quarta-feira, 6 de abril de 2016

Julgando atitudes


Ignorando a presença dos benfeitores espirituais no ambiente, alguns dos seus médiuns costumavam reunir-se no vestiário do templo para que pudessem colocar o papo em dia, antes de iniciar a sessão de atendimento ao público. Especialmente naquele dia, em alvoroço pelos últimos acontecimentos políticos do país, tendo os noticiários enfatizado a corrupção descoberta dentro do Congresso.
Ninguém é confiável dentro da política, são todos ladrões — comentava um deles.
— Enquanto nós passamos miséria aqui em baixo, lá em cima, eles que têm o poder nas mãos roubam-nos em plena luz do dia — respondia o outro.
— De que adianta pagarmos tantos impostos se o dinheiro é usado para eles usufruírem, enquanto o país padece com a falta de educação, de saúde, de estradas, além do problema da fome?
— São todos ladrões desavergonhados. Roubam milhões e não recebem punição, enquanto o pobre, quando rouba galinha para comer, vai para a cadeia.
— Por isso não sou a favor da pena de morte.
E assim os debates continuavam acalorados, atiçando a raiva e revolta existente no coração de cada um deles. A repercussão daquilo no astral eram emanações energéticas grotescas que se aglomeravam no interior do ambiente que já havia sido preparado pela espiritualidade, baixando a vibração dos médiuns que logo se aliaram a uma faixa de que espíritos afins aguardavam companhia material.
Saindo do local, dirigiram-se à frente do congá, onde foram bater cabeça e fazer a oração de conexão inicial com seus protetores. Ignoravam, porém, que haviam criado campo magnético extremamente grosseiro ao seu redor, tornando-se inacessíveis a espíritos de melhor vibração. Era preciso muito mais que uma prece para que se transmutasse a energia arrecadada.
Na concepção dos médiuns revoltados com os políticos, não interessava o que se pensava ou fazia anteriormente ao início dos atendimentos. Lá dentro eles eram médiuns e aparelhos para os guias, lá fora, homens comuns. Para eles, o importante era cumprir a missão.
Aberta a sessão que naquele dia era gira de preto velho, iniciaram-se as incorporações. Sem entender por que os três médiuns mais antigos da casa não estavam conseguindo se conectar com seus protetores e por que suavam demasiadamente o dirigente os levou até a frente do congá. Imediatamente, nele mesmo manifestou-se um Exú que executou o trabalho de "descarrego" das emanações telúricas que se adensavam acima de suas cabeças, impedindo a conexão que naquele momento se efetuava.
O trabalho seguiu um ritmo normal, e, no final, por intermédio do dirigente da casa, uma preta velha se manifestou para conversar com a corrente mediúnica:
"- Salve os manos da terra!
Um dia o grande mestre Jesus visitou a Terra e deixou aqui gravado seu exemplo de homem bom.
Nunca alguém o escutou mentindo, viu-o roubando ou julgando, mesmo inserido no mundo onde os homens praticavam tais atos.
Foi acusado injustamente, julgado e condenado. Tinha o poder de modificar seu destino se assim o quisesse, mas sabia que nada se ensina senão pelo exemplo, por isso perdoou seus ofensores.
Desceu às trevas antes de subir aos Céus e levou consigo quem mais o havia maculado.
Atualmente, a maioria da humanidade se julga cristã, muitos brigam e se dizem donos da imagem de Cristo, carregam crucifixo no peito, mas poucos seguem seus ensinamentos. Aqui mesmo, neste terreiro, reza-se o Pai Nosso, mas alguns só lembram da última frase que diz. "Livrai-nos de todos os males".
Os filhos da Terra ainda se acham no direito de julgar uns aos outros, quando deveriam ter a preocupação única da reforma íntima. Se estivermos vestidos e calçados adequadamente a chuva não nos molha, mas se sairmos distraídos no temporal, ele pode nos arrastar para a lama. O poder e a ambição, quando desmedidos, corrompem facilmente as melhores estruturas humanas.
Julgar as atitudes do outro pode ser perigoso, uma vez que não sabemos como agiríamos em seu lugar. Todos ainda carregam dentro de seu inconsciente tendências para serem corrigidas, a reencarnação oportuniza esse saneamento. Em cada vida, descerá à consiciência física tudo o que precisa ser arrumado, e nem sempre os filhos conseguem voltar com a casa em ordem. As tentações da matéria ainda assinalam árduo resgate. Corromper-se, no entanto, independe da posição ocupada na matéria, mas de estrutura moral e evolução espiritual, de valores recebidos desde tenra idade e da vontade de melhorá-los dia a dia.
Quem dos filhos nunca desobedeceu a nenhuma lei?
Quem nunca sonegou, mentiu ou pelo menos tentou enganar alguém?
Ladrão não é assim designado pelo tamanho ou pelo valor do roubo, ou é simplesmente porque rouba, seja uma moeda, uma caixa de fósforo, um carro ou um avião. Mentira vai ser sempre da nossa, mesmo que pareça inocente. Tirar vantagem de pequenas coisas denota claramente que assim seria diante de grandes oportunidades. São atitudes com as quais se consegue enganar os homens, mas que ficam registradas na sutileza dos corpos internos de cada um para que, na hora do acerto de contas, o juiz chamado "consciência" possa levar ao tribunal. Os erros dos outros devem servir para que não os incorporemos a nós. Façamos a nossa parte bem feita, a exemplo de Jesus, e repensemos em tudo o que está acontecendo no mundo. Nada nos vem como castigo, mas como reação de nossas ações. Esta é a Lei."
De cabeça baixa, todos encerraram a sessão com uma prece dirigida aos governantes, pedindo sabedoria e paz na Terra aos homens de boa vontade.
(Causos de Umbanda - A psicologia dos pretos velhos - Vovó Benta - obra psicografada por Leni W. Saviscla)
Muitos vêm, alguns ficam, outros vão



A Umbanda é uma religião que acolhe a todos, não faz nenhum tipo de distinção entre as pessoas que atende e, por conta disto, a entrada de pessoas nas correntes é uma coisa normal e constante.
Algumas casas têm critérios para aceitação de novos membros, outras não, mas uma coisa que nunca deveria ser deixada de lado: o Livre Arbítrio das pessoas.
Sou totalmente contra o que alguns dirigentes fazem, semeando o medo em pessoas que “tem mediunidade”, ouvimos muitas e muitas vezes estes dirigentes afirmarem categoricamente que os problemas da pessoa são causados por sua mediunidade “não desenvolvida”, quase que obrigando o ser a entrar na corrente, e o mesmo ocorre quando uma pessoa demonstra o desejo de se afastar da casa, onde veladamente ela é levada a crer que sua vida vai “desandar” por culpa desta decisão. O agravante é o uso da Espiritualidade, dos Orixás e das Entidades, para se fazer estas ameaças, como se fossem eles os responsáveis pelos “castigos” que o “desistente” vai sofrer dali em diante.
Não tenho como acreditar que Entidades de Luz, Forças puras da natureza, vão de alguma forma prejudicar uma pessoa apenas por ela ter feito uso de o seu Livre Arbítrio, ao escolher não participar ou deixar de participar de uma corrente de Umbanda. Logo eles que nos ensinam sempre que o livre arbítrio é um direito que nos foi “concedido” por Deus.
Esta última parte do texto vai diretamente aos dirigentes e para aqueles que aspiram serem dirigentes um dia:
Será que é valido termos em nossas casas pessoas que ali estejam apenas por medo de serem “castigados” pelas entidades, por pensarem que sua vida vai “andar para trás” se não desenvolverem???
A Umbanda precisa sim de médiuns que a amem e que a pratiquem por conta deste amor, só assim a sua essência será mantida.
Por Marco Boeing - Dirigente da ASSEMA

Lições de Vida

Um dia você errou. Errou muitas vezes. Errará muitas ainda.
Procure suportar com caridade os erros dos que o cercam, da mesma forma como quereria que suportassem os seus.
Você se revolta quando não o compreendem. Por que, então, não se esforça por compreender as faltas alheias?
Saiba que tudo o que fazemos contra os nossos semelhantes, quase que como força de retroação magnética, volta-se contra nós. O mal tem poder de se vingar, Às vezes em forma de violenta reação.
Tolere os erros alheios com aquela caridade capaz até de os corrigir.
SEGUIR EM FRENTE
Olhe sempre a vida que Deus lhe deu como uma oportunidade de praticar o bem, de ajudar a seu próximo.
