sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O Incrível caso do Exu 7 da Lira

A Mãe de Santo Cacilda de Assis foi uma das médiuns
 mais polêmicas da história da religião brasileira, graças 
ao Exu que lhe assistia. Aos 13 anos de idade recebeu
 pela primeira vez o "Seu" Sete Rei da Lira, o qual foi
 assentado em 13 de junho de 1938, aos 15 anos, quando
 Cacilda recebeu sua iniciação de seu Pai, Benedito 
Galdino do Congo, em Coroa Grande, 
próximo da conhecidíssima Itacuruçá, no Rio de Janeiro
 (local onde funcionou um outro importantíssimo 
terreiro da história das religiões brasileiras). 
Ela também trabalhava com a Pomba Gira Audara Maria.

Mãe Cacilda de Assis em seu programa de rádio

O Rei da Lira se apresenta como Exu, muito embora
 suas características originais o liguem mais ao 
mundo da encantaria, onde é conhecido como Sete Rei
 da Lira, José das Sete Liras ou o Rei das Sete Liras.
 Poucos conhecem a sua história como encantado, que 
começa na Idade Média e vai até a sua reencarnação
 no século dezenove. Na Espanha Medieval, havia um 
casal: Caio e Zelinda. Caio era um descendente de 
gregos, que tocava e fabricava instrumentos
 musicais, especialmente liras. Zelinda era uma 
bela negra africana, que escondida dos poderosos da época,
 fazia rituais mágicos.

Tiveram um filho chamado José, que era muito 
inteligente e tocava instrumentos como ninguém.
 O garoto herdou do pai o gosto para tocar e fabricar
 liras, das quais construía 7 diferentes modelos. Da 
mãe herdou os poderes paranormais: curava pessoas
 doentes, movia objetos com o olhar, tinha sonhos 
premonitórios, via a aura das pessoas etc. Na adolescência,
 conta a lenda que o garoto passou a incorporar
 espíritos enquanto tocava e uma destas almas seria a do
 bíblico Rei Davi. Por fazer muito sucesso com as 
mulheres, um marido ciumento entregou-o para os
 representantes da igreja, acusando José das 
Sete Liras de bruxaria. Foi queimado na fogueira pela Inquisição.
Seu Sete da Lira trabalhando

A fama do Exu Sete Rei da Lira que baixava em 
Mãe Cacilda começou a crescer rapidamente 
devido à característica inusitada de suas giras - onde todo
 tipo de música poderia ser cantada e tocada - e
 no uso impressionante da ingestão de vários litros e 
litros de "marafo", além da roupa ritualística bordada 
em veludo preto, botas, capas e cartola. Quem 
presenciou a manifestação deste espírito se impressionou
 com o magnetismo e com a capacidade de movimentação
 das pessoas que acorriam ao seu templo, em 
Santíssimo, um bairro do Rio de Janeiro. Corriam 
as notícias de boca a boca, dos casos de cura 
de doenças gravíssimas etc. e rapidamente a gira 
de seu Sete chegou à marca impressionante de mais 
de cinco mil pessoas por rito.

Compositora e escritora, Mãe Cacilda tinha um
 programa na Rádio Metropolitana de Inhaúma e o 
caso é que a fama de seu 7 se espalhou tanto que 
artistas como Tim Maia, Freddie Mercury e o 
grupo Kiss estiveram por lá sabe-se lá por qual razão, 
até que um dia alguém foi até o terreiro e desafiou o 
Exu a baixar em rede nacional. Ao contrário do que
 se esperava, o seu Sete concordou e foi aí que o
 "dendê ferveu"!

Fotos das milhares de pessoas que acorriam ao 
templo de seu Sete da Lira. Olhe bem e descubra 
onde está o Exu!

