sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A Viagem


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Estava diante de um hospital. Na realidade acabara de ser colocado na porta de entrada de um hospital.

Não sei por que havia sido levado até ali, mas alguma coisa moveu toda minha vontade para adentrar o mesmo e assim eu fiz.

Não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sentia como se alguém guiasse os meus passos.

Eu queria parar de andar para raciocinar um pouco sobre o que ocorria, mas estava tomado por uma determinação muito grande dentro de mim e por ela fui impelido a continuar andando.

Quando cheguei  frente à porta do apartamento 156 alguém determinou que eu parasse e obedeci prontamente.

Parei e nem tive muito tempo de pensar no motivo por que senti alguém tocar-me no ombro, por trás. Era um homem de estatura mediana, calvo, magro, olheiras profundas e aparência bem debilitada que disse a mim:

— Ajude-me!

Eu só o respondi:

— Senhor?

— Ajude-me, por favor!

Procurei mentalizar em quem me levara até ali para entender qual procedimento tomar, mas não obtive resposta. O homem pediu-me novamente:

— Ajude-me!

— Como poderia ajudá-lo?

— Não sei! Só me pediram para vir procurá-lo.

— Quem pediu?

— Ajude-me!

—Senhor?

— Ajude-me, por favor!

Pensei: o jeito vai ser rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria para ver se ajudo este homem. Assim eu fiz, mas ele prosseguia em minha frente a pedir ajuda.

Comecei a pensar que estava em algum tipo de pesadelo e pedi licença por alguns instantes; no entanto, a minha intenção era seguir andando em direção à porta de entrada do hospital para fugir daquela situação.

Contudo, ao chegar em frente do local desejado, observei que a cruz vermelha pintada na porta brilhava como se possuísse vida própria; então, imediatamente lembrei-me de um mistério de Obaluayê: o mistério das passagens!

Percebi que o pedido de ajuda poderia estar relacionado com este fato e retornei para frente do apartamento 156.

O homem que solicitava ajuda tinha os olhos banhados por lágrimas, mas, ainda assim continuava a pedir socorro.

Olhei profundamente nos olhos do transtornado homem e perguntei:

— O senhor precisa de ajuda com espíritos desencarnados?

— Espíritos? Isto é coisa do demônio! Você tem parte com o demônio?

Tornei a pensar que estava em um pesadelo, pois não entendia o que ocorria, no entanto, voltei a olhar nos olhos do homem e disse:

— Não senhor! Não tenho parte com nenhum demônio!

— Ah bom, por que preciso de ajuda, só que não estou tão desesperado assim! Quando morrer não quero ir para o inferno!

Parei de pensar que estava louco por que não sou louco! Se estava ali havia alguma finalidade e se não sabia qual Deus, onisciente, com certeza saberia.

Tornei a fechar os olhos e rezei novo Pai-Nosso e nova Ave-Maria só que desta vez sem o sentimento de querer livrar-me de um incômodo: meu pensamento era só ajudar por que o homem precisava e pedia por ajuda.

Ao descerrar os olhos o homem ainda estava à minha frente pedindo ajuda.

Assustei-me com a situação, mas procurei manter a serenidade de minhas emoções.

Alguém, enfim, disse em minha mente:

— O que você viu, seu coração sentiu. Siga o seu coração e faça o que tem de fazer!

— Como assim?

Um silêncio interminável e incompreensível foi a resposta , então eu me pus a pensar: “A única coisa que vi e que mexeu com o meu coração foi o estranho brilho na cruz da porta de entrada do hospital e que me remeteu à Obaluayê, sendo assim...... Já sei, acho que entendi! Obrigado meu Deus!!!”

Ajoelhei-me no corredor do hospital e procurei fazer o que sentia que deveria ser feito. Poucos instantes depois um portal luminoso abriu-se diante de mim e de dentro dele saíram dois seres que emocionavam todo o meu ser tamanha era a vibração de amor irradiada por eles.

O senhor que estava a me pedir ajuda, quando viu estes seres, exclamou:

― Deus é fiel! Obrigado pelo  arrebatamento meu pai! Os senhores são anjos que aqui estão por parte do Alto do Altíssimo?

Sorrindo eles responderam que sim e o homem, assim, fez outra pergunta:

― Os senhores vão me levar para me mostrar como é o céu?

Sorrindo, outra vez, eles responderam que sim e, instantes depois, todos atravessaram o portal que se fechou por detrás deles.

Alguém, então, tornou a dizer-me mentalmente:

― Aprendeu filho?

― Sinceramente não! Não existe aprendizado sem entendimento e eu não entendi nada que aconteceu aqui!

― Se você quisesse, de fato, entender de maneira mais fácil, bastaria ter feito uma prece antes.

― Antes? Mas eu fiz preces e estou certo que o senhor viu estes momentos!

― Antes, filho!

― Antes? Como assim?

― De onde você veio antes de entrar neste hospital?

― Não sei!

― Pense Jorge, vamos!

― Não consigo recordar-me!

― Você estava dormindo Jorge!

― Estava dormindo, mas agora estou acordado, qual o problema? Não entendi a relação!

― Você não está acordado: está desdobrado, entretanto seu corpo físico está em repouso em seu leito lá no apartamento onde você mora!

― Como? Agora eu estou dormindo? Como isto é possível? Eu posso me tocar, sentir meu coração bater, como pode ser isto?

A porta do quarto 156 se abriu e de dentro dela saiu um médico com o semblante pesaroso; entretanto, quando a porta estava semi-aberta, Jorge viu o corpo do homem que lhe pedira ajuda anteriormente deitado em cima de uma cama.

― Está entendendo filho?

― Acho que agora tudo ficou claro: Deus me trouxe até este hospital para auxiliar no encaminhamento do espírito do senhor que aqui me pedia ajuda e que faleceu recentemente. É isto?

― Continue!

― O senhor recém-falecido não tem afinidade alguma com a teologia espírita e afins.

― Perfeitamente!

― Deus! Mas se o senhor houvesse aparecido antes e me esclarecido todas estas coisas eu não teria passado por tanta aflição! Por que o senhor não se apresentou antes, para ajudar-me?

― Se você souber que ao viajar para certa localidade deve levar quarenta peças de roupa e, no entanto, leva apenas vinte peças passando, por conta deste equivoco, por momentos de aflição durante a viagem, de quem é a responsabilidade pela aflição?

― Minha somente!

― Pois então, foi isto que você fez esta noite antes de dormir e tal é a justificativa para sua aflição.

― Ainda não consegui entender!

― As entidades do centro que você freqüenta já lhe explicaram sobre sua mediunidade, certo?

― Sobre o desdobramento a que posso ser submetido antes de dormir?

― Exato!

― Já sim senhor!

― E qual foi a principal recomendação das entidades a você?

― Rezar sempre e todas as noites antes de dormir, predispondo-me a servir aos desígnios divinos onde me for determinado.

― Você fez a prece esta noite, antes de dormir?

― Com certeza! Nunca deixo de fazer!

― Tem certeza?

― Bom , na verdade posso ter dormido pouco antes do término da oração.

― Então, você acha que orou, ou não, antes de dormir?

― Orei pela metade.

― Tua viagem exigia quarenta peças de roupa e você só trouxe metade; sendo assim, só pôde receber exatamente do que trouxe como bagagem.

― É verdade!

 ― Jorge, Jorge, Jorge! Não olvide da importância de uma boa prece ao divino Criador antes do sono refazedor. Oração é sempre importante e não só por que você é portador desta forma de mediunidade, mas por que o senhor Jesus ensinou: “Orai e vigiai”. Jamais se esqueça de que se cada um só dá do que tem, só poderá receber exatamente daquilo que ofertou.


Muita Paz e Luz a todos! Saravá!
  

Toque da Jurema - A Cura em Várias dimensões

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O Toque de Jurema (Encantarias – Encantados) é um culto público com fins propiciatórios à (1) cura, (2) resolver problemas vários do cotidiano, (3) amor e, finalmente, (4) problemas espirituais vários.

O Culto à Jurema tem na adaptação do homem aos três ambientes: natural, social e sobrenatural a forma de encontrar a estabilidade, a harmonia e o equilíbrio.

A quebra desse equilíbrio (dos três ambientes) pode desencadear vários óbices, inclusive a deflagração de agressão mística – demandas, ataques mágicos ou berundangas - responsável por infortúnios espirituais tais como “vida amarrada” e perturbação espiritual na dimensão afetiva promovendo o insucesso no amor e as maiores dificuldades no aspecto econômico-financeiro. Finalmente, os problemas mais ou menos graves de saúde mental ou somática.
Todos esses infortúnios ou malefícios são combatidos pelos rituais ou Toques de Jurema, pois por intermédio de “ervas receitadas” em forma de chás, decocto, defumações e, principalmente, com o vinho de Jurema e as “fumaçadas” preparadas para combater todos os males (fumo misturado com ervas propicias a várias finalidades).

São esses remédios dispensados pelo Mestre acostado (entidade sobrenatural), ou mesmo pelo Mestre Juremeiro encarnado que em geral é erveiro, mateiro, rezadeiro, raizeiro, benzedeiro e “feiticeiro” que favorecem e restabelecem a harmonia, a estabilidade e o equilíbrio perdidos.

As fumaçadas são aspergidas, em formas de fumaças sopradas pela marca (pelo fornilho) nos consulentes pelo Mestre acostado algo que caracteriza os Mestres da Jurema, Mestre da Sabedoria e de fundamento nas raízes de seu Mestre iniciador desde quando foi “enjuremado”.

Os cultos não são apenas públicos, pois há os individuais, onde se atendem e se faz vários tipos de trabalhos, todavia, quando do Toque de Jurema, o mesmo se processa da seguinte maneira:

1. Os rituais ou mesas são mágico-sagrados sendo muito valorizados principalmente pelos benefícios que propiciam.

2. O uso do vinho de Jurema é o principal remédio para todos os males. Os ingredientes do vinho de Jurema é de conhecimento exclusivo dos iniciados, por isso faz-se silêncio sobre sua composição.

3. O tabaco é fundamental na eliminação de malefícios vários, podendo também trazer benefícios espirituais – “chamar o transe” – quando aspirado profundamente.

4. O grande número de remédios oriundos da flora e da fauna são o manancial onde os Juremeiros preparam seus “líquidos ou pós de poder”, suas garrafadas, lambedores (xaropes) e banhos para neutralizar malefícios vários e trazer benefícios.

Para tantos “benefícios” os Mestres, basicamente fazem uso de três objetos magísticos. A princesa – uma bacia de louça branca com fumo de corda e outros elementos que representam a fonte de todo poder do Mestre. A marca mestra (maracá) que se acredita ter o poder de abrigar vários espíritos das cidades e aldeias que rodeiam as cidades místicas ou reinos da Jurema. O terceiro poder é determinado pela fumaça da marca do Mestre acostado, que serve de remédio e propicia o transe de possessão.

O Toque de Jurema (Encantaria) é encontrado em várias religiões afro-brasileiras, principalmente na Umbanda, em algumas de suas vertentes; no Culto de Nação Africano (Jejê-Nago-Angola); No Tambor de Mina - há mais de 50 anos presente em várias regiões do país fundamentado no Culto Jejê (Voduns), principalmente nas divindades Poli Boji, Dambirá, Quevioçô, Sobô, Badé, em perfeita harmonia com Orixás Ketu, Mestres e outros Encantados; não se pode esquecer do Tambor da Mata ou Terecô - oriundo do Mearin e de Codó do Maranhão, que hoje se encontra difundido em alguns estados - onde se apresenta Barba Soeira (Santa Bárbara) e vários outros encantados, principalmente Mestre Légua, Rei da Turquia, Rei D. Sebastião e muitos outros.

Prosseguindo, o Toque de Jurema, ao contrário do que muitos pensam, é complexo nos fundamentos e na ritualística. Há um enredo que vem puxando uma teia de ancestralidade indígena e européia tendo como pedra angular o poder mágico curativo da Erva Jurema e do Vinho preparado com ela.

“Curam” vários males, principalmente pelos conhecimentos e poderes dos Mestres encarnados que são acostados por Mestres de outro mundo, “Juremeiros desencarnados” (será apenas isso?). As curas proporcionadas pelo poder do vinho de Jurema potencializadas pelos fundamentos dos Mestres e seus avatares atingem o psicossomatismo (mente e corpo) do consulente, o social – problemas afetivos-sexuais e financeiros vários; os espirituais – “vida amarrada”, feitiçaria, bruxaria e outras influências negativas.
Antes do encerramento deste sumário sobre a Jurema e seus rituais de fundamento e as diversas encantarias há de se ressaltar que cânticos (louvarias ou cantorias) e danças sob a influência das fumaçadas e a degustação do vinho de Jurema caracterizam esse culto e seus adeptos.
O Toque de Jurema no que concerne ao aparente caos - pois transgride na alegria e na paz a cultura vigente - e do lúdico, faz parte da cura proporcionada pelo poder dos Mestres que conhecem a psicologia e o imaginário das humanas criaturas.
Com certeza, o Toque de Jurema e outras religiões afro-brasileiras são formas de resistência às proscrições, às desigualdades que infelizmente campeiam na sociedade, protagonista de descriminações várias, preconceitos, que impedem as necessárias mudanças e mobilidades sociais.
Além da resistência, Mestres do outro mundo e deste mundo se unem não somente para proporcionar curas em várias dimensões do ser humano e de sua sociedade, mas labutam pela transformação sócio-espiritual que vem ocorrendo na sociedade brasileira que elevará a uma forma justa de religiosidade nossa gente.
Salve a Jurema Sagrada!
Salve, Salve, os Mestres!
Salve, Salve, os Príncipes, as Princesas e todos os demais Encantados!

A Humildade



Você já deve ter ouvido muitas vezes a palavra humildade, não é mesmo?
Essa palavra é muito usada, mas nem todas as pessoas conseguem entender o seu verdadeiro significado.
O termo humildade vem de húmus, palavra de origem latina que quer dizer terra fértil, rica em nutrientes e preparada para receber a semente.
Assim, uma pessoa humilde está sempre disposta a aprender e deixar brotar no solo fértil da sua alma, a boa semente.
A verdadeira humildade é firme, segura, sóbria, e jamais compartilha com a hipocrisia ou com a pieguice. A humildade é a mais nobre de todas as virtudes pois somente ela predispõe o seu portador, à sabedoria real.
O contrário de humildade é orgulho, porque o orgulhoso nega tudo o que a humildade defende. O orgulhoso é soberbo, julga-se superior e esconde-se por trás da falsa humildade ou da tola vaidade.
Alguns exemplos talvez tornem mais claras as nossas reflexões. Quando, por exemplo, uma pessoa humilde comete um erro, diz:
"eu me equivoquei", pois sua intenção é de aprender, de crescer.
Mas quando uma pessoa orgulhosa comete um erro, diz: "não foi minha culpa", porque se acha acima de qualquer suspeita.
A pessoa humilde trabalha mais que a orgulhosa e por essa razão tem mais tempo. Uma pessoa orgulhosa está sempre "muito ocupada" para fazer o que é necessário.
A pessoa humilde enfrenta qualquer dificuldade e sempre vence os problemas. A pessoa orgulhosa dá desculpas, mas não dá conta das suas obrigações e pendências.
Uma pessoa humilde se compromete e realiza.
Uma pessoa orgulhosa se acha perfeita.
A pessoa humilde diz:
"eu sou bom, porém não tão bom como eu gostaria de ser". A pessoa humilde respeita aqueles que lhe são superiores e trata de aprender algo com todos.
A orgulhosa resiste àqueles que lhe são superiores e trata de pôr-lhes defeitos.
O humilde sempre faz algo mais, além da sua obrigação.
O orgulhoso não colabora, e sempre diz: "eu faço o meu trabalho".
Uma pessoa humilde diz:
"deve haver uma maneira melhor para fazer isto, e eu vou descobrir".
A pessoa orgulhosa afirma:
"sempre fiz assim e não vou mudar meu estilo".
A pessoa humilde compartilha suas experiências com colegas e amigos, o orgulhoso as guarda para si mesmo, porque teme a concorrência.
A pessoa orgulhosa não aceita críticas, a humilde está sempre disposta a ouvir todas as opiniões e a reter as melhores.
Quem é humilde cresce sempre, quem é orgulhoso fica estagnado, iludido na falsa posição de superioridade.
O orgulhoso se diz céptico, por achar que não pode haver nada no universo que ele desconheça, o humilde reverencia ao criador, todos os dias, porque sabe que há muitas verdades que ainda desconhece.
Uma pessoa humilde defende as idéias que julga nobres, sem se importar de quem elas venham.
A pessoa orgulhosa defende sempre suas idéias, não porque acredite nelas, mas porque são suas.
Enfim, como se pode perceber, o orgulho é grilhão que impede a evolução das criaturas, a humildade é chave que abre as portas da perfeição.
Pense nisso!
Você sabe por quê o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso?
É porque foi humilde o bastante para colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande.

Se quisesse ser o primeiro, se quisesse ficar acima de todos os rios, não seria mar, seria uma ilha. E certamente estaria isolado.
Pense nisso... 

Há Muitas Moradas na Casa de meu Pai

         

          Há muitas moradas na casa de meu Pai

1. Não se turbe o vosso coração. - Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. - Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais. ( S. JOÃO, cap. XIV, vv. 1 a 3.)

Diferentes estados da alma na erraticidade

2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.
Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.

 

Diferentes Categorias de Mundos Habitados

3. Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito diferentes umas das outras são as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes. Entre eles há-os em que estes últimos são ainda inferiores aos da Terra, física e moralmente; outros, da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores a todos os respeitos. Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam soberanas as paixões, sendo quase nula a vida moral. A medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.

4. Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal, predominando um ou outro, segundo o grau de adiantamento da maioria dos que os habitam. Embora se não possa fazer, dos diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se contudo, em virtude do estado em que se acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais salientes, dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas, onde domina o mal; mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias.

5. Os Espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele presos indefinidamente, nem nele atravessam todas as fases do progresso que lhes cumpre realizar, para atingir a perfeição. Quando, em um mundo, eles alcançam o grau de adiantamento que esse mundo comporta, passam para outro mais adiantado, e assim por diante, até que cheguem ao estado de puros Espíritos. São outras tantas estações, em cada uma das quais se lhes deparam elementos de progresso apropriados ao adiantamento que já conquistaram. É-lhes uma recompensa ascenderem a um mundo de ordem mais elevada, como é um castigo o prolongarem a sua permanência em um mundo desgraçado, ou serem relegados para outro ainda mais infeliz do que aquele a que se vêem impedidos de voltar quando se obstinaram no mal.

 

Destinação da Terra. - Causas das Misérias Humanas

6. Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse juízo do acanhado ponto de vista cm que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa idéia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra, em face da população total desses mundos? Muito menos que a de uma aldeia, em confronto com a de um grande império. A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
7. Faria dos habitantes de uma grande cidade falsíssima idéia quem os julgasse pela população dos seus quarteirões mais íntimos e sórdidos. Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa penitenciária, vêem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os habitantes, em sua maioria são pálidos, franzinos e enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciaria, um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso, e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a Humanidade inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os que se curaram e da prisão os que cumpriram suas penas, o homem deixa a Terra, quando está curado de suas enfermidades morais.

 

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS


Mundos Inferiores e Mundos Superiores

8. A qualificação de mundos inferiores e mundos superiores nada tem de absoluta; é, antes, muito relativa. Tal inundo é inferior ou superior com referência aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala progressiva.
Tomada a Terra por termo de comparação, pode-se fazer idéia do estado de um mundo inferior, supondo os seus habitantes na condição das raças selvagens ou das nações bárbaras que ainda entre nós se encontram, restos do estado primitivo do nosso orbe. Nos mais atrasados, são de certo modo rudimentares os seres que os habitam. Revestem a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não têm a abrandá-los qualquer sentimento de delicadeza ou de benevolência, nem as noções do justo e do injusto. A força bruta é, entre eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções, passam a vida na conquista de alimentos. Deus, entretanto, a nenhuma de suas criaturas abandona; no fundo das trevas da inteligência jaz, latente, a vaga intuição, mais ou menos desenvolvida, de um Ente supremo. Esse instinto basta para torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa, porquanto eles não são seres degradados, mas crianças que estão a crescer.

Entre os degraus inferiores e os mais elevados, inúmeros outros há, e difícil é reconhecer-se nos Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, os que foram esses seres primitivos, do mesmo modo que no homem adulto se custa a reconhecer o embrião.

9. Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos.

A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância. Isenta de cuidados e angústias, a vida é proporcionalmente muito mais longa do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda proporção com o grau de adiantamento dos mundos. A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento.

10. Nesses mundos venturosos, as relações, sempre amistosas entre os povos, jamais são perturbadas pela ambição, da parte de qualquer deles, de escravizar o seu vizinho, nem pela guerra que daí decorre. Não há senhores, nem escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A autoridade merece o respeito de todos, porque somente ao mérito é conferida e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse desejo, porem, uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar. Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; uni laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário, uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.

11. No vosso, precisais do mal para sentirdes o bem; da noite, para admirardes a luz; da doença, para apreciardes a saúde. Naqueles outros não há necessidade desses contrastes. A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria eterna, livre de ser perturbada pelas angústias da vida material, ou pelo contacto dos maus, que lá não têm acesso. Isso o que o espírito humano maior dificuldade encontra para compreender. Ele foi bastante engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas nunca pôde imaginar as alegrias do céu. Por quê? Porque, sendo inferior, só há experimentado dores e misérias, jamais entreviu as claridades celestes; não pode, pois, falar do que não conhece. A medida, porém, que se eleva e depura, o horizonte se lhe dilata e ele compreende o bem que está diante de si, como compreendeu o mal que lhe está atrás.

12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade. (Resumo do ensino de todos os Espíritos superiores.)

 

Mundos de Expiações e de Provas

13. Que vos direi dos mundos de expiações que já não saibais, pois basta observeis o em que habitais? A superioridade da inteligência, em grande número dos seus habitantes, indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado à encarnação dos Espíritos que acabaram de sair das mãos do Criador. As qualidades inatas que eles trazem consigo constituem a prova de que já viveram e realizaram certo progresso. Mas, também, os numerosos vícios a que se mostram propensos constituem o índice de grande imperfeição moral. Por isso os colocou [)eus num mundo ingrato, para expiarem aí suas faltas, mediante penoso trabalho e misérias da vida, até que hajam merecido ascender a um planeta mais ditoso.

14. Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para aí em expiação. As raças a que chamais selvagens são formadas de Espíritos que apenas saíram da infância e que na Terra se acham, por assim dizer, em curso de educação, para se desenvolverem pelo contacto com Espíritos mais adiantados. Vêm depois as raças semi-civilizadas, constituídas desses mesmos os Espíritos em via de progresso. São elas, de certo modo, raças indígenas da Terra, que aí se elevaram pouco a pouco em longos períodos seculares, algumas das quais hão podido chegar ao aperfeiçoamento intelectual dos povos mais esclarecidos.

Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos, na Terra; já tiveram noutros mundos, donde foram excluídos em conseqüência da sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser degradados, por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer que estes últimos avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que de mais amargor se revestem OS infortúnios da vida. E que há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas pelas contrariedades e desgostos do que as raças primitivas,cujo senso moral se acha mais embotado.

15. A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos tem aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. E assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito. - Santo Agostinho. Paris, 1862.) 

Mundos Regeneradores
16. Entre as estrelas que cintilam na abóbada azul do firmamento, quantos mundos não haverá como o vosso, destinados pelo Senhor à expiação e à provação! Mas, também os há mais miseráveis e melhores, como os há de transição, que se podem denominar de regeneradores. Cada turbilhão planetário, a deslocar-se no espaço em torno de um centro comum, arrasta consigo seus mundos primitivos, de exílio, de provas, de regeneração e de felicidade. Já se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando ainda ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! há as que sucumbem, e Deus, que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se depuram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora destinada.

17. Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se. Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.

Nesses mundos, todavia, ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade. O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só se acham os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante ditosos e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam a calma após a tempestade, a convalescença após a moléstia cruel. Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o homem divisa, melhor do que vós, o futuro; compreende a existência de outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a alma pairará acima de todos os horizontes. Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de um perispírito puro e celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam.

18. Mas, ah! nesses mundos, ainda falível é o homem e o Espírito do mal não há perdido completamente o seu império. Não avançar é recuar, e, se o homem não se houver firmado bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e mais terríveis provas o aguardam.

Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóbada azulada e, das inúmeras esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indagai de vós mesmos quais as que conduzem a Deus e pedi-lhe que uni mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação na Terra. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

 

Progressão dos Mundos

19. O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação, animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas, é apenas uni meio de se chegar, pela transformação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento.

Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos destinados e constituí-lo, vê-lo-ia a percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus imperceptíveis para cada geração, e a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais agradável, à medida que eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa é essa idéia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do seu poder a que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!

Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec.