quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O Preparo e o Cuidado dos Médiuns


Sem dúvida alguma, o médium deve conduzir a sua vida dentro do comportamento cristão adequado para colher os frutos da faculdade mediúnica disciplinada e profícua.
Todavia, existem inúmeros cuidados que visam sua preparação interior, que devem ser observados no dia do trabalho. Assim, o seu preparo antecipado para a reunião da qual participará mais tarde compreende:
1 – Despertar: Cultivar atitude mental digna desde cedo, através da leitura de uma página de conteúdo moral elevado, da oração e da vigilância dos próprios pensamentos, impedindo que eles resvalem para a vala comum das idéias negativas e deprimentes, do comentário mordaz ou revoltado. Evitar rusgas e discussões, disciplinando as reações frente aos estímulos desagradáveis, buscando sustentar a paciência e a serenidade acima de quaisquer transtornos que sobrevenham durante o dia.
2 – Alimentação: Embora sendo fundamental a preparação espiritual para que o trabalho se realize a contento, o médium não deve alimentar-se em demasia, sobrecarregando o aparelho digestivo, impondo ao organismo uma sobrecarga desagradável, impeditiva de uma boa participação no trabalho, nem a frugalidade excessiva que trará a sensação de fraqueza e debilidade. A alimentação nas horas que precedem o trabalho deve ser normal, sem excessos na quantidade, evitando-se aquela que seja de digestão mais trabalhosa. “Estomago cheio, cérebro inábil”.
3 – Repouso Físico e Mental: Após o trabalho profissional ou doméstico, braçal ou mental, reservar alguns momentos para o refazer geral, do corpo e da alma, através do recolhimento a ambiente silencioso, com música suave e elevada, que permita o relaxamento de todo o organismo e que, através de leitura e meditação, a alma possa desligar-se das preocupações materiais, ou mesmo, inferiores que ainda a estejam aturdindo. A leitura moralizadora conduzirá o médium à sintonia com os pensamentos elevados e altruístas, condicionando-o a uma participação proveitosa no trabalho a realizar.
4 – Prece e Meditação: Atingida a pacificação interior pelo desligamento dos problemas do dia a dia, deverá o médium dedicar-se à prece e à meditação no próprio ambiente do lar, bem como nos momentos que antecedem o trabalho no recinto do próprio Centro. A meditação permitirá ao médium retirar-se em Espírito das vulgaridades terra a terra, dando-lhe condições de uma sintonia perfeita com as entidades responsáveis e participantes do trabalho mediúnico. Orar, buscando a inspiração da Vida Maior, para que realize aquilo que para ele esteja programado.
5 – Superação de Impedimentos: Uma série de impedimentos perfeitamente contornáveis pelo uso do bom-senso e da disciplina não pode constituir-se em fatos que afastem o médium da obrigação assumida com sua consciência e com o trabalho a que participa. As intempéries não podem justificar a ausência do médium às suas obrigações, bastando para isso que ele seja precavido e com antecedência deixe o seu lar com destino ao Centro quando o tempo não for favorável, prevendo possíveis dificuldades no trânsito, acesso mais difícil à Instituição, etc.
A visita inesperada de alguém que lhe dedica boa amizade, não deverá ser motivo imperioso para a falta no trabalho. Com franqueza e humildade deverá o médium esclarecer o visitante quanto ao motivo da sua ausência do lar dentro de breves minutos, sem esconder o motivo de sua retirada, cumprindo seu dever e demonstrando sua convicção nos postulados espíritas como também naquilo que realiza no Centro.

Bibliografia: Ernesto Bozzano, Animismo ou Espiritismo? Cap. I a IV e Conclusões; Alexandre Aksakof, Animismo e Espiritismo, Cap. IV; Martins Peralva, Estudando a Mediunidade, Cap. XVI; André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Nos Domínios da Mediunidade, Cap. XXII; Idem Mecanismos da Mediunidade, Cap. XXIII; Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Parte 2.ª, Cap. VIII e o Livro dos Médiuns, parte 2.ª, Cap. VII. Leon Denis, No Invisível, 1.ª parte, Cap. V; Gabriel Delanne, Fenômeno Espírita, 3.ª parte. (Apostila do COEM).- Redeumbanda.ning-Gipsy Red Rose

Diversidade de Rituais Umbandistas



É muito comum ouvirmos de pessoas que não são umbandistas, que a umbanda é uma grande confusão.
Algumas chegam a falar que a umbanda é “casa da mãe Joana”, onde cada um faz o que quer.        
Não conseguem entender o motivo de um Terreiro não utilizar atabaques enquanto outros utilizam; outros usam roupas coloridas enquanto outros usam somente o branco, outros não trabalham com exus, enquanto outros fazem questão de trabalharem, outros criticam com rigor o uso de sangue e sacrifícios de animais, enquanto outros utilizam estes elementos.

Chamamos isto de Diversidade de Rituais.
Quando iniciamos nossa caminhada na umbanda na década de setenta, tivemos oportunidade de visitarmos alguns terreiros e naquela época já percebemos a grande diferença existente entre os rituais de cada Terreiro.
Infelizmente existia naquela época um grande preconceito, e eram comuns comentários de que determinada casa não era de umbanda, outros falavam que determinada casa era mais forte que a outra, o estudo era muito raro e na maioria das vezes desprezado pelos dirigentes.
O tempo passou e por volta de 1997 começamos um trabalho de divulgação da umbanda pela internet através da lista de debates Saravá Umbanda.
Foi a partir desta experiência que percebemos o grande preconceito existente entre os umbandistas.
A Internet veio facilitar o contato, o estudo e a divulgação das várias formas de se trabalhar na umbanda.
A diversidade de rituais era desconhecida por muitos, e tivemos oportunidade nestes 12 anos de presenciar terríveis disputas e choques entre umbandistas, cada um querendo afirmar que a “sua” umbanda era a verdadeira umbanda. Em alguns momentos as agressões chegavam ao extremo, passando de agressões verbais para processos judiciais.
Com o passar do tempo e com o convívio nas listas, algumas pessoas passaram a entender que a umbanda, embora seja única, não possui uma única doutrina.
Que não existe umbanda melhor ou mais forte que outra.
Estas pessoas começaram então a respeitar e entender a diversidade de rituais existentes em nossa religião.
Em 2006 criamos a RBU que atualmente possui mais de 10.300 integrantes (agosto/2009) e é com tristeza que continuamos a verificar que a grande maioria das pessoas ainda desconhece esta realidade de nossa religião.
Este pequeno texto tem a finalidade de mostrar para as pessoas de uma maneira simples e racional como que entendemos a Diversidade de Rituais existentes na umbanda.
Qual a diferença entre a Umbanda e as demais religiões tradicionais?
O que é uma estrutura piramidal hierárquica autoritária?

Repare na figura abaixo:


 
Várias organizações possuem como forma de organização e comando uma estrutura autoritária (centralizadora). Podemos citar como exemplo, a Igreja Católica que segue rigidamente as orientações de Roma, do Vaticano e que possui no Papa o chefe da igreja.        
Outro exemplo é o dos militares (Forças Armadas), que possuem uma hierarquia rígida e um comando único.
Podemos enquadrar dentro desta estrutura hierárquica autoritária aquelas religiões ou filosofias que possuem uma doutrina rígida.
Normalmente seguem algum livro ou livros e possuem muita dificuldade em fazer qualquer alteração doutrinária em função do modelo hierárquico autoritário.
Por exemplo, o “Espiritismo” (chamado popularmente de Kardecismo). No ápice da Pirâmide está a “doutrina”, o Pentateuco Kardequiano, e que por condição dos próprios espíritos que apresentaram a doutrina, não pode ser alterado em hipótese alguma sem a “concordância universal dos espíritos”.
A doutrina espírita é do século XIX ( 1857).
Este autoritarismo doutrinário se reflete em várias situações. É do conhecimento público os vários autores espíritas que ficaram proibidos de publicarem suas obras por serem considerados “não doutrinários”.
Espíritos foram taxados de enganadores e mistificadores e seus livros psicografados deixaram de ser considerados espíritas. Não vamos citar os nomes, mas basta realizarem uma pesquisa na Internet e encontrarão vários casos.
O uso de recursos como cromoterapia, uso de cristais, incensos, banhos, equilíbrio dos chakras, magia, apometria, reiki, e muitos outros assuntos não são considerados “doutrinários”, portanto os Centros que utilizam alguns deste recursos não são casas espíritas, podendo no máximo serem chamados de centros espiritualistas.
Estrutura em rede.
O que é Estrutura em rede?
Desde a década de 20, quando os ecologistas começaram a estudar teias alimentares, o padrão de rede foi reconhecido como o único padrão de organização comum a todos os sistemas vivos:
“Sempre que olharmos para a vida, olhamos para redes”
(Fritjof Capra – A Teia da Vida)
As redes, basicamente descritas como conjuntos de itens conectados entre si são observadas em inúmeras situações, desde o nível subatômico até as mais complicadas estruturas sociais ou materiais concebidas pela humanidade.
Átomos ligam-se a outros na formação de moléculas, seres vivos dependem de intrincadas redes de reações químicas e de interações protéicas. Vasos sangüíneos e neurônios formam redes essenciais para organismos complexos. Construções humanas como a distribuição de água, energia elétrica e telecomunicações podem ser vistas como redes, da mesma forma que estradas, rotas marítimas e aéreas, percursos feitos para entrega de bens e serviços. Relações sociais e negócios conectam pessoas e organizações segundo os mais variados padrões. Computadores, bancos de dados, páginas web, citações bibliográficas e tantos outros elementos compõem suas redes cotidianamente.
Foi a partir destes conceitos que criamos a RBU – Rede Brasileira de Umbanda. (www.rbu.com.br )
 Se estudarmos com mais detalhes, verificaremos que a umbanda se organiza desta maneira, repare na figura abaixo:

 
Todos sabem que a umbanda possui vários fundamentos, entre eles:
Fundamentos Africanos, Espíritas, Católicos, Indígenas, Teosóficos, Hinduístas, etc…
“A Umbanda é uma religião Universalista”.
        Vamos voltar nossa atenção para a imagem acima. Fizemos um desenho de uma rede plana e para ilustrar o que foi dito acima incluímos somente quatro fundamentos básicos de nossa religião: Africano, Católico, Espírita e Indígena.
Reparem que existem alguns “pontinhos” escuros nesta rede, são os “nós” da rede e que representam os diversos Terreiros de Umbanda existentes.
Cada “nó” ou Terreiro tem um conjunto diferente de fundamentos, o que acaba refletindo no ritual seguido pelo Templo.
Por exemplo:

Terreiro (1)
O Terreiro identificado por (1) tem uma forte influência Católica.
São Terreiros que possuem no congá muitas imagens de Santos, Anjos, Arcanjos, Jesus, Espírito Santo, etc…
É comum nestes Terreiros as procissões para São Jorge, Nossa Senhora Aparecida e demais Santos Católicos.
Os Pontos Cantados sempre relacionam os Orixás aos Santos, e muitos chegam a afirmar que o Santo e o Orixá são a mesma coisa.
As cerimônias são semelhantes aos da igreja católica: Batismo, Confirmação (Crisma), Casamento etc…
Sempre lembrando as cerimônias católicas.
Algumas casas não trabalham com Exú, algumas chegam a identificar o Exú ao demônio.

Terreiro (2)
O Terreiro identificado como (2) está bem próximo dos fundamentos africanos, isto significa que naquele Terreiro os rituais africanos estão presentes de forma significativa. São Terreiros de umbanda que tem uma forte influência do Candomblé e do Culto Omoloko, alguns cultuam os Orixás de forma bem próxima ao do Candomblé, oferecem animais, usam inclusive sangue em alguns rituais, alguns chegam a afirmar que não são cristãos. Possuem rituais como: borí, deitada, mão de pemba, mão de faca, etc.. Exú é cultuado como um Orixá.
O uso dos atabaques é imprescindível.

Terreiro (3)
Os Terreiros identificados como (3) tem uma forte influência da doutrina espírita.
A doutrina espírita é estudada pelos seus integrantes.
Caboclos, Pretos Velhos, Baianos, etc. são considerados espíritos em evolução e que já estão libertos do ciclo reencarnatório.
No congá não fazem uso do sincretismo religioso, ou seja, não existem imagens de Santos; normalmente Orixás são entendidos como espíritos de muita evolução, sendo considerados pura energia.
Orixás nunca incorporam.
De forma alguma aceitam o uso de sangue ou sacrifício de animais como oferenda para os Orixás.
Nestes Terreiros utilizam somente roupa branca; rituais de origem africana são totalmente desconhecidos nestes Terreiros.
Conceitos como mediunidade, passes, vibrações, obssessores são muito comuns.
Em alguns os Caboclos e Pretos Velhos fazem uso do fumo.

Terreiro (4)
Nestes Terreiros a presença de rituais de origem indígena é muito forte. Normalmente Caboclos comandam todos os Trabalhos, é comum o uso de charutos para defumação ou pajelança.
Em alguns os nomes utilizados internamente são de origem Tupy antigo, e valorizam muito a tradição indígena brasileira.
Conclusão:
Como podem verificar não esgotamos as possibilidades, os fundamentos existentes na umbanda são muitos e naturalmente que não se apresentam de forma única como descrevemos acima, eles se fundem em proporções diferentes e dão as características de cada Terreiro, a egrégora, a vida, o axé de cada casa.
Não podemos de maneira alguma aceitar os absurdos que muitas vezes acabam na coluna policial dos jornais, mas precisamos neste momento em que existe uma grande intolerância para com a nossa religião nos unirmos e respeitarmos a maneira de trabalhar de cada Terreiro.
Se estudarmos a história do Movimento Umbandista, verificaremos que embora os homens tenham insistido, durante vários anos, em enquadrar a Umbanda dentro de um sistema hierárquico autoritário (através de Federações, doutrinas, códigos etc…), ela sempre resistiu mantendo sua estrutura em rede.
Precisamos entender que a Umbanda é uma religião nova, brasileira e que os Orixás nos presentearam com esta maravilhosa religião.
Podemos afirmar categoricamente que a UMBANDA é uma religião do futuro.
Uma religião que permite que cada um busque aquele Terreiro que fale mais alto ao seu coração sem deixar de ser umbandista.
Se lembrarmos as palavras do Caboclo das 7 Encruzilhadas, veremos que os alicerces da Umbanda são a liberdade e a igualdade, gerando as mesmas oportunidades para todas as pessoas e espíritos virem trabalhar e evoluir.
Manoel Lopes – Dirigente do Núcleo Mata Verde