Eu me lembro bem do fato, pois todo mundo comentou:
 foi em 1971, eu tinha 5 anos e me é inesquecível o 
sotaque de uma portuguesa da vila em que eu morava
 no bairro do bexiga em sampa, agressiva e 
transtornada, ao comentar: "Um absurdo, mesmo 
deixaram um demônio daqueles baixar no 
programa do Chacrinha?? Viram o que ele fez?? 
A revolta da mulher, católica radical (ainda não 
existiam os neopentecostais que mais tarde se 
aproveitariam do mesmo tipo de discurso), era 
acompanhada de uma credulidade não assumida:
 "Tudo bem, o santo baixou em todo mundo, 
isso realmente é difícil de explicar, mashhhh..."

Seu Sete da Lira no programa "Flávio Cavalcanti"

Incorporada pelo Exu "Seu" 7 Rei da Lira Cacilda
 havia transformado os programas de Chacrinha e
 Flávio Cavalcanti num verdadeiro ritual de Kimbanda,
 daqueles mais bravos. Não se questiona aqui a 
veracidade da presença do Exu naqueles momentos,
 ou se é válido esse tipo de exposição ou de 
manifestação em público, mas há a verdade inquestionável
 de que algum poder realmente tomou conta das pessoas
 naqueles programas, pois platéia, cantores, 
assistentes de câmera, seguranças, contra-regras
 e outros entraram em transe, desmaiaram 
ou foram "mediunizados" por Exus e outras entidades.

Inabalável, seu Sete da Lira após "tocar a 
macumba" no programa de Flávio Cavalcanti, sem 
desincorporar saiu de carro dos estúdios da
 TV Tupi acompanhado por seus cambonos e foi até 
os estúdios da Rede Globo no programa do Chacrinha 
e nem bem entrou no palco, o mesmo fenômeno
 aconteceu: Chacretes, músicos, diretores e outros 
entraram em transe.

O próprio Chacrinha, o “rei” da caricatura e da 
esbórnia ficou sem ação, conforme o relato 
do professor universitário Paulo Duarte: "(...) me causou
 espanto, assistir, há dias àquele espetáculo de 
'Seu Sete', apresentado como se fosse um retrato do Brasil:
 uma 'mandingueira' de cartola e charuto, espargindo
 cachaça pela multidão em transe, como um sacerdote
 o faz com água benta. Um adolescente entrou para
 colaborar, quando foi 'tomado' diante da Mãe de Santo.
 Esta, que já bebera em público largos goles de pinga, 
esborrifou-lhe o rosto com um pouco da bebida, 
aos efeitos mágicos da qual o moleque voltou à razão
 em meio ao alvoroço da multidão, sob o patrocínio
 de um Chacrinha mais inconsciente que legítimo".

Reportagem na revista "Amiga" de 1970, 
sobre seu 7 da lira (Cortesia do irmão Maleronka!)

Na Censura Federal centenas de telefonemas de protestos 
e de narrativas de pessoas que haviam entrado em transe 
em suas casas entupiram as centrais telefônicas, a Igreja
 Católica constrangida reuniu sua cúria para debater o 
problema e a concessão das duas emissoras de TV 
quase foram suspensas pelo governo, alegando a 
defesa da "moralidade" e dos "bons costumes".

Na verdade, o que podemos concluir é que a 
Umbanda e as religiões afro-brasileiras fazem 
parte de uma parcela do imaginário brasileiro - 
principalmente a Kimbanda - que se for colocada à 
mostra em sua totalidade, pode gerar efeitos inesperados
 no senso comum e padrão das classes sociais e
 religiosas acomodadas, pois raramente se viu na
 história da cultura brasileira a religiosidade 
das classes subalternas manifestar-se de modo tão 
espontâneo e incontrolável e ainda, em escala nacional,
 como foi feito pelo Sr. Exu da Lira e só por ele, sozinho!

Uma das últimas fotos de Cacilda de Assis 
mediunizada... paradeiro????
Pela primeira vez na história do país, cujo Estado e 
cujas classes dirigentes desfiam ao longo dos tempos
 uma compreensão e narrativa eurocêntrica sobre si 
mesmos, a sociedade brasileira se viu obrigada e se
 olhar no espelho tão profundamente que não aguentou 
se ver tão frágil e desnuda frente aos efeitos do trabalho
 de um Exu Guardião. E as reações subsequentes revelaram
ainda posicionamentos elitistas arraigados nas velhas 
estruturas de dominação e da luta de classes no 
plano das representações simbólicas. Entre o próprio
 povo do santo a coisa se dividiu: em conversa 
com nosso querido amigo, o pai Pedro Miranda, esse nos
 relatou que certas "cúpulas" umbandistas da época 
recusaram-se a tentar entender o fenômeno "da Lira" 
e também tentaram abafar o caso...

Mas o evento mais grave e interessante aconteceria
longe, no centro do poder: estavam assistindo aos
 programas o então presidente Médici e sua esposa
 D. Cyla. Indignado, o general iria tomar algumas 
"providências" contra Mãe Cacilda, quando, subitamente,
 ao seu lado, D. Cyla, incorporada, dá uma sonora
 gargalhada, pede uma rosa, uma champanhe e diz 
pro presidente não mexer com quem não podia...
Bastidores do Brasil... bastidores da Kimbanda...

Ao sr. Sete Rei da Lira: Mojubá Exu!! 

Fonte: http://acervoayom.blogspot.com/

Sete Rei da Lira : Cacilda de Assis


01- Saravá a Coroa Maior
02- Sete na Lira
03- Guardião dos Caminhos
04- A Casa de Seu Sete
05- É Pra Quem Tem Fé
06- Sete é Protetor
07- Rosa Vermelha
08- Rei da Lira
09- As Quatro Coroas
10- Estrela de Audara Maria
11- Audara Maria do Oriccó
12- Dona Audara Edimum

Lançamento: 1971, selo: Odeon.
Para Baixar o Disco completo Acesse:
http://www.4shared.com/file/M8hw1Sph/


 
A Umbanda se despede de Mãe Cacilda
Data: 22.05.09

         No último dia 20 de abril, faleceu aos 90 anos,
 vítima de infarto, Cacilda Assis de Souza, a Mãe
 Cacilda, médium do Exu Sete da Lyra. Estiveram
 presentes os familiares, além de um número 
considerável de amigos, fiéis e simpatizantes. Ao 
final todos os presentes cantaram o Hino à Umbanda.
 Numa época em que chegava ao auge a campanha 
nacional por uma televisão mais “civilizada”, mais 
“culta”, capitaneado pelo governo militar, e 
com apoio expressivo da “classe média do milagre”, 
da Igreja e de diversos intelectuais, e cujo assunto
 foi motivo de grande ira por parte do polêmico escritor 
Nelson Rodrigues que disse: “a unanimidade contra a
 TV não é burra; é irreal e hipócrita”, aconteceu o 
episódio que buliu de vez com os brios dos 
partidários da censura: a disputada Mãe Cacilda
 transformou os estúdios da Globo e da Tupi em
 verdadeiros terreiros. Mas foi alvo de muitas 
críticas também. De acordo com o jornal O Estado
 de S. Paulo (03/09/1971: 4): “Embora as 
apresentações diferissem, o espetáculo em si foi 
o mesmo: os umbandistas de ‘Seu Sete’ invadiram
 o palco (baianas, cantores, pessoas bem vestidas, 
em ‘relações públicas’ [...] num tumulto indescritível
 [...] Várias pessoas, possuídas, desmaiaram, outras
 entraram em transe”. Num discurso inflamado, 
o jornalista e professor universitário Paulo Duarte
 deu sua versão do ocorrido:
“Não me causou espanto, portanto, o assistir
 há dias àquele espetáculo de ‘Seu Sete’, 
apresentado como se fosse o retrato do Brasil:
 uma mandingueira de cartola e charuto, espargindo
 cachaça pela multidão em transe, como um 
sacerdote com água benta [...].” “A participação 
de “Seu Sete” no Programa Flávio Cavalcanti e 
na Buzina do Chacrinha foi, sem sombra de
 dúvida, o ‘acontecimento televisivo mais 
importante do ano’ (João Rodolfo do Prado, 
Jornal Última Hora, 30/12/1971: 3), com
 repercussão que ultrapassou as colunas especializadas.
 Reza a lenda que D. Cyla Médici, esposa 
do então presidente da república, caiu em transe,
 assistindo a um dos programas dominicais. 
Uma força extraordinária que se fazia 
presente em manifestações religiosas que atraíam
 milhares de pessoas, será sem dúvida um marco 
na história da Sagrada Umbanda. 