Não pare em meio ao caminho olhando para trás, como a medir o que já fez ou deixou de fazer.
Enquanto estiver preso ao seu passado, bom ou mau, estará deixando de praticar o bem.
Dê a mão a quem dela precise. Uma palavra de amor e de consolo será sempre bem recebida, como benção que vem do Alto. Um sorriso derramado com bondade cura muitos males e alivia muitas dores.
Vá pela vida a espalhar esperança e muita alegria. A recompensa virá depois.
Extraído de "Comece o Dia Feliz" (Reflexões) de J.S.Nobre.
A tristeza dos Orixás

Foi não há muito tempo atrás que essa história aconteceu. Contada aqui de uma forma romanceada, mas que traz em sua essência, uma verdadeira mensagem para os umbandistas.
Ela começa em uma noite escura e assustadora, daquelas de arrepiar os pelos do corpo. Realmente o Sol tinha escondido - se nesse dia, e a Lua, tímida, teimava em não iluminar com seus encantadores raios, brilhosos como fios de prata, a morada dos Orixás. Nessa estranha noite, Ogum, o Orixá das "guerras", saiu do alto ponto onde guarda todos os caminhos e dirigiu - se ao mar. Lá chegando, as sereias começaram a cantar e os seres aquáticos agitaram - se. Todos adoravam Ogum, ele era tão forte e corajoso. Iemanjá que tem nele um filho querido, logo abriu um sorriso, aqueles de mãe "coruja" quando revê um filho que há tempos partiu de sua casa, mas nunca de sua eterna morada dentro do coração:
— Ah Ogum, que saudade, já faz tanto tempo! Você podia vir visitar mais vezes sua mãe, não é mesmo? — ralhou Iemanjá, com aquele tom típico de contrariedade.
— Desculpe, sabe, ando meio ocupado — Respondeu um triste Ogum. —Mas, o que aconteceu? Sinto que estás triste. — É, vim até aqui para "desabafar" com você "mãezinha". Estou cansado! Estou cansado de muitas coisas que os encarnados fazem em meu nome. Estou cansado com o que eles fazem com a " espada da Lei" que julgam carregar. Estou cansado de tanta demanda. Estou muito mais cansado das "supostas" demandas, que apenas existem dentro do íntimo de cada um deles...Estou cansado...
Ogum retirou seu elmo, e por de trás de seu bonito capacete, um rosto belo e de traços fortes pôde ser visto. Ele chorava. Chorava uma dor que carregava há tempos. Chorava por ser tão mal compreendido pelos filhos de Umbanda. Chorava por ninguém entender, que se ele era daquele jeito, protetor e austero, era porque em seu peito a chama da compaixão brilhava. E, se existe um Orixá leal, fiel e companheiro, esse Orixá é Ogum. Ele daria a própria Vida, por cada pessoa da humanidade, não apenas pelos filhos de fé. Não! Ogum amava a humanidade, amava a Vida. Mas infelizmente suas atribuições não eram realmente entendidas. As pessoas não viam em sua espada, a força que corta as trevas do ego, e logo a transformavam em um instrumento de guerra. Não vinham nele a potência e a força de vencer os abismos profundos, que criam verdadeiros vales de trevas na alma de todos. Não vinham em sua lança, a direção que aponta para o autoconhecimento, para iluminação interna e eterna. Não! Infelizmente ele era entendido como o "Orixá da Guerra", um homem impiedoso que utiliza - se de sua espada para resolver qualquer situação.
E logo, inspirados por isso,lá iam os filhos de fé esquecer dos trabalhos de assistência a espíritos sofredores, a almas perdidas entre mundos, aos trabalhos de cura, esqueciam do amor e da compaixão, sentimentos básicos em qualquer trabalho espiritual, para apenas realizaram "quebras e cortes" de demandas, muitas das quais nem mesmo existem, ou quando existem, muitas vezes são apenas reflexos do próprio estado de espírito de cada um. E mais, normalmente, tudo isso torna - se uma guerra de vaidade, um show "pirotécnico" de forças ocultas. Muita "espada", muito "tridente", muitas "armas", pouco coração, pensamento elevado e crescimento espiritual. Isso magoava Ogum. Como magoava:
— Ah, filhos de Umbanda, por que vocês esquecem que Umbanda é pura e simplesmente amor e caridade? A minha espada sempre protege o justo, o correto, aquele que trabalha pela luz, fiando seu coração em Olorum. Por que esquecem que a Espada da Lei só pode ser manuseada pela mão direita do amor, insistindo em empunhá-la com a mão esquerda da soberba, do poder transitório, da ira, da ilusão, transformando-a em apenas mais uma espada semeadora de tormentos e destruição.
Então, Ogum começou a retirar sua armadura, que representava a proteção e firmeza no caminho espiritual que esse Orixá traz para nossa vida. E totalmente nu ficou frente à Iemanjá. Cravou sua espada no solo. Não queria mais lutar, não daquele jeito. Estava cansado... Logo um estrondo foi ouvido e o querido, mas também temido Tatá Omulu apareceu. E por incrível que pareça o mesmo aconteceu. Ele não agüentava mais ser visto como uma divindade da peste e da magia negativa. Não entendia, como ele, o guardião da Vida podia ser invocado para atentar contra Ela. Magoava - se por sua falange da morte, que é o princípio que a tudo destrói, para que então a mudança e a renovação aconteçam, ser tão temida e mal compreendida pelos homens. Ele também deixou sua alfange aos pés de Iemanjá, e retirou seu manto escuro como a noite.
Logo via - se o mais lindo dos Orixás, aquele que usa uma cobertura para não cegar os seus filhos com a imensa luz de amor e paz que irradia - se de todo seu ser. A luz que cura, a luz que pacifica, aquela que recolhe todas as almas que perderam - se na senda do Criador. Infelizmente os filhos de fé esquecem disso...Mas o mais incrível estava por acontecer. Uma tempestade começou a desabar aumentando ainda mais o aspecto incrível e tenebroso daquela estranha noite. E todos os outros Orixás começaram a aparecer, para logo, começarem também a despir suas vestimentas sagradas, além de deixarem ao pé de Iemanjá suas armas e ferramentas simbólicas. Faziam isso em respeito a Ogum e Omulu, dois Orixás muito mal compreendidos pelos umbandistas. Faziam isso por si próprios. Iansã queria que as pessoas entendessem que seus ventos sagrados são o sopro de Olorum, que espalha as sementes de luz do seu amor. Oxossi queria ser reverenciado como aquele que, com flechas douradas de conhecimento, rasga as trevas da ignorância. Egunitá apagou seu fogo encantador, afinal, ninguém lembrava da chama que intensifica a fé e a espiritualidade. Apenas daquele que devora e destrói.
Os vícios dos outros, é claro. Um a um, todos foram despindo - se e pensando quanto os filhos de Umbanda compreendiam erroneamente os Orixás. Iemanjá, totalmente surpresa e sem reação, não sabia o que fazer. Foi quando uma irônica gargalhada cortou o ambiente. Era Exu. O controvertido Orixá das encruzilhadas, o mensageiro, o guardião, também chegava para a reunião, acompanhado de Pombagira, sua companheira eterna de jornada. Mas os dois estavam muito diferentes de como normalmente apresentam -se. Andavam curvados, como que segurando um grande peso nas costas. Tinham na face, a expressão do cansaço. Mas, mesmo assim, gargalhavam muito. Eles nunca perdiam o senso de humor!E os dois também repetiram aquilo que todos os Orixás foram fazer na casa de Iemanjá. Despiram - se de tudo. Exu e Pombagira, sem dúvida, eram os que mais razões tinham de ali estarem. Inúmeros eram os absurdos cometidos por encarnados em nome deles. Sem contar o preconceito, que o próprio umbandista ajudou a criar, dentro da sociedade, associando - o a figura do Diabo:_ Hahaha, lamentável essa situação, hahaha, lamentável!
