quarta-feira, 23 de março de 2016

DUAS PERGUNTAS




Olá queridos filhos, amigos, irmãos e leitores. Vou confessar para vocês que eu não me planejo muito na hora de escrever. Realmente não defino uma pauta semanal com assuntos importantes. Não, eu me deixo guiar pelo acaso e curiosamente a vida me planta nos sentidos algo interessante para discutir. E foi exatamente isso que me aconteceu ontem.

Em uma conversa trivial com uma filha, ela me relembrou uma pergunta crucial a todo umbandista: 

"O que você espera de um terreiro?"

E é exatamente sobre isso que conversaremos hoje. A minha opinião é simples: não espere nada! Porque é exatamente este o propósito da Umbanda, você não ganhará absolutamente nada da instituição ou de qualquer pessoa lá, seja ela carnal ou espirito. O umbandista está na fé para se doar, ele tem a consciência de que faz parte de uma grande máquina chamada vida e sabe que ali ele representa uma dentre milhões de engrenagens que precisa funcionar perfeitamente para que toda a estrutura siga em frente sem danos ou excesso de pressão na engrenagem seguinte. E ele faz mais, ele trabalha mais do que realmente pode para que alguma peça próxima que, por ventura esteja com alguma dificuldade, não sofra tanto com o peso do trabalho.

Isso é ser umbandista: é dar sem esperar receber. Não falo de dar algo material, algum objeto ou valor, eu refiro-me a dar-se, a se entregar de corpo e alma ás atividades do templo afim de aliviar o sofrimento alheio. Fazendo isso vocês sentir-se-ão mais recompensados do que se fossem aplaudidos de pé por uma multidão, isso eu posso apostar!

"Mas como eu faço isso mesmo estando cheio de problemas?"

É uma questão de visão. Uma outra amiga (creio que já posso me referir á ela assim) me mandou hoje uma linda mensagem que, em suma, diz que a vida é uma questão de escolhas. Você escolhe estar feliz ou triste, viver ou morrer, ajudar ou esperar auxílio mesmo sabendo que Oxalá lhe deus plenas condições físicas e mentais de vencer as demandas? A escolha é sua, o livre arbítrio é uma dádiva que Deus nos deu para que possamos fazer de nossas vidas o que bem entendermos e arcar com as consequências. Por isso eu digo a vocês que escolham estar bem, firmes e dispostos, que vão ao terreiro ou ao templo de sua fé para ajudar e fazer o bem, para contribuir com a sua força de espírito. Você sentirá como as energias do local mudarão, como tudo fluirá melhor e mais gracioso. E se você tem problemas, não se preocupe porque você não está só. Todos temos em menor ou maior grau, mas temos! Só que na Umbanda cremos em duas Leis que convergem: a Lei do Retorno e a Lei do Trabalho. Então ajude e a vida lhe mostrará a sua gratidão.

Com base neste pensamento eu deixo duas  questões a vocês:
  1. O que você espera de seu terreiro (leia-se sua religião)?
  2. O que você acha que seu terreiro espera de você?

A todos vocês um forte abraço e que Zambi os ilumine. Axé.

PAIS E FILHOS



Era festa de Ogum, um grande retorno depois de quase 4 anos sem sessões naquele pequeno terreiro, também fazia praticamente o mesmo tempo que eu não pisava ali - foi quando comecei a faculdade e as tarefas no Portal dos Orixás se tornaram mais árduas. Adentrei na casa junto com meus filhos, mãe e irmãos e pude rever pessoas muito importantes para mim, dentre elas meu padrinho Petrolino e a minha madrinha Maria, pessoa que me deu um dos conselhos mais profundos para meu desenvolvimento espiritual: "se segure firme, porque assim os Guias fazem mais força para agir e ficam mais presentes. E nunca mude, você é o que Deus quer e se orgulhe de suas virtudes sem ficar vaidoso".

