segunda-feira, 9 de maio de 2016


HISTÓRIA DE UM PRETO VELHO

Douglas Fersan

Tudo começou na pequena Paranapiacaba, uma vila pitoresca, com arquitetura e clima (leia-se neblina) que lembra as cidades inglesas do século XIX e destinada à moradia dos trabalhadores da Rede Ferroviária Federal. As casas – algumas mais simples (onde moravam os trabalhadores mais humildes), outras mais requintadas (que abrigavam os engenheiros da ferrovia, os verdadeiros mandatários da empresa) – eram de madeira, pintadas de um tom entre o vermelho e o marrom, enquanto as de alvenaria, mais simples, eram pintadas de cal com um pigmento amarelo. Parece que esses detalhes imprimiam um aspecto ainda mais melancólico ao local.

Mas a casa onde dona Lidia morava não se encaixava em nenhum desses quesitos. Era uma casa extremamente humilde, de madeira, já bem úmida e surrada pelo tempo, a última casa da Rua Antônio Olinto abrigava a boa senhora, o marido e o casal de filhos. Os fundos do quintal davam para a mata fechada, que era bela, mas trazia alguns problemas, tais como a invasão de animais indesejados (cobras, morcegos, sapos), além de causar uma sensação de insegurança bastante justificável – tipos suspeitos costumavam se esgueirar por aquele local, sabe-se lá com qual finalidade. Tudo isso deixava dona Lidia apreensiva, pois seu marido, seu Sergio, saía para trabalhar antes do amanhecer e só voltava ao cair da tarde. Isso a fazia sentir-se refém da situação, junto aos filhos, durante todo o dia.
Em uma triste ocasião, um vizinho maldoso tentou arrastar a filha do casal para o matagal, com as piores intenções. Só não conseguiu seu intento porque outros moradores perceberam o movimento e agiram a tempo.

A vila era pequena e existiam algumas casas, melhor localizadas, que estavam desocupadas. Dona Lidia sempre pedia ao marido que solicitasse junto à sua chefia uma outra moradia, mas ele sempre retornava dizendo que o pedido havia sido negado.
Numa atitude de desespero, sem que o marido soubesse, ela pegou os dois filhos e foi São Paulo, tentar conversar com o superintendente da RFFSA. Após horas de cansativa espera foi atendida. O engenheiro a recebeu bem, ouviu a sua história, mas cordialmente disse que não atenderia o seu pedido. Explicou que seu Sergio era um excelente profissional e dentro da empresa somente ele dominava a técnica de desenhar manualmente (naquela época era assim) as letras que identificavam os vagões. No entanto, por ser consciente disso, era um tanto abusado em seu comportamento. Desrespeitava a hierarquia da empresa, não cumpria corretamente seu horário de trabalho, brigava, discutia com os superiores, enfim, era bom no que fazia, mas não era merecedor de privilégios devido ao mau comportamento.
Dona Lidia foi embora arrasada, deprimida. Precisava sair daquela casa a qualquer custo. Sentia um nó na garganta, mas segurou o choro para não abalar as crianças. Resolveu então visitar uma cunhada que morava ali perto, a fim de desabafar um pouco.
Chegando lá, falou sobre sua angústia e a cunhada, percebendo que ela não estava bem, convidou-a a ir até uma vizinha que era benzedeira. Lá chegando foram prontamente atendidas e a senhora incorporou uma entidade que se identificou como o preto velho Pai João Benedito. O bom espírito deu um passe em dona Lidia e seus filhos e, depois de falar palavras de conforto, disse:

_A fia pode ficar sossegada, esse preto velho vai ajudar a fia a conseguir o que precisa.

Dona Lidia voltou para casa mais leve, já conformada em ter que viver naquela casa velha, úmida e sem segurança. Mas ao menos sentia que estava protegida espiritualmente.
Algum tempo se passou e a conversa com o preto velho já estava caindo no esquecimento, afinal, como um espírito de um escravo poderia interferir na mudança de uma casa? O negócio era viver a vida, seguindo em frente e aprender a conviver com os sapos (bicho que particularmente dona Lidia tinha verdadeira fobia), cobras e outros animais repugnantes, além do constante medo por estar à mercê de um invasor que viesse pelo matagal.
Uma noite, seu Sergio adormeceu assistindo à TV junto com a filha no sofá da sala. Dona Lidia cansada do trabalho diário, foi para a cama e colocou o filho mais novo na cama (a casa era tão pequena que todos dormiam no mesmo quarto). Quando estava quase adormecendo ouviu barulho vindo da janela do quarto. Seu medo foi tamanho, que ficou paralisada: não conseguia se mover ou gritar pelo marido. Seu medo aumentou quando lembrou que a cama em que o filho pequeno dormia ficava logo abaixo da janela.

Ainda paralisada e apavorada percebeu a janela se mexer e viu que lentamente alguém a levantava. Em poucos minutos o ladrão estaria dentro do quarto e, pior que isso, poderia fazer o pequeno menino de refém. Os poucos segundos pareceram uma eternidade. Quando enfim a janela estava aberta, um homem negro, de cabelos levemente grisalhos enfiou a cabeça pela janela e olhou diretamente nos olhos de dona Lidia. Foi nesse instante que ela saiu daquele torpor e conseguiu gritar por socorro. Seu marido acordou assustado e veio correndo. Nisso o negro soltou a janela, que desceu com violência, quebrando todos os vidros, e sumiu no mato.

A polícia foi chamada e vasculhou todo o matagal sem encontrar qualquer indício do invasor. A janela mostrava os sinais de arrombamento e, felizmente, os cacos de vidro não causaram sequer um arranhão no pequeno menino que fora atingido pelos estilhaços.
Se tratando de uma vila pequena, o caso se tornou conhecido de todos os moradores. Todos comentavam sobre a casa no matagal, que expunha seus moradores aos mais diversos riscos. Diante da situação, os mandatários da RFFSA ficaram preocupados, pois se algo mais grave acontecesse, especialmente às crianças, eles poderiam ser responsabilizados. Trataram então de ceder uma nova moradia à dona Lidia e sua família, num local mais tranquilo e seguro de Paranapiacaba. A casa velha e úmida foi demolida. Ninguém mais sofreria nela.

A mudança foi feita. Na nova casa dona Lidia iniciou uma nova vida, mais tranquila e feliz.

Algum tempo depois visitou a cunhada e novamente foi convidada a “tomar um passe” com aquela mesma benzedeira, que de novo incorporou a doce figura de Pai João Benedito. Após breve conversa, o velhinho perguntou a dona Lidia:

_A fia está feliz na casa nova?

Ela respondeu que sim e começou a relatar o ocorrido, quando tentaram invadir a casa, porém foi interrompida pelo preto velho, que disse:

_Não precisa contar, não fia... eu sei o que aconteceu. Quem levantou aquela janela não foi um ladrão e nem alguém que queria fazer mal para você e sua família. Fui eu que estive lá. Com a confusão que causei os homens que mandam acharam melhor dar uma casa nova para a fia morar.

Dona Lidia ficou sem palavras, então o preto velho continuou, dizendo que a acompanharia e sempre que precisasse, para chamar pelo seu nome. Pediu também que ela não esquecesse de colocar um cafezinho para ele todos os dias. Assim ela fez até o último dia de sua vida.
O filho de dona Lidia, depois de adulto, iniciou-se na Umbanda. Aos poucos foi desenvolvendo sua mediunidade e recebendo suas entidades. Quando o seu preto velho se manifestou pela primeira vez, perguntaram seu nome, ao que prontamente ele respondeu:
Sou Pai João Benedito, um nêgo veio que trabalha humildemente na Umbanda. Acompanho esse cavalo desde que ele era um cabritinho. A mãe dele foi sempre grata e fiel a mim, nunca se esquecendo de me oferecer um cafezinho num cantinho discreto da sua casa. Agora eu vim para dar continuidade ao meu trabalho de caridade através desse menino, que eu conheço tão bem e que tantas vezes já orientei e protegi sem que ele nem percebesse.

Assim é a Umbanda: usa de meios que num primeiro momento não entendemos, usa métodos que até duvidamos, mas que sempre objetivam o nosso bem. Assim são os pretos velhos: trabalham discretamente, de maneira sábia e humilde, sem pedir nada em troca, no máximo um cafezinho, que serve mais para reavivar nossa fé do que para qualquer outra coisa. Assim são esses sábio trabalhadores. Jamais nos abandonam ou nos deixam sem
respostas.

Salve a corrente africana.
Salve os pretos velhos.
Salve Pai João Benedito.
Adorei as almas.

PS: essa é uma história verdadeira

História Terrena de Um Preto Velho


Noite na senzala. Os escravos amontoam-se pelo chão arranjando-se como podem. Engrácia entra correndo e vai direto até onde Amundê está e o sacode: - A sinhazinha está chamando, é urgente! - O escravo é conhecido pelas mezinhas e rezas que aplica a todos seus irmãos e o motivo do chamado é justamente esse. O filho de Sinhá Tereza está muito doente.
É apenas uma criança de cinco anos e arde em febre há dois dias sem que os médicos chamados na corte consigam faze-la baixar. Sem ter mais a quem recorrer, no desespero próprio das mães, resolveu seguir o conselho de sua escrava de dentro e chamar o africano.
 
Aproveitando a ida de seu marido à cidade, ele jamais concordaria, manda que venha. Sabendo do que se tratava o homem foi preparado. Levou algumas ervas e um grande vidro com uma garrafada feita por ele e cujos ingredientes não revelava nem sob tortura.
 
Em poucos minutos adentram o quarto do menino e Amundê percebe que precisa agir com presteza. Manda que Engrácia busque água quente para jogar sobe as ervas que trouxe enquanto serve uma boa colherada do remédio ao garoto. Dentro de uma bacia coloca a água pedida e vai colocando as folhagens uma a uma enquanto reza em seu dialeto.
 
Ordena que desnudem a criança e carinhosamente a coloca dentro da bacia passando-lhe as ervas no pequeno corpo. Nesse instante a porta se abre e surge o Sinhô Aurélio acompanhado do padre da cidade. Tereza grita e corre até o marido desculpando-se. O padre dirige-se a ela com ferocidade: - Como entrega seu filho a um feiticeiro? - dirigindo-se ao marido - Diga adeus ao menino, após passar por essa sessão de bruxaria ele morrerá sem dúvida! Tereza corre até o filho e o cobre com um cobertor enquanto o marido ordena que o escravo seja levado imediatamente ao tronco onde o capataz aplicará o castigo merecido. - Engrácia, acorde todos os negros para que vejam o fim que darei ao assassino de meu filho! Todos reunidos no grande terreiro ouvem a ordem dada ao capataz: - Chibata até a morte!
 
E vocês - aponta todos os escravos - saibam que darei o mesmo fim a todos que ousarem chegar perto de minha família novamente. As chibatadas são dadas sem piedade, Amundê deixa escapar urros de dor entremeados com rezas o que somente aguça a maldade do capataz.

Lágrimas copiosas correm pelas faces de muitos escravos. Após duas horas de intensa agonia o negro entrega sua alma e seu corpo retesa-se no arroubo final, finalmente descansará. O silêncio do momento é cortado por um grito vindo da principal janela da casa grande: - Aurélio, pelo amor de Deus - é Tereza com o filho nos braços - o menino está curado, a febre cedeu e ele está brincando! Assim morreu Amundê conhecido em nossos terreiros como o velho Pai Francisco de Luanda. Sua benção, meu pai! Permita que jamais voltemos a ver algo tão perverso em nossa história.

A História De Vovó Cambinda

                  


Arriou Na Linha Das Almas,
Cambinda De Fé Oi Babá,
Velha Feiticeira Lá Da Guiné,
Vem De Muito Longe Pra Curar Filhos De Fé.

Vovó Cambinda Tem Sua Guia,
Trabalha De Noite E Reza De Dia.
Vovó Cambinda Quer Encruzá,
Ponto De Pemba No Meu Gongá.

Agô Pro Povo D'Angola,
Agô Pro Povo De Mina,
Saravá As Santas Almas,
Agô Pra Vovó Cambinda.


    Vovó Cambinda é uma Preta Velha Amada por todos que amam a
Umbanda. Todos tem nela um exemplo de amor e caridade, pois ela
própria é assim.

    Com seu jeito humilde e dócil, ela conquista a confiança de
todos, fazendo assim que seus consulentes abram o coração de uma forma
extrema, sem receios, sem vergonha de se expressar, sem medo, apenas
com o dar e receber um carinho grandioso, como se fosse um neto ao
lado de sua avó preferida.

    Essa vovó sempre atenta a todas as palavras, escuta tudo
calmamente, fazendo com que todos os "grandiosos problemas" se pareçam
apenas minusculos fatos aos olhos de otimismo de nossa amada Preta
Velha, e passando assim aos seus amados "netos e netas", para que eles
reajam com mais força e mais fé a qualquer obstáculo na caminhada que
as vezes pode parecer tão difícil.

    A senhora Cambinda é uma das Pretas Velhas mais conhecidas na
história da Umbanda. Em diversos Terreiros podemos encontrar uma velha
com o mesmo nome, pois como a nossa Velha Cambinda fora reconhecida e
respeitada por várias gerações de negros pelos seus atos de caridade,
muitos desses negros colocavam o nome de Cambinda em seus filhos para
homenagear a nossa amada Vovó Cambinda.

    Vamos falar um pouco dessa Preta Velha, e saber como foi que ela
alcançou tamanho respeito.

    Cambinda era uma menina ainda quando fora tirada da Guiné, sua
terra natal. Foi trazida para o Brasil nos meados do século XVI
em navios negreiros, que eram conhecidos como "Tumbeiros", e tinha
esse nome pois praticamente a metade dos negros que nele vinham,
morriam antes do findar da viagem.

    Cambinda e seus pais vieram em um desses navios, e por meses
viveram amontoados nos porões imundos, repleto de cadáveres e negros
adoentados, sem comida e água suficiente a todos.

    A Mãe da menina Cambinda, com seu jeito carinhoso, doce e
caridoso, abraçava a menina e lhe falava baixinho:

"Não tenha medo, logo logo tudo isso vai terminar. E eu prometo estar
sempre a seu lado quando precisar."

    E com essas palavras a mãe da menina a ensinava clamar a Zambi
(Deus) a Oxalá e a todos os Orixás, pedindo sempre força e fé para que
assim pudesse ajudar os irmãos negros adoentados na dura jornada de
luta pela sobrevivência.

    E assim a menina Cambinda rezava, clamava e pedia forças a Zambi,
não só para os irmãos negros, mas por ela própria, pois mesmo sendo
uma criança, e sem entender muito os acontecimentos, sentia que as
coisas eram ruins naquele momento, mas tinha a dor e sentimento que
ainda o pior estaria por vir.

    Havia muitas crianças no porão do navio que estava a doce
Cambinda, e foi determinado pelos traficantes de negros que seria
preservados os meninos e homens adultos não adoentados, pois esses
sim valeriam muito dinheiro aos serem vendidos na chegada ao Brasil.

    Mulheres e meninas não adoentadas seriam alimentadas, mas apenas
uma vez ao dia e o mínimo possível, e o restante que se encontravam
adoentados, seriam avaliados e se os males fossem de uma forma mais
intensa, esses seriam lançados ao mar, ainda vivos.

    Os cadáveres já em decomposição foram retirados dos porões e
lançados ao mar.

    A menina Cambinda rezava aos Orixás clamando que os
espíritos de seus irmãos fossem levados ao encontro de Zambi. A cada
corpo retirado ela se ajoelhava rezando com seus olhos lacrimejados,
e olhando a sua mãe que desesperadamente tentava esconder a angústia
por poder ser elas as próximas vítimas das maldades dos traficantes de
negros. A menina a acalentava e dizia baixinho para que ela tivesse
muita fé, pois Zambi não ia deixá-las morrer na viagem, pois elas
teriam muitas caridades a fazer ao seu povo quando chegassem ao seu
destino.

    E ela dizia isso convicta, pois por muitas noites em que dormia no
amontoar dos porões fétidos, a menina sonhava com uma linda negra que
lhe abraçava carinhosamente, lhe dizia que ela estaria sempre
protegida pela força das águas do mar, e que a cada onda que passasse
levaria todas as dores, tristezas e angústias do seu corpo e de seu
coração, bastaria que ela tivesse fé nos Orixás e nas forças da
natureza.

    E Cambinda assim o fez, acreditando fielmente em seus sonhos, e
aprendendo dezenas de rezas e benzeduras, assim como fazer a cura em
adoentados do corpo e espírito através dos preparos com ervas,
peixes, água, algas, entre tantas outras coisas que lhe fora ensinada
através de seus sonhos de luz vindos por intermédio da linda negra que
se fazia brilhar como os raios do Sol.

    A menina Cambinda, escondida da tripulação do navio negreiro,
fazia suas benzeduras nos negros doentes, se utilizava de tudo que
podia para acalentar as dores de seus irmãos, e com isso foi obtendo
grandes resultados.

    Sua mãe bastante impressionada com os atos da filha, decidiu então
auxiliar em tudo que poderia. E assim as duas trabalhavam
incansavelmente por dias e noites a fio para que os seus irmãos negros
tivessem mais uma chance de sobreviver sem as ameaças dos traficantes
de escravos.

    Chegando em terra firme, Cambinda foi levada a uma fazenda de cana
de açúcar e café no interior do Nordeste do Brasil juntamente com seus
pais e centenas de outros negros.

    Nessa fazenda ela viveu toda sua vida, e também nessa fazenda que
ela conheceu uma negra velha que por gostar muito da menina prometeu
que a ensinaria tudo sobre rezas, benzeduras, ervas, chás, esfregaços
e limpezas do corpo e da alma de espíritos sem luz, que aprendera em
seus 90 anos de idade.

    E assim foi feito, os anos passavam, e Cambinda, que já estava uma
mulher feita, aprendera tudo que lhe foi ensinado pela negra já
centenária.

    Com os ensinamentos da negra, e com todas as lições que Cambinda
aprendeu em sonhos, ela se transformou em uma das maiores benzedeiras
da região, além de encaminhadora, de parteira, de curandeira de
diversos males, tanto do corpo físico quanto do espírito.

    Certa vez, Cambinda já uma senhora madura, foi chamada para fazer
o parto da esposa do coronel fazendeiro, da mesma fazenda na qual ela
era escravizada. Ao chegar aos aposentos da sinhá ela observou que
tinha algo de errado naquela gestação. Se ajoelhou diante da cama na
qual se encontrava a mulher grávida, e rezou profundamente, pedindo a
Mãe Iemanjá que lhe mostrasse qual era o mal que estava ocorrendo no
ventre da sua sinhá.

    E assim de olhos fechados, compenetrada em seus pensamentos,
Cambinda se depara com a imagem da linda Negra que ela tanto
conhecia. E a bela negra diz a Cambinda que estaria na hora de
realizar o parto, mas das duas vidas que estavam no ventre da sinhá,
apenas uma sobreviveria, e que a partir do dia do nascimento da
criança que ficaria encarnada, deveria ser contados 7 dias, e nesse
sétimo dia deveria ser feito uma limpeza de retirada de espíritos
malignos e sem luz, pois eles viriam buscar a alma do recém nascido,
assim como fizeram com a criança que já ia sair do ventre da mãe sem
vida.

    Cambinda chorou, todos olharam para ela sem entender o motivo das
lágrimas.

    O coronel a puxa pelo braço com violência. Grita, quer saber o que
está acontecendo.

    A negra abaixa a cabeça e num sussurro diz ao coronel que no
ventre da sinhá há duas crianças, uma vai sobreviver, a outra já está
desencarnada.

    O coronel desesperado manda ela fazer o parto, e diz que se algo
de ruim acontecer com as crianças ou com a sinhá, a negra irá pagar
com a própria vida.

    A negra Cambinda faz o parto, primeiro nasce uma menina, e logo em
seguida sai o corpo inerte de um menino. Ela o retira e entrega ao
coronel, dizendo que o menino já estava sem vida.

    O coronel a olha com um grande ódio, e enquanto as mucamas fazem a
limpeza do ambiente e da menina recém nascida, a sinhá chora a morte
de seu menino, que se encontra nos braços do coronel.

    Ele pega a negra Cambinda pelo braço e a arrasta para fora dos
aposentos da sinhá, a leva até as mãos de um feitor e ordena que a
leve ao tronco e a deixe lá até morrer, mas antes a açoite sem dó nem
piedade.

    Cambinda apenas olha o coronel, como se entendesse o seu ódio. E
antes de ser levada diz ao coronel:

    "Espíritos da escuridão levaram a alma de seu menino. Esses
espíritos são frutos de seu ódio contra os negros que o senhor
escraviza como animais. Minha Mãe Iemanjá, na sua proteção materna, já
tinha me mostrado que uma das crianças estaria desencarnada no ventre
da sinhá, e que deveria ser contado sete dias após o nascimento, pois
no sétimo dia esses espíritos da escuridão voltariam para levar a alma
da outra criança. Peço que não deixe seu ódio fortalecer esses
espíritos, pois assim sua filha poderá ser salva das garras malignas
da morte e desses obsessores da escuridão."

    O coronel sem dar atenção a negra, manda a levarem ao tronco e
obedecerem as ordens dadas.

    E assim foi feito.

    Já no tronco, a negra foi açoitada, seu corpo ardia, feridas
abriam e ela chorava baixinho.

    Sua mãe, que agora já estava uma velha negra quase sem forças,
clamava aos feitores ajoelhada a seus pés, por clemência a sua filha.
O feitor manda retirar a velha negra dali, que fora arrastada e jogada
na senzala.

    Cambinda de olhos fechados, rezava pedindo forças aos Orixás. E em
resposta a voz da negra que por tantas vezes apareceu em seus sonhos
lhe dizendo para que ela não fraquejasse sua fé. Teria que aguentar a
dor, o sofrimento e a humilhação, mas não por ela própria, não por sua
vida, mas para que pudesse no sétimo dia estar com forças para salvar
o espírito de uma criança inocente.

    E assim foram se passando os dias, Cambinda resistia fortemente o
tronco, as chibatadas, as noites frias, a falta de comida e bebida.

    E enfim chegou o sétimo dia.

    Nos aposentos do coronel com a sinhá, se encontrava a menina recém
nascida. Tinha sete dias de vida. E inocentemente dormia sem saber que
estava sendo observada por espíritos da escuridão.

    O coronel se preparava para mais um dia de comando de sua fazenda,
quando a sinhá se levanta da cama, e sem dizer nada anda até ele. O
olha no fundo dos olhos, abre um pequeno sorriso, e o ataca numa
ferocidade devastadora.

    Com uma voz rouca diz que chegou a hora dele perder mais um pedaço
de sua alma. Que já tinha levado seu filho e agora veio para buscar a
menina. E com isso deu um salto indo para junto da criança.

    O coronel assustado avança para junto da esposa na intenção de a
deter, e assim salvar a sua filha. Num segundo de reflexão ele se
lembra das palavras da negra Cambinda, lembrando-se também que estava
fazendo exatamente sete dias do nascimento de sua filha.

    Ele tentando controlar a esposa, que estava obsediada, tomada por
uma força descomunal, um espírito negro que o olhava com ódio,
grunhindo e tentando a todo custo atacar a pequena recém nascida.

    O coronel agarra com todas as suas forças o corpo da mulher, mas
ela com uma força grandiosa o joga contra a parede. Ele mesmo
atordoado volta em sua tentativa de conter a sinhá. Grita por socorro,
pede ajuda aos negros que trabalhavam dentro da casa grande.

    Ao ouvir seus gritos desesperados, os negros correm em direção
dos aposentos do casal. Uma velha negra adentra ao cômodo vendo aquela
cena demoníaca, enquanto o coronel agarrado ao corpo da sinhá, pede
desesperadamente que fossem buscar a negra Cambinda, que ainda se
encontrava presa ao tronco.

    E assim foi feito.

    Ao chegarem com a negra, que se encontrava com suas vestes
rasgadas, seu corpo surrado, feridas abertas, o sangue manchando seu
corpo e os trapos que vestia, Cambinda se pôs de joelhos em oração,
clamando a sua Mãe Iemanjá que lhe mostrasse o caminho para vencer tal
força daquele espírito da escuridão.

    De olhos cerrados, ela vê a imagem da negra Mãe, sua voz serena,
seu jeito amável e sua luz entram na mente da velha Cambinda, lhe
dizendo:

"Filha amada, chegou a hora de mostrar tudo que aprendera em todos
esses anos. Vá até fora dessa casa, lá você vai pegar 7 ervas que sua
intuição vai lhe mostrar, dessas 7 ervas traga apenas 3, e dessas 3
apenas uma vai ser a que poderá salvar a vida dessa criança das garras
desse espírito sem luz. Ao retornar aqui, passe essa erva no corpo da
pequena. Se for a correta a criança estará salva, caso sua fé for
menor que a força desse obsessor, a alma da criança irá para os
domínios do reino da escuridão."

    E assim ela sai em disparada, enquanto a sinhá era segura pelo
coronel e mais 3 negros escravos.

    Ela faz o que lhe foi dito, e retorna para os aposentos do
coronel. E com uma só erva escolhida na mão, ela se aproxima da menina
recém nascida, esfrega a erva nas mãos, e passa por todo corpo da
criança. Nesse momento a sinhá se desvincula dos fortes braços dos
negros e do coronel e corre em direção a filha. Ela empurra Cambinda a
jogando longe e ao chão, e quando se aproxima da criança, seus olhos
estão vermelhos de ódio, um ódio maligno, incomum, ela olha para o
coronel e num grunhido diz apenas a frase:

"Eu levarei mais essa alma comigo, e graças a sua crueldade que me da
forças ninguém poderá vencer-me."

    E voltando para a menina novamente da uma terrível gargalhada que
estremece a todos no local.

    Mas quando ela ia atacar a menina, foi jogada para trás como se
uma força invisível a dominasse. Entre gritos e grunhidos, a mulher
desaba ao chão, ficando inerte. No mesmo instante um dos negros que
ali se encontrava, absorve toda aquela força maligna, e por entre
gritos de ódio parte para cima da criança, mas não consegue chegar
perto dela. A erva escolhida pela querida Cambinda a protegia de todos
os males da escuridão.

    Cambinda, numa ação rápida, pega o restante da erva e passa na
cabeça do negro obsediado, que no mesmo momento cai ao chão, da mesma
maneira que a sinhá.

    A negra abrindo os braços, e com uma quantidade de erva em cada
uma das mãos, clama a Oxalá, sua Mãe Iemanjá, todos os Orixás e
Entidades de Luz para que lutem junto a ela, dando-lhe forças e fé
para vencer aquele mal.

    As forças vieram. Um barulho ecoou dentro do quarto, como um grito
de dor e desespero. Cadeiras e mesas viraram dentro de toda a casa
grande, livros caíam das prateleiras da biblioteca do coronel, taças e
garrafas de vinho foram despedaçadas junto as paredes e ao chão.

    E a calmaria voltou. Todos se entreolharam um tanto assustados.
Cambinda se ajoelha e reza. Agradece a força recebida, agradece a
vitória conquistada, agradece pela vida da pequena recém nascida,
filha do coronel.

    Por entre lágrimas e dores, a sinhá desperta, sem entender o
acontecido, da mesma maneira o escravo que também fora obsediado.

    O coronel se ajoelha junto a Velha Cambinda, lhe da um abraço,
chora e lhe agradece, pedindo perdão por tudo, por toda a dor e
desespero que ele a fez passar por 7 dias de amargura.

    Ela com olhar cansado, apenas diz a seu senhor:

    "As forças do mal buscam ódio, maledicência, rancor, nos corações
de quem distribui a dor. Mas essa dor distribuída um dia fará com que
dores maiores possam voltar a quem está fortalecendo o mal. Senhor
coronel, demonstre seu respeito e agradecimento por nosso povo negro,
assim como os Orixás demonstraram um grande amor pelo senhor,
ajudando a salvar sua filha. Lembre-se, não foi apenas um espírito
maligno da escuridão que levou seu filho, o senhor próprio o deu
forças para isso. O mal só vence se não tivermos o bem no coração."

    E assim ela se levantou e caminhou para junto do feitor,
dizendo-lhe:

"Cá estou eu, com a força de minha Mãe Iemanjá, pronta para retornar
ao meu castigo."

    O coronel, mais uma vez, corre para a negra Cambinda pedindo-lhe
perdão e dizendo que ela não iria nunca mais ao tronco.

    Ela de olhos baixos, voz fraca, diz baixinho ao coronel:

"Sou uma negra, meu povo é negro. Enquanto meu povo tiver que sofrer
nos açoites, no tronco, na falta de respeito, de comida e de cuidados,
eu ficarei no tronco, e ficarei lá até meu corpo não aguentar mais,
pois nunca seria livre enquanto ver meus irmãos sendo açoitados até a
morte enquanto eu, que não sou nada nem melhor que eles fico sem o
castigo merecido aos olhos dos senhores e senhoras de pele branca.
O castigo que deveria receber por ser negra."

    O coronel de imediato mandou que fossem tirados todos os negros do
tronco, que todos os troncos fossem destruídos, que todos os negros
fossem cuidados e alimentados descentemente.

    A Velha Cambinda viveu na fazenda até seus 90 anos, ela foi a
cuidadora de muitos males entre negros e brancos. Foi mucama da
pequena sinhá, filha do coronel, que após a primeira filha ainda foi
pai de 5 outras crianças entre meninos e meninas, e nunca mais fora
atormentado pelo espírito obsessor.

    A Vovó Cambinda hoje trabalha caridosamente na Umbanda, auxiliando
seus filhos amados, ajudando a curar males, retirar Kiumbas, Eguns e
Espíritos Zombeteiros da vida de consulentes que buscam ajuda dessa
amada Preta Velha.

    Com seu modo amável e sereno ela está sempre pronta a ajudar no
que for necessário, dentro do merecimento de cada um.

    Saravá Vovó Cambinda!

Adorei as Almas!


Vovó Maria – Causos de Umbanda


Leni W. Saviscki
“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos.”
Vovó Maria fumegava seu pito e batia seu pé ao som da curimba enquanto observava o terreiro, onde os cambones movimentavam-se atendendo aos pretos velhos e aos consulentes. Mandingueira, acostumada a enfrentar de tudo um pouco nos trabalhos de magia, sabia perfeitamente como o mal agia tentando disseminar o esforço do bem.
Sob variadas formas, as trevas vagavam por ali também.
Alguns em busca de socorro; outros, mal-intencionados, debochavam dos trabalhadores da luz. Muitos chegavam grudados no corpo das pessoas, qual parasitas sugando sua vitalidade.
Outros, por sobre seus ombros, arqueando e causando dores nos hospedeiros, ou amarrados nos tornozelos, arrastavam-se com gemidos de dor. Fora os tantos que eram barrados pela guarda do local, ainda na porta do terreiro e que, lá de fora, esbravejavam palavrões.
Da mesma forma, o movimento dos exus e outros falangeiros se fazia intenso no lado astral do ambiente, para que, dentro do merecimento de cada espírito, pudessem ser encaminhados.
Uma senhora com ares de madame se aproximou da preta velha para receber atendimento. Vinha arrastando uma perna que mantinha enfaixada.
– Saravá, filha – falou Vovó Maria, enquanto desinfetava o campo magnético da mulher com um galho verde, além de soprar a fumaça do palheiro em direção ao seu abdome, o que fez com que a mulher demonstrasse nojo em sua fisionomia.
Fingindo ignorar, a preta velha, cantarolando, continuou a sua limpeza. Riscando um ponto com sua pemba no chão do terreiro, pediu que a mulher colocasse sobre ele a perna ferida.
“Será que não vai pedir o que tenho?”, pensou a mulher, já arrependida por estar ali naquele lugar desagradável. “Vou sair daqui impregnada por estes cheiros!”
Vovó Maria sorriu, pois captara o pensamento da mulher, mas preferiu ignorar tudo isso. O que a mulher não sabia era a gravidade real do seu caso, ou seja, aquilo que não aparecia no físico. Se ela pudesse ver o que estava causando a dor e o inchaço na perna, aí sim, certamente ficaria muito enojada. Na contraparte energética, abundavam larvas que se abasteciam da vitalidade do que já era uma enorme ferida e que breve irromperia também no físico.
Além disso, uma entidade espiritual, em quase total deformação, mantinha-se algemada à sua perna, nutrindo, assim, essas larvas astrais. Para qualquer neófito, aquilo mais parecia um cadáver retirado da tumba mortal, inclusive pelo mau cheiro que exalava.
Com a destreza de um mago, a preta velha sabia como desvincular e transmutar toda essa parafernália de energias densas, libertando e socorrendo a entidade escravizada a ela.
Feitos os devidos “curativos” no corpo energético da mulher, Vovó Maria, que à visão dos encarnados não fez mais que um benzimento com ervas e algumas baforadas de palheiro, dirigiu-se agora com voz firme à consulente:
– Preta Velha até aqui ouviu calada o que a ilha pensou a respeito do seu trabalho.
Agora preciso abrir minhas tramelas e puxar sua orelha.
Ouvindo isso, a mulher afastou-se um pouco da entidade, assustada com a possibilidade de que ela viesse mesmo a lhe puxar a orelha.
“Escutou o que pensei? Ah, essa é boa. Ela está blefando comigo.”, pensou novamente a mulher.
– Se a madame não acredita em nosso trabalho, por que veio aqui buscar ajuda? Filha, não estamos aqui enganando ninguém. Procuramos fazer o que é possível, dentro do merecimento de cada um.
– É que me recomendaram vir me benzer, mas eu não gosto muito dessas coisas…– …e só veio porque está desesperada de dor e a medicina não lhe deu alento, não foi ilha? – complementou a preta velha.
– Os médicos querem drenar a perna e eu fiquei com medo, pois nos exames não aparece nada, mas a dor estava insuportável.
– Estava? Por quê, a dor já acalmou?
– É, agora acalmou, parece que minha perna está amortecida.
– E está mesmo, eu fiz um curativo.
A mulher, olhando a perna e não vendo curativo nenhum, já estava pronta para emitir um pensamento de desconfiança quando a preta velha interferiu:
– Vá para sua casa, ilha, e amanhã bem cedo colha uma rosa do seu jardim, ainda com orvalho, e lave a sua perna com ela, na água corrente. Ao meio-dia o inchaço vai sumir e sua perna estará curada.
Não ousando mais desconfiar, ela agradeceu e já estava saindo quando a preta velha a chamou e disse:
– Não se esqueça de pagar a promessa que fez pra Sinhá Maria, antes dela morrer…
Arregalando os olhos, a mulher quase enfartou e tratou de sair daquele lugar imediatamente.
O cambone, que a tudo assistia calado, não agüentando a curiosidade perguntou que promessa foi essa.
– Meu menino, o que nós escondemos dos homens fica gravado no mundo dos espíritos.
Essa filha, herdeira de um carma bastante pesado por ter sido dona de escravos em vida passada e, principalmente, por tê-los ferido a ferro e fogo, imprimindo sua marca na panturrilha dos negros, recebeu nesta encarnação, como sua fiel cozinheira, uma negra chamada Sinhá Maria.
Esse espírito mantinha laços de carinho profundo pela madame desde o tempo da escravidão, quando foi sua “Bá” e, por isso, única poupada de suas maldades. Nessa encarnação, juntaram-se novamente no intuito de que a bondosa negra pudesse despertar na mulher um pouco de humildade, para que esta tivesse a oportunidade de ressarcir os débitos, diante da necessidade que surgiria de auxiliar alguém envolvido na trama cármica.
Sinhá Maria, acometida de deficiência respiratória, antes de desencarnar solicitou à sua patroa que, na sua falta, assistisse seu esposo, que era paraplégico, faltando-lhe as duas pernas.
Deixou para isso todas as suas economias de anos a fio de trabalho e só lhe pediu que mantivesse com isso a alimentação e os medicamentos. Mas na primeira vez que ela foi até a favela onde morava o homem, desistiu da ajuda, pois aquele não era o seu “palco”. Tratou logo de ajustar uma vizinha do barraco, dando-lhe todo o dinheiro que Sinhá havia deixado, com a promessa de cuidar do pobre homem. Não é preciso dizer que rumo tomaram as economias da pobre negra; em pouco tempo, para evitar que ele morresse à míngua, a Assistência Social o internou em asilo público. Lá ele aguarda sua amada para buscá-lo, tirando-o do sofrimento do corpo físico. Nenhuma visita, nenhum cuidado especial. A madame se havia “esquecido” da promessa. Eu só iz lembrá-la para que não tenha que voltar aqui com as duas pernas inválidas. A Lei só nos cobra o que é de direito, mas ela é infalível. Quanto mais atrasamos o pagamento de nossas dívidas, maiores elas ficam. Por isso, camboninho, negra velha sempre diz para os filhos que a caridade é moeda valiosa que todos possuímos, mas que poucos de nós usam. Se não acordamos sozinhos, na hora exata a vida liga o “desperta-dor” e, às vezes, acordamos
assustados com a barulheira que ele faz… eh, eh, eh… Entendeu, meu menino?
– Sim, minha mãe. Lembrei que tenho de visitar meu avô que está no asilo…
Sorrindo e balançando a cabeça a bondosa preta velha falou com seus botões:
– Nega véia matô dois coelhos com uma cajadada só… eh, eh…
E, batendo o pé no chão, fumando seu pito e cantarolando, prosseguiu ela, socorrendo e curando até que, junto aos demais, voltou para as bandas de Aruanda.