Fonte: Facasper
        Por: Marco Valério

Quem És Exu?


Resultado de imagem para exu e pomba gira

Quem és, oh Elegbara!?
Que com teu falo em riste deixava estupefatos os zelosos sacerdotes do clero católico.
Só pode ser o demônio infiltrado nestas tribos primitivas que habitam o solo árido da África, gritavam os inquisidores preocupados.
Negros sem alma, que só pensam em se reproduzir, em ofertar para a fertilidade da lavoura,  levem-nos para o Brasil e vendam-nos como escravos que lá aprenderão as verdades dos céus.
Cá chegando, quem és, Exu, “orixá” amaldiçoado pela dualidade judaico-católica, que não pôde ser sincretizado com os “santos” santificados pelos papas infalíveis…
Quem és, Exu, que os homens da Terra determinam que não é santo e por isto é venerado escondido no escuro das senzalas e seus assentamentos ficam enterrados em locais secretos?
Quem és, Exu, que o vento da liberdade que aboliu a escravidão “enxotou” para as periferias da capital de antanho?
Quem és, Exu, que o inconsciente do imaginário popular vestiu com capa vermelha, tridente, pé de bode, sorridente entre labaredas, que por alguns vinténs, farofa, galo preto, charuto e cachaça, atende os pedidos dos fidalgos da zona central que vêm até o morro em busca dos milagres que os santos não conseguem realizar?
Quem és, Exu, que continua sendo “despachado” para não incomodar o culto aos “orixás”?
Exu, é entidade? Então não entra dizem os ortodoxos que preconizam a pureza das nações. Aqui não tem lugar para egum…espírito de morto…
Exu, fique na tronqueira. Médiuns umbandistas pensem nos Caboclos e Pretos Velhos, não recebam estes Exus, admoestam certos iniciados chefes de terreiro. Eles são perigosos para os iniciantes.
Sim, estes iniciantes e iniciados que pelo desdobramento natural do espírito durante o sono físico vão direto para os braços do seu quiumba – obsessor- de fé, e saem de mãos dadas para os antros de sexo, drogas, jogatinas e outras coisitas prazeirosas do umbral mais inferior. Noutro dia, sonolentos e cansados do festim sensório, imputam a ressaca ao temível Exu.
Oh! Quantas ilusões!!!!!!
Afinal, que és tu, Exu?
Por que sois tão controverso?
Eu mesmo vos respondo…
Iah, ah, ah, ah….
Não sou a luz…
Pois a luz cristalina, refulgente, só a de Zambi, Olurum, Incriado,
Deus, seja lá que nome vocês dão…
Não sou a luz… Logo sou espírito em evolução.
Esta não é uma peculiaridade nossa,só dos Exus, mas de todos os espíritos no infinito cosmo espiritual. Afirmo que não existe espírito evoluído, como se fosse um produto acabado. Todos os espíritos, independente da forma, estão em eterna evolução, partindo do pressuposto que só existe um ser plenamente perfeito, um modelo de absoluta perfeição, o próprio Absoluto, Deus.
Assim, perante os “olhos” de Olorum, sou igual aos Pretos Velhos, Caboclos, Baianos, Boiadeiros, Ciganos, Orientais…
As distinções preconceituosas ficam por conta de vocês.
Não sou a luz, mas tenho minha própria luminosidade, qual labareda de uma chama maior, assim como todos vós. Basta tirar as nódoas escuras do candeeiro que vos nublam o discernimento que podereis enxerga-la, lá dentro de vós, o que chameis de espírito.
Há algo que me distingue dos demais espíritos. É o fato de eu não estar na luz. Meu habitat é a escuridão. Os locais trevosos onde há sofrimento, escravidão, dominação coletiva, magismo negativo, castelos de poder alimentados pelo mediunismo na Terra que busca a satisfação imediata dos homens, doa a quem doer.
O que eu faço lá?
Eu, um Exu, entre tantos outros, levo a luz às trevas, qual cavaleiro com estandarte em punho.
Dentro da lei universal de equilíbrio, eu abro e fecho, subo e desço, atuo na horizontal e na vertical, no leste o no oeste, atrás e na frente, encima e embaixo, impondo sempre o equilíbrio às criaturas humanizadas neste planeta, encarnados e desencarnados aos milhões.
O Cosmo é movimento, nada está parado, nada é estático.
Eu sou movimento. Não sou as ondas do mar, mas eu as faço movimentar-se…
Não sou as estrelas na abóbada celeste, mas meu movimento faz a sua luz chegar até as retinas…Não sou o ar que perpassa as folhas, mas as suas moléculas e partículas atômicas são mantidas em coesão e movimentadas pela minha força….
Iah, ah, ah…
Este equilíbrio não se prende as vontades humanas e aos vossos julgamentos de pecado, certo ou errado, moral ou imoral. Eu atuo no contínuo temporal do espírito e naquilo que é necessário para a evolução. Se tiverdes programado nesta encarnação serdes ricos, o será com axé de Exu. Se for o contrário, se em vida passada abusou da riqueza, explorou mão de obra, matou mineiros e estivadores de canaviais, e é para o equilíbrio de vosso espírito serdes mendigo, nascerás em favela sentindo nas entranhas o efeito de retorno, com axé de vosso Exu que vos ama, assim como um elástico que é puxado esticando e depois volta à posição de repouso inicial, estarei atuando para que seja cumprida a Lei de Harmonia Universal,  mesmo que “julgueis” isto uma crueldade.
Eu, Exu, vos compreendo.
Vós ainda não me compreendeis.
Eu sou livre, livre e feliz.
Vós sois preso, preso e infeliz no ciclo das reencarnações sucessivas.
Eu dou risada.
Iah, ah, ah, ah !!!!
         Sabe por quê?
Porque eu sei que no dia que o Sol não mais existir, vosso planeta for mais um amontoado de rocha inerte vagando no cosmo, estaremos vivos, vivos, muito vivos, evoluindo, evoluindo, sempre evoluindo.
Assim como vim para a Terra como caravaneiro da Divina Luz há milhares de anos atrás, assim iremos todos para outro orbe quando este planeta “morrer”.
Quando este dia chegar, vós estareis um pouco menos iludidos com as pueris verdades emanadas dos homens e seus frágeis julgamentos religiosos.
Eu, Exu, vou trabalhar arduamente para quando este dia chegar, vós estejais menos iludidos e quem sabe livre da prisão do escafandro de carne, assim como eu sou livre, livre, livre e feliz.
Iah, ah, ah, ah, ah…
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Obs: O Exu que ditou esta mensagem é mais um dentre tantos que se denominam PINGA FOGO e labutam em prol da Divina Luz, nossa amada Umbanda.

Quanto a quem recebeu a mensagem, isto é só mais uma ilusão.

Ditado Pelo Guardião Pinga Fogo – escrito por Alexandre Cumino

Histórias e Lendas Ciganas


 “Águia voa alto, mas com as asas cortadas, não passa de galinha grande.” (provérbio cigano)

Em 1987 eu viajava pelo sertão da Bahia, onde colhia material 
de estudo e reencontrava alguns irmãos da grande tradição
da Jurema Sagrada (Catimbó). No povoado de Quiçé conheci 
Seu Manuel Ferrer, um raizeiro e benzedor.
Tio Manolo, como também era chamado, nasceu cigano 
de mãe e vaqueiro de pai, como dizia. Depois de uma
 vida atribulada, mergulhou sertão adentro, onde aprendeu
 os mistérios das raízes com Dona Maria Tiana, uma 
santa curandeira.
O contato com este personagem magnífico, me proporcionou
 as duas lendas que aqui reproduzo. Como são 
materiais inspiracionais, recomendo que os leitores 
não se preocupem com o sentido histórico ou a 
legitimidade cultural. Não é com a mente que as 
lendas são compreendidas, é com o coração.

O CIGANO JACÓ E O NAZARENO
“O galo pode cantar quanto quiser, mas nunca porá
 ovos”. (provérbio cigano)

- Jacó era um ferreiro cigano e passava por Jerusalém no 
tempo de Jesus. Sua comitiva estava parada perto da
 cidade santa, quando o Mestre foi preso e julgado.
 Os romanos preparavam o suplício e precisavam de 
gente para trabalhar. Nenhum carpinteiro ou ferreiro judeu,
 quis fazer a cruz ou fundir os cravos de ferro. Daí, 
que os carrascos romanos obrigaram Jacó, sob ameaça da
 espada, a fazer os três cravos da crucificação, dois para
 as mãos e um para os pés. Jacó sabia que Jesus era um justo, 
por isso amaldiçoou os romanos, predizendo a destruição
 de Roma por sua ganância e violência. Os algozes
 também obrigaram ele a pregar o Mestre no madeiro. 
Ele fez isto chorando e pedindo ao Mestre perdão. 
O nazareno, envolto na dor, disse ao cigano que
 não se preocupasse, pois o seu povo era nobre e fiel.
 Disse também que seriam todos agraciados, pela presença
 de uma virgem que viria do mar. Desde então, os 
ciganos passaram a esperar pela virgem e caminhar por
 todo o canto do Oriente e do Ocidente. Até que um dia, 
apareceu Santa Sara, a virgem negra. Era o dia 25 do
 mês de maio. Por isso, os ciganos são devotos de dois
 santos: a prometida Santa Sara e São Jorge, o 
patrono dos ferreiros.

EXÚ LERÚ O MOURO CIGANO
“Cachorro correndo sozinho se acha o mais veloz do 
mundo”. (provérbio cigano).

- Dona Maria me contou que o Exú Cigano, foi um
 cigano mourisco que se chamava Lerú. Ele chegou ao
 Brasil, junto com outros escravos da África e por aqui
 viveu. Como sabia ler, foi vendido para o dono de 
grandes armazéns, que o colocou como chefe. Muito
 esperto, Lerú começou a ajudar muita gente, que como 
ele, estava naquela triste situação. Ajudou tanto, mesmo 
correndo risco de vida, que um velho Tata africano lhe 
iniciou no culto. Ele foi o primeiro cigano a entrar na religião 
dos negros ! Então, depois que desencarnou, passou a
 trabalhar nas rodas e reuniões que ainda eram escondidas. 
Dizem que a primeira vez que deu seu nome, foi numa 
gira no Rio de Janeiro. Daí ganhou o apelido de Exú Cigano.
Seu Manuel fazia a distinção entre os espíritos ciganos 
da “Direita” e os exús ciganos da “Esquerda”. Para ele,
 Exú Cigano era o líder de outros ciganos que passaram
 pela Jurema ou outro culto afro-brasileiro em vida.
Na Jurema ou Catimbó, o líder dos espíritos ciganos é 
Mestre João Cigano. Perguntei a Tio Manolo se ele 
conhecia outros nomes de espíritos ciganos, chefiados
 por Exú Cigano.
- Tem o Exú Cigano do Oriente, Exú Cigano do Circo,
 Exú Cigano Calão (da Tribo Calon), Exú Cigano da Praça 
e Seu Giramundo Cigano (não confundir com o 
Exú Giramundo).
Segundo ele, tem também as Pombas Giras Ciganas,
 com suas histórias, lendas e magias. Porém, vamos 
deixar este interessante tema para outra edição do Jornal.

Salve o Povo Cigano !

Por Edmundo Pelizari - Publicado no JUS (Jornal de Umbanda Sagrada)