Já deu para sentir o quão pequenino eu era ali naquela casa, não? E eu estava feliz por isso. Feliz por estar lá como filho, como aprendiz observando os grandes trabalharem com a garra de meninos. Uma viagem ao passado, me via uma criança novamente com minhas dúvidas e aquela euforia por saber quem eram meus pais de cabeça, Orixás protetores e demais linhas. Um garoto ávido por conhecimento cantando e batendo palmas, com os olhos brilhando a casa manifestação espiritual, aquela Cláudio que chegava em casa depois da gira comentando com os irmãos "Meeeeeeu, eu quase ão lembro de nada! Como o baiano dançou o hoje, você viu?". Eu estava feliz por não ter comigo a responsabilidade de ser um pai de santo.

Mas nada é como a gente imagina. O dever que nos é conferido pelo astral não pode ser abandonado, sequer temporariamente. Quando a gira começou tudo estava diferente, eu era outra pessoa, uma versão diferente do Cláudio de outrora, mais duro e atencioso, chamando a responsabilidade para mim da mesma maneira que minha Mãe de Santo e meu irmão, Pai Peninha. Os olhares eram inquietos sobre nossos filhos que nos acompanhavam, queríamos saber se estavam bem, se estavam firmes e se precisavam de algo. A gira seguia e eu não me sentia filho como eu queria, eu era ali um visitante na casa em que um dia fui hóspede.

Saí de lá com uma certeza: eu estava feliz. Não da maneira que eu esperava ficar, mas feliz por ter o que eu tenho, por ter sido escolhido pelos Orixás e recebido deles filhos ímpares que, via de regra, me fazem querer largar tudo e desaparecer e logo em seguida aplaudi-los de pé por seus acertos. Estava feliz por poder enxergar as coisas com mais clareza, por ver que sou um bom produto de de minhas experiências - principalmente as negativas como as passagem de Belzebú e a festa de Exú de quatro ou cinco anos atrás, fatos que prometo um dia contar a vocês. Principalmente fiquei feliz por rever grandes amigos e poder, novamente, me espelhar em sua sabedoria.

Umbanda é isso, é visão, admiração e uma surpresa a cada dia.

Axé.

Arquétipos, estereótipos e personalidades.




Três itens de grande importância na psicologia, vou conceitua-los para que possamos dar continuidade a nossa leitura de hoje. 

Arquétipo
O Psiquiatra Carl Jung definiu o termo arquétipo como sendo o molde resultante da somatória de experiências vividas pela humanidade de maneira inconsciente em cada ser. 

O que ???

Falando de uma maneira mais simples, nossa amigo Jung diz, que arquétipos são concepções adquiridas não exclusivamente por você leitor, ou pela sua mãe ou só pelo seu pai, esse molde ideológico é construído através de todas as experiências que a humanidade já teve embasadas, na crença, nos valores, na moralidade etc..

Um exemplo disso; ainda quando atuava como analista, Jung tinha pacientes que tinham sonhos e alucinações com mitos que nem se quer conheciam devido a idade que tinham, porém tais mitos já eram muito conhecidos historicamente, como ainda são hoje Hércules, Zeus e toda sua cúpula de deuses. Outro exemplo mais palpável é a forma inconsciente de crença num ser supremo que crianças de 5 a 7 anos tem, mesmo que seus pais nunca tenham falado sobre Deus, Jesus ou qualquer divindade, todas irão questionar, sobre o que existe no céu, ou pra onde iremos depois de morrermos, o famoso consciente coletivo atuando. 

Isso é um arquétipo e ele varia de acordo com o contexto que a humanidade estiver inserida. 

Estereótipos
Simples de ser explicado, quer ver ? 

Filhos de Ogum, são valentes, guerreiros, impulsivos, tem porte forte, são altos, muito de seus filhos seguem profissões que são regidas por alta disciplina e com grande inclinação para o militarismo. 

Viu ? Isso é um estereótipo, é caracterizar alguém por determinadas condições que a pessoa possui, um outro exemplo mais simples. 

Defina um corintiano: Maloqueiro, tatuado, sofredor e mora na Zona Leste.

Personalidade:
A grosso modo é o conjunto de características que determinam o jeito de pensar, sentir e agir de cada ser, em suma junte um arquétipo e um estereótipo e terá uma personalidade. 

