Yle Afro Ogum Iemanjá é uma casa de Religião Afro, que trabalha com Umbanda, Quimbanda e Nação jeje nagô, o nosso líder espiritual é o Pai Jeremias de Ogum com mais de 30 anos de vida religiosa, Nossa casa é localizada na cidade de Alvorada/RS. R:Gomes Freire N° 10 Bairro: Maringá
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
A UMBANDA COMO RELIGIÃO
Quando falo de Umbanda como religião sinto certo conforto e alegria, pois a encontro como um dos meios usados por Deus e plasmado pelos responsáveis pelos caminhos religiosos no plano encarnatório, para nos conduzir à nossa finalidade última e essencial que é o nosso Criador. Basta que se olhe ao redor para sentir como os seres humanos estão ansiosos e, muitas vezes perdidos, numa inquietação que muitas vezes os leva a atitudes e a fugas nem sempre dignas, numa busca contínua de auto-afirmação, de aplausos sobre si mesmos, de exteriorizações que custam caro face aos desentendimentos e dissensões que levam, a mais e mais, se sentirem sós e carentes de algo que quase sempre não sabem a explicação. Santo Agostinho, em seu livro “Confissões”, chega á conclusão filosófica perfeita ao dizer a Deus: “Senhor, nos criastes para Ti e nosso coração só encontrará descanso quando retornarmos a Ti”. Vejo a Umbanda com seus rituais e cultos apenas como mais um instrumento a ensinar aos homens como realizar esta volta para Deus. A Umbanda exteriorizada, com festas e incorporações apenas, não leva ninguém a Deus. Ela só se torna uma religião quando tudo isto tenha como meta a realização espiritual. A verdadeira caridade a que a Umbanda se propõe é a implantação, nas vidas, do “Reino de Deus”, ou seja, do caráter interior de reforma intima à luz do Evangelho de Jesus. Alguns dizem: - mas os Guias fazem caridade incorporados, limpam feridas, e outras exterioridades a que muitos chamam de caridade. Não e não. Estas coisas são exteriorizações, na maioria das vezes encenadas por médiuns, para que seja visto pela assistência e elogiado pelos outros, mas não transformam as vidas dos médiuns e dessa própria assistência, pois, na maioria das vezes fica só nisso, satisfazendo “egos” e usando o nome da caridade para atos externos. É Jesus quem diz: “o que a tua mão direita faz, que a tua esquerda não o saiba”, e os Mentores para trabalharem não necessitam de encenações externas e sim de médiuns doutrinados, evangelizados, que levem no escondido e interno de uma consulta, as curas dos males físicos, mas, principalmente a cura dos males espirituais pela terapia do evangelho. É incrível como a Bíblia Sagrada tem um texto que se encontra no centro da mesma Bíblia, ou seja, no ponto central que a dividiria ao meio, uma frase que precisamos trabalhar com ela para não nos decepcionarmos, como fazemos continuamente, face à nossa confiança mal direcionada. Se buscarmos esse centro, estaremos no Livro dos Salmos, precisamente no Salmo 118, em seu versículo 8 que diz: “É MELHOR CONFIAR NO SENHOR DO QUE CONFIAR NO HOMEM”. Aí está a sabedoria, os homens nossos irmãos são nossos irmãos, caminhantes conosco para o mesmo fim e destino, a ilusão da matéria nos remete, face à nossa carência de realização pessoal, a confiar nos valores humanos em detrimento dos valores divinos e aí, acabamos sempre dando com os “burros n’água”. A Umbanda é a religião do amor, mas do amor de Deus. É a religião da caridade, mas da caridade evangélica. Tudo o mais é pura vaidade e descaminho dos verdadeiros objetivos e valores trazidos pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas ao implantar a Umbanda no Brasil, que ao lado das proibições: não matar, não cobrar, deixou clara a função de evangelizar. Seria tão bom que todos os Umbandistas ao entronizarem a imagem de Jesus nos seus Congares, vissem ali a imagem do Cristo, “Caminho, Verdade e Vida”, aquele nos pode salvar e dar a paz. Seria tão bom que essa imagem fosse um convite contínuo à leitura, meditação e vivência do Evangelho. Seria tão bom que essa imagem fosse o símbolo do “Divino Oxalá”, ou seja, do Divino Senhor da Luz – “Eu Sou a Luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas”. Seria tão bom não ser simplesmente confundido com um dos Sagrados Orixás, aquele do 1º Raio, que cognominado de Oxalá, recebe, pela vibração da fé e da religiosidade, as energias do coração desse Cristo Cósmico a serem distribuídas para todos os outros Raios. Esse é o verdadeiro culto aos Sagrados Orixás, que não são criações imaginárias e mitologias tão comuns em determinadas culturas, fruto dos arquétipos individuais e coletivos. Os Orixás cultuados pela Umbanda são os Senhores do Cosmo, os Agentes Divinos ou Engenheiros Siderais que comungando com Deus assumem, em Seu Nome, a função de criar, manter e transformar o universo e, portanto, também o nosso Planeta em suas diversas dimensões, e mais ainda, são condutores da Vida Divina por meio das Qualidades ascensionais que reconduzem a humanidade de volta ao seio Divino. Cultuar Orixá não é apenas oferendá-los, mas, muito mais, é se deixar envolver pelas vibrações sagradas, caminhando pela estrada aberta por eles, em direção ao mais Alto, que são as Qualidades Divinas a serem exercitadas e vivenciadas. Falar de Oxalá é falar da vivência da Fé, da Religiosidade, da Devoção pura e amorosa a Deus. É a vivência do Mandamento Maior preconizado em todo o Livro Sagrado: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mat. 22,37). Essa é a Qualidade essencial e função específica do 1º Raio, trazida pelo Orixá Oxalá: levar a todos o caminho desse amor incondicional e confiante no Deus Amor e Pai. Banhado nesse amor e nessa religiosidade vêm os outros Orixás regendo os demais Raios com seus caminhos teologais: Iemanjá com a geração da vida que deve ser renovada e recriada constantemente em nós, fechando e abrindo novos ciclos na escada do aperfeiçoamento. Ogum e Ibeji, com os caminhos da Lei e da luta, da guerra contra nossos inimigos, que são nossos defeitos e imperfeições. Oxossi e Ossãe, com o livro da natureza nos apontando os caminhos do conhecimento pelo esclarecimento maior, pela arte, pela prosperidade (da-nos, hoje, o pão de cada dia). Xangô e Iansã nos caminhos da Justiça, do equilíbrio e da harmonia. Justiça misericordiosa e equilíbrio de nossas emoções. Oxum e Oxumare, nos caminhos do amor, da fraternidade, da relação sadia e equilibrada, purificada das sensações, sensualidade e paixões ilusórias e aprisionadoras. Obaluayê e Nanã nos caminhos da purificação e da sabedoria, decantando pelo carma as nossas vidas, transformando o mal que criamos no bem que existe em nós, como centelhas divinas. Os caminhos de Obaluayê no 7º Raio são os caminhos da cura física, como limpeza do mal, e da cura espiritual, despertando-nos, pelo Carma, lei de causa e efeito, para a grande realidade de nossa essência, que é a busca e o encontro do Divino. Esses Raios, regidos pelos Sagrados Orixás, nos levam à verdadeira caridade e sabedoria para vivenciarmos o segundo mandamento preceituado por Jesus, e que está atrelado ao primeiro, que é: “E o segundo mandamento, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mat. 22,39) Por tudo isso a Umbanda é religião, pois a sua função primordial é despertar em nosso ser as Leis Divinas já nelas esculpidas e abafadas pela matéria ilusória, instrumento de nossa individualização e aperfeiçoamento. A presença da imagem de Jesus nos Templos Umbandistas deve ser o sinal e a lembrança, para seus sacerdotes e médiuns, de que ali estão única e exclusivamente para se unirem ao “verdadeiro” trabalho dos “verdadeiros” Guias, que é a de apontar o Cristo, como único capaz de curar, salvar e consolar, fazendo com que todos os que busquem amparo nesses mesmos Templos possam escutar em seus corações as palavras do Senhor quando diz no Evangelho: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sob vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mat. 11,28-30). Pai Valdo (Sacerdote Dirigente do T. E. do Cruzeiro da Luz)
A TRISTEZA DOS ORIXÁS
Por Fernando Sepe Foi, não há muito tempo atrás, que essa história aconteceu. Contada aqui de uma forma romanceada, mas que trás em sua essência, uma verdadeira mensagem para os umbandistas... Ela começa em uma noite escura e assustadora, daquelas de arrepiar os pelos do corpo. Realmente o Sol tinha escondido – se nesse dia, e a Lua, tímida, teimava em não iluminar com seus encantadores raios, brilhosos como fios de prata, a morada dos Orixás. Nessa estranha noite, Ogum, o Orixá das “guerras”, saiu do alto ponto onde guarda todos os caminhos e dirigiu – se ao mar. Lá chegando, as sereias começaram a cantar e os seres aquáticos agitaram – se. Todos adoravam Ogum, ele era tão forte e corajoso. Iemanjá que tem nele um filho querido, logo abriu um sorriso, aqueles de mãe “coruja” quando revê um filho que há tempos partiu de sua casa, mas nunca de sua eterna morada dentro do coração: _ Ah Ogum, que saudade, já faz tanto tempo! Você podia vir visitar mais vezes sua mãe, não é mesmo? _ ralhou Iemanjá, com aquele tom típico de contrariedade. _Desculpe, sabe, ando meio ocupado_ Respondeu um triste Ogum. _Mas, o que aconteceu? Sinto que estás triste. _É, vim até aqui para “desabafar” com você “mãeinha”. Estou cansado! Estou cansado de muitas coisas que os encarnados fazem em meu nome. Estou cansado com o que eles fazem com a “ espada da Lei” que julgam carregar. Estou cansado de tanta demanda. Estou muito mais cansado das “supostas” demandas, que apenas existem dentro do íntimo de cada um deles...Estou cansado... Ogum retirou seu elmo, e por de trás de seu bonito capacete, um rosto belo e de traços fortes pôde ser visto. Ele chorava. Chorava uma dor que carregava há tempos. Chorava por ser tão mal compreendido pelos filhos de Umbanda. Chorava por ninguém entender, que se ele era daquele jeito, protetor e austero, era porque em seu peito a chama da compaixão brilhava. E, se existe um Orixá leal, fiel e companheiro, esse Orixá é Ogum. Ele daria a própria Vida, por cada pessoa da humanidade, não apenas pelos filhos de fé. Não! Ogum amava a humanidade, amava a Vida. Mas infelizmente suas atribuições não eram realmente entendidas. As pessoas não viam em sua espada, a força que corta as trevas do ego, e logo a transformavam em um instrumento de guerra. Não vinham nele a potência e a força de vencer os abismos profundos, que criam verdadeiros vales de trevas na alma de todos. Não vinham em sua lança, a direção que aponta para o autoconhecimento, para iluminação interna e eterna. Não! Infelizmente ele era entendido como o “Orixá da Guerra”, um homem impiedoso que utiliza – se de sua espada para resolver qualquer situação. E logo, inspirados por isso, lá iam os filhos de fé esquecer dos trabalhos de assistência a espíritos sofredores, a almas perdidas entre mundos, aos trabalhos de cura, esqueciam do amor e da compaixão, sentimentos básicos em qualquer trabalho espiritual, para apenas realizaram “quebras e cortes” de demandas, muitas das quais nem mesmo existem, ou quando existem, muitas vezes são apenas reflexos do próprio estado de espírito de cada um. E mais, normalmente, tudo isso torna – se uma guerra de vaidade, um show “pirotécnico” de forças ocultas. Muita “espada”, muito “tridente”, muitas “armas”, pouco coração, pensamento elevado e crescimento espiritual. Isso magoava Ogum. Como magoava: _ Ah, filhos de Umbanda, por que vocês esquecem que Umbanda é pura e simplesmente amor e caridade? A minha espada sempre protege o justo, o correto, aquele que trabalha pela luz, fiando seu coração em Olorum. Por que esquecem que a Espada da Lei só pode ser manuseada pela mão direita do amor, insistindo em empunhá - la com a mão esquerda da soberbia, do poder transitório, da ira, da ilusão, transformando – na em apenas mais uma espada semeadora de tormentos e destruição... Então, Ogum começou a retirar sua armadura, que representava a proteção e firmeza no caminho espiritual que esse Orixá traz para nossa vida. E totalmente nu ficou frente à Iemanjá. Cravou sua espada no solo. Não queria mais lutar, não daquele jeito. Estava cansado... Logo um estrondo foi ouvido e o querido, mas também temido Tatá Omulu apareceu. E por incrível que pareça o mesmo aconteceu. Ele não agüentava mais ser visto como uma divindade da peste e da magia negativa. Não entendia, como ele, o guardião da Vida podia ser invocado para atentar contra Ela. Magoava – se por sua alfange da morte, que é o princípio que a tudo destrói, para que então a mudança e a renovação aconteçam, ser tão temida e mal compreendida pelos homens. Ele também deixou sua alfange aos pés de Iemanjá, e retirou seu manto escuro como a noite. Logo via – se o mais lindo dos Orixás, aquele que usa uma cobertura para não cegar os seus filhos com a imensa luz de amor e paz que irradia – se de todo seu ser. A luz que cura, a luz que pacifica, aquela que recolhe todas as almas que perderam – se na senda do Criador. Infelizmente os filhos de fé esquecem disso... Mas o mais incrível estava por acontecer. Uma tempestade começou a desabar aumentando ainda mais o aspecto incrível e tenebroso daquela estranha noite. E todos os outros Orixás começaram a aparecer, para logo, começarem também a despir suas vestimentas sagradas, além de deixarem ao pé de Iemanjá suas armas e ferramentas simbólicas. Faziam isso em respeito a Ogum e Omulu, dois Orixás muito mal compreendidos pelos umbandistas. Faziam isso por si próprios. Iansã queria que as pessoas entendessem que seus ventos sagrados são o sopro de Olorum, que espalha as sementes de luz do seu amor. Oxossi queria ser reverenciado como aquele que, com flechas douradas de conhecimento, rasga as trevas da ignorância. Egunitá apagou seu fogo encantador, afinal, ninguém lembrava da chama que intensifica a fé e a espiritualidade. Apenas daquele que devora e destrói. Os vícios dos outros, é claro. Um a um, todos foram despindo – se e pensando quanto os filhos de Umbanda compreendiam erroneamente os Orixás. Iemanjá, totalmente surpresa e sem reação, não sabia o que fazer. Foi quando uma irônica gargalhada cortou o ambiente. Era Exu. O controvertido Orixá das encruzilhadas, o mensageiro, o guardião, também chegava para a reunião, acompanhado de Pombagira, sua companheira eterna de jornada. Mas os dois estavam muito diferentes de como normalmente apresentam – se. Andavam curvados, como que segurando um grande peso nas costas. Tinham na face, a expressão do cansaço. Mas, mesmo assim, gargalhavam muito. Eles nunca perdiam o senso de humor! E os dois também repetiram aquilo que todos os Orixás foram fazer na casa de Iemanjá. Despiram – se de tudo. Exu e Pombagira, sem dúvida, eram os que mais razões tinham de ali estarem. Inúmeros eram os absurdos cometidos por encarnados em nome deles. Sem contar o preconceito, que o próprio umbandista ajudou a criar, dentro da sociedade, associando – o a figura do Diabo: _Hahaha, lamentável essa situação, hahaha, lamentável! _ Exu chorava, mas Exu continuava a sorrir. Essa era a natureza desse querido Orixá. Iemanjá estava desesperada! Estavam todos lá, pedindo a ela um conforto. Mas nem mesmo a encantadora Rainha do Mar sabia o que fazer: Espere!_ pensou Iemanjá!_ Oxalá, Oxalá não está aqui! Ele com certeza saberá como resolver essa situação. E logo Iemanjá colocou – se em oração, pedindo a presença daquele que é o Rei entre os Orixás. Oxalá apresentou – se na frente de todos. Trazia seu opaxorô, o cajado que sustenta o mundo. Cravou ele na Terra, ao lado da espada de Ogum. Também despiu – se de sua roupa sagrada, pra igualar – se a todos, e sua voz ecoou pelos quatro cantos do Orun: _ Olorum manda uma mensagem a todos vocês meus irmãos queridos! Ele diz para que não desanimem, pois, se poucos realmente os compreendem, aqueles que assim o fazem, não medem esforços para disseminar essas verdades divinas. Fechem os olhos e vejam, que mesmo com muita tolice e bobagem relacionada e feita em nossos nomes, muita luz e amor também está sendo semeado, regado e colhido, por mãos de sérios e puros trabalhadores nesse às vezes triste, mas abençoado planeta Terra. Esses verdadeiros filhos de fé que lutam por uma Umbanda séria, sem os absurdos que por aí acontecem. Esses que muito além de “apenas” prestarem o socorro espiritual, plantam as sementes do amor dentro do coração de milhares de pessoas. Esses que passam por cima das dificuldades materiais, e das pressões espirituais, realizando um trabalho magnífico, atendendo milhares na matéria, mas também, milhões no astral, construindo verdadeiras “bases de luz” na crosta, onde a espiritualidade e religiosidade verdadeira irão manifestar-se. Esses que realmente nos compreendem e buscam – nos dentro do coração espiritual, pois é lá que o verdadeiro Orun reside e existe. Esses incríveis filhos de umbanda, que não colocam as responsabilidades da vida deles em nossas costas, mas sim, entendem que tudo depende exclusivamente deles mesmos. Esses fantásticos trabalhadores anônimos, soltos pelo Brasil, que honram e enchem a Umbanda de alegria, fazendo a filhinha mais nova de Olorum brilhar e sorrir... Quando Oxalá calou – se os Orixás estavam mudados. Todos eles tinham suas esperanças recuperadas, realmente viram que se poucos os compreendiam, grande era o trabalho que estava sendo realizado, e talvez, daqui algum tempo, muitos outros juntariam – se nesse ideal. E aquilo alegrou – os tanto que todos começaram a assumir suas verdadeiras formas, que são de luzes fulgurantes e indescritíveis. E lá, do plano celeste, brilharam e derramaram – se em amor e compaixão pela humanidade. Em Aruanda, os caboclos, pretos – velhos e crianças, o mesmo fizeram. Largaram tudo, também despiram – se e manifestaram sua essência de luz, sua humildade e sabedoria comungando a benção dos Orixás. Na Terra, baianos, marinheiros, boiadeiros, ciganos e todos os povos de Umbanda, sorriam. Aquelas luzes que vinham lá do alto os saudavam e abençoavam seus abnegados e difíceis trabalhos. Uma alegria e bem – aventurança incríveis invadiram seus corações. Largaram as armas. Apenas sorriam e abraçavam – se. O alto os abençoava... Mas, uma ação dos Orixás nunca fica limitada, pois é divina, alcançando assim, a tudo e a todos. E lá no baixo astral, aqueles guardiões e guardiãs da lei nas trevas também foram alcançados pelas luzes Deles, os Senhores do Alto. Largaram as armas, as capas, e lavaram suas sofridas almas com aquele banho de luz. Lavaram seus corações, magoados por tanta tolice dita e cometida em nome deles. Exus e Pombagiras, naquele dia foram tocados pelo amor dos Orixás, e com certeza, aquilo daria força para mais muitos milênios de lutas insaciáveis pela Luz. Miríades de espíritos foram retirados do baixo – astral, e pela vibração dos Orixás puderam ser encaminhados novamente à senda que leva ao Criador. E na matéria toda a humanidade foi abençoada. Aos tolos que pensam que Orixás pertencem a uma única religião ou a um povo e tradição, um alerta. Os Orixás amam a humanidade inteira, e por todos olham carinhosamente. Aquela noite que tinha tudo para ser uma das mais terríveis de todos os tempos, tornou – se benção na vida de todos. Do alto ao embaixo, da esquerda até a direita, as egrégoras de paz e luz deram as mãos e comungaram daquele presente celeste, vindo diretamente do Orun, a morada celestial dos Orixás. Vocês, filhos de Umbanda, pensem bem! Não transformem a Umbanda em um campo de guerra, onde os Orixás são vistos como “armas” para vocês acertarem suas contas terrenas. Muito menos esqueçam do amor e compaixão, chaves de acesso ao mistério de qualquer um deles. Umbanda é simples, é puro sentimento, alegria e razão. Lembrem – se disso. E quanto a todos aqueles, que lutam por uma Umbanda séria, esclarecida e verdadeira, independente da linha seguida, lembrem – se das palavras de Oxalá ditas linhas acima. Não desanimem com aqueles que vos criticam, não fraquejem por aqueles que não tem olhos para ver o brilho da verdadeira espiritualidade. Lembrem – se que vocês também inspiram e enchem os Orixás de alegria e esperança. A todos, que lutam pela Umbanda nessa Terra de Orixás, esse texto é dedicado. Honrem – los. Sejam luz, assim como Eles! Exe ê o babá (Salve o Pai Oxalá)
Por Fernando Sepe Foi, não há muito tempo atrás, que essa história aconteceu. Contada aqui de uma forma romanceada, mas que trás em sua essência, uma verdadeira mensagem para os umbandistas... Ela começa em uma noite escura e assustadora, daquelas de arrepiar os pelos do corpo. Realmente o Sol tinha escondido – se nesse dia, e a Lua, tímida, teimava em não iluminar com seus encantadores raios, brilhosos como fios de prata, a morada dos Orixás. Nessa estranha noite, Ogum, o Orixá das “guerras”, saiu do alto ponto onde guarda todos os caminhos e dirigiu – se ao mar. Lá chegando, as sereias começaram a cantar e os seres aquáticos agitaram – se. Todos adoravam Ogum, ele era tão forte e corajoso. Iemanjá que tem nele um filho querido, logo abriu um sorriso, aqueles de mãe “coruja” quando revê um filho que há tempos partiu de sua casa, mas nunca de sua eterna morada dentro do coração: _ Ah Ogum, que saudade, já faz tanto tempo! Você podia vir visitar mais vezes sua mãe, não é mesmo? _ ralhou Iemanjá, com aquele tom típico de contrariedade. _Desculpe, sabe, ando meio ocupado_ Respondeu um triste Ogum. _Mas, o que aconteceu? Sinto que estás triste. _É, vim até aqui para “desabafar” com você “mãeinha”. Estou cansado! Estou cansado de muitas coisas que os encarnados fazem em meu nome. Estou cansado com o que eles fazem com a “ espada da Lei” que julgam carregar. Estou cansado de tanta demanda. Estou muito mais cansado das “supostas” demandas, que apenas existem dentro do íntimo de cada um deles...Estou cansado... Ogum retirou seu elmo, e por de trás de seu bonito capacete, um rosto belo e de traços fortes pôde ser visto. Ele chorava. Chorava uma dor que carregava há tempos. Chorava por ser tão mal compreendido pelos filhos de Umbanda. Chorava por ninguém entender, que se ele era daquele jeito, protetor e austero, era porque em seu peito a chama da compaixão brilhava. E, se existe um Orixá leal, fiel e companheiro, esse Orixá é Ogum. Ele daria a própria Vida, por cada pessoa da humanidade, não apenas pelos filhos de fé. Não! Ogum amava a humanidade, amava a Vida. Mas infelizmente suas atribuições não eram realmente entendidas. As pessoas não viam em sua espada, a força que corta as trevas do ego, e logo a transformavam em um instrumento de guerra. Não vinham nele a potência e a força de vencer os abismos profundos, que criam verdadeiros vales de trevas na alma de todos. Não vinham em sua lança, a direção que aponta para o autoconhecimento, para iluminação interna e eterna. Não! Infelizmente ele era entendido como o “Orixá da Guerra”, um homem impiedoso que utiliza – se de sua espada para resolver qualquer situação. E logo, inspirados por isso, lá iam os filhos de fé esquecer dos trabalhos de assistência a espíritos sofredores, a almas perdidas entre mundos, aos trabalhos de cura, esqueciam do amor e da compaixão, sentimentos básicos em qualquer trabalho espiritual, para apenas realizaram “quebras e cortes” de demandas, muitas das quais nem mesmo existem, ou quando existem, muitas vezes são apenas reflexos do próprio estado de espírito de cada um. E mais, normalmente, tudo isso torna – se uma guerra de vaidade, um show “pirotécnico” de forças ocultas. Muita “espada”, muito “tridente”, muitas “armas”, pouco coração, pensamento elevado e crescimento espiritual. Isso magoava Ogum. Como magoava: _ Ah, filhos de Umbanda, por que vocês esquecem que Umbanda é pura e simplesmente amor e caridade? A minha espada sempre protege o justo, o correto, aquele que trabalha pela luz, fiando seu coração em Olorum. Por que esquecem que a Espada da Lei só pode ser manuseada pela mão direita do amor, insistindo em empunhá - la com a mão esquerda da soberbia, do poder transitório, da ira, da ilusão, transformando – na em apenas mais uma espada semeadora de tormentos e destruição... Então, Ogum começou a retirar sua armadura, que representava a proteção e firmeza no caminho espiritual que esse Orixá traz para nossa vida. E totalmente nu ficou frente à Iemanjá. Cravou sua espada no solo. Não queria mais lutar, não daquele jeito. Estava cansado... Logo um estrondo foi ouvido e o querido, mas também temido Tatá Omulu apareceu. E por incrível que pareça o mesmo aconteceu. Ele não agüentava mais ser visto como uma divindade da peste e da magia negativa. Não entendia, como ele, o guardião da Vida podia ser invocado para atentar contra Ela. Magoava – se por sua alfange da morte, que é o princípio que a tudo destrói, para que então a mudança e a renovação aconteçam, ser tão temida e mal compreendida pelos homens. Ele também deixou sua alfange aos pés de Iemanjá, e retirou seu manto escuro como a noite. Logo via – se o mais lindo dos Orixás, aquele que usa uma cobertura para não cegar os seus filhos com a imensa luz de amor e paz que irradia – se de todo seu ser. A luz que cura, a luz que pacifica, aquela que recolhe todas as almas que perderam – se na senda do Criador. Infelizmente os filhos de fé esquecem disso... Mas o mais incrível estava por acontecer. Uma tempestade começou a desabar aumentando ainda mais o aspecto incrível e tenebroso daquela estranha noite. E todos os outros Orixás começaram a aparecer, para logo, começarem também a despir suas vestimentas sagradas, além de deixarem ao pé de Iemanjá suas armas e ferramentas simbólicas. Faziam isso em respeito a Ogum e Omulu, dois Orixás muito mal compreendidos pelos umbandistas. Faziam isso por si próprios. Iansã queria que as pessoas entendessem que seus ventos sagrados são o sopro de Olorum, que espalha as sementes de luz do seu amor. Oxossi queria ser reverenciado como aquele que, com flechas douradas de conhecimento, rasga as trevas da ignorância. Egunitá apagou seu fogo encantador, afinal, ninguém lembrava da chama que intensifica a fé e a espiritualidade. Apenas daquele que devora e destrói. Os vícios dos outros, é claro. Um a um, todos foram despindo – se e pensando quanto os filhos de Umbanda compreendiam erroneamente os Orixás. Iemanjá, totalmente surpresa e sem reação, não sabia o que fazer. Foi quando uma irônica gargalhada cortou o ambiente. Era Exu. O controvertido Orixá das encruzilhadas, o mensageiro, o guardião, também chegava para a reunião, acompanhado de Pombagira, sua companheira eterna de jornada. Mas os dois estavam muito diferentes de como normalmente apresentam – se. Andavam curvados, como que segurando um grande peso nas costas. Tinham na face, a expressão do cansaço. Mas, mesmo assim, gargalhavam muito. Eles nunca perdiam o senso de humor! E os dois também repetiram aquilo que todos os Orixás foram fazer na casa de Iemanjá. Despiram – se de tudo. Exu e Pombagira, sem dúvida, eram os que mais razões tinham de ali estarem. Inúmeros eram os absurdos cometidos por encarnados em nome deles. Sem contar o preconceito, que o próprio umbandista ajudou a criar, dentro da sociedade, associando – o a figura do Diabo: _Hahaha, lamentável essa situação, hahaha, lamentável! _ Exu chorava, mas Exu continuava a sorrir. Essa era a natureza desse querido Orixá. Iemanjá estava desesperada! Estavam todos lá, pedindo a ela um conforto. Mas nem mesmo a encantadora Rainha do Mar sabia o que fazer: Espere!_ pensou Iemanjá!_ Oxalá, Oxalá não está aqui! Ele com certeza saberá como resolver essa situação. E logo Iemanjá colocou – se em oração, pedindo a presença daquele que é o Rei entre os Orixás. Oxalá apresentou – se na frente de todos. Trazia seu opaxorô, o cajado que sustenta o mundo. Cravou ele na Terra, ao lado da espada de Ogum. Também despiu – se de sua roupa sagrada, pra igualar – se a todos, e sua voz ecoou pelos quatro cantos do Orun: _ Olorum manda uma mensagem a todos vocês meus irmãos queridos! Ele diz para que não desanimem, pois, se poucos realmente os compreendem, aqueles que assim o fazem, não medem esforços para disseminar essas verdades divinas. Fechem os olhos e vejam, que mesmo com muita tolice e bobagem relacionada e feita em nossos nomes, muita luz e amor também está sendo semeado, regado e colhido, por mãos de sérios e puros trabalhadores nesse às vezes triste, mas abençoado planeta Terra. Esses verdadeiros filhos de fé que lutam por uma Umbanda séria, sem os absurdos que por aí acontecem. Esses que muito além de “apenas” prestarem o socorro espiritual, plantam as sementes do amor dentro do coração de milhares de pessoas. Esses que passam por cima das dificuldades materiais, e das pressões espirituais, realizando um trabalho magnífico, atendendo milhares na matéria, mas também, milhões no astral, construindo verdadeiras “bases de luz” na crosta, onde a espiritualidade e religiosidade verdadeira irão manifestar-se. Esses que realmente nos compreendem e buscam – nos dentro do coração espiritual, pois é lá que o verdadeiro Orun reside e existe. Esses incríveis filhos de umbanda, que não colocam as responsabilidades da vida deles em nossas costas, mas sim, entendem que tudo depende exclusivamente deles mesmos. Esses fantásticos trabalhadores anônimos, soltos pelo Brasil, que honram e enchem a Umbanda de alegria, fazendo a filhinha mais nova de Olorum brilhar e sorrir... Quando Oxalá calou – se os Orixás estavam mudados. Todos eles tinham suas esperanças recuperadas, realmente viram que se poucos os compreendiam, grande era o trabalho que estava sendo realizado, e talvez, daqui algum tempo, muitos outros juntariam – se nesse ideal. E aquilo alegrou – os tanto que todos começaram a assumir suas verdadeiras formas, que são de luzes fulgurantes e indescritíveis. E lá, do plano celeste, brilharam e derramaram – se em amor e compaixão pela humanidade. Em Aruanda, os caboclos, pretos – velhos e crianças, o mesmo fizeram. Largaram tudo, também despiram – se e manifestaram sua essência de luz, sua humildade e sabedoria comungando a benção dos Orixás. Na Terra, baianos, marinheiros, boiadeiros, ciganos e todos os povos de Umbanda, sorriam. Aquelas luzes que vinham lá do alto os saudavam e abençoavam seus abnegados e difíceis trabalhos. Uma alegria e bem – aventurança incríveis invadiram seus corações. Largaram as armas. Apenas sorriam e abraçavam – se. O alto os abençoava... Mas, uma ação dos Orixás nunca fica limitada, pois é divina, alcançando assim, a tudo e a todos. E lá no baixo astral, aqueles guardiões e guardiãs da lei nas trevas também foram alcançados pelas luzes Deles, os Senhores do Alto. Largaram as armas, as capas, e lavaram suas sofridas almas com aquele banho de luz. Lavaram seus corações, magoados por tanta tolice dita e cometida em nome deles. Exus e Pombagiras, naquele dia foram tocados pelo amor dos Orixás, e com certeza, aquilo daria força para mais muitos milênios de lutas insaciáveis pela Luz. Miríades de espíritos foram retirados do baixo – astral, e pela vibração dos Orixás puderam ser encaminhados novamente à senda que leva ao Criador. E na matéria toda a humanidade foi abençoada. Aos tolos que pensam que Orixás pertencem a uma única religião ou a um povo e tradição, um alerta. Os Orixás amam a humanidade inteira, e por todos olham carinhosamente. Aquela noite que tinha tudo para ser uma das mais terríveis de todos os tempos, tornou – se benção na vida de todos. Do alto ao embaixo, da esquerda até a direita, as egrégoras de paz e luz deram as mãos e comungaram daquele presente celeste, vindo diretamente do Orun, a morada celestial dos Orixás. Vocês, filhos de Umbanda, pensem bem! Não transformem a Umbanda em um campo de guerra, onde os Orixás são vistos como “armas” para vocês acertarem suas contas terrenas. Muito menos esqueçam do amor e compaixão, chaves de acesso ao mistério de qualquer um deles. Umbanda é simples, é puro sentimento, alegria e razão. Lembrem – se disso. E quanto a todos aqueles, que lutam por uma Umbanda séria, esclarecida e verdadeira, independente da linha seguida, lembrem – se das palavras de Oxalá ditas linhas acima. Não desanimem com aqueles que vos criticam, não fraquejem por aqueles que não tem olhos para ver o brilho da verdadeira espiritualidade. Lembrem – se que vocês também inspiram e enchem os Orixás de alegria e esperança. A todos, que lutam pela Umbanda nessa Terra de Orixás, esse texto é dedicado. Honrem – los. Sejam luz, assim como Eles! Exe ê o babá (Salve o Pai Oxalá)
DIVERSIDADE DE RITUAIS UMBANDISTAS
É muito comum ouvirmos de pessoas que não são umbandistas, que a umbanda é uma grande confusão. Algumas chegam a falar que a umbanda é “casa da mãe Joana”, onde cada um faz o que quer. Não conseguem entender o motivo de um Terreiro não utilizar atabaques enquanto outros utilizam; outros usam roupas coloridas enquanto outros usam somente o branco, outros não trabalham com exus, enquanto outros fazem questão de trabalharem, outros criticam com rigor o uso de sangue e sacrifícios de animais, enquanto outros utilizam estes elementos. Chamamos isto de Diversidade de Rituais. Quando iniciamos nossa caminhada na umbanda na década de setenta, tivemos oportunidade de visitarmos alguns terreiros e naquela época já percebemos a grande diferença existente entre os rituais de cada Terreiro. Infelizmente existia naquela época um grande preconceito, e eram comuns comentários de que determinada casa não era de umbanda, outros falavam que determinada casa era mais forte que a outra, o estudo era muito raro e na maioria das vezes desprezado pelos dirigentes. O tempo passou e por volta de 1997 começamos um trabalho de divulgação da umbanda pela internet através da lista de debates Saravá Umbanda. Foi a partir desta experiência que percebemos o grande preconceito existente entre os umbandistas. A Internet veio facilitar o contato, o estudo e a divulgação das várias formas de se trabalhar na umbanda. A diversidade de rituais era desconhecida por muitos, e tivemos oportunidade nestes 12 anos de presenciar terríveis disputas e choques entre umbandistas, cada um querendo afirmar que a “sua” umbanda era a verdadeira umbanda. Em alguns momentos as agressões chegavam ao extremo, passando de agressões verbais para processos judiciais. Com o passar do tempo e com o convívio nas listas, algumas pessoas passaram a entender que a umbanda, embora seja única, não possui uma única doutrina. Que não existe umbanda melhor ou mais forte que outra. Estas pessoas começaram então a respeitar e entender a diversidade de rituais existentes em nossa religião. Em 2006 criamos a RBU que atualmente possui mais de 10.300 integrantes (agosto/2009) e é com tristeza que continuamos a verificar que a grande maioria das pessoas ainda desconhece esta realidade de nossa religião. Este pequeno texto tem a finalidade de mostrar para as pessoas de uma maneira simples e racional como que entendemos a Diversidade de Rituais existentes na umbanda. O conteúdo deste texto é apresentado no curso de doutrina umbandista “Umbanda Os Sete Reinos Sagrados” que desenvolvemos de forma gratuita no Núcleo Mata Verde e agora através do portal EAD do Núcleo Mata Verde ( www.mataverde.org/ead ), no curso a distancia é cobrada uma pequena taxa para ajudar na manutenção do site. Qual a diferença entre a Umbanda e as demais religiões tradicionais? O que é uma estrutura piramidal hierárquica autoritária? Várias organizações possuem como forma de organização e comando uma estrutura autoritária (centralizadora). Podemos citar como exemplo, a Igreja Católica que segue rigidamente as orientações de Roma, do Vaticano e que possui no Papa o chefe da igreja. Outro exemplo é o dos militares (Forças Armadas), que possuem uma hierarquia rígida e um comando único. Podemos enquadrar dentro desta estrutura hierárquica autoritária aquelas religiões ou filosofias que possuem uma doutrina rígida. Normalmente seguem algum livro ou livros e possuem muita dificuldade em fazer qualquer alteração doutrinária em função do modelo hierárquico autoritário. Por exemplo, o “Espiritismo” (chamado popularmente de Kardecismo) No ápice da Pirâmide está a "doutrina", o Pentateuco Kardequiano, e que por condição dos próprios espíritos que apresentaram a doutrina, não pode ser alterado em hipótese alguma sem a “concordância universal dos espíritos”. A doutrina espírita é do século XIX ( 1857). Este autoritarismo doutrinário se reflete em várias situações. É do conhecimento público os vários autores espíritas que ficaram proibidos de publicarem suas obras por serem considerados “não doutrinários”. Espíritos foram taxados de enganadores e mistificadores e seus livros psicografados deixaram de ser considerados espíritas. Não vamos citar os nomes, mas basta realizarem uma pesquisa na Internet e encontrarão vários casos. O uso de recursos como cromoterapia, uso de cristais, incensos, banhos, equilíbrio dos chakras, magia, apometria, reiki, e muitos outros assuntos não são considerados “doutrinários”, portanto os Centros que utilizam alguns deste recursos não são casas espíritas, podendo no máximo serem chamados de centros espiritualistas. Estrutura em rede. O que é Estrutura em rede? Desde a década de 20, quando os ecologistas começaram a estudar teias alimentares,o padrão de rede foi reconhecido como o único padrão de organização comum a todos os sistemas vivos:"Sempre que olharmos para a vida, olhamos para redes" (Fritjof Capra - A Teia da Vida). As redes, basicamente descritas como conjuntos de itens conectados entre si são observadas em inúmeras situações, desde o nível subatômico até as mais complicadas estruturas sociais ou materiais concebidas pela humanidade. Átomos ligam-se a outros na formação de moléculas, seres vivos dependem de intrincadas redes de reações químicas e de interações protéicas. Vasos sangüíneos e neurônios formam redes essenciais para organismos complexos. Construções humanas como a distribuição de água, energia elétrica e telecomunicações podem ser vistas como redes, da mesma forma que estradas, rotas marítimas e aéreas, percursos feitos para entrega de bens e serviços. Relações sociais e negócios conectam pessoas e organizações segundo os mais variados padrões. Computadores, bancos de dados, páginas web, citações bibliográficas e tantos outros elementos compõem suas redes cotidianamente. Foi a partir destes conceitos que criamos a RBU – Rede Brasileira de Umbanda. ( www.rbu.com.br ) Todos sabem que a umbanda possui vários fundamentos, entre eles: Fundamentos Africanos, Espíritas, Católicos, Indígenas, Teosóficos, Hinduístas, etc... “A Umbanda é uma religião universalista”. Vamos voltar nossa atenção para a imagem acima. Fizemos um desenho de uma rede plana e para ilustrar o que foi dito acima incluímos somente quatro fundamentos básicos de nossa religião: Africano, Católico, Espírita e Indígena. Reparem que existem alguns “pontinhos” escuros nesta rede, são os “nós” da rede e que representam os diversos Terreiros de Umbanda existentes. Cada “nó” ou Terreiro tem um conjunto diferente de fundamentos, o que acaba refletindo no ritual seguido pelo Templo. Por exemplo: Terreiro (1) O Terreiro identificado por (1) tem uma forte influência Católica. São Terreiros que possuem no congá muitas imagens de Santos, Anjos, Arcanjos, Jesus, Espírito Santo, etc... É comum nestes Terreiros as procissões para São Jorge, Nossa Senhora Aparecida e demais Santos Católicos. Os Pontos Cantados sempre relacionam os Orixás aos Santos, e muitos chegam a afirmar que o Santo e o Orixá são a mesma coisa. As cerimônias são semelhantes aos da igreja católica: Batismo, Confirmação (Crisma), Casamento etc... Sempre lembrando as cerimônias católicas. Algumas casas não trabalham com Exú, algumas chegam a identificar o Exú ao demônio. Terreiro (2) O Terreiro identificado como (2) está bem próximo dos fundamentos africanos, isto significa que naquele Terreiro os rituais africanos estão presentes de forma significativa. São Terreiros de umbanda que tem uma forte influência do Candomblé e do Culto Omoloko, alguns cultuam os Orixás de forma bem próxima ao do Candomblé, oferecem animais, usam inclusive sangue em alguns rituais, alguns chegam a afirmar que não são cristãos. Possuem rituais como: borí, deitada, mão de pemba, mão de faca, etc.. Exú é cultuado como um Orixá. O uso dos atabaques é imprescindível. Terreiro (3) Os Terreiros identificados como (3) tem uma forte influência da doutrina espírita. A doutrina espírita é estudada pelos seus integrantes. Caboclos, Pretos Velhos, Baianos, Exús, etc... são considerados espíritos em evolução e que já estão libertos do ciclo reencarnatório. No congá não fazem uso do sincretismo religioso, ou seja, não existem imagens de Santos; normalmente Orixás são entendidos como espíritos de muita evolução, sendo considerados pura energia. Orixás nunca incorporam. De forma alguma aceitam o uso de sangue ou sacrifício de animais como oferenda para os Orixás. Nestes Terreiros utilizam somente roupa branca; rituais de origem africana são totalmente desconhecidos nestes Terreiros. Conceitos como mediunidade, passes, vibrações, obssessores são muito comuns. Em alguns os Caboclos e Pretos Velhos fazem uso do fumo. Terreiro (4) Nestes Terreiros a presença de rituais de origem indígena é muito forte. Normalmente Caboclos comandam todos os Trabalhos, é comum o uso de charutos para defumação ou pajelança. Em alguns os nomes utilizados internamente são de origem Tupy antigo, e valorizam muito a tradição indígena brasileira. Conclusão: Como podem verificar não esgotamos as possibilidades, os fundamentos existentes na umbanda são muitos e naturalmente que não se apresentam de forma única como descrevemos acima, eles se fundem em proporções diferentes e dão