Obs.: Divulgue a vontade este artigo, só não esqueça de citar a fonte

A Manifestação dos Espíritos na Umbanda



Estaremos neste texto comentando sobre a visão doutrinária do Núcleo Mata Verde, sobre as manifestações dos espíritos nos trabalhos de Umbanda.
É necessário que o leitor já tenha amadurecido em seu íntimo a noção dos SETE REINOS SAGRADOS, que nada mais são, do que fases do processo evolutivo do planeta Terra.
Este conceito de sete reinos numa segunda fase extrapola a formação do planeta e mostra-se como uma regra geral do processo evolutivo em qualquer região do universo, com sete tipos de forças que atuam nestes processos.
Quando falamos em evolução estamos nos referindo a processos materiais e espirituais.
Em outra oportunidade estaremos desenvolvendo o conteúdo referente a evolução espiritual pelos sete reinos sagrados, onde iremos entender o mecanismo evolutivo das mônadas espirituais agindo através de CAMPOS ESTRUTURAIS e desta forma assumindo maiores responsabilidades espirituais como elementares, elementais, almas-grupos, espíritos, mestres, anjos e orixás.
Agora iremos abordar as roupagens fluídicas e atribuições de trabalho dos espíritos trabalhadores da umbanda.
O espírito na sua essência não possui forma definida, podemos falar em chamas, lampejos, luz etc.
Sabemos que o criador é único e por sua vontade criou o universo material e o espiritual, que na tradição africana chamamos de Ayiê e Orum.
Este conhecimento pertence a várias culturas e religiões de nosso planeta, na primeira linha da Gênese Mosaica está escrito:

