuarem o orixá, dominarem com maestria o uso da magia, eles passaram por grandes apuros quando viviam em nosso planeta sob a condição de encarnados. E aqui surge um assunto sobre o qual poucos querem ler ou conversar: assim como os vovôs e vovós que nos auxiliam, todos nós passaremos por diversas situações agradáveis ou desagradáveis enquanto estivermos em nossa condição de encarnados e, talvez, na situação de desencarnados também!

É fácil, e, gostoso rir e beber com exu, ser agraciado pela espiritualidade, mas é muito difícil alguém se dispor a sentar com algum Preto Velho para aprender qualquer coisa que seja, principalmente quando este conhecimento se refere à nossa evolução espiritual.

Assim como é verdade que “macumba (não no sentido pejorativo da palavra) sem exu não existe” e “que sem exu não se faz nada”, também é assertivo dizer que, para nós membros das religiões afro-brasileiras, sem Preto Velho não se progride no caminho da sabedoria e da evolução espiritual, pois, esta é a entidade de trabalho na umbanda que mais nos fala sobre as máximas do evangelho de Cristo.

Uma vez Maria Padilha das Almas disse, num terreiro em que eu costumava frequentar, que para ela a linha de trabalho dos Pretos Velhos era uma das mais importantes dentro da Umbanda, pois, esta equipe espiritual era a que nos trazia equilíbrio e sempre nos conduzia de volta ao caminho de evolução espiritual. As palavras de Dona Maria Padilha são reafirmadas na cantiga de umbanda que asseguram: “quem anda com Preto Velho anda de vagar de ‘vagarinho’. Quem anda com Preto velho não se perde no caminho”.

Não é errado pedir o auxílio da espiritualidade no que tange às vivências humanas, no entanto, devemos sempre nos lembrar de que estamos aqui para evoluir, e, que para conseguirmos alcançar esse objetivo devemos passar por experiências terrenas, as quais nem sempre nos serão agradáveis, inclusive, sendo, muitas vezes, até muito dolorosas. Nesse caso, a única coisa que a espiritualidade pode fazer é nos dar forças para enfrentarmos as provações da vida. E isso já é um grande motivo para sermos gratos!

Os livros sagrados de todas as religiões não nos falam de nenhuma facilidade, ao contrário, falam-nos de lutas e dificuldades pelas quais teremos que passar, e, a mesma coisa nos dizem as sendas espiritualistas. Os próprios Pretos Velhos são exemplos disso!

Quer evoluir? Quer ser rico? Quer que te amem? Quer a casa ou o emprego dos sonhos?

Aprenda com Preto Velho que tudo se adquire com muita luta e suor, pois, o trabalho é uma benção divina (Gn. 3:19).

A menos que você ganhe na loteria ou receba uma grande herança, não ficará rico do dia para a noite; e nem pense em pedir para ganhar na loteria para um Preto Velho, pois, ele seria o primeiro a te ensinar a lição da inchada.

Da mesma forma, amor e evolução são coisas que se conquistam com trabalho, bem como a aquisição de uma casa ou do emprego dos sonhos. Já viu alguém exercer de verdade a profissão de médico sem ter se empenhado anos estudando para tal exercício?

Que Preto Velho nos ensine a usar a magia quando devemos, a vivenciar tudo o que precisamos e a ser humildes para sermos gratos pelas pequenas coisas que da espiritualidade recebemos, e, que acima de tudo, tenhamos amor no coração e que com os mais desfavorecidos o compartilhemos e sigamos o caminho de nossa evolução espiritual sem se desviar nem para a direita e nem para a esquerda!


Muito axé!

Salve às crianças!




Por Arauto de Aruanda

Certa vez assistia a uma reunião de estudos em um Centro Espírita Kardecista, quando surgiu no desenrolar dos assuntos o tema espíritos que se apresentam e se comportam como crianças, isto é, nossos queridos erês, e, também, os exus e pombogiras mirins.

Uma médium ali presente argumentava que tais manifestações eram desnecessárias, considerando que um espírito “sério” se apresentaria de maneira formal devido à seriedade de uma reunião mediúnica. Seguindo a mesma perspectiva da médium, o dirigente da casa espírita enfatizava que ditas comunicações mediúnicas tratavam-se, na realidade, de espíritos “brincalhões”, e que, manifestações desta natureza não poderiam ser levadas a sério, classificando-as como frívolas.

Como umbandista, bem como estudioso e simpatizante da doutrina espírita, me posicionei e disse que havia um porquê dos espíritos se fazerem presentes desta maneira nas reuniões, e explanei alguns motivos para tentar conscientizá-los sobre tal necessidade. Como não me permitiram discorrer muito sobre o tema, pois este não fazia parte da temática do dia, interromperam-me, mas finalizei meu discurso afirmando que só quem passou por uma experiência com estas entidades poderia conhecer os benefícios que elas nos proporcionam.

Meu objetivo ao escrever sobre o assunto não é polemizar o tema, criar rivalidades e muito menos recrutar fieis para engrossarem as fileiras da Umbanda, até mesmo, porque, ela nos ensina o respeito à diversidade de opiniões e à pluralidade religiosa e, é por isso, que consiste em uma religião tão dinâmica e diversificada.

No entanto, como no diálogo de Allan Kardec com o padre católico que o questionava sobre o principal motivo dos espíritas se esforçarem para refutar a argumentação católica contra a doutrina espírita, o meu desejo se pauta em combater discursos infundados oriundos de conceitos pré-concebidos. (Observação: O referido diálogo poderá ser lido na íntegra na obra de Allan Kardec intitulada “O que é o espiritismo”. Ano: 1804-1869, p. 69-90, IDE editora).

No mesmo diálogo, Kardec afirma ao nobre membro do clero católico que, se os espíritos se comunicam, isto ocorre apenas e tão somente pela anuência do Criador (op. cit. p. 75). Desta forma, Deus, sendo sapientíssimo, permitiria “algo desnecessário”? Ou estaria o Senhor do universo interessado na diversão humana, já que classificam ditas comunicações como sendo “frívolas”? Não creio que o mais sábio de todos os seres se preste a esse papel!

Em minha opinião, os preconceitos supramencionados se originam de dois fatores:

1 – o evidente equívoco de que espírito evoluído é aquele que se comporta como possuidor de alto grau de intelectualidade, domínio de diversas áreas da ciência, e padrões comportamentais da classe alta; Pura ilusão!
2 – por terem se fechado em seus conceitos e neles terem se estagnado, ou seja, por não se abrirem a novas experiências.

No que tange ao primeiro item, posso dizer que o conceito que possuem de espírito evoluído é parcialmente guiado por padrões humanos. Em alguns casos chega a até ser hipócrita! Por exemplo, Divaldo Franco afirma em uma palestra, cujo vídeo se encontra no YouTube, que os Pretos Velhos são espíritos que não evoluíram porque se apegaram a cor, vestimentas e ao falar incorreto de sua última reencarnação.

Nada disso serve para classificar um espírito como evoluído ou não! Até mesmo porque o padrão de norma culta da língua que seguimos, as regras de etiqueta e boas maneiras, bem como a definição de cultura, literatura e intelectualidade são definidos pela elite. Fato inegável, relatado, sobretudo, dentro das universidades.

Concordo com ele que a espiritualidade não tenha cor, mas nos detenhamos em um pequeno detalhe: um espírito não pode se apresentar como negro e falando um português incorreto, mas é inquestionavelmente permissível se mostrar como Joanna de Angelis, branca como a neve, trajando vestes de abadessa e falando como doutora? Não está ela também presa a materialidade de sua última reencarnação? Um espírito não pode se apresentar como criança, índio, baiano, preto velho e etc., que é taxado de inferior, mas é normativo se revelar como líder político de uma nação, abadessa, médico, literato falando o português culto e trazendo uma mensagem com aspectos morais que é considerado um espírito evoluído?

A propósito, as mesmas mensagens de teor moral e de evolução espiritual que sempre escutei nas casas espíritas, escuto dentro dos centros de umbanda, quer seja pela boca de um exu ou pombogira, de uma criança, de um índio ou de um preto velho.

Mas, voltando ao foco inicial do artigo, “as crianças” têm variadas missões: descansar o corpo do médium após o trabalho mediúnico, equilibrar e harmonizar o períspirito do médium para as comunicações que vai receber, realizar curas na área psicológica... São tantas e desconhecidas as funções do trabalho das crianças que nem poderíamos imaginar!

Ah, mas um espírito não poderia fazer isso se apresentando de outra forma? É claro que sim (em minha opinião), mas se respeitamos um espírito que se apresenta com características de médico (Bezerra de Menezes), outro que se apresenta com traços de feminilidade e características de monja (Joanna de Angelis), temos obrigatoriamente que aceitar todas as formas de apresentação espiritual que esses benfeitores queiram adotar. Caso contrário, estaríamos “medindo com dois pesos e duas medidas”.

Que sejam rotulados de inferiores! O lema da umbanda é: “com os espíritos adiantados aprenderemos, aos atrasados adiantaremos E A NENHUM DESPREZAREMOS!”

Talvez, a criança e os outros espíritos da umbanda possuam um cunho social e humanitário:

- as crianças mostrarem que nossos menores devem ser escutados e respeitados;
- os pretos velhos indicando que o racismo ainda existe e que sabedoria independe de grau de escolaridade, cor e condição socioeconômica;

A propósito, Nossa Senhora da Conceição Aparecida é respeitada por trazer essa mensagem sem que os referidos religiosos a julguem um espírito inferior; por que os pretos velhos não mereceriam similar respeito?

- os índios trazem à tona a questão ecológica e humanitária, sobretudo, quando no Brasil, nos dias atuais, perdem seu lugar para o homem “branco, civilizado e evoluído” do terceiro milênio;
- e assim por diante.

Salve as crianças! Crianças que nos consolam, que nos orientam, que nos dão apoio espiritual, que nos alentam na caminhada rumo à evolução espiritual! A todos vocês nosso respeito, amor e gratidão!

Saravá às Sete Linhas de Umbanda!

Coisas que a Umbanda não aceita




A definição de Umbanda, proclamada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas por intermédio de Zélio Fernandino de Morais, o fundador da Umbanda, que consiste “na manifestação do espírito para a prática da caridade”. Sendo assim, a Umbanda não aceita e não pode aceitar dentro de seus terreiros:

- sacrifícios de animais;
- sangue em rituais;
- trabalhos realizados com objetivos maléficos;
- trabalhos cobrados, isto é, em que se recebe dinheiro para realizá-los;
- guias espirituais estressados maltratando consulentes;
- guias espirituais falando palavrões;
- espíritos cobrando por seu auxílio espiritual;
- trabalhos de amarração amorosa;
- detenção de guias (fios de conta), copos de anjo da guarda, assentamentos de exu e orixá de médiuns dentro dos terreiros, caso o médium queira retirá-los de lá;
- jogar lixo do terreiro nos rios ou em outro domínio da natureza;
- acender velas em domínios naturais;
- entre outros.

Pois:

- prezando a vida, não aceita, e, tampouco justifica a matança;
- sendo a religião da caridade, não aceita a prática do mal;
- a caridade é incondicional, portanto, não é praticada a troco de dinheiro;
- na caridade há compreensão, amor e pacificação, e não há lugar para maus-tratos;
- se não aceita ofensas, muito menos palavrões que são palavras ofensivas;
- preza o livre-arbítrio, portanto, não detém objetos pessoais de seus filhos, e tampouco, interfere espiritualmente nos caminhos de uma pessoa de forma a tirar-lhe o livre-arbítrio como no caso da amarração amorosa;
- sendo a religião que cultua a Mãe-Natureza, preza por sua conservação.

E o que falar de Exu que trabalha na troca?

Quando a troca significa dar dinheiro, presentes e outros agrados e não se tratam de uma oferenda por meio da qual o exu vai retirar a energia necessária para realizar seu trabalho, devemos considerar que isto não está em consonância com o lema umbandista que é a prática da caridade.

Como diz a cantiga de Umbanda: “exu também faz caridade!”. E, considerando que a Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade, na Umbanda, mais do que em qualquer outro lugar, exu deve trabalhar para a lei da caridade – que é a lei de Umbanda – e por sua evolução espiritual apenas.

Muito Axé!