Ninguém poderá dizer que não ama porque não foi amado. Jesus nos amou ontem, nos ama hoje e nos amará sempre. O Cristo amou a todos, mas teve especial cuidado com os pecadores. A palavra ``pecado´´ deriva do latim peccatum, daí surgindo a expressão ``impecável--, que, no caso, seria a qualidade da pessoa sem defeito ou falha. Afirmando que teria vindo para os pecadores, e não para os impecáveis, Jesus elege estes últimos para que o auxiliem em sua missão junto à humanidade. E, para os imperfeitos, Ele não trouxe pedras, não trouxe ameaças do fogo do inferno; antes, deu a eles a luz do esclarecimento e o calor do seu coração.
Certa feita, indagaram aos discípulos de Jesus o motivo pelo qual Ele comia com os cobradores de impostos e com as pessoas de má fama. Os cobradores de impostos eram pessoas malquistas pelo povo porque se excediam na cobrança de tributos. Jesus ouviu a pergunta e respondeu: ``Os que tem saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Porque eu vim para chamar os pecadores, e não os bons.´´
E, ao chamar os equivocados a uma vida nova, Jesus não usava de crítica ou repreensão. No caso da mulher adúltera que todos queriam apedrejar, o Mestre livrou-a da morte com a famosa frase que ficará registrada por toda a eternidade: ``QUEM DE VOCÊS ESTIVER SEM PECADO, QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA NESTA MULHER!´´
E nem mesmo Jesus, o único ali presente que poderia atirar, porque estava sem pecado, a censurou: ``Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais.´´
Isso não quer dizer que Jesus aprovou o adultério. Ele quer a morte do pecado, e não do pecador. O erro não é maior do que a pessoa que o comete. Isso estava muito claro para Jesus, embora não esteja muito claro para nós, cristãos, que continuamos a confundir o pecado com o pecador. Cristo tem uma estratégia diferente da nossa, pois Ele acolhe o pecador, enquanto nós o segregamos. Cristo abomina o pecado, mas ama o pecador. Nós rejeitamos o pecado e o pecador, embora, curiosamente, sejamos tão pecadores quanto aqueles que condenamos. Com que direito iremos condenar aqueles que tropeçam nas mesmas pedras em que nós também tropeçamos? Jesus nos formula uma pergunta muito objetiva, cuja resposta, creio eu, ainda não demos porque não temos o que responder:
``Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de madeira que está no seu próprio olho?´´
Quem cuida muito da vida alheia está cuidando pouco da sua, o que é lamentável, porque há tanto trabalho interior a se realizar na busca do nosso aperfeiçoamento, que não nos sobraria tempo para vigiar a conduta do próximo. E que não cuida de si mesmo jamais conseguirá ter progresso na vida, pois seu mundo íntimo, onde todos os projetos de vida se iniciam e se sustentam, está repleto de traças e ervas daninhas.
Lembra Chico Xavier que nós precisamos nos abster de julgar o próximo, já que nós precisamos da misericórdia de todos para os nossos equívocos. A nossa intolerância com os erros alheios pode apenas ser um disfarce tentando acobertar os nossos próprios enganos. Quem muito condena, provavelmente, carrega dentro de si algo de muito condenável. Na época de Jesus, os escribas e fariseus eram assim, implacáveis juízes do comportamento alheio, embora se apresentassem como rigorosos cumpridores dos preceitos religiosos. O Cristo não teve palavras brandas para eles: ``Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês são como túmulos pintados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de podridão. Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro estão cheios de mentiras e pecados.´´
Seria bom termos coragem suficiente para enxergar a nossa podridão, jogar fora todas as nossas pedras. Porque, se estivermos com elas nas mãos, como erguê-las em súplicas ao Céu? Como esperar pelas bênçãos de Jesus, se amaldiçoamos a vida do próximo com os nossos julgamentos? O Cristo nos diz que seremos julgados pela mesma medida que usarmos para julgar o próximo. Se a vida está sendo muito dura conosco, pode ser que nós estejamos sendo muito duros com os nossos semelhantes. Quando condenamos alguém, estamos lavrando uma sentença condenatória contra nós mesmos.
Se Jesus tem um coração que perdoa e compreende, por que o nosso coração não é capaz de fazer o mesmo? Esta é a proposta do Cristo. jogar fora as nossas pedras e olhar com humildade para a nossa própria periculosidade. Sem pedras na mão, sem fogo na língua, nossa vida fica mais leve e mais próxima do Amigo Jesus.
Do livro: Alguém Me Tocou (José Carlos De Lucca)