“1. No principio Deus criou os Céus e a Terra.”
Podemos traduzir céus como o mundo espiritual (Orum) e a Terra como o universo material (Ayiê).
No livro dos espíritos na pergunta de número 27 encontramos a seguinte questão:
“27. Haveria, assim, dois elementos gerais do Universo, a matéria e o espírito?
E a resposta fornecida pelo espírito:
Sim, e acima de ambos, Deus, o Criador, o pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal...”
Na doutrina seguida pelo Núcleo Mata Verde aceitamos esta TRINDADE UNIVERSAL e entendemos Deus (Olorum, Zambi ) como único criador de todo o universo, portanto em hipótese alguma podemos aceitar uma visão politeísta para a umbanda.
Deus criou a matéria e o espírito, mas esta matéria não tinha forma, é o que nos fala a gênese mosaica:
“2. A terra estava informe e vazia...”
Sabemos que energia e matéria são elementos do universo e que uma se transforma na outra, portanto podemos pensar em um universo material formado somente por energia sem formas materiais, foi a partir de um segundo momento  pela vontade de Deus que o mundo material passou a possuir formas e estruturas.
Deus disse:
“Faça-se a luz!” E a luz foi feita.
Este instante da criação universal é o que chamamos de REINO DO FOGO em nosso estudo doutrinário.
É o primeiro reino da criação, é luz, é calor, é força para provocar as mudanças necessárias.
A partir deste primeiro reino caminhamos para o segundo reino, que é o chamdo REINO DA TERRA, que sabemos que é o reino das formas, das regras, das leis, das estruturas e aqui entendemos todas as leis e estruturas existentes no universo; a lei de atração e repulsão elétrica e magnética, a lei da gravidade, a lei de ação e reação, a lei do Karma etc.
São leis imutáveis, naturais, universais e divinas.
Como tudo no universo material se manifesta através de formas e estruturas, os espíritos para se manifestarem em nossa realidade espaço-tempo, em nossa consciência, em nossa “tela mental”, em nossos sonhos e em manifestações mediúnicas necessitam assumir formas, estruturas e aparências.
Estas formas são chamadas de corpos espirituais e são de natureza semelhante às estruturas que dão forma a matéria.
Na doutrina dos SETE REINOS SAGRADOS chamamos estas estruturas de “CAMPOS ESTRUTURAIS”, que em outra oportunidade iremos desenvolver sua natureza mais a fundo.
No momento limitamos a dizer que “Campos Estruturais”, são estruturas de natureza mental e emocional, geradas e mantidas pelos espíritos e que dão forma a matéria e também ao corpo espiritual dos espíritos. Aceitamos na doutrina seguida pelo Núcleo Mata Verde, que tudo que existe no universo material possui um duplo de natureza espiritual, que chamamos de campo estrutural, que pode ser entendido como um campo organizador da matéria e de toda realidade humana.
Como mencionamos acima, os espíritos para se manifestarem assumem um corpo espiritual, e como é este corpo espiritual nos trabalhadores umbandistas?
Existem três etapas na formação da aparência espiritual para os espíritos que trabalham na umbanda e podemos afirmar para todos aqueles espíritos que de alguma forma necessitam se apresentar em nossa realidade material.
Primeira etapa:
É a unicidade espiritual; o espírito é único e indivisível.
Diferente do corpo material que é um organismo, formado pelos diversos órgãos, o espírito em sua essência é único e indefinível. (Atma)
Nesta sua natureza ele não consegue se manifestar aos humanos.
Segunda etapa:
Polaridade espiritual.
Nesta etapa o espírito elabora sua roupagem fluídica, o perispírito dos Espíritas, ou o corpo espiritual.
A polaridade é um conceito de natureza material, e o espírito para se manifestar nesta realidade material de espaço-tempo necessita se polarizar.
A polaridade se apresenta como Feminina ou Masculina.
Podemos dizer  que o espirito cria um “campo estrutural” que dará forma ao seu corpo espiritual que poderá ser de mulher ou de homem.
Terceira etapa:
Triplicidade espiritual.
Aqui os espíritos escolhem a melhor opção para realizarem suas atividades, e que melhor se adaptam as suas características.
Na triplicidade o espírito poderá assumir a forma de: criança, adulto ou velho.
Quarta etapa:
Qualidade vibracional espiritual.
Nesta etapa a opção é setenária, dependo da sua natureza e dos conhecimentos adquiridos no processo evolutivo o espírito vem trabalhar nos Terreiros umbandistas vinculados a uma dassete vibrações existentes na natureza, ou seja, conforme seus compromissos com os Orixás Regentes de cada reino:
Ogum, Xangô, Iansã, Iemanjá, Oxossi, Oxalá, Omolu
Que são os regentes dos sete reinos sagrados:
Reino do Fogo, da Terra, do Ar, da Água, das Matas, da Humanidade, das Almas.
Podemos encontrar quarenta e duas formas básicas de manifestação. ( 7x3x2)
Não iremos neste momento relacionar todas as possibilidades, mas daremos um exemplo:
1)   Linha de Cosme e Damião (Crianças):
Polaridade: Feminina
Triplicidade: Criança
Qualidade Vibracional: Iemanjá
O espírito se manifestará como uma criança, menina que trabalha na vibração de Iemanjá (Reino das águas), poderá, por exemplo, se identificar com o nome de Mariazinha.
Mariazinha é o diminutivo de Maria, que significa Mãe e todas as Mães, de alguma forma, estão ligadas a água.
Polaridade: Masculino
Triplicidade: Criança
Qualidade Vibracional: Xangô
O espírito se manifestará como uma criança, menino que trabalha na vibração de Xangô (Reino da Terra), poderá, por exemplo, se identificar com o nome de Pedrinho.
Pedrinho é o diminutivo de Pedro, que significa Pedra e, portanto ligado ao reino da Terra.
2)   Linha dos Caboclos
Polaridade: Masculino
Triplicidade: Adulto
Qualidade Vibracional: Oxossi
O espírito se manifestará como um adulto, homem que trabalha na vibração de Oxossi (Reino das Matas), poderá se identificar com o nome, por exemplo, de Caboclo Folha Verde.
Polaridade: Feminino
Triplicidade: Adulto
Qualidade Vibracional: Iemanjá
O espírito se manifestará como uma Cabocla que trabalha na vibração de Iemanjá (Reino das águas), poderá se identificar como, por exemplo, como  Cabocla do Mar.
3)   Linha dos Preto-Velhos
Polaridade: Masculino
Triplicidade: Velho
Qualidade Vibracional: Oxossi
O espírito se manifestará como um velho que trabalha na vibração de Oxossi (Reino das Matas), poderá, por exemplo, se identificar como Vovô Sebastião na linha dos preto-velhos ou como um Caboclo Velho.
Sebastião é o nome de São Sebastião, que é o sincretismo de Oxossi na Umbanda.
Polaridade: Feminino
Triplicidade: Velho
Qualidade Vibracional: Iemanjá
O espírito se manifestará como uma preta-velha que trabalha na vibração de Iemanjá (reino das águas), poderá, por exemplo, se identificar como Vovó Maria.(poderá também se manifestar como uma cabocla velha)
Não pretendemos agora explorar todas as possibilidades existentes, mas em breve faremos um trabalho divulgando todas as possíveis combinações existentes e algumas sugestões de nomes de trabalho.
É preciso registrar que Crianças e Preto-Velhos por usarem nomes de origem ocidental cristã, normalmente dificultam um pouco a identificação de suas vibrações de trabalho pelo seu nome, mas a grande maioria utiliza nomes de santos ligados ao sincretismo o que é um caminho para a identificação.
Já os Caboclos e Caboclas, por utilizarem elementos da natureza em seus nomes fica mais fácil a identificação.
Lembrando que pela forma de trabalhar, pelos objetos utilizados, pelas cores, pelos pontos riscados é possível fazer esta identificação; mas a maneira mais segura e objetiva é perguntar ao espírito em quais das sete vibrações ele trabalha.
Também encontramos Caboclos que trabalham com mais de uma vibração; em nossa vivência identificamos entidades que trabalham em até três tipos de vibrações.
Alguns exemplos simples:
Um Caboclo Pedra Preta, é um espírito que se manifesta como Homem, adulto que trabalha com as vibrações do Reino da Terra (pedra) e do Reino das Almas (cor Preta), ou seja, é um Caboclo que trabalha nas irradiações dos Orixás Xangô e Omolu.
Um Ogum Sete Ondas, é um espírito que se manifesta como homem, adulto que trabalha com as vibrações do Reino do Fogo (Ogum) e do Reino das Águas (ondas), ou seja, ele trabalha nas irradiações dos Orixás Ogum e Iemanjá.
Em relação aos Orixás é interessante fazer um comentário de que estes sete reinos são regidos pelos sete principais Orixás Primordiais e que através da mescla destas vibrações primordiais encontramos as demais vibrações, que podemos chamar de vibrações secundárias.
São Orixás que atuam em dois ou mais reinos e sua existência necessita destas vibrações básicas.
Como exemplo, sem querer criar polêmicas, podemos exemplificar com o Orixá Logunedé, que não é cultuado na Umbanda.
Logunedé ou Logun Ede, do iorubá Lógunède, é um orixá africano que na maioria dos mitos costuma ser apresentado como filho de Oxum Ipondá e Oxóssi Inlè ou Érinle.
Segundo as lendas, vive seis meses nas matas caçando com Oxossi e seis meses nos riospescando com Oxum.
Fica claro pelas lendas que sua natureza é ligada ao REINO DAS MATAS e ao REINO DAS ÁGUAS, ou seja, sua existência necessita destas duas vibrações.
Na doutrina dos Sete Reinos é considerado um Orixá secundário.
Secundário no sentido de não possuir uma única vibração em sua natureza e não no sentido de importância religiosa.
Como já mencionamos em outros textos de estudo, todos os Orixás encontrados na África podem ser identificados através do estudo e analise das sete vibrações principais.
Finalizando lembramos que estes princípios se aplicam em qualquer linha de trabalho da umbanda, sejam exus, ciganos, baianos, etc. sempre teremos: crianças (Mirim), adultos e velhos, homens ou mulheres e sempre vinculados aos sete reinos.
Saravá!
São Vicente, 14/11/2010
Manoel Lopes.