— Exu chorava, mas Exu continuava a sorrir. Essa era a natureza desse querido Orixá. Iemanjá estava desesperada! Estavam todos lá, pedindo a ela um conforto. Mas nem mesmo a encantadora Rainha do Mar sabia o que fazer:
Espere! — pensou Iemanjá! — Oxalá,Oxalá não está aqui! Ele com certeza saberá como resolver essa situação.E logo Iemanjá colocou - se em oração, pedindo a presença daquele que é o Rei entre os Orixás. Oxalá apresentou - se na frente de todos. Trazia seu opaxorô, o cajado que sustenta o mundo. Cravou ele na Terra, ao lado da espada de Ogum. Também despiu - se de sua roupa sagrada, pra igualar - se a todos, e sua voz ecoou pelos quatro cantos do Orun:
— Olorum manda uma mensagem a todos vocês meus irmãos queridos! Ele diz para que não desanimem, pois, se poucos realmente os compreendem, aqueles que assim o fazem, não medem esforços para disseminar essas verdades divinas. Fechem os olhos e vejam, que mesmo com muita tolice e bobagem relacionada e feita em nossos nomes, muita luz e amor também está sendo semeado, regado e colhido, por mãos de sérios e puros trabalhadores nesse às vezes triste, mas abençoado planeta Terra. Esses verdadeiros filhos de fé que lutam por uma Umbanda séria, sem os absurdos que por aí acontecem. Esses que muito além de "apenas" prestarem o socorro espiritual, plantam as sementes do amor dentro do coração de milhares de pessoas. Esses que passam por cima das dificuldades materiais, e das pressões espirituais, realizando um trabalho magnífico, atendendo milhares na matéria, mas também, milhões no astral, construindo verdadeiras "bases de luz" na crosta, onde a espiritualidade e religiosidade verdadeira irão manifestar-se. Esses que realmente nos compreendem e buscam – nos dentro do coração espiritual, pois é lá que o verdadeiro Orun reside e existe. Esses incríveis filhos de umbanda, que não colocam as responsabilidades da vida deles em nossas costas, mas sim, entendem que tudo depende exclusivamente deles mesmos. Esses fantásticos trabalhadores anônimos, soltos pelo Brasil, que honram e enchem a Umbanda de alegria, fazendo a filhinha mais nova de Olorum brilhar e sorrir...
Quando Oxalá calou - se os Orixás estavam mudados. Todos eles tinham suas esperanças recuperadas, realmente viram que se poucos os compreendiam, grande era o trabalho que estava sendo realizado, e talvez, daqui algum tempo, muitos outros juntariam - se nesse ideal. E aquilo alegrou - os tanto que todos começaram a assumir suas verdadeiras formas, que são de luzes fulgurantes e indescritíveis. E lá, do plano celeste, brilharam e derramaram - se em amor e compaixão pela humanidade.
Em Aruanda, os caboclos, pretos - velhos e crianças, o mesmo fizeram. Largaram tudo, também despiram - se e manifestaram sua essência de luz, sua humildade e sabedoria comungando a benção dos Orixás. Na Terra, baianos, marinheiros, boiadeiros, ciganos e todos os povos de Umbanda, sorriam. Aquelas luzes que vinham lá do alto os saudavam e abençoavam seus abnegados e difíceis trabalhos. Uma alegria e bem-aventurança incríveis invadiram seus corações. Largaram as armas. Apenas sorriam e abraçavam - se. O alto os abençoava...
Mas, uma ação dos Orixás nunca fica limitada, pois é divina, alcançando assim, a tudo e a todos. E lá no baixo astral, aqueles guardiões e guardiãs da lei nas trevas também foram alcançados pelas luzes Deles, os Senhores do Alto. Largaram as armas, as capas, e lavaram suas sofridas almas com aquele banho de luz. Lavaram seus corações, magoados por tanta tolice dita e cometida em nome deles. Exus e Pombagiras, naquele dia foram tocados pelo amor dos Orixás, e com certeza, aquilo daria força para mais muitos milênios de lutas insaciáveis pela Luz. Miríades de espíritos foram retirados do baixo - astral, e pela vibração dos Orixás puderam ser encaminhados novamente à senda que leva ao Criador.
E na matéria toda a humanidade foi abençoada. Aos tolos que pensam que Orixás pertencem a uma única religião ou a um povo e tradição, um alerta. Os Orixás amam a humanidade inteira, e por todos olham carinhosamente. Aquela noite que tinha tudo para ser uma das mais terríveis de todos os tempos, tornou - se benção na vida de todos. Do alto ao embaixo, da esquerda até a direita, as egrégoras de paz e luz deram as mãos e comungaram daquele presente celeste, vindo diretamente do Orun, a morada celestial dos Orixás.
Vocês, filhos de Umbanda, pensem bem! Não transformem a Umbanda em um campo de guerra, onde os Orixás são vistos como "armas" para vocês acertarem suas contas terrenas. Muito menos esqueçam do amor e compaixão, chaves de acesso ao mistério de qualquer um deles. Umbanda é simples, é puro sentimento, alegria e razão. Lembrem - se disso. E quanto a todos aqueles, que lutam por uma Umbanda séria, esclarecida e verdadeira, independente da linha seguida, lembrem - se das palavras de Oxalá ditas linhas acima. Não desanimem com aqueles que vos criticam, não fraquejem por aqueles que não tem olhos para ver o brilho da verdadeira espiritualidade. Lembrem - se que vocês também inspiram e enchem os Orixás de alegria e esperança. A todos, que lutam pela Umbanda nessa Terra de Orixás, esse texto é dedicado. Honrem - los. Sejam luz, assim como Eles! Exe ê o babá.
Autoria Espiritual: Vovó Maria Conga
Local: Algum terreiro do Bahia
Enviado por Jair do Caboclo Zando


A lenda do peixinho vermelho

No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa. Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça. Junto deles, porem, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos. Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso. O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicilio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse. Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria a maior massa de lama por ocasião de aguaceiros. Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro. À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
- "Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?"
Optou pela mudança. Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima. Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança ...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos. Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro. Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredos.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e agilidade naturais. Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De início, porem, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária. Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações. Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar somente as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou ... e sentindo imensa compaixão daqueles com que convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre amparai-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não hesitou. Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta. Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar. Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.
Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia. Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saiam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhes prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele. Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse. O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente.
Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu noticias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção. Ninguém acreditou nele. Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas?
Grande tolo! Vai-te daqui! Não nos perturbes o bem-estar ...Nosso lago é o centro do Universo ...Ninguém possui vida igual à nossa! ...."
Expulso a golpes de sarcasmo o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos apareceu pavorosa e devastadora seca. As águas desceram de nível. O poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a padecer, atolada na lama ...
Psicografia de Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito André Luiz.

Nossos Umbigos


O terreiro de Umbanda, como um hospital de almas ou pronto socorro emergencial, recebe nos dias de sessão ou "gira" uma quantidade razoável de encarnados, mas somente os espíritos desencarnados que lá trabalham, é que podem vislumbrar a imensidão de desencarnados que se movimentam no ambiente, em busca de ajuda. Ordenados e amparados por seus tutores, chegam estropiados e com aparência assustadora, uma vez que em sua maioria representam aqueles que cansaram ou esgotaram suas forças, na vida andarilha do pós-morte do corpo físico.
Voltam a pátria espiritual e dela não tem conhecimento e sem noção da continuidade da vida, quando não, desconhecem até mesmo sua condição de espírito desencarnado e por isso continuam a sentir os desejos, ambições, gostos e dores da vida física e nesse caminho, definham suas energias.
Quando conseguem alcançar algum vislumbre de consciência de sua realidade, permitem a ajuda dos benfeitores que os encaminham a algum local sagrado, onde medianeiros encarnados possam ajudá-los através do choque anímico, permitindo o total desligamento da matéria. Neste momento os chamados Centros Espíritas e de Umbanda, tornam-se "oásis" em seus desertos e como pontes entre os céu e a terra, permitem a passagem de volta à casa.
Naquela noite chuvosa e fria, a maioria dos médiuns daquele terreiro, ressentidos pela dificuldade de deixarem o conforto dos lares, faltaram ao trabalho espiritual e o dirigente preocupado com o atendimento dos doentes que se apinhavam no espaço que dia-a-dia se tornava pequeno, ajoelhou-se em frente ao congá, assumindo sua tristeza diante dos Guias espirituais. Deixou correr duas lágrimas para aliviar seu peito angustiado. Pensou em como fora seu dia e nas atribulações a que já deveria estar acostumado, mas que agora pesavam mais pela saúde que já lhe faltava. Nas dificuldades financeiras, no aluguel da casa que já vencera e nos tantos atrapalhos que ocorreram em seu ambiente de trabalho naquele dia. Sem contar na visita que viera de longe e que deixara em casa esperando pela sua volta do terreiro. Nada disso o impediu de fazer uma prece no final do dia, de tomar seu banho de ervas e seguir a pé até o terreiro, enfrentando a distância e o temporal que se fazia.
Sentia-se feliz em cumprir sua tarefa mediúnica, mas como havia assumido abrir um "hospital de almas", juntamente com outros irmãos que se responsabilizaram perante a espiritualidade em servir à caridade pelo menos nos dias de atendimento ao público, sabia que sozinho pouco podia fazer.
Pedindo perdão aos guias pela sua tristeza e talvez incompreensão em ver os descaso dos médiuns, que a menor dificuldade, escolhiam cuidar dos próprios umbigos à servir aos necessitados, solicitou que se redobrasse no plano espiritual a ajuda e que ninguém saísse dali sem receber amparo.
Olhando a imagem de Oxalá que mesmo ofuscada pelas lágrimas, irradiava sua luz azulada, sentiu que algo maior do que a lamparina aos pés da figura, agora brilhava. Era uma energia em forma de fios dourados que se distribuíam, a partir do coração do Cristo e que cobriam os poucos médiuns que oravam silenciosos, compartilhando daquele momento, entendendo a tristeza do dirigente.
Agindo como um bálsamo sobre todos, iniciaram a abertura dos trabalhos com a alegria costumeira. Quando o mentor espiritual se fez presente através de seu aparelho, transmitiu segurança a corrente, com palavras amorosas e firmes e nesse instante, falangeiros de todas as correntes da Umbanda ali "baixaram" e utilizando de todos os recursos existentes no mundo espiritual, usaram ao máximo a capacidade de cada médium disponível, ampliando-lhes a percepção e irradiação energética, o que valeu de um trabalho eficiente e rápido.
Harmoniosamente, os trabalhos encerraram-se no horário costumeiro e todos os necessitados foram atendidos.
Desdobrados em corpo astral, dois observadores descontentes com o final feliz, esbravejavam do lado de fora daquele terreiro. Sua programação e intenso trabalho para desviar os médiuns da casa naquela noite, no intuito de enfraquecer a corrente e consequentemente, infiltrarem suas "entidades" no meio dela, havia falhado. Teriam que redobrar esforços na próxima investida.
Quando as luzes se apagaram e a porta do terreiro fechou, esvaziando-se a casa material, no plano espiritual, organizava-se o ambiente energético para logo mais receber os mesmos médiuns, agora desdobrados pelo sono.
Passava da meia noite no horário terreno e os médiuns, agora em corpo de energia voltavam ao mesmo local do qual a pouco haviam saído. Os aguardavam, silenciosos ouvindo um mantra sagrado, seus benfeitores espirituais. Tudo estava muito limpo e perfumado por ervas e flores. Um a um, ao adentrar, era conduzido a uma treliça de folhas verdes e convidado a deitar-se, recebendo ali um banho de energias revigorantes. Quando todos já se encontravam prontos, seguiram em caravana para os hospitais do astral e lá, como verdadeiros enfermeiros, auxiliaram por horas a fio a tantos espíritos que horas antes haviam estado com eles no terreiro e recebido os primeiros socorros.
No final da noite, o canto de Oxum os chamava para lavarem a "alma" em sua cachoeira e assim o fizeram, para somente depois retornar aos seus corpos físicos que se permitia descansar no leito.
-Vó Benta, mas e aqueles médiuns que faltaram ao terreiro naquela noite, perderam de viver tudo isso?
-Nem todos zi fio! Nem todos! Dois ou três deles, faltaram por necessidades extremas e não por desleixo e assim sendo, se propuseram antes de dormir, auxiliar o mundo espiritual e por isso foram convidados a fazer parte da caravana.
- E aqueles que mesmo não tendo comparecido por preguiça, se ofereceram para auxiliar durante o sono, não foram aceitos?
-A preguiça, bem como qualquer outro vício, é um atributo do ego e não do espírito, mas que reflete neste. Perdem-se grandes e valiosas oportunidades a todo instante pela insensatez de ouvirmos o ego e suas exigências. O tempo, zi fio, é oportunidade sagrada e dele se faz o que bem quer cada um. O minuto passado, não retorna mais, pois o tempo renova-se constantemente. O amanhã nos dirá o que fizemos no ontem e esse tempo que virá é nosso desconhecido, por isso não sabemos se nele ainda estaremos por aqui servindo ou se em algum lugar, clamando por ajuda de outros que poderão alegar não ter tempo para nós, pois precisam cuidar de seus umbigos.
Assim é a vida, zi fio. Contínua troca!
Vovó Benta - Mãe Leni W. Saviscki
Enviado por Sandro C. Mattos