Águas de Oxalá
Oxalufã Oxaguiã
Aproximava-se o dia em que seria realizado no reino de Oyó, a época das
comemorações em homenagem a Xangô, Rei de Oyó, onde todos
os Orixás foram convidados, inclusive Oxalufã. Antes de rumar a Oyó, Oxalufã
consultou seu babalawo a fins de saber como seria a jornada, o babalawo lhe
disse: leve três mudas de roupas brancas, pois Exú irá dificultar seus
caminhos. E Oxalufã partiu sozinho. O adivinho aconselhou-o então
a levar consigo três panos brancos, limo-da-costa e sabão-da-costa,
assim como a aceitar e fazer tudo que lhe pedissem no caminho e
não reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse. Seria uma
forma de não perder a vida.
Caminhando pela mata encontrou Exú tentando levantar um tonel de
Dendê as costa e pediu-lhe ajuda, Oxalufã prontamente
lhe ajudou mas Exú, propositalmente derramou o dendê sobre
Oxalufã e saiu. Oxalufã banhou-se no rio, trocou de roupa e continuou
sua jornada. Mas adiante encontrou-se novamente com Exú, que desta
vez tentava erguer um saco de carvão a costas e pediu a Oxalufã
que lhe auxiliasse, novamente Oxalufã lhe ajudou e Exú repetiu o feito
derramando o carvão sobre Oxalufã, banhando-se no rio e trocando
de roupa, Oxalufã prosseguiu sua jornada a Oyó, próximo já a Oyó,
encontrou com Exú novamente tentado erguer um tonel de melado e
a estória se repetiu. Nos campos de Oyó, Oxalufã encontrou com
um cavalo fugitivo dos estábulos de Xangô, e resolveu devolver ao dono,
antes de chegar a cidade, foi abordado pelos guardas que julgaram-no
culpado pelo furto.
Maltrataram e prenderam Oxalufã. Ele, sempre calado, deixou-se levar
prisioneiro. Mas, por estar um inocente no cárcere, em terras do
Senhor da Justiça, Oyó viveu por longos sete anos a mais profunda
seca. As mulheres tornaram-se estéreis e muitas doenças assolaram o
reino. Desesperado Xangô resolveu consultar um babalawô para saber
o que acontecia e o babalawô lhe disse: a vida está aprisionada em
seus calabouços, um velho sofria injustamente como prisioneiro, pagando
por um crime que não cometera. Com essa resposta, Xangô foi até a
prisão e lá encontrou Oxalufã todo sujo e mal tratado. Imediatamente o
levou ao palácio e lá chamou todos os Orixás onde cada um carregava
um pote com água da mina. Um a um os Orixás iam derrubando suas
águas em Oxalufã para lavá-lo. O rei de Oyó mandou seus súditos
vestirem-se de branco. E que todos permanecessem em silêncio.
Pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalufã. Xangô
vestiu-se também de branco e nas suas costas carregou o velho rei.
E o levou para as festas em sua homenagem e todo o povo saudava
Oxalufã e todo o povo saudava Xangô.
Lenda da Criação
Oxalá, "O Grande Orixá" ou "O Rei do Pano Branco". Foi o primeiro a
ser criado por Olorum, o Deus supremo. Tinha um caráter
bastante obstinado e independente.
Oxalá foi encarregado por Olorum de criar o mundo com o poder
de sugerir (àbà) e o de realizar (àse). Para cumprir sua missão,
antes da partida, Olorum entregou-lhe o "saco da criação".
O poder que lhe fora confiado não o dispensava, entretanto de
submeter-se a certas regras e de respeitar diversas obrigações
como os outros orixás. Uma história de Ifá nos conta como. Em
razão de seu caráter altivo, ele se recusou fazer alguns sacrifícios
e oferendas a Exú, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.
Oxalá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho,
seu òpá osorò ou paxorô, cajado para fazer cerimônias. No momento
de ultrapassar a porta do Além, encontrou Exé, que, entre as suas
múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre
os dois mundos. Exé descontente com a recusa do Grande Orixá
em fazer as oferendas prescritas, vingou-se o fazendo sentir uma
sede intensa. Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso
senão o de furar com seu paxorô, a casca do tronco de um
dendezeiro. Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma.
Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, e não sabia mais
onde estava e caiu adormecido. Veio então Odudua, criado por Olorum
depois de Oxalá e o maior rival deste. Vendo o Grande Orixá adormecido,
roubou-lhe o "saco da criação", dirigiu-se à presença de Olorum para
mostrar-lhe o seu achado e lhe contar em que estado se encontrava
Oxalá. Olorum exclamou: "Se ele está neste estado, vá você, Odudua!
Vá criar o mundo!" Odudua saiu assim do Além e encontrou diante de
uma extensão ilimitada de água.
Deixou cair a substância marrom contida no "saco da criação". Era terra.
Formou-se, então, um montículo que ultrapassou a superfície das águas.
Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garras. Esta começou
a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas.
Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais,
o que em iorubá se diz ilè nfè, expressão que deu origem ao nome da
cidade de Ilê Ifé. Odudua aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás,
e tornou-se assim o rei da terra.
Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o "saco da criação".
Despeitado, voltou a Olorum. Este, como castigo pela sua embriaguez,
proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua família, os orixás
funfun, ou "orixás brancos", beber vinho de palma e mesmo usar
azeite-de-dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de
modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olorum,
insuflaria a vida.
Por essa razão, Oxalá também é chamado de Alamorere, o "proprietário
da boa argila".
Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério
a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia,
os homens saiam de suas mãos contrafeitas, deformdas, capengas
, corcundas. Alguns, retirados do forno antes da hora, saíam mal
cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram os albinos.
Todas as pessoas que entram nessas tristes categorias são-lhe
consagradas e tornam-se adoradoras de Oxalá.
Como Oxalá se Tornou o Pai da Criação
Iemanjá, a filha de Olokum, foi escolhida por Olorum para ser a mãe dos
orixás. Como ela era muito bonita, todos a queriam para esposa; então,
o pai foi perguntar a Orumilá com quem ela deveria casar. Orumilá
mandou que ele entregasse um cajado de madeira a cada pretendente;
depois, eles deveriam passar a noite dormindo sobre uma pedra,
segurando o cajado para que ninguém pudesse pegá-lo. Na manhã
seguinte, o homem cujo cajado estivesse florido seria o escolhido
por Orumilá para marido de Iemanjá. Os candidatos assim fizeram;
no dia seguinte, o cajado de oxalá estava coberto de flores brancas,
e assim ele se tornou pai dos orixás.
Como Oxalá Aprendeu a Produzir a Cor Branca
Certa vez, quando os orixás estavam reunidos, Oxalá deu um tapa em
exú e o jogou no chão todo machucado; mas no mesmo instante exú
se levantou, já curado. Então Oxalá bateu em sua cabeça e exú ficou
anão; mas se sacudiu e voltou ao normal. Depois Oxalá sacudiu a cabeça
de exú e ela ficou enorme; mas exú esfregou a cabeça com as mãos e
ela ficou normal. A luta continuou, até que exú tirou da própria cabeça
uma cabacinha; dela saiu uma fumaça branca que tirou as cores
de Oxalá. Oxalá se esfregou, como exú fizera, mas não voltou ao
normal; então, tirou da cabeça o próprio axé e soprou-o sobre exú,
que ficou dócil e lhe entregou a cabaça, que oxalá usa para fazer os brancos.