Ufa, quanto blá blá blá Arruda, pra que tudo isso ? 

Bom vamos lá, já sabidos do que é e o que significa cada termo acima, podemos dar continuidade a nossa leitura.

Como todo bom ser humano, em determinadas situações é muito fácil agente externar a causa do problema do que assumirmos que ele está dentro de nós, culpar agentes externos nos da aquela falsa sensação de alivio e de estarmos livres de culpa. 

"Hoje meu dia foi uma droga por causa desse transito terrível que já me estressou pela manhã". 

Não, o transito sempre esteve lá todas as manhãs, hoje você estava mais apto a se estressar e assim o fez, seu dia todo foi muito ruim e para se livrar da culpa unicamente sua, externalizou para o transito. 

E não é que o mesmo acontecem com nossos queridos Orixás ? Por diversas vezes, já vi acontecer de pessoas externalizarem seus vacilos para o santo. 

"Ah desculpe, sou filho de Ogum, não me contive e explodi com você por conta disso" ou "Ah é difícil ter perdoar, sabe como é minha mãe Oxum né sou igual ela, sou rancorosa." 

Temos nosso arquétipo, o qual não está inserido diretamente no contexto africano, tais mitos não fazem parte de nosso consciente coletivo, não estamos dentro desse cenário, por lógica esse moldes foram acoplados à nossa personalidade por vivencias mais atuais, pelo ambiente em que se foi educado e formado, afinal nem todos os filhos de Ogum são pessoas violentas, todo filho de Xangô é gordo e todo filho de Oxóssi é magro e introspectivo, alias sou a prova viva disso. 

Assumir totalmente o esteriótipo de nosso pai e de nossa mãe, não é a forma mais saudável de reconhece-los, vamos lembrar que a nossa reforma intima é constante, é a luta diária contra nossos instintos mais bruscos, apresentar tonalidade explosiva por ser filho de Ogum ou de Iansã não é motivo de orgulho, alias está ai a grande prova para o filho de fé, se bem sabem que tem essa tendencia, e que também sabem que isso não faz parte de seu arquétipo, sua verdadeira luta estará em conter tais características sua reforma intima agora já pode ser melhor margeada.

A formula é simples porém a aplicação é difícil mas vai uma frase que ouvi essa semana do meu grande amigo Cláudio, e que pode ajudar vocês a lapidarem seus próprios instintos. 

"Foque nos seus aspectos positivos e apenas corrija aquilo que não é".

É isso meus amados irmãos, que meu pai Oxóssi ilumine a caçada de todos vocês. 

CONFIAR EM SI

Amigos o texto de hoje é - mais uma vez - sobre aprendizado, contudo fica a observação que sempre faço, muito embora ela nunca tenha feito tanto efeito quanto dessa vez: "Aprendemos mais com nossas falhas. Magnânimo é o homem que aprende com seus deméritos".

Por dias minha Zeladora Espiritual me convocou juntamente de meu irmão de batalha, Pai Peninha, para uma reunião que trataria do desenvolvimento espiritual de parte de nossos filhos. Confesso-lhes que antevia momentos modorrentos de uma mesmice sem fim. Sim, tenho lá os meus preconceitos. Porém é nessas horas que os orixás nos preparam as maiores surpresas, não é mesmo? A vida é assim...

Nos deparamos com um problema que exigiria algum tipo de postura inédita de nós três, tanto no ponto de vista ético quanto no que tange rituais. Seria um esforço para arrastar tudo de volta à normalidade e impedir o desgaste de almas ainda inocentes. E foi aí que meu aprendizado começou.

Irmão em entrei em estado de concentração profunda, fui sugado para algum lugar dentro de mim de forma que os comentários ao redor não passassem de meros ruídos. Aquilo foi compulsório, alheio à minha vontade e disposição - logo eu que sempre afirmei ter mediunidade nenhuma além-templo! Eu vi o que deveria ser feito, não foi ninguém que me soprara ao ouvido, aquilo foi real e aconteceu diante de meus olhos ainda cerrados. Cada ordem, cada passo a ser dado, os pontos riscados, os elementos, tudo. Seria magnífico se eu não tivesse me calado, afinal o pragmático Pai Claudio que sempre afirmou seu ignóbil talento místico estaria afirmando ter ali, diante de todos, pela primeira vez e num momento tão importante, uma viagem astral instantânea que revelaria a (possível) solução de um intrincado quebra cabeças. Estranho, não? Eu achei e - burro -  me calei.

Como resposta a isso obtive o castigo. A inquietação me corroía a alma, as conversas que antes não passavam de surdos ruídos se tornaram num infernal enxame de palavras bimbalhando em minha cabeça. Não resisti e pedi para sair, ir para a rua me parecia a melhor solução naquela hora. Primeiro pé na rua e eu já não estava mais ali e, após um tempo incontável de escuridão, eu soube que o Sr. Exú Marabô nos havia feito uma visita e - pasmem! - dissera tudo aquilo que eu vi outrora.

Horas depois confessei ao Pai Peninha o que havia se passado e como resposta ele me disse - certamente fazendo coro com todos os orixás possíveis: "Você precisa confiar no seu taco".

E eles estavam certos, totalmente certos. Nós temos o poder de buscar as respostas no infinito, basta-nos fé e preparo. Somos capazes de coisas grandiosas todos os dias. Vamos assumir isso?

Axé.

PROIBIÇÃO NA UMBANDA E OUTRAS RELIGIÕES


Chega a ser engraçado como as ideias surgem, não é? Ontem eu estava escrevendo um texto para a publicação de hoje, mas a inspiração me faltava - escrevia sobre a festa de Ogum e reabertura da Federação Umbandista Caboclo Cobra Coral e Iansã, que em breve será publicado aqui. Mas sem a devida inspiração o texto perde o seu conteúdo, tornando-se apenas forma. Fechei a janela e saí, fui ao mercado sob uma chuva que começava a ganhar volume quando passei por duas senhoras que, pelos trajes, me pareciam evangélicas e conversavam sobre algo que não entendi o que era - e realmente não importava - até que uma delas diz:

"(...)ela ainda não pode fazer porque a igreja não permite isso(...)"

Parei um pouco para pensar sobre isso. É realmente uma incumbência da religião decidir o que um fiel pode ou não fazer? Podemos restringir o livre arbítrio da pessoa a esse ponto? Que eu saiba, não. É trabalho da religião mostrar o melhor caminho, servir de guia, de professor a formar pessoas de bom senso, capazes de distinguir o que é certo ou errado em cada situação.

Na Umbanda pregamos a Lei do Retorno, ou seja, tudo o que uma pessoa, pensa, faz ou deseja para o próximo acaba voltando contra ou a favor de si. É responsabilidade de cada um as suas ações, bem como as glórias e penalidades por elas. É obrigação da Umbanda, dos Orixás e dos zeladores da casa manter o diálogo com os filhos afim de alertá-los sobre os perigos de suas decisões, mas daí a dizer que um filho está proibido de fazer esta ou aquela coisa, por pior que seja, isso Orixá nenhum faz - de Ogum ao Cigano, do Boiadeiro à Oxum. eles te dirão que é errado ou até que não podem ajudar, que você estará sozinho nessa.

A decisão de errar pertence a cada um. À religião cabe a obrigação de alertar, não o direito de proibir.

Axé.

PRECEITOS


Hoje eu gostaria de falar sobre os preparativos de cada pessoa para a gira espiritual. É consenso que não devemos comer carne de qualquer espécie, ingerir drogas ou fazer sexo. De praxe também são os banhos de defesa com ervas e essências consagradas. Contudo essa não é a parte principal da preparação do espírita para um dia de sessão espiritual.

Como me disse certa vez Sávio Palazzo - um dos mais cândidos oradores espíritas que conheci - "O alimento do corpo é o pão, o da alma são os pensamentos". E isso me leva à conclusão de que, assim como tudo em matéria de espiritismo, Umbanda etc.,  parte de dentro para fora, do âmago para a superfície, ou seja, não importa o jejum que você fizer, os banhos que tomar e as velas que acender, a sua condição íntima será sempre fundamental nos rituais de preparação.

Pouco importa se você tomar uma ducha apressada ou um demorado banho de boldo e pétalas de rosas brancas, se por dentro você está negativo, preocupado com seus problemas e - pior! - com os problemas e vida alheia ou se sua alma estiver afogada de forma crônica na negatividade. as vezes um simples deslize pode colocar toda a preparação a perder: aconteceu certa vez comigo, havia feito o jejum e os demais rituais quando num instante discuti de forma grave com amigos queridos. Tomado pela raiva deixei todo o período de preparação escorrer ralo abaixo. Não tive condições de comparecer no Templo.

Eu até poderia, porque assim como alguns fiéis descobriram, é possível o contato mediúnico com o plano espiritual sem executar os preceitos, contudo eu e a maioria dos filhos de Umbanda sabemos que embora possível, fazer tudo nos conformes trás resultados maravilhosos! Por isso preferi ficar em casa ao lado de pessoas que amo em vez de prejudicar a gira e as pessoas que tanto prezo.

Claro que fui repreendido e incompreendido por alguns, absolvido por outros e tenho a certeza de que os Mentores e Orixás compreenderam minha atitude nesse dia e também compreenderão essa mesma atitude quando outros filhos a tomarem. E vocês o que fariam?

Esse é um exemplo do conhecido Orai e Vigiai de Jesus. Ore pelo próximo, vigie os seus passos.

COLETIVIDADE


Quando entro no templo invariavelmente eu penso na segurança da gira, como somos uma casa de quebra de demandas (forças negativas) a segurança é fundamental, a energia de purificação gerada na gira tem de atingir níveis extraordinários para poder se sobressair frente ao peso carregado pelos visitantes necessitados que nos procuram. Peço licença ao entrar, firmo a vela de Oxalá - caso meu pai de sangue e Cambone da casa já não o tenha feito, tamanha sua devoção - e a partir daí vou firmando a chama dos demais: de Oxum ao Senhor Omolu, de Xangô aos Caboclos, sempre pedindo a eles a firmeza e a proteção necessários à gira. É só isso que peço, nada mais, mas quem possa falar "Não pedes força, vibração, fé e axé para a gira? São também fundamentais". São, claro que são, contudo isso cabe a nós buscarmos dentro da gente e também nos Orixás que nos cercam, pois penso que eles já fazem o suficiente em nos proteger para que nós trabalhemos em prol da caridade, para que busquemos a melhor forma de encontrar a energia divina.

Vale lembrar que somos todos médiuns, ou seja, o meio pelo qual as coisas acontecem. Somos o canalizador da energia do astral que deve se fazer presente na vida de quem necessita e fazer isso não é fácil, não conseguimos sozinhos. Para tanto a busca de conhecimento sobre o divino e sobre o terreno é fundamental para entendermos o nosso lugar entre esses planos e como pavimentar o caminho entre quem pode ajudar e quem precisa de amparo. Isso em sua forma mais elementar dentro de um terreiro é a doação, é deixar de pensar como indivíduo e se integrar à coletividade, é ter fervor no canto, nas palmas e nas orações, é a disciplina para manter a energia gerada durante todo o trabalho espiritual. É se fazer um só junto dos irmãos, pois o individualismo pertence somente à raiz primitiva do espírito e é sabido que todos os caminhos levam ao Pai e se Deus está presente em tudo o que existe, Ele é então a coletividade.

Por isso ainda prego a doação, a perseverança em vencer as dificuldades e cantar, aplaudir e participar efetivamente nas giras realizadas. E convido o irmão a sentir a diferença quando encontrarmos a coletividade, ou seja, quando ficarmos mais próximos de Deus. É possível, todos tem esse potencial, basta o esforço em compreender que somos o meio e não o final da trilha, que estamos aqui para repassar e não para colher.

Rumo à Coletividade! Axé.

CAPACIDADE




Quando os Orixás me olharam e me mandaram zelar por sua casa e filhos eu não gostei, confesso. Me achava despreparado e leigo demais, jovem demais pra gerir pessoas mais velhas do que eu, seus conflitos e dissabores, lidar com a vida de uma porção de pessoas carentes de ajuda e atenção. Porque é fato: a maioria das pessoas só recorrem a um terreiro quando estão em desespero, quando acham que Deus lhes virou as costas ou quando por si sós já não conseguem alcançar seus objetivos e pensam que fazendo um despacho a solução virá. Me achava pequeno demais para mudar essa situação, com toda razão.

Mas como sempre descubro que o tempo é senhor da razão e o astral está sempre certo, aprendi que nunca estive pronto mesmo para resolver todos aqueles problemas, mas aprendi também que não cabe a mim resolvê-lo, minha parte é ensinar as pessoas a pensar e a notarem que quem faz as coisas por elas são elas mesmas. do contrário, para que o livre arbítrio, tido por todos como a maior dádiva concedida aos homens por Deus? Meu discurso é simples:  ninguém fará nada por você, nem homem e nem Orixá. Estão todos aqui para ajudá-lo, para te indicar o melhor caminho que você trilhará. Só isso.

Um discurso simples que implica em ações longas e muitas vezes duras. Minha proposta sempre foi a de tirar as pessoas de sua zona de conforto, de ensiná-las - médiuns e assistência - que nem sempre eles ouvirão o que esperam ouvir e que podem mesmo assim ficar bem com aquilo que precisam, não aquilo que querem. Pode até ser que nas primeiras vezes não se sintam "abraçados" pelo sacerdote, mas verão que estão se tornando muito mais capazes do que eram quando mimados, quando tinham apenas o pão e o circo.

Me chamem de frio, de excessivamente pragmático ou o que for, mas pensem: vocês se sentem mais capazes?

Axé.

DESAPEGO



Quando Jesus disse "Mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus" minha compreensão não se limitou à relação entre a riqueza e a salvação, acredito que Ele estava se referindo ao desapego das coisas e sentimentos carnais e só assim as portas do paraíso se abririam.

Não é fácil desenvolver esse desapego, nós mesmo levamos inúmeras encarnações para aprender e outras incontáveis para colocar em prática, mas uma coisa é certa: o desapego é essencial. Se libertar das mágoas que nutrimos contra aqueles que nos faltaram - sejam estes carnais ou espirituais - e se livrar do apego excessivo naquilo que pertence somente à terra, como o ouro e a carne é realmente de extrema dificuldade porque já nascemos sob uma cultura que prega a propriedade privada, vivemos sob o mantra do individualismo e de uma hora para outra simplesmente abandonar tudo aquilo que acreditamos para receber coisas intangíveis, invisíveis e (para os ateus) infundadas, como o amor e a salvação parece até loucura. E quando falamos que é mais recompensador doar do que receber? Loucura total! Impossível de fazer.

Não se muda da água para o vinho num piscar de olhos, é um processo gradativo. Comece se desapegando de algumas idéias, de certos dogmas como o de que um Orixá não erra, por exemplo. É uma questão de lógica: perfeito e soberano é apenas Deus, fora isso todas as criaturas da eternidade estão sujeitas a falhas em menor ou maior grau. Parece loucura, não é? Mas aceite isso e reflita, verá como seu horizonte se expandirá um pouquinho mais. É o primeiro passo.

Após isso tente traçar uma linha que divide seus sentimentos internos e externos ao templo, tente ter o mesmo e máximo amor, respeito e ternura por todos mesmo que um desses seja seu desafeto fora da casa. Ficará mais leve com esse gesto de grandeza e semeará a tolerância em muitos ali, tenho certeza.

A vida e o templo são como construções: vão crescendo a cada tijolo bem assentado.

Festa de elebó realizada no Yle Ogum e Iemanjá no dia 19/03/2016
Festa de Quimbanda no Abacé de Ogum Megê.









 



























Exú é o guardião dos caminhos, soldado dos PRETOS-

VELHOS e CABOCLOS, emissário entre os homens e os 

ORIXÁS, lutador contra o mau, sempre de frente, sem

 medo, sem mandar recado.