Umbanda

                   

        Ao falarmos de Umbanda, devemos antes alertar ao leitor que não se trata de uma sessão de bruxaria ou sascrifícios animais conforme muitos pensam ou já ouviram falar.

Nascida com o propósito dirimir os confrontamentos religiosos e praticar o bem sobre todas as coisas, dando a todos sem distinção de classe social a chance de resgatar suas faltas nesta vida, a Umbanda nasceu sobre a luz dos princípios cristãos, utilizando as forças da natureza, chamadas de Orixás e Guias para nos ajudar. Nela trabalhamos com os elementos da Natureza:

.: Fogo - através das luzes das velas
.: Ar - através dos defumadores, charutos e cigarrilhas
.: Água - através dos rios, igarapés e do mar
.: Terra - através das matas, plantas, flores e frutas.

Os irmãozinhos menos avisados, costumam chamar de Casa, Templo ou Terreiro de Umbanda um local onde há sacrifícios de animais. Isto é um equívoco (vide a história da criação abaixo). Este é o ponto forte de discórdia, pois muitos presidentes de centros espíritas ou chefes de terreiro que advém de outras formações religiosas misturam aos rituais sagrados da Umbanda práticas proibidas em nossa religião. Para amenizarem o problema, muitos passam a "colorir" a religião, chamando-a de Umbanda Branca, Umbanda isso ou aquilo. Queridos irmãos a feijoada deve ser com feijão preto, se assim não for não poderá ser chamada de feijoada, deu para entender?

Cabe-nos salientar, mais uma vez, que você, leitor, não precisa concordar com nada que falo, pois sou apenas o assistente de pedreiro nesta obra do Pai.

Tentarei mostrar como uma religião que pratica o bem, pode ajudar aqueles que necessitam. Digo sempre a todos, que não importa a sua religião, pois religião é como um time de futebol, cada um de nós tem o seu. Todos os caminhos levam a Deus. O atalho é a Caridade.

Mas vem a pergunta, por que motivo usam o nome da Umbanda para simbolizar os cultos africanos, chamados afro-brasileiros se estes não são Umbanda? A Umbanda não é afro-brasileira, é brasileira, nascida em Niterói! (vide a história da criação abaixo)

Por conta de muitos irmãos, espíritas preconceituosos, que não davam oportunidade de fazer a caridade aos espíritos dos índios, escravos e demais trabalhadores do além, em suas religiões é que os irmãozinhos, para serem aceitos em casas espíritas de caridade, tinham que se transfigurar em médicos ou importantes figuras intelectuais, que verdadeiramente foram, para poderem fazer a caridade nestas casas. Não confunda isso com camuflagem ou má fé. Todos devemos fazer a caridade para evoluirmos, pois é através dela que iremos conhecer o verdadeiro amor ao próximo.

Jesus foi o mais humilde de todos os espíritos e tinha como profissão carpinteiro. José idem e Maria, dona de casa. E os menos afortunados intelectualmente? Não devemos confundir, banco de escola com experiência de vida. É mais fácil conhecermos uma pessoa que não sabe assinar o próprio nome e é sábia que aqueles irmãos cheios de bolor moral que nada fazem para ajudar o próximo, mas são cheios de títulos, fazendo questão de serem apresentados pelo seu pedigree profissional ou familiar. Jesus não nos ensinou isto, pelo contrário: expulsou os vendilhões do templo e discutiu diversas vezes com os farizeus.

E a caridade cristã, a humildade e o amor incondicional? A vaidade comeu estas virtudes nos irmãos de pouca fé!

Como o Brasil é a pátria do Evangelho, psicografado em muitos livros por diversos espíritos, não caberia aqui a segregação espiritual, haja vista os tempos da escravidão.

Antes de iniciarmos a linda história da Umbanda, gostaria de deixar claro que a denominação Macumba, muitas vezes associada a Umbanda, foi associada as práticas religiosas praticadas pelos homens e mulheres da etnia Bantu (África), que evocavam os mortos e os antepassados de suas tribos aqui no Rio de Janeiro. Até hoje, este termo é usado pejorativamente pelos irmãozinhos de outras religiões para classificar as práticas religiosas espíritas ditas não apoiadas sobre uma doutrina cristã. Contudo, cabe ressaltar que as bases crísticas e morais são a fundação da Umbanda.

Não sei quanto as outras religiões, mas nós da Umbanda não ficamos chateados com este termo, é apenas prova do desconhecimento de alguns irmãos, que como papagaios, imitam uns aos outros sem ao menos saber onde o galo cantou.

Quando o caboclo Sete Encruzilhadas veio a Terra orientar ostrabalhos utilizando estes elementos e as forças da Natureza trouxenos a luz o contexto de nossa Terra:

".... Torna-se imperioso, antes de ocuparmo-nos da Anunciação da Umbanda no plano físico sob a forma de religião, expor sinteticamente um histórico sobre os precedentes religiosos e culturais que precipitaram o surgimento, na 1ª década do século XX , da única e genuína Religião Brasileira.

Em 1500, quando os portugueses avistaram o que para eles eram as Índias, em realidade Brasil, ao desembarcarem depararam-se com uma terra de belezas deslumbrantes, e já habitada por nativos. A estes aborígenes os lusitanos, por imaginarem estar nas Índias, denominaram de índios.

Os primeiros contatos entre os dois povos foram, na sua maioria, amistosos, pois os nativos identificaram-se com alguns símbolos que os estrangeiros apresentavam. Porém, o tempo e a convivência se encarregaram em mostrar aos habitantes de Pindorama (nome indígena do Brasil) que os homens brancos estavam alí por motivos pouco nobres. O relacionamento, até então pacífico, começa a se desmoronar como um castelo de areia.

São inescrupulosamente escravizados e forçados a trabalhar na nóvel lavoura. Reagem, resistem, e muitos são ceifados de suas vidas em nome da liberdade. Mais tarde, o escravizador faz desembarcar na Bahia os primeiros negros escravos que, sob a égide do chicote, são despejados também na lavoura. Como os índios, sofreram toda espécie de castigos físicos e morais, e até a subtração da própria vida.

Desta forma, índios e negros, unidos pela dor, pelo sofrimento e pela ânsia de liberdade, desencarnavam e encarnavam nas Terras de Santa Cruz.

Ora laborando no plano astral, ora como encarnados, estes espíritos lutavam incessantemente para humanizar o coração do homem branco, e fazer com que seus irmãos de raça se livrassem do rancor, do ódio, e do sofrimento que lhes eram infligidos.

De outra parte, a igreja católica, preocupada com a expansão de seu domínio religioso, investe covardemente para eliminar as religiosidades negra e índia. Muitas comitivas sacerdotais são enviadas, com o intuito "nobre" de "salvar" a alma dos nativos e dos africanos.

Os anos sucedem-se. Em 1889 é assinada a "lei áurea". O quadro social dos ex-escravos é de total miséria. São abandonados à própria sorte, sem um programa governamental de inserção social. Na parte religiosa seus cultos são quase que direcionados ao mal, a vingança e a desgraça do homem branco, reflexo do período escravocrata.

No campo astral, os espíritos que tinham tido encarnação como índios, caboclos (mamelucos), cafuzos e negros , não tinham campo de atuação nos agrupamentos religiosos existentes.

O catolicismo, religião de predominância, repudiava a comunicação com os mortos, e o espiritismo (kardecismo) estava preocupado apenas em reverenciar e aceitar como nobres as comunicações de espíritos com o rótulo de "doutores".

Os Senhores da Luz (Araxás, Orixás), atentos ao cenário existente, por ordens diretas do Cristo Planetário (Jesus) estruturaram aquela que seria uma Corrente Astral aberta a todos os espíritos de boa vontade, que quizessem praticar a caridade, independentemente das origens terrenas de suas encarnações, e que pudessem dar um freio ao radicalismo religioso existente no Brasil.

Começa a se plasmar, sob a forma de religião, a Corrente Astral de Umbanda, com sua hierarquia, bases, funções, atributos e finalidades.

Enquanto isto, no plano terreno surge, no ano de 1904, o livro Religiões do Rio, elaborado por "João do Rio", pseudônimo de Paulo Barreto, membro emérito da Academia Brasileira de Letras.

No livro, o autor faz um estudo sério e inequívoco das religiões e seitas existentes no Rio de Janeiro, àquela época, capital federal e centro socio-político-cultural do Brasil. O escritor, no intuito de levar ao conhecimento da sociedade os vários segmentos de religiosidade que se desenvolviam no então Distrito Federal, percorreu igrejas, templos, terreiros de bruxaria, macumbas cariocas, sinagogas, entrevistando pessoas e testemunhando fatos.

Não obstante tal obra ter sido pautada em profunda pesquisa, em nenhuma página desta respeitosa edição cita-se o vocábulo Umbanda, pois tal terminologia era desconhecida.

Foi então que em fins de 1908, uma família tradicional de Neves, Niterói -RJ, foi surpreendida por uma ocorrência que tomou aspectos sobrenaturais: o jovem Zélio Fernandino de Moraes, que fora acometido de estranha paralisia, que os médicos não conseguiam debelar, certo dia ergueu-se do leito e declarou: "amanhã estarei curado".

No dia seguinte, levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada lhe houvesse tolhido os movimentos. Contava 17 anos de idade e preparava-se para ingressar na carreira militar na Marinha.

A medicina não soube explicar o que acontecera.

Os tios, sacerdotes católicos, colhidos de surpresa, nada esclareceram. Um amigo da família sugeriu então uma visita à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e superior a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem levantou-se, dizendo:"aqui está faltando um flor", e saiu da sala indo ao jardim, voltando logo após com uma flor, que depositou no centro da mesa.

Esta atitude insólita causou quase que um tumulto. Restabelecidos ostrabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios. Foram convidados a se retirarem, advertidos de seu estado de atraso espiritual.

Novamente uma força estranha dominou o jovem Zélio e ele falou, sem saber o que dizia. Ouvia apenas a sua própria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dostrabalhos a não aceitarem a comunicação daqueles espíritos e do porquê em serem considerados atrasados apenas por encarnações passadas que revelavam. Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente perguntou:

"Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados ? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz ? E qual o seu nome irmão ?

E o espírito desconhecido falou: "Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados. O vidente retrucou: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ? perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse: "cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra , poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00h às 22:00h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA - Manifestação do Espírito para a Caridade.

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto. Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes alí presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos, curando enfermos, fazendo andar paralíticos. Antes do término da sessão, manifestou-se um preto-velho, Pai Antônio, que vinha completar as curas. No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.

A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo.

Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão.Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou.

Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os", ordenava sempre o Caboclo.

A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda.

O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam os principais elementos de preparação do médium.

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda), Zélio entregou a direção dostrabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando , ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu - RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam.

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade - RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la:

        "A Umbanda tem progredido e vai progredir.

É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.

O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.

Umbanda é humildade, amor e caridade - esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxósse, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxósse, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão.

Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós ; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.

Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que safram desta Casa.

Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura , não foi por acaso. Asssim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade.

Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares.

Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.

Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos , numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.

Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 03 de outubro de 1975.

Saravá Umbanda. Deus Seja Louvado!


Umbanda é prática da caridade. Mas caridade não é colocar as pessoas no colo e resolver os problemas delas. Caridade não é apenas consolar, mas também esclarecer. É necessário que o movimento umbandista se conscientize disso. A Umbanda coloca inúmeras ferramentas energéticas, magísticas, espirituais e conscienciais a vossa disposição. Repassem essas ferramentas. Façam com que não apenas os médiuns e integrantes da corrente conheçam as "mirongas de umbanda", mas as ensine, de forma simples e prática, para que a assistência também se beneficie, quebrando a dependência dela em relação aos guias. Umbanda é esclarecer...
 
Esclarecer também em relação ao mundo espiritual, as leis cármicas, de afinidades, etc. Esclarecer a respeito dos Orixás, da família espiritual de cada um. Tantos são os assuntos que poderiam ser ventilados dentro dos terreiros para melhor desenvolvimento das pessoas. Mas os umbandistas estão mais preocupados com os fenômenos, com a manifestação, esquecendo de se voltar para a filosofia espiritualista que está no âmago e na sustentação da religião de Umbanda.

Lembre-se: Tem coisa que nenhum passe, nenhuma magia, nenhum banho ou defumação irá resolver. Mas talvez uma boa conversa, um bom livro ou apenas uma nova visão em relação à vida possa mudar. Umbanda está cheia de milagres e encantos. Mas esses milagres e encantos são simples, acontecem a todo momento. Uma pena que a maioria dos homens e mulheres não têm olhos para ver...

           Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada