terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Falando sobre a Fé Religiosa

                        

    Sempre ouvimos falar para elevarmos nossa fé, não deixar que o
desânimo, as dores, as angústias, os sofrimentos não consigam derrubar
nossa fé.

    Mas o que seria a fé?

    No idioma hebraico, um dos registros mais antigos da palavra fé,
"emuná", aconteceu no livro de Habacuque, volume sagrado da fé
judaica, também presente no Velho Testamento da Bíblia Sagrada cristã.
Os principais significados da palavra "emuná" são: fidelidade,
confiança e lealdade.

    No Grego, fé é "pistia" e quer dizer "acreditar"; no Latim o
termo "fides", aponta para uma postura e uma posição de
"fidelidade".

    Mas como colocar essa tão sagrada palavra no que se diz religião?

    No âmbito religioso, a fé é um dom daqueles que cumprem
genuinamente os conceitos apregoados por sua religião ou crença. Ter
fé também se aproxima de possuir uma religião ou um culto. Exemplo
disso é a já conhecida expressão "fé cristã", "fé islâmica" ou "fé
judaica".

A Fé" é uma esperança, uma convicção total e completa em alguma coisa
ou alguém, mesmo que não exista comprovação, evidência, sinal ou fato.

    Liricamente, a fé é inimiga da dúvida, e companheira da firmeza,
da força e da segurança. Em determinados momentos da vida, como
tribulações emocionais como tristezas, traições, desilusões amorosas -
ou físicas, como - doenças passageiras ou incuráveis, agir com fé é
ter expectativa de que alguma coisa irá se transformar para melhor; é
ficar esperando algo que instintivamente se sabe que irá acontecer,
assim como alguém que bate na porta espera, com confiança, que ela irá
abrir.


    A fé é algo um tanto misterioso, porém algo que entendemos que
existe, tanto que ela é estudada pela ciência. Vem sendo determinada e
medida através de experiências por diversos estudiosos, e em diversos
países. Esses estudos e comprovações foram testados em casos diversos
pois o poder da oração feita com fé já foram testados em casos de
saúde e demonstraram com grande êxito sua efetividade, através da fé e
da oração.

    Um dos grandes erros dos seres humanos é confundirem a fé com a
ansiedade, pois dizendo ter fé, estão apenas apresentando grande teor
de ansiedade, e assim, após acharem que estariam elevando a fé,
cobram de uma forma incerta a aqueles que tentaram demonstrar essa
falsa fé. Isso acontece muito por consulentes, que vem buscar auxilio
com as Entidades de Luz da Umbanda, pois elevam a ansiedade,
demonstrando aquilo que estão desejosos, torcendo para que aquilo que
querem aconteça, mas não com fé, e sim pela ansiedade, que acarreta
uma cobrança sem noção e nexo.

    Essa falta da verdadeira fé, faz com que muitos consulentes
descriminem certas Entidades de Luz, certos Terreiros de Umbanda e
certos Zeladores de Santo, pois quantos, na demora no atendimento à
sua vontade, emitem conceitos negativos (do tipo, somente eu não
consigo, acontece somente comigo, como sou infeliz, etc.) Que vão para
o espaço, e retornam à mesma pessoa, seja pela emissão de vibrações
negativas. Tudo isso acontece pela falta de fé, confundida com a
ansiedade que tem na busca de solução para seus problemas pessoais.

    A fé real não é apenas crer em Deus, nos Orixás, nas Entidades de
Luz, nos Santos, é saber que existem essas forças, e estão presentes
em nossa vida e em nosso caminho. Na questão da fé em Deus, temos que
ter a convicção de que ele vive dentro de nós, e ele não se afasta de
nós, somos nós que nos afastamos dele, através de nossas más ações, de
nossos erros, nossa baixa energia e nossos valores errôneos.


    Muito já ouvimos nas casas de Umbanda a seguinte frase: "Quem
realmente tem fé treme e balança, mas não cai: filho de umbanda
balança, mas não cai". Essa frase de um ponto histórico, conhecido
por, provavelmente, todos os terreiros existentes no Brasil, dá uma
demonstração do que significa a fé para um umbandista. Mesmo nas horas
mais difíceis da vida ele se vale de suas Entidades de Luz e,
sobretudo, de Deus (Olorum, Zambi), aqueles momentos que considerava
impossíveis de superar. Essa é a fé que diferencia e que resguarda dos
malefícios do mundo.

    Infelizmente nenhum de nós, seja de qualquer religião ou dogma,
está livre, de em algum momento da vida, deixarmos que nossa fé perca
a força, que se abale, por qualquer motivo ou circunstância.

    Já observei muitas pessoas se desvincularem da fé, e muitas se
arrependerem por isso. Dentro da Umbanda, onde tenho  minha fé
religiosa plantada, adubada, e claro muitas colheitas vieram por esse
motivo, já observei muitas e muitas pessoas, que erroneamente se
deixaram abalar a fé, inclusive eu próprio.

    Mas a fé é ilimitada, é algo inexplicável, é algo divino, e basta
você se entregar novamente, que ela vai fazer sua alma brilhar
novamente, vai lhe entregar a Deus, vai lhe mostrar caminhos, por
mais dura que seja as provas que temos que passar, por mais
atribuladas que seja essa caminhada, com toda certeza sem a fé, seria
impossível chegarmos a qualquer lugar.

    Quando temos o abalo da fé, a perda de credibilidade dentro do que
é sabido na religião. Muitos fundamentos, grandes conhecimentos, a
verificação de mistificações, de falsos médiuns, de Zeladores de Santo
que se utilizam da religião para seus interesses pessoais, tudo isso
causa os abandonos de trabalhadores sérios das casas umbandistas.
Muitos desses desistem por não conseguirem elevar sua fé, e por muitas
vezes pelos erros humanos, julgam as Entidades de Luz, desistindo por
completo de tudo, deixando sua fé tão baixa, que não retornam nas
casas nas quais fizeram parte nem para resgatar suas Guias, suas
quartinhas de Anjos de Guarda, ou qualquer coisa que pertence ao
médium ou a Entidade que ele carrega na Coroa.

    Infelizmente isso acontece com frequência, e mais infelizmente
ainda ainda vai acontecer muitas vezes.

    Dentro da Umbanda, muitas pessoas acham que esse é um momento de
experimentação por parte dos Orixás, das Entidades de Luz, ou do
próprio Deus, para comprovar a nossa fé, e ver até onde podemos
aguentar. Outros julgam ser o momento quando o trabalhador da corrente
se sente muito cansado, seja pelas atividades, pelo dia a dia, pelas
exigências que uma Casa impõem em seu cotidiano ou por qualquer outro
motivo.


    Mas como faço para entender esses momentos de abalo de fé?

    Como devo proceder para não deixar minha fé se desmoronar?

    Em algumas buscas sobre esses fatos, entendemos que antes de
qualquer coisa, antes de qualquer decisão, antes de qualquer desânimo,
devemos relaxar a mente e a alma. Deixar o suposto problema ou fato
distante para refletirmos, verificar o quanto a fé que já
demonstramos ter algum dia, nos ajudou em algum momento. E então
dialogarmos com nosso espírito que fora abalado pela falta de fé, e
nesse diálogo levantarmos as seguintes questões:

O que houve com minha fé?

Por que deixei minha fé ser abalada?

O que está causando isso em mim?

    Certamente iremos encontrar diversas respostas para cada pergunta,
porém devemos analisar todas com muita atenção, pois algumas são
simplórias, e não merecem que deixemos abalar nossa fé.

    Dentre muitas respostas, na Umbanda, as que mais abalam a fé
contida em nosso ser, é a colocação da desonestidade, vaidade,
mistificação, crueldade, consulentes insatisfeitos com o que eles
acham que lhe é justo, Zeladores prepotentes que se utilizam da
Umbanda para interesses próprios, tais como dinheiro, sexo, fama, ou
qualquer coisa inventada pelo homem, que não conduz com a religião.

    Mas para deixarmos claro, que esses abalos de fé, independente da
causa, o que podemos notar é que a maioria das vezes os assuntos
externos à fé estão somatizando desânimo, desmotivação, baixando sua
vibração energética e lhe afastando das Entidades e da religião, mas
que esta última, a religião, é alheia a isso tudo.

    Normalmente o problema está dentro de nós mesmos, e isso é muito
difícil de ser assumido. O ser humano sempre tende a jogar a culpa nos
outros, do que se conscientizar de que a falha está em si mesmo.


    Agora que já refletimos, e talvez já tenhamos encontrado o motivo
desse abalo de nossa fé, a pergunta deverá ser mudada, e deveremos
fazer a nós mesmo a seguinte indagação:

    O que devo fazer para mudar?

    Antes de tudo, não se deixar envolver emocionalmente com erros
externos, de pessoas de baixo grau de espiritualidade, não trazer para
si as faltas de outras pessoas, evitar se colocar como vítima em
situações diversas, não se entregar ao ódio, rancor ou cólera por
entender que um médium ou zelador está se entregando a desonestidade,
a vaidade, a falta de humildade, a arrogância, a prepotência, enfim, a
erros de terceiros, que sabemos que atrapalha o bom andamento de uma
casa de Umbanda, e claro nos afasta pela nossa falta de fé no local.

    Trabalhe sempre em prol da espiritualidade maior, pois fazendo sua
parte, com certeza sua fé vai reinar.

    Faça sempre seu melhor pela casa de Umbanda que faz parte, isso
faz nossa alma se encher de luz, e as Entidades vão nos responder
positivamente, e assim nossa fé ficará sempre em alta.


    Devemos rezar firmemente para que nunca deixemos de crer, saber
que a fé realmente remove montanhas, e que termos essa luz além de um
bálsamo para o espírito, é também um presente de Deus.
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A esperança e a caridade são uma consequência da fé. - Allan Kardec

A fé consola, , nos dá força e coragem para continuar a caminhada rumo
a Deus, nosso Pai Olorum.

A fé é algo que não se vê, se sente... - Carlos de Ogum

A fé é um clarão divino, refulgente, peregrino, que irrompe, trazendo a luz; A caridade é a expressão da personificação do mestre
amado.

A fé é um salto no escuro para os braços de Oxalá. Quem não tem fé não
salta e não é abraçado, fica apenas no escuro...

A fé é uma luz que brilha dentro da alma, espírito, coração; que vai
de encontro ao sagrado que nos dá vida, energia, paz, esperança.

A fé em Oxalá nos faz crer no incrível, ver o invisível, e realizar o
impossível.

A fé não é algo decorativo, ornamental. Ter fé significa colocar Oxalá
realmente no centro da nossa vida.

A fé não é palpável, a fé é um sentimento. Nunca perca a sua fé! Com a
sua fé e devoção chegará longe!

A fé não vem de fora para dentro e sim de dentro para fora. Cultive
sua fé em seu espírito.

A fé nos dá esperança e nos faz crer no melhor de Oxalá para nossas
vidas.

A fé une o que a religião separa. - Mãe Dirce de Oiá.

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    Que Deus nosso Pai Maior com sua inesgotável sabedoria e amor,
fortaleça sempre a nossa fé, para que possamos ter esperanças e assim
conseguirmos caminhar rumo a evolução espiritual.

Salve a todos que tem fé, e proteção a aqueles que não tem.

CONHECENDO A LINHA DOS CAVEIRAS.


 

 Conhecendo a Linha dos Caveiras.

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Ê, Caveira, firma seu ponto na folha da bananeira, Exú Caveira!

Quando o galo canta é madrugada, Foi Exú na encruzilhada, batizado com
dendê.

Rezo uma oração de traz pra frente, Eu queimo fogo e a chama
ardente aquece Exú , Ô Laroiê.

Eu ouço a gargalhada do Exú, É Caveira, o enviado de Pai Oxalá.

É ele quem comanda o cemitério, Catacumba tem mistério, seu feitiço
tem axé. Ê Caveira!

Ê, Caveira, afirma ponto na folha da bananeira, Exú Caveira!

Na Calunga, quando ele aparece, Credo em cruz, eu rezo prece pra Exú,
dono da rua. Sinto a força deste momento, E firmo o meu pensamento nos
quatro cantos da rua. E peço a ele que me proteja, Onde quer que eu
esteja ao longo desta caminhada. Confio em sua ajuda verdadeira, Ele é
Exú Caveira, Senhor das Encruzilhadas. Ê Caveira !

Ê, Caveira, afirma ponto na folha da bananeira, Exú Caveira!
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    Muitas pessoas não compreendem bem a linha dos Caveiras, talvez
pela extensa falta de informações, talvez pelo nome, talvez por
colocarem essa linha em algo sobrenatural, enfim, por vários motivos e
razões as pessoas, inclusive muitos umbandistas temem, evitam, e não
compreendem o trabalho de caridade dessas Entidades de Luz, conhecida
como Exús da linha de Caveira.

    Mas ao entendermos essa linha de trabalho, podemos notar que essas
Entidades sofrem uma grande demonstração de intolerância por parte de
muitos seres humanos, que tem uma mente vazia, sem informações
adequadas e verdadeiras, levando essas pessoas a temerem, não
aceitarem, e se afastarem dessas Entidades maravilhosas e sublimes,
que trabalham em prol da caridade em centenas e centenas de terreiros
espalhados por todo canto.

    O receio por essas Entidades nada mais é que a ignorância de
julgarmos algo ou alguém pela aparência, de não tentarmos entender o
porque das coisas, de não nos deixarmos refletir sobre a vida e os
caminhos tomados para chegar em certas situações.

    Para iniciarmos esse texto, gostaria de frisar muito bem um
detalhe, todas as Entidades de Luz, que levam o nome de Caveira, sejam
elas da linha masculina ou feminina, lutaram com muita dedicação,
honestidade, amor e fé pelas causas de Deus. Tomaram para si a missão
de demonstrar aos seus seguidores as palavras de esperança e fé
enviadas por Deus (Zambi), por Jesus Cristo (Oxalá), e por todos que
pregavam a paz, o amor e esperança.

    Contudo essas maravilhosas Entidades, que quando na vida terrena,
poderíamos chamá-las de Profetas e Profetisas , tinham um inimigo em
comum, independente da região que elas pregavam os caminhos para a luz
e a esperanças das pessoas que buscavam novos caminhos, esses inimigos
eram os grandes imperadores, que reinavam com mão de ferro, e não
aceitavam que nenhuma pessoa, chamadas de pessoas comuns, escravos,
ralé, entre outros sinônimos dados aos menos favorecidos, tentassem
demonstrar alguma coisa diferente as leis sangrentas desses
imperadores insaciáveis pelo poder.

    Certamente quando aparecia alguém que colocava sua fé e suas
esperanças acima das leis desses imperadores, a sentença era uma só, a
morte.


    Voltando agora a nosso tema, a linha dos Caveiras, vamos deixar
claro, que todos dessa linha, sem exceção, eram distribuidores das
graças e das palavras de Deus, cada um deles  com sua própria
história, dentro de seu tempo, de sua região, lutando contra leis
injustas e sangrentas, e claro, cada qual sendo perseguido por seu
algoz, sendo eles imperadores, governadores, senadores, enfim, aquele
que dominava a região, normalmente pela força, escravizando povos e
povos, pelo simples fato de se sentirem os mais poderosos deuses da
face da terra.

    Muitos que hoje se encontram em trabalho de caridade no reino
espiritual e dentro da linha dos Caveiras, foram tomados como "falsos
profetas", e com isso perseguidos intensamente por esses ditos
poderosos.

    Todos esses perseguidos, quando capturados, tinha um julgamento
feito em praça pública, diante de todo o povoado, e nesse julgamento,
coordenado pelo poder maior da região, eram dado duas opções ao réu,
entre as opções estaria a de dizer diante de todos que não existia um
Deus, que o poder divino eram de deuses, e esses deuses eram os
senhores do Império. e claro que assim os poderosos cresciam diante de
todo povo como únicos soberanos, no qual apenas suas leis eram
válidas, destituindo a ideia de um Deus único que era Pai Supremo de
toda a terra.

    A outra opção era não renegar o Deus único, mostrar que dentro do
ser de cada um existia sim uma força poderosa, a fé, a verdadeira fé
que levaria cada um aos braços desse senhor único. Mas, ao escolherem
essa opção, todos sabiam que uma sentença cruel era dada sem a menor
chance ao condenado, o pregador da fé, era considerado como
feiticeiro, que era adepto a bruxarias, e deveria ser queimado vivo na
fogueira em praça pública, para assim servir de exemplo a toda a
população.

    Todos da linha dos Caveiras, jamais renegaram o nome de Deus,
entregaram suas vidas, sendo queimados nas brasas ardentes, mas sempre
elevando sua fé em nome do Pai Supremo.

    Fogueiras eram armadas nas praças, no centro delas um mastro, tipo
um tronco de torturas de escravos. Profetas e Profetisas eram
amarrados nesse tronco, diante deles um algoz carrasco aguardava as
ordens finais dos imperadores sanguinários, que antes de mandar
executar o condenado queimando-os vivos, ainda faziam a última
pergunta aos réus, para demonstrar além do poder sobre tudo e todos,
mostrar ao povo mais carente que não devem abraçar causas do Deus
único, pois para esses imperadores só existiam os deuses do Império,
ou seja eles mesmos.

    Antes da execução da pena, gritavam em alto e bom som se o
condenado desejava renegar as suas crenças, e obedecerem aos deuses do
Império, mas mesmo tendo a certeza de uma morte dolorida e de extrema
covardia, nossos queridos Profetas e Profetisas renegavam com
veemência os imperadores que se julgavam deuses.

    Com isso a sentença era imposta, e nossos herois da fé eram
queimados vivos, tendo suas carnes se desprenderem de seu esqueleto,
fazendo assim com que ao serem retirados dali, seus rostos, mãos, pés
e todo o corpo pudessem transparecer apenas os ossos, com algum sinal
da carne dilacerada.

    Todos esses condenados, que não renegaram sua fé, que antes
lutavam contra os imperadores para trazer as seus seguidores uma vida
sem humilhações, sem fome, sem escravidão, foram abraçados pelo Deus
único, que os abençoaram com a divindade de voltarem aos trabalhos de
caridade aos menos favorecidos, e essa volta a caridade foi feita com
a irradiação espiritual da linha abençoada, chamada da linha dos
Caveiras.

    Esses trabalhadores dessa linha de fé, com seu grandioso poder de
humildade e fé, fizeram um pedido a Zambi, que viessem aos trabalhos
de caridade com a aparência de sua última passagem na vida terrena, no
instante de seus desencarnes, para que assim demonstrassem a
intolerância e a covardia que sofreram enquantos encarnados, por
parte dos imperadores da época, para que assim não fosse esquecido
toda aquela arrogância e maldade, e assim não deixar crescer
novamente a ideia de deuses do império, julgando, condenando e
assassinando aqueles que só tinham no coração a bondade, a
distribuição da esperança, a elevação da fé e o amor e dedicação ao
Deus Único.

    Por esse motivo é que essa linha de luz leva o nome de Linha dos
Caveiras, e todos que nela trabalham levando a fé, amor e esperança,
tem a aparência de um esqueleto. Portanto não tem nada a ver com
que muita gente sem informação prega, dizendo que quem trabalha com
essa linha, trabalha ao lado do mal, trabalha a favor da morte,
trabalha para feitiçarias ou bruxarias. Essa linha trabalha
exclusivamente para e pela caridade em nome de Zambi (Deus) e de todos
os Orixás.

    Como foi dito acima cada Entidade de Luz dessa linha, tem sua
história no tempo de encarnado, assim como todas as Entidades
trabalhadoras. Dentro dessa linha temos alquimistas, generais, padres,
condes e muitas pessoas do povo, que se entregaram a sua fé e lutaram
para mostrar a todos um Deus benevolente, amável e caridoso,
extremamente diferente dos deuses do império.

    Abaixo relacionamos alguns trabalhadores dessa linha para
entendimento e esclarecimento.

Exú Caveira: Foi um padre no século VII. Deixou o sacerdotismo no
catolicismo por não entender o domínio dos Imperadores sobre a igreja,
mesmo a igreja pregando o nome de Deus, se curvavam aos deuses do
império. Assim partiu pregando o Deus único ao povo europeu, e foi
condenado a morrer na fogueira no ano de 897 DC.

Tatá Caveira: Foi um agricultor e pastor de cabras e ovelhas na região
do Egito, durante o século V. Tinha a ideia de pregar o amor do Deus
único a todo o povo da região. Por esse motivo a aldeia onde ele vivia
foi invadida pelos soldados do império, muitos foram mortos e dezenas
aprisionados. Dentre esses aprisionados, se encontrava Tatá Caveira,
que nessa época tinha o nome de Próculo, em homenagem a um conhecido
chefe da guarda romana, junto a ele foram presos também mais 49
seguidores da crença em um único Deus, todos julgados, condenados e
queimados na cruel fogueira da intolerância. E assim foi dada a origem
de senhor Tatá e sua legião de 49 Exús da linha de Caveira.

João Caveira: Foi um fiel conselheiro de um senhor feudal na idade
média. Em um certo período, tendo ele que dar uma opinião em um caso
muito complicado no feudo, devendo ele dar um parecer para que fosse
decidido a questão, sendo esse fato algo que se fosse favorável,
de uma forma, agradaria a todos os senhores, e de outra forma ajudaria
a todos os desafortunados da região, fazendo assim a justiça acontecer
naquela região sobressaltada de injustiças. Porém ao escolher o lado
dos desafortunados, fez nascer a ira dos senhores feudais, que após
algum tempo de uma caçada implacável, foi capturado, julgado e
condenado a fogueira.

Rosa Caveira: Viveu encarnada por volta do século XXXIV, sendo ela
esposa de um renomado Senador Romano, que se utilizava do poder que
tinha para demonstrar força e prepotência sobre o povo judeu, que fora
escravizados pelo império. Rosa Caveira, que na época era conhecida
como Rosa Postumio, não compartilhava com as ideias assassinas dos
nobres daquela região. Tinha no coração a bondade, a humildade, o amor
pelo semelhante, coisa que era heresia nesse tempo. Foi vista pelos
servos e escravos como uma benfeitora, uma verdadeira heroína. Ficou
reconhecida por auxiliar, lutar e cuidar dos escravos. Com isso o
grande império, determinou que ela fosse presa, contudo com o renome
de seu esposo Senador, conseguiu a liberdade, com a promessa de que se
tentasse novamente auxiliar os menos favorecidos, seria condenada a
morte. Ela não obedecendo, retornou a caridade, e assim, foi presa,
julgada e condenada a fogueira, e seu esposo preso.

Doutor Caveira ou Sete Caveiras: Viveu entre os Gauleses pelos meados
do ano 700 A.C, e tinha já nessa época o dom de curar enfermos. Porém
era mantido em cárcere pelo império, sendo ele obrigado a só utilizar
seus dons em nobres, em guerreiros, ou em quem fosse autorizado pelo
império, que lamentavelmente não era nas pessoas menos afortunadas.
Quando Sete Caveiras conseguiu se desvincular de seu cárcere, fugindo
para as pequenas cidadelas da região, pôs em prática seus dons de cura
em favor dos adoentados desafortunados. Porém ao saber desses feitos,
os senhores do império mandaram vasculhar toda a região, trazendo o
Doutor Caveira capturado, e sem mesmo ser julgado, foi levado a
fogueira.

    Temos vários outros casos e histórias de diversos trabalhadores
pela caridade nessa linha dos Caveiras, mas deixaremos apenas esses
como ilustração.

    Finalizando gostaria de frisar que essas Entidades maravilhosas de
Luz, impõe um certo receio em algumas pessoas, mas a verdade é que
esses grandes trabalhadores da seara do Pai, são Exús incompreendidos,
pois sua aparência não representa a morte, mas sim a essência de todos
nós seres humanos, pois sabemos que todos temos uma caveira dentro de
nós. E essa simbolização representa que devemos nos livrar das coisas
mundanas, e vivermos apenas pela nossa essência.


    Salve nossa maravilhosa linha dos Caveiras!

    Salve todos os Exús e Pombo Giras da Linha dos Caveiras!

    Laroiê!!!

Carlos de Ogum.



História do Caboclo Rompe Mato

                  

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Salve o Caboclo, salve Seu Rompe Mato!

Okê Caboclo, Okê Arô Oxossi!

Seu Rompe Mato lá nas matas sem fronteiras,
Seu Rompe Mato tem Oxossi na cabeça,
eu vi Caboclo eu vi Xangô lá nas pedreiras,
com seu bodoque sete pedras são certeiras.

A sua força sua magia na Umbanda
traz a cura de Aruanda com a fé dos Orixás.

Okê Caboclo sua tesa é vermelha
nessas matas não cai folhas sem as ordens de Oxalá.

Pedi a ele para trazer mais alegria,
pedi a ele para tirar toda a agonia,
ele soprou sete vezes no meu peito,
Okê Caboclo salve as matas da Jurema.
Okê Caboclo nessas matas não se brinca,
Okê Caboclo Rompe Mato na aldeia,
Okê Caboclo suas ordens são supremas,
Okê Caboclo com Oxossi não bambeia.
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    Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar esclarecido que o
Caboclo Rompe Mato não é o mesmo que Ogum Rompe Mato, apesar de ser um
Caboclo de Ogum, vindo a trabalho
pela Falange de Ogum Rompe Mato, o Caboclo Rompe Mato está sobre a
irradiação vibracional de Oxossi, e por esse motivo traz as cores
vermelho e verde, em suas guias ou algumas roupagens. Ele costuma se
apresentar austero e bem rigoroso, contudo é muito amoroso e
aconselhador.

    Ele se apresenta em trabalho nos terreiros de Umbanda trazendo a
paz, conselhos, boa conduta, saúde, tranquilidade, caridade a todos
que buscam auxílio mediante ao merecimento de cada um.

    A história que vamos relatar é do Caboclo Rompe Mato
pela Caridade vindo na irradiação de Oxossi dentro da Falange de Ogum
Rompe Mato.


    No final do século XVIII já entrando no século XIX, se criou uma
lenda na região Norte do Brasil, na qual se acreditava entre os homens
brancos que iniciavam o devastamento da floresta fechada, para
cultivar grandes roças e também extrair das seringueiras o látex para
a fabricação da borracha. Essa lenda se destinava a acreditar que
espíritos da floresta levavam as crianças brancas adoentadas para o
interior das matas, para que essas crianças tivessem a cura, caso isso
acontecesse eram devolvidas aos pais, caso não, eram sacrificadas.

    Contudo essa lenda não era bem assim, existia sim um teor de
verdade nessa história, porém não havia nenhum sacrifício em nome de
algo ou alguém da floresta.

    Tudo começou quando um pequeno índio bastante curioso começou a
rondar as terras onde os brancos fixaram moradia para introduzir as
grandes roças nas margens da floresta.

    Com a chegada desses homens brancos, também chegaram as doenças,
que logo se espalharam por entre os índios, dentre eles o pequeno
índio curioso.

    Seu corpo febril, sua pele ressecada, seus olhos inertes fizeram
com que seu pai, o Cacique da tribo, ficasse em desespero, pois não
entendia bem os fatos dos acontecimentos de seu pequeno filho.

    Rapidamente o cacique levou o garoto a oca do poderoso Pajé, com
esperanças de salvar a vida de seu menino.

    Chegando nas mãos do Pajé, e ao observar os males passados pelo
menino, o Pajé demonstrou uma grande preocupação, acreditando ser a
moléstia um castigo dos deuses da floresta ao pequeno índio, por ele
ter tido contato com homens brancos.

    O Pajé pega o menino aos braços, e parte para o interior mais
sombrio da floresta, onde poucas pessoas conheciam. Chegando lá,
juntamente com o cacique, ele, o Pajé, se põe a fazer sua dança
invocando as forças espirituais da floresta, para que assim tenha uma
resposta sobre aqueles males, que na sua visão eram feitiçarias.

    O cacique, bravo guerreiro, dominador dos perigos da floresta,
grande e respeitado por todos os índios de sua tribo, não podendo
fazer nada com sua força, no momento se sentia fraco, sua alma estava
triste em ver seu menino ali, inerte. E em um ato de humildade, o
cacique se pôs de joelhos, de braços abertos, olhar perdido, em busca
de uma resposta dos céu.

    Sua face, antes de um poderoso guerreiro, se transformava em um
rosto abatido, entristecido. E de seus olhos brotaram lágrimas,
lágrimas teimosas que sem pedir permissão rolavam em sua face, rolavam
de acordo com a dor que o poderoso cacique tinha na alma e no coração.

    Clamou desesperadamente aos deuses da floresta, clamou sem receio,
sem orgulho, apenas demonstrando o desespero de um pai desconsolado,
de um simples homem que sabia que estaria perdendo seu maior bem. Seu
filho.

    O Pajé se entranhou por entre as árvores, em mata fechada, em
busca de ervas, raízes, folhas, para tentar reverter a condição do
indiozinho.

    E nesse instante o cacique apanha o filho no colo, afaga sua
cabeça, chora copiosamente, lamenta a sua dor.

    E nessa hora de grande desespero, o guerreiro cacique sente um
leve toque em seu ombro. Acreditando ser o Pajé, olha para cima
rapidamente, se surpreendendo com a visão.

    De baixo para cima, o cacique contempla a imagem de um índio
desconhecido. De olhos grandes e serenos, sua face jovial, seu
sorriso amigo, trouxe uma certa sensação de paz ao cacique.

    Sua voz era forte, porém mansa, que num tom de sabedoria disse a
nosso pai desesperado:

    "Filho, seu desespero, sua fé e seu amor paternal me trouxeram até
aqui. Suas lágrimas verdadeiras me mostraram quanto amas seu filho, e
esse grandioso amor não ficará sem uma resposta do céu. Sou Oxossi,
meu reino é as matas, as mesmas matas que buscou abrigo para sanar
todo mal de seu menino.
    Poderei lhe ajudar, poderei mostrar como curar seu curumim, porém
você deverá mostrar a ele o bem, ensinar-lhe a fazer o bem, sem
escolher a quem fazer.

    Se ensinar-lhe de forma correta, esse menino será a luz da
floresta escura, se não o ensinar de maneira correta, ele se perderá
na escuridão e nos braços da morte eterna."

    Dizendo isso, a imagem de Oxossi, estende a mão ao cacique, que
deixa o corpo do menino sobre as folhagens estendidas ao chão. Se
levanta, e segue o Pai das Matas para o interior da mata. Lá o
poderoso médico das florestas mostra algumas ervas e raízes que deverão
serem levadas para fazer a maceração, e assim fazerem o remédio para
a cura, não só do pequeno Curumim, mas de todos que passavam pelo
mesmo mal.

    O cacique fez tudo que fora ensinado por Oxossi, e após fazer as
compressas, chás, e banhos, o menino reage, seu estado febril não mais
existe, seus olhos voltam a brilhar, sua vida de criança nasce
novamente.

    Com isso, quando menos se esperava o cacique se encontra só
novamente, o Pai das Matas se foi, deixando apenas a sensação de paz
em toda a floresta.

    O Pajé retorna, se surpreende ao ver o curumim brincando pelas
árvores gigantescas, e logo o cacique lhe conta o acontecido.

    Os três retornam para a aldeia, com uma grande quantidade das
ervas, raízes e tudo mais indicado pelo senhor da floresta, fazem todo
o trabalho aprendido, e todos que estavam com os males dos brancos se
recuperam.

    O cacique faz o prometido, ensina cada passo da cura a seu filho,
que presta atenção a cada detalhe, aprendendo todos os passos, e já
fazendo todo o tratamento sozinho.

    Os anos se passam, o curumim agora já é um belo e grande índio
guerreiro. Ele que tem a responsabilidade de ir em buscas das  ervas e
raízes indicadas por Oxossi, a cada necessidade. Como todas essas
ervas ficavam no interior extremamente fechado das florestas e matas,
o índio passou a ser conhecido como Rompe Mato, e assim se manteve em
busca de cura, não só para aquela moléstia principal, mas para todas
as moléstias que por ventura aparecessem.

    Em um certo período, já na época do grande estouro do ciclo da
borracha, uma grande quantidade de pessoas vinham da região Nordeste
do Brasil para a região Norte em busca das seringueiras e do látex.
Com isso a disseminação de doenças se expandiram extremamente, não só
entre os índios, mas também entre os brancos, principalmente nas
crianças.

    Com a guerra da ganância dos seringueiros, os índios foram
afastados, sendo expulsos, e obrigados a viverem no fundo da floresta,
locais de matas muito fechadas, onde os seringueiros não se arriscavam
em entrar.

    As doenças continuavam a matar as crianças, filhos de
seringueiros. Sem piedade, dezenas delas eram tomadas pelos braços
malignos da morte, sem que ninguém pudesse fazer nada.

    Certa noite, longe da aldeia, bem próximo da região tomada pelos
homens brancos, o índio Rompe Mato observa uma mulher, com uma
criança no colo. Essa mulher chorava desesperadamente, pois sua filha
estava a beira da morte. Uma menina de uns 3 a 4 anos, inerte, febril,
sem chances de vencer a guerra contra a moléstia, se encontrava
envolvida em um pano branco, demonstrando que já a preparavam para seu
sepultamento, logo após o desencarne.

    A mulher chorava, solitária, frágil, desolada. Cansada de tanto
sofrimento, a mulher adormece, sem notar que estava sendo observada
pelo índio Rompe Mato. Esse foi até ela, com seus passos leves, sua
agilidade e sua vontade de poder curar aquela criança, e numa ação
rápida pegou a menina e a levou para o interior mais inacessível da
mata. E lá com a ajuda das ervas e raízes de Pai Oxossi, curou a
menina de sua moléstia.

    Ao acordar e não ver a menina, a mulher que antes desesperada,
fica enlouquecida, sai gritando em busca de ajuda, para que
trouxessem a sua filha de volta.

    Alguns seringueiros, armados com seus facões, saíram em busca da
menina, porém sem o menor resultado positivo. Ao retornarem as suas
choupanas, a conversa virou apenas um só tema: "Espíritos da floresta
levaram a menina".

    Enquanto seringueiros debatiam o fato, o índio Rompe Mato,
aproveitando a oportunidade, leva a menina curada de volta, deixando-a
muito próxima da choupana de sua mãe, que logo encontra a criança.

    Ao indagar a pequena sobre o que tinha acontecido, todos os
moradores da aldeia dos seringueiros, ficaram perplexos com os relatos
da menina, dizendo ela que ela só lembrava de um lugar lindo, de um
anjo vestido de índio, que voava pelas árvores, que deu a ela um
remédio um pouquinho amargo, mas que ela se sentia bem em tomar. E o
remédio fez com que ela ficasse forte, e então o anjo trouxe ela de
volta pra casa.

    A partir dali todos acreditaram que o anjo era um espírito da
floresta, que com sua bondade curava as crianças, e mandava o chá
sagrado aos adultos.

    Muitas mães deixavam seus filhos sobre a mesma pedra na qual Rompe
Mato pegou a menina, para que assim ele levasse outras crianças
também, e as curassem. E assim ele fazia. constantemente.

    O tempo passou, Senhor Rompe Mato continuava com sua missão de
cura, crianças, adultos, homens e mulheres da aldeia dos seringueiros
eram curados pelas mãos e a fé do índio. Que mesmo vendo seu povo ser
expulso das terras que nascera, ele não se deixava enfurecer, não
deixava o ódio tomar conta de sua alma, e peregrinava, dia e noite na
busca das ervas e raízes para salvar todo aquele povo dos males.

    Porém certa noite quando o índio ia para a aldeia em busca de
auxiliar mais um grupo de adoentados, fora capturado pelo chefe dos
seringueiros e seu bando, sendo colocado amarrado, e em uma intensa
tortura física e moral. Sem saberem que era ele o autor das curas
feitas, nas caladas noites sombrias, a intensidade do açoite se
estendeu por dias, e a pretensão dos seringueiros era saber sobre
outras riquezas daquela região, além do látex.

    E assim se passaram dias e dias de intensa covardia sobre o nosso
amado Rompe Mato, até que aconteceu o inesperado, a filha do chefe dos
seringueiros contraiu a moléstia devastadora.

    Ele, o chefe dos seringueiros, acreditando que a cura viria do
espírito das matas, levou a menina ao local onde o índio Rompe Mato
sempre buscava as crianças para tratamento. Porém por estar ele, o
índio, preso nas garras perversas dos gananciosos seringueiros, não
tinha como levar a cura a pequena menina adoentada.

    Se passaram duas noites e era visível a piora da menina, e visível
também era o desespero de sua mãe, que clamava ao marido que buscasse
orientação com o índio que se encontrava preso pelos seringueiros,
pois sendo ele da região, talvez soubesse algo sobre o "espírito das
matas" que curava tantas pessoas.

    O chefe dos seringueiros, não tendo mais esperanças, e nem mais o
que fazer foi até o índio torturado, e num gesto de prepotência e
ódio, ordenou a ele que dissesse tudo que sabia sobre o tal curador
das matas. Rompe Mato sem entender muito bem o que era falado, clamou
ao chefe dos seringueiros que ele o explicasse melhor sobre que
espírito das matas ele se referia, sem saber que ele próprio era visto
assim por aquele povo.

    Ao ser explicado melhor sobre os fatos acontecidos, Rompe Mato
entende que era sobre as curas feitas por ele que era falado, e em sua
inocência e cultivador da caridade, ele se expressa dizendo que era
ele próprio que levava as crianças até certo ponto da floresta e as
curava com ervas e raízes que colhia após serem abençoadas pelo Pai
das Matas, o grande rei Oxossi.

    O seringueiro chefe fica irradiando ódio pelos olhos com a
resposta, pois acreditava que o índio estava mentindo, e estaria
usando do fato da doença de sua filha para sair da situação que se
encontrava.

    No instante seguinte,sem refletir sobre a situação, o chefe crava
um punhal de aço no peito do índio, que cai inerte nos braços da mãe
terra.

    Os olhos do índio se cerraram, sua respiração se finda, seu
coração, que já não batia mais dentro do peito, despejava lágrimas de
sangue. Ele estava desencarnado.

    Do alto de uma imensa árvore sai a imagem de Oxossi, que plaina
junto ao corpo inerte de Rompe Mato, diante dos olhos de todos.

    E dessa imagem sai uma voz forte, porém serena, dizendo aos
seringueiros que aquele índio era o caminho para a cura de todos que
ali se encontravam, porém a ganância, a prepotência, a falta de
humildade e o ódio, dissiparam todas as esperanças que poderiam ter
naquela região.

    Dizendo isso Oxossi estende a mão, e em sua direção o espírito do
índio se apresenta, não mais com os sinais de tortura que havia
passado, mas como um poderoso guerreiro das matas, que além de ser
abençoado pela proteção de Oxossi, tinha a grandiosa proteção de Ogum,
o senhor das guerras. E essa proteção ia ser usada para retirar das
matas todo aquele ódio deixado pelos seringueiros gananciosos.

    Nesse instante apareceu do lado de Oxossi e de Rompe Mato a imagem
onipotente de Ogum, demonstrando toda a força contida naqueles seres
para lutarem contra o mal.

    Os três partiram para o interior inexplorável da mãe floresta, e
lá Oxossi e Ogum entregaram o índio Rompe Matos aos cuidados da
sagrada e bela Cabocla Jurema, que encaminharia o índio as terras do
Juremá, para que assim esse pudesse ser coroado mais um rei das matas
e poder trabalhar em prol da caridade na linha espiritual da Umbanda.

    A partir desse acontecimento muitas crianças daquela região
tiveram a moléstia, e para desespero de todos os pais a cura não mais
acontecia. Várias delas desencarnaram, inclusive a filha do
seringueiro chefe, que passou a ser odiado por todos seus seguidores,
pois entenderam que ele fora o culpado do desencarne do índio Rompe
Mato, sendo assim não havendo esperanças de cura para ninguém daquela
região, principalmente as crianças.

    O índio passou a ser conhecido como Caboclo Rompe Mato, e era ele
que protegia o espírito de cada criança que desencarnava com a
moléstia pecaminosa, e assim se cria a lenda de que o Caboclo Rompe
Mato é o cuidador e protetor de todas as crianças. E dizem que a cada
manifestação desse Caboclo nos Terreiros de Umbanda, ele vem em
companhia de vários Erês, que mesmo sem se manifestarem em
incorporação, estão dentro do Terreiro para a proteção de todos.

    Que o Caboclo Rompe Mato nos proteja, proteja nossa família e
nossas crianças.

    Salve todos os Caboclos!

    Salve a Cabocla Jurema!

    Patacori Ogum!

    Okê Arô Oxossi!

    Okê Seu Rompe Mato.


A HISTÓRIA DE VOVÓ BENEDITA.



   A História de Vovó Benedita.

    Vovó Benedita das Almas,
luz das Almas brilhou lá no céu,
luz das Almas brilhou lá no mar.
Vovó Benedita Preta Velha de fé,
vem lá da Bahia trazendo bençãos de Pai Oxalá.

    Vovó Benedita das Almas,
filha protegida de Mãe Iemanjá,
tem a luz na sua caminhada,
vovó linda que abençoou nosso Gongá.

Saravá Vovó Benedita,
saravá o seu Jacutá,
saravá a nossa Umbanda,
Onde Vovó Benedita vem trabalhar.

**********************************************************************

    Vovó Benedita é uma bela negra que foi escravizada nos primórdios
de sua infância. Viveu por toda sua vida em uma fazenda na região
Sudeste do Brasil. Em sua caminhada na vida terrena teve muitos
sofrimentos, mas nenhum deles fez com que a negra Benedita perdesse o
que ela tinha de mais lindo, sua fé, sua alegria e coragem de caminhar
adiante.

    Quando menina ainda ficou sem a proteção de sua mãe, que
desencarnou por um forte mal nos pulmões, e como seu pai teria sido
vendido para atuar como escravo trabalhador em roças de grãos de café
em uma distante fazenda, ela se encontrou só ainda em tenra infância.

    Mas na verdade não estava só, pois Oxalá colocou no caminho da
menina uma negra que tinha o dom de amar a todos como mãe. Essa
negra, já com a idade madura, não se fez de rogada em assumir com um
grande amor maternal a pequena menina Benedita.

    E com o passar do tempo a negra que protegia a menina passou a
ensinar-lhe tudo sobre as crenças, a fé e as magias dos negros
africanos, para que assim ela crescesse sem se sentir desprotegida.

    O tempo foi passando a menina Benedita já era uma linda moça
sorridente, por demais brincalhona e extremamente feliz, mesmo estando
na condição de escrava.

    A sua protetora, a negra Joaquina, já com uma idade bastante
elevada, tinha a jovem Benedita como uma afilhada amada, a ensinava
tudo que podia, todas as magias, todas as rezas e benzeduras. E claro
que com isso seu apego cresceu bastante.

    Na fazenda já havia nascido a sinhazinha filha do coronel
cafeicultor, uma bela menina de pele branca como um copo de leite, e
foi designado a função a Benedita a ser sua mucama, que cumpriu muito
bem essa função desde a tenra infância da bela sinhazinha.

    A sinhazinha tinha adoração pela mucama, onde ia a negra deveria
estar junto, caso contrário ela reclamava. E com o passar do tempo as
duas ficaram inseparáveis, principalmente que junto a elas sempre
estava um primo consanguíneo da jovem Benedita, o menino Benedito,
negrinho falante, brincalhão e esperto, que junto com sua prima mais
velha faziam tantas travessuras, fazendo assim a sinhazinha
gargalhar, em uma felicidade extrema.

    Sempre observados pela velha Joaquina, os três passeavam
alegremente, sorrindo e pulando de um lado para o outro, como se
aquele mundinho deles fosse mágico.

    Anos e anos se passaram, a sinhazinha, e o negro Benedito
cresceram, a negra Benedita envelheceu, mas continuavam as suas
aventuras como crianças. Uma amizade grandiosa, uma menina branca e
dois negros, juntos como uma família.

    A negra Benedita era respeitada e amada dentro da fazenda, seu
sorriso, mesmo cansado era encantador, seu modo de demonstrar a
felicidade contagiava a todos em volta. O próprio coronel e sua sinhá
tinha um carinho enorme pela negra.

    Certa vez, ao visitar uma fazenda de um amigo de seu pai, a jovem
sinhazinha se encontrava nos aposentos de uma amiga, filha do
fazendeiro, quando ao anoitecer tiveram a triste ideia de se
aventurarem pelas matas próximas da região, sem avisar aos pais da
amiga, ou mesmo levarem uma companhia mais experiente para essa
aventura. Saíram as escondidas com um sorriso infantil nos rostos,
como se fossem descobrir o mundo lá fora.

    Mas as matas tem muitos perigos e mistérios, principalmente ao
cair da noite.

    Em certo momento, as duas jovens, já adentrando pela floresta,
sentem um certo receio, e decidem voltar a segurança dos aposentos da
amiga. Contudo a jovem amiga da sinhazinha se espanta com um ruído e
diz a sinhazinha que ouviu uma criança chamando seu nome. A sinhazinha
diz não ter ouvido nada, e pede para saírem rumo a fazenda. A jovem
replica e sem dar ouvidos a sinhazinha se embrenha pelas matas
escuras, como se estivesse em transe, e nos seus ouvidos uma voz
infantil suplicando ajuda e chamando por seu nome.

    A sinhazinha implorava que ela voltasse, que não tinha nada e nem
ninguém lhe chamando ou em perigo. Mas a jovem não ouvia mais nada,
saia em disparada sem olhar para trás, sem dar atenção a mais nada,
sem recear o que poderia vir pela frente.

    A jovem sinhazinha sem ter o que fazer, foi atrás da amiga para
tentar detê-la, não poderia deixar que ela se perdesse nas matas
escuras.

    Correndo foi adentrando pela floresta a procura da amiga, parecia
ver vultos gargalhando, mas colocou esses fatos como sua imaginação e
o grande temor de estar naquele lugar. Apavorada chamava pela amiga,
mas nenhuma resposta era obtida.

    Nesse mesmo momento, na casa grande, residência da sinhazinha, a
negra Benedita estava impaciente, angustiada, extremamente nervosa,
como isso não era de seu costume, tentou se acalmar, sem entender o
que se passava.

    Fechou os olhos, tentava descansar, mas a lembrança da sinhazinha
vinha em sua mente todo o tempo.

    Se levantou de sua esteira, caminhou até uma pequena janela, olhou
para o céu, e rezou firmemente para Zambi, Oxalá e todos os Orixás
para que protegessem a sua sinhazinha.

    Num ímpeto saiu em disparada indo ao encontro de seu primo e
grande amigo, o negro Benedito. Chegando a ele pediu-lhe ajuda para
que de alguma forma saísse da fazenda sem que fosse vista. Sem muitas
perguntas, o amigo e primo, lhe ajudou dizendo que não entendia o
porque ela desejava sair assim, mas ajudaria pela confiança que nela
tinha. A negra disse que depois explicaria, mas naquele momento
deveria seguir sua intuição e tinha que partir.

    De passos apressados ela se foi, como em transe ela seguia
caminhos como que se uma força maior a levasse. Chegando até a entrada
da floresta, ela sem receio se embrenhou pelas matas escuras. A cada
passo que dava seu coração acelerava, sua boca estava seca, não tinha
muito controle de seus membros, como que realmente estivesse sendo
tomada por uma energia divina.

    Em outra parte da floresta, a sinhazinha ainda buscava sua amiga,
quando sem que ela esperasse uma sombra, que parecia com a de um homem
a chama e diz: "Em busca de sua amiga minha jovem? Me siga que a
levarei até ela." E sem esperar resposta da menina sinhá, a sombra
entra cada vez mais pelas matas. A Sinhazinha como que encantada segue
aquele vulto escuro, indo parar em uma pequena clareira na qual viu
sua amiga caída. Seu desespero foi intenso ao ver essa cena, e correu
em direção da moça. Surpreendida novamente pelo vulto da escuridão,
que saiu do nada, ela se assusta e para, receosa do que poderia
acontecer.

    A sombra negra vem de encontro a jovem, estende-lhe a mão e diz:
"Jovem menina, nesse momento você só tem uma maneira de salvar sua
amiga das garras sombrias da morte. E para isso basta você apenas
falar com toda sua convicção que aceita entregar seu espírito a mim.
Com esses dizeres, prometo-lhe que sairá daqui com segurança e
proteção, levando sua amiga. E só vai novamente se reencontrar a mim
quando fizer sua passagem dessa vida terrena."

    Ao ouvir essas palavras, a jovem sinhazinha lembrou-se das
histórias sobre obsessores de almas, espíritos da escuridão que
tentavam induzir as pessoas encarnadas a entregarem seus espíritos a
escuridão, histórias essas que eram contadas pela negra Joaquina, pela
negra Benedita, e claro pelo seu grande amigo, o negro Benedito.

    Ao perceber a intenção do obsessor, a jovem sinhá com um grito
desesperado, diz não aceitar tal acordo, e que o Deus dos negros ia
salvar a ela e sua amiga das garras daquele espírito sem luz.

    Diante dessa ação da menina, o vulto negro solta uma enorme e
assustadora gargalhada, e diante dos olhos da jovem se transforma em
uma descomunal cobra, de tamanho grandioso que nunca o mais valente
caçador poderia imaginar.

    Antes mesmo que a menina sinhá pudesse se defender, o obsessor em
forma da gigantesca cobra, ataca e se enrola no corpo da menina,
tentando assim fazer seu esmagamento.

    Ela desesperada, sem poder gritar ou qualquer outra ação, se pôs
a chorar e mentalmente rezava, as mesmas orações que aprendera com
seus amigos negros.

    Nesse instante, do meio da mata, surge a negra Benedita, que ao
ver aquela cena de desespero, se ajoelha na mãe terra, e roga a todos
Orixás pedindo que salvem sua menina branca das garras da morte.

    O vento veio fortemente balançando as árvores, o céu se abriu para
a saída de uma luz de imensidão grandiosa, essa luz desceu sobre o
corpo da negra, ela se levanta com um salto, fica frente a frente com
a imensa sucuri ainda enrolada ao corpo da jovem sinhá. E de braços
abertos a negra fala palavras e palavras não entendíveis, mas que
tinha um grandioso poder sobre toda a floresta. Suas palavras como em
oração, foram arrancando toda as energias e forças daquele animal
peçonhento, deixando-o enfraquecido de tal forma que fora soltando o
corpo da jovem.

    A jovem se solta, mas cai sem sentidos, ficando junto ao corpo de
sua amiga, que também se encontrava em um sono profundo.

    O raio de luz que antes estava sobre o corpo de Benedita, passa a
iluminar a grande sucuri, e com tamanha intensidade que o couro do
animal passa a exalar um terrível cheiro de enxofre, e como se
estivesse sendo queimado, fumaça negra saía das rachaduras feitas pela
intensidade do calor.

    Em pouco tempo o obsessor que estava em forma de animal era apenas
um pó negro espalhado pelo chão da floresta.

    A negra Benedita tenta superar a fraqueza e buscar forças para se
aproximar das duas moças. E arrastando seu corpo chegou até elas,
observando que a amiga de sua sinhazinha estava apenas com um profundo
sono, mas a pobre menina sinhá estava inerte, com partes do corpo
dilacerado, ossos partidos, sangue se demonstrando através dos poros.

    De um pequeno embornal que trazia em sua cintura, Benedita pegou
duas ou três ervas, macerou, fazendo sair o sumo, e dando para a amiga
da sinhá tomar, que em poucos segundos desperta do encanto do
obsessor.

    Em lágrimas Benedita pede ajuda a menina, que ela trague água
fresca, pois precisaria para fazer emplastros para serem colocados
pelo corpo da sinhazinha.

    A jovem obedece sem pensar, saindo em direção de um rio próximo
que vira ao passar até aquela clareira. E retorna rapidamente,
enquanto a negra buscava mais folhas e raízes da santa mãe floresta,
para que assim pudesse salvar a vida de sua sinhá menina.

    Com tudo que necessitava nas mãos, com as lições que aprendera com
a velha Joaquina na mente, e com a fé que tinha em todos Orixás, a
negra Benedita se pôs a fazer suas benzeduras, emplastros, cura e
orações. Com lágrimas nos olhos se colocou de joelhos, clamando a Deus
que salvasse a jovem. E suas orações foram atendidas, pois a mesma
luz que antes dera forças a negra para chegar até a grandiosa cobra,
e  após fizera desaparecer o animal como por encanto, agora estava
iluminando o corpo da jovem sinhá, aquecendo-o, introduzindo pelos
poros as forças e energias das ervas benditas que eram utilizadas para
curar as feridas e as quebraduras do frágil corpo de menina.

    Na fazenda cafeeira, o negro Benedito tem um encontro incomum,
pois diante dele, no momento em que fazia uma oração, aparece a imagem
de um negro com ar sereno, de sorriso fraternal, lhe dizendo que sua
sinhazinha corria perigo, e que ele deveria interceder ao coronel da
fazenda, para junto com ele, sair para buscar a jovem.

    Benedito saindo em disparada, chamando a velha Joaquina, lhe conta
rapidamente o que se passou, e ela prontamente vai até os aposentos do
coronel e de sua sinhá, que seguem a negra até Benedito.

    Rapidamente o coronel reúne seus feitores e jagunços, e partem
seguindo o negro Benedito, e esse segue as orientações da imagem do
negro de olhar sereno, que os leva até a clareira onde está a negra e
as duas jovens.

    Ao chegar no local, o coronel vendo sua filha ainda deitada ao
chão, busca entendimento, e fazendo perguntas deseja saber o que houve
e como as jovens foram parar nesse lugar e nessa situação, e porque a
negra Benedita, que ele acreditava que estaria na fazenda estava ali.

    Mas antes de qualquer resposta explicativa, Benedita observa que
a sinhazinha abre os olhos. Lágrimas nascem e se espalham  pelo rosto
daquele rosto de menina. Ela se ergue, abre os braços e abraça a
negra, agradecendo por ter salvado sua vida, as duas choram
copiosamente abraçadas.

    Benedito chorando intensamente, agradece a imagem do velho negro
de olhar sereno, e esse parte dando um leve sorriso.

    Após as explicações dadas ao coronel, tanto pelas jovens e pela
negra Benedita, ele se atira a seus pés agradecendo pela coragem e fé
da mucama, que salvou sua única filha das garras da morte. Mas ela
humildemente diz que nada fez, e que deveria sim agradecer a Deus e
aos Orixás que a encaminharam até as profundezas das matas. E assim o
coronel o fez.

    Ao retornarem a fazenda, fizeram uma grande festa, e nessa festa
homenagearam os negros, os Orixás, as Entidades de Luz (como o velho
negro de olhar sereno), e claro, também a Benedita, ao seu primo
Benedito e a velha Joaquina, que mesmo na fazenda ficando, estava em
orações em prol da vida da sinhazinha.

    Muitos e muitos anos se passaram, o coronel da fazenda, em estado
crítico de saúde física, já não podendo mais administrar suas terras,
não tendo mais como conduzir seus feitores e jagunços, passou o
comando para um afilhado seu, um homem de poucos sorrisos e sem
coração. Odiava os negros como se esses não fossem de carne e osso
como os brancos. E esse ódio foi derramado sobre o negro Benedito
quando um fato inusitado ocorreu.

    Podemos entender esse acontecimento vendo a história de Vô
Benedito, no qual anexamos o link abaixo:

A História de Vovô Benedito da Calunga.



    Após açoitar e torturar o negro no tronco, o jovem coronel manda
arrancar os dentes de Benedito, deixando-o praticamente sem vida.

    Ao saber de toda covardia do jovem coronel com seu primo e amigo,
a velha negra Benedita não se fez de rogada, foi até o rapaz e
expressou seu descontentamento de uma forma raivosa, o jovem coronel a
empurra e diz que se ela voltasse a importunar com aquele assunto, ela
que iria ao tronco. Mas mesmo essas ameaças não intimidaram a velha
Benedita, que continuou falando sobre a covardia intensa do coronel
afilhado.


    O jovem coronel enraivecido, manda seus feitores levarem a velha
negra ao tronco, dizendo que será lá que ela iria morrer. Ao saber do
fato, sua protetora, a sinhazinha, implora pela vida da negra, e sem
dar atenção ao clamor da sinhá, o coronel afilhado continua observando
seus feitores arrastar a negra para longe da casa grande sobre os
gritos de desespero da sinhazinha.

    Como percebeu que nada adiantaria seus pedidos de clemência pela
vida da negra, a jovem sai ao encontro de seu pai acamado em seus
aposentos, conta-lhe todo o sucedido, inclusive o fato sobre o negro
Benedito, e pede para ele interceder e ordenar a seu afilhado a parar
imediatamente com as covardias sobre os negros.

    O coronel, muito fraco, manda que tragam o seu afilhado até ele, e
que soltem imediatamente a negra Benedita do tronco. E assim foi
feito.

    Com uma longa e árdua conversa, o velho e doente coronel ordena
que as coisas sejam feitas de acordo com o desejo dele, e que não ia
ser admitido mais o uso da chibata e de torturas no tronco em seus
negros.

    O coronel afilhado fez menção de compreender as palavras do velho
adoentado, mas dentro de si corria um ódio descomunal, mas conforme
ordenou seu padrinho, ele obedeceu. Mandou tirar o tronco das
senzalas, não mais açoitava os negros, não perseguia mais a velha
Benedita.

    Mas seu olhar era de vingança, seu coração não entendia o que
seria entender um semelhante, sua mente perversa imaginava o dia no
qual pudesse se vingar da velha negra, aquela negra que entrava e saía
da casa grande como se fosse da família. Ele odiava ver a sinhazinha
dando largos sorrisos a sua mucama, odiava a proteção dada por ela
aos negros.

    Algum tempo se passou, e o coronel adoentado fez seu desencarne, e
naquele momento o afilhado viu a oportunidade de se vingar dos negros.
Pelo motivo que só existia na cabeça doentia dele, mas usou desses
motivos sem nexo, e do desencarne do seu padrinho para no dia após da
passagem do velho coronel, mandar recolocar o tronco de torturas nas
senzalas, demonstrando assim suas intenções.

    Sete dias se passaram, e assim o jovem coronel da fazenda ordena a
seus feitores que tragam a velha Benedita até o tronco, e assim foi
feito. Sem que a sinhazinha soubesse do fato, levaram a negra para uma
distante senzala abandonada, e lá, com a chibata nas mãos, a negra
acorrentada ao tronco, o jovem coronel com um sorriso irônico diz a
negra, que demorou mas ele iria se vingar da vergonha que ela o fizera
passar diante da família do velho coronel.

    Ele com todo ódio reprimido dentro de seu ser, açoita a velha
negra, e cada vez mais forte e mais rápido. Após várias chibatadas,
seu corpo dilacerado, sangue escorre pelas vestes, lágrimas rolam na
face.

    O coronel entrega o açoite nas mãos de um dos feitores, mandando
que ele faça todo o serviço, pois ele desejaria apenas ficar olhando,
e saborear o sofrimento da negra.

    A cada chibatada o coronel dizia a velha negra, que se ela
implorasse por sua vida, talvez ele a poupasse. Mas ela deveria o
convencer disso.

    A negra o olha firmemente nos olhos e diz:

    "Não posso implorar, pois estaria implorando não pela minha vida,
mas sim pela sua. Pois a cada chibatada que me defere no corpo, está
deferindo contra sua própria alma. E sua alma não mais tem salvação."

    O coronel ao ouvir isso ficou com muito mais ódio. E gritando
ordenou ao feitor que açoitasse a negra com mais força, pois queria
ver se ela não ia implorar pela sua vida.

    A cada chibatada deferida, a negra olhava mais fixamente ao
coronel. Seu semblante, antes de dor, se transformava em um olhar
sereno, tranquilo, em paz.

    Novamente o coronel afilhado diz a negra:

"Implore negra maldita, implore pela sua vida."

    Ela apenas sorriu. E em palavras serenas e lentas disse ao
coronel:

"A cada chibatada dada em meu corpo e a cada gota de sangue derramado
pela covardia do senhor branco, será a perda das forças do seu andar.
Implore senhor coronel, implore a Deus que eu não desencarne, pois
assim se acontecer, eu partirei para o reino de Deus, mas o senhor
ficará se arrastando como uma cobra peçonhenta pelas terras ferventes
desse mundo de branco e senhores de escravos."

    E nesse instante o feitor açoita firmemente a velha negra, que
fecha os olhos e faz seu desencarne, no mesmo momento que o coronel
sente suas pernas fraquejarem, e ele desaba ao chão, sem forças para
se mover.

    Nesse dia a velha negra Benedita foi para o reino de Deus, foi
abençoada em se tornar uma Entidade de Luz trabalhadora pela
espiritualidade, e o coronel afilhado nunca mais deu um passo. Passou
seus últimos anos de vida se rastejando pelos entornos da casa grande
da fazenda cafeeira.

    Na mesma noite do desencarne da velha negra, ela em espírito vai
até a seu primo Benedito, a velha Joaquina e a sua amada sinhazinha,
dizendo-lhes que estaria sempre junto a eles, e que logo eles estariam
junto a ela no reino de Pai Oxalá.

    Nos dias de hoje a sorridente, amável, brincalhona e caridosa
Vovó Benedita das Almas, vem trabalhar junto a espiritualidade nos
Terreiros de Umbanda, trazendo paz, caminhos abertos, saúde e muita
alegria a seus filhos, consulentes e protegidos.


    Salve a linda Vovó Benedita das Almas!

    Adorei as Almas!


Carlos de Ogum.


HISTÓRIA DO PRETO VELHO PAI ANTÔNIO



 No Reino de meu Pai Oxalá,
em Aruanda e no Jacutá,
vi Pai Antônio chegar
para iluminar o nosso Gongá.

    Preto Velho de paz e luz,
no reino da Umbanda saravou,
trazendo o nome de Menino Jesus,
em nosso Terreiro Pai Antônio chegou.

    Sua luz intensa veio brilhar,
para salvar filhos de fé,
com seu tercinho começou a rezar,
deixando os filhos de Umbanda sempre de pé.

**********************************************************************

    Pai Antônio é um bondoso e amável Preto Velho, que trabalha nos
Terreiros de Umbanda, distribuindo a caridade, a luz, o amor e a paz
com seu tercinho abençoado por Oxalá e todos os Orixás.

    Ele de um modo tranquilo e sereno, sempre pitando seu cachimbo,
bebendo seu café com mel em seu cuité e protegendo as pessoas que nele
tem fé.

    Sua última passagem como encarnado nessa terra se passou pelos
meados do século XVIII e o século XIX, primeiramente em uma fazenda
cafeeira na região Sudeste do Brasil, onde era escravizado e obrigado
a trabalhar nas roças tanto de café quanto de cana de açúcar, sobre o
Sol forte, a chuva intensa, os maus tratos de feitores sobre o comando
do coronel que acreditava que os negros não passavam de animais, e
mereciam sofrer sobre as chibatas covardes, e os maus tratos no tronco
de torturas.

    Mesmo assim Pai Antônio não perdia a fé, acreditava em uma força
maior, acreditava que Zambi (Deus) estava ali para lhe proteger de
suas possíveis desesperanças, seu instante de pouca fé, suas
angústias. E assim clamava, rezava e orava a esse tão amável protetor
de todos os filhos, passando essa mesma fé e esperança a seus filhos e
irmãos de raça, para que assim esses também pudessem crer de verdade,
com amor e convicção, sem se deixarem ser tomados pela tristeza que
teimava em nascer dia após dia.

    Ele pregava a todos para não desanimarem, pois o desânimo os
entregariam para os braços da morte, e se entregando assim para a tão
temida morte sem lutar, estariam sendo infiéis a Zambi.

    E com essas palavras Pai Antônio conduzia a todos os negros que
muitas vezes se sentiam sem esperanças a caminhar para um novo dia e
uma nova luta.

    Pela manhã ou pela noite, dentro da senzala fétida, o amado Pai
Antônio tinha seu encontro com Zambi, e ali ele se entregava com todo
seu carinho e fé. Pedia forças não só para ele, mas para todos seus
irmãos de raça e seus filhos escravizados, que naquela época já tinha
algumas dezenas, sendo ele de boa saúde, forte e de extremo bom senso,
foi logo escolhido para ser procriador da fazenda.

    Ele amava cada um dos seus filhos e filhas, tinha no coração a
alegria de vê-los crescer saudáveis e robustos. Mas da mesma maneira
as lágrimas nasciam em seus olhos assim como no seu coração quando por
algum motivo tinha que se separar de sua prole. E isso era constante,
seus filhos iam de senzala a senzala, e logo eram também
comercializados para outros coronéis em outras fazendas da região e
fora dela. E isso fazia Pai Antônio chorar, saber que um dos seus
filhos estaria distante, sendo açoitado, torturado, sofrendo nas roças
escaldantes.

    Pai Antônio foi o primeiro negro da Fazenda a ter filhos gêmeos,
esse fato aconteceu com o entrelace de Pai Antônio com a negra
Joaquina, que era apenas uma menina na época, mas como era saudável e
bem jovem, o coronel a escolheu para ser reprodutora juntamente com
Pai Antônio.

    Com ela Pai Antônio teve, além dos gêmeos, mais seis filhos, sendo
a última que fora chamada de Antônia em homenagem ao pai.

    Com os fatos acontecidos em relação a Joaquina, no qual podem ser
esclarecidos nesse link:

Vovó Joaquina e sua história.

Http://umbandayorima.blogspot.com.br/2014/09/vovo-joaquina-e-sua-historia.html

    Pai Antônio fica com uma grande revolta contra os feitores, e faz
disso sua força de continuar a lutar em prol da liberdade dos negros.
E começa a pregar pela liberdade de todos, sendo de uma forma
refletida, mas como não teria nenhuma chance de diálogo com os
coronéis, resolveu ele partir para a fuga, sem deixar para trás seus
irmãos e filhos.

    Começou a pregar essa ideia por entre as senzalas da fazenda, ia
em cada uma delas para aplicar seu plano de fuga, e com o idealismo de
chegar ao primeiro quilombo que conseguisse encontrar, para se
refugiar, proteger seus semelhantes e retornar com mais força e assim
continuar buscando os negros de outras fazendas da região.

    Mas infelizmente Pai Antônio não contava que um dos negros de uma
senzala que ficava dentro da área da fazenda, senzala essa que
abrigava os negros que trabalhavam nas roças de algodão, bem distante
da senzala que Pai Antônio habitava, iria revelar seus planos a um
feitor com fama de torturador de negros.

    Mas assim foi feito pelo escravo.

    Pai Antônio continuava suas andanças por toda a fazenda e por
todas as senzalas, tentando mostrar que todos deviam fugir dali, que
ele estava na busca de uma saída, na busca do Quilombo mais próximo. E
os escravos sonhavam com essa liberdade, dezenas deles apoiaram Pai
Antônio, estavam preparados para a fuga, estavam imaginando com
alegria o dia que chegariam ao Quilombo, sonhavam com o frescor e a
tranquilidade da liberdade.

    Após todo o relato ser feito ao feitor sanguinário pelo escravo
delator, esse ficou observando juntamente com seus jagunços cada passo
de Pai Antonio. E um certo dia, com a ajuda do negro delator, o feitor
junto com os jagunços chegam até o nosso amado Antônio no exato
momento que ele passava novas instruções aos outros negros.

    Ele foi amarrado e açoitado na frente de todos, foi arrastado até
o tronco de torturas, e la ficou por vários dias e noites sendo
castigado pelo feitor.

    A jovem Joaquina soube dessa tortura, ficou desesperada em busca
de ajuda, chegando até o coronel da fazenda, que ainda não sabia do
ocorrido, e a ele pediu clemência, pediu pela vida de Antônio. O
coronel foi buscar respostas com seu feitor, e ao saber do ocorrido
disse que não teria como perdoar o negro, pois ele incentivou a fuga
de dezenas de negros de sua fazenda, portanto deveria ser castigado
até a morte.

    Joaquina se lança aos pés do coronel pedindo perdão, e ao ver ele
irredutível, diz com um grande ódio no olhar:

    "Com essa maldade, senhor coronel, meus filhos foram mortos,
outros foram jogados a senzalas podres para morrer. Com essa maldade,
senhor coronel, meu ventre morreu junto com meus filhos, sobrando
apenas minha filha amada. Se agora senhor coronel, matar o pai dela,
ela morrerá também, e com essa maldita maldade que exala de seu
coração, se isso acontecer, sua própria maldade vai acabar com sua
família assim como está acabando com a minha."

    O coronel imaginando saber que muitos negros eram feiticeiros,
temeu as palavras da negra. Olhou para o feitor e mandou soltar o
negro Antônio. Ele ficaria livre do castigo mas não poderia mais viver
na fazenda.

    A negra Joaquina ajudando o negro torturado a se levantar, o levou
para a senzala, cuidando de seus ferimentos.

    Dias após o acontecido chega a fazenda um negociador de escravos,
e estava ali para levar Pai Antônio para outra fazenda, isso dito pelo
coronel, que na verdade tinha outras intenções. Antônio ia sim para
outra fazenda, mas esse negociador de escravos não só negociava a
compra e venda de negros, negociava também a morte de negros que
ousavam a desobedecer seus senhores, como o coronel não queria que
Antônio morresse dentro de sua fazenda, ele fez com que todos os
negros acreditassem que ele seria vendido para uma fazenda próxima,
sem que eles soubessem que nessa fazenda teria um cárcere que sempre
era usado para torturar e assassinar os negros que por qualquer motivo
fossem vistos como problemas aos coronéis da região.

    Pai Antônio fora levado para essa fazenda, ao chegar lá foi logo
colocado no tronco, açoitado, torturado, humilhado pelos jagunços e
feitores.

    Após muitas e muitas horas de torturas, o negro Antônio perde os
sentidos, seu corpo inerte pendurado pelas correntes do tronco,
parecendo que já estaria sem vida, quando alguns negros tentando levar
um cuité de água para buscar a reanimação do pobre sofredor também são
açoitados pelos feitores e jagunços, ele forçando as pálpebras
reabrindo os olhos, e com a voz fraca e quase incompreensível, começa
a rezar e a clamar pela ajuda de Zambi.

    Suas orações parecendo que foram levadas aos céus pelos Anjos do
Senhor traz ao negro uma força quase indescritível, que por mais
machucado, tanto fisicamente quanto moralmente, ele se ergue, sua voz
começa a ter um tom mais alto e forte. Sempre clamando a Deus, ele
olha ao céu e agradece ao Pai Maior a força concedida. E isso faz com
que os feitores ficassem um tanto  apreensivos, pois como que um negro
que após tanto tempo de tortura, que todos já jugavam estar
desencarnado poderia de uma hora para outra ter tanta força de viver?

    Alguns se afastaram do negro, imaginando ser algum tipo de
feitiçaria, outros não saíram do lugar, mas se calaram, aguardando as
ordens do chefe dos feitores. E esse chefe foi o primeiro a se
manifestar. Com ódio nos olhos, disse que o negro deveria apanhar
mais, e ele mesmo foi até o tronco com açoite na mão. Quando ia
deferir a primeira chibatada, suas mãos tremeram, no mesmo instante um
enorme facho de luz desceu do céu indo direto a seus olhos. A luz era
tão forte e intensa que seus olhos secaram, e ele sem nada enxergar,
caiu de joelhos ao chão, com as mãos tampando os olhos em gritos de
desespero.

    Um dos jagunços correu até a casa grande em busca do coronel, e
esse veio até o local do acontecido. Esbravejando, o coronel mandou
seus jagunços exterminarem o negro, mas todos se afastavam, com um
grande receio de algo parecido com que aconteceu com o feitor
acontecessem com eles.

    O coronel esbravejou mais, o ódio estava estampado em seu rosto.
Os negros que estavam em volta se ajoelharam, e junto com Pai Antônio
rezavam e clamavam a Zambi, o coronel mandava todos se calarem, mas as
orações se prolongavam. Ele enfurecido, de sua cintura pegou uma arma
de fogo, apontou para o negro que estava acorrentado no tronco, e
disparou. O zumbido oco do estampido tomou conta de todo espaço, e
logo veio o segundo som da morte, o cheiro de pólvora se espalhou no
ar, e quando todos esperavam ver o sangue do negro jorrando pela
terra, ele estava lá, firme, de olhar intenso, sereno.

    O coronel não acreditou no acontecido, sua fúria se tornou mais
intensa, seus olhos irradiavam ódio, ele no ímpeto vendo o açoite no
chão, foi até ele com intenção de açoitar o negro preso até a morte.
Ao levar a mão no açoite, uma serpente rastejante e extremamente
nociva o ataca dando um bote certeiro em sua jugular, fazendo-o cair
aos gritos de dor e desespero.

    Pai Antônio ao ver o acontecido pede aos feitores para soltá-lo,
pois ele iria salvar a vida do coronel. Atendido prontamente, ele
rapidamente corre até a entrada da mata, sem muita escolha junta um
emaranhado de ervas, raízes e casca de algumas árvores. Desse
emaranhado ele faz uma junção com um pouco de terra e água. Leva tudo
ao encontro do coronel envenenado, faz uma espécie de emplasto
colocando sobre a jugular dele. Nesse momento o coronel, já febril e
sem sentidos, não tem nenhuma reação. Pai Antônio se coloca de
joelhos, e como em transe, fala várias palavras e frases que não são
compreendidas pelos observadores.

    A sinhá, esposa do coronel, avisada por um dos jagunços sobre o
acontecido, chega rapidamente no local, em desespero, olhos tomados
pelas lágrimas, implora ao negro que ele salve o coronel.

    Antônio continua como em transe, e com as mãos sobre o emplasto
colocado, ele continua suas frases, quando de repente suas mãos tremem
numa intensidade muito maior, seus braços já não tendo como suportar
tanta energia, seu corpo tomado por aquela força invisível, ele tomba
como se perdesse os sentidos, e no mesmo instante o coronel abre os
olhos, a dor se acalma, o estado febril já não existe mais. Sente seu
corpo fraco, olha em volta, vê o negro caído, observa as pessoas de
olhares assustados, vê sua esposa com um sorriso de felicidade e
tranquilidade.

    A sinhá ordena aos que estão em volta para levarem o coronel para
a casa grande, e também deveriam levar o negro Antônio juntamente para
o mesmo local. E assim foi feito. Após algumas horas de reabilitação
Pai Antônio já estava de ´pé, sua fé e força o restabeleceu, tanto da
tortura sofrida quanto do fatídico gasto de energia utilizada para
salvar a vida do coronel.

    O coronel ficou eternamente agradecido, e deste dia em diante
mandou retirar o tronco de sua fazenda, a senzala da morte foi
queimada, Pai Antônio ficou sendo um dos braços direito do coronel nos
trabalhos na lida, muito respeitado por todos.

    Ele viveu na fazenda mesmo depois do desencarne do coronel,
muitos e muitos anos depois, e mesmo tendo um tratamento diferenciado
onde residia, sentia saudades de sua antiga fazenda, de seus irmãos de
raça, de seus filhos, em especial de sua filha, a menina Antônia,
conhecida como "Tonha", a filha da negra Joaquina.

    Com muito carinho temos a benção de ter como trabalhador na
Umbanda, em prol da caridade esse Preto Velho de luz e fé. O grande
buscador da paz e distribuidor das bençãos de Zambi, nosso Pai Maior.

    Saravá e sua benção meu amado Pai Antonio das Almas.

Carlos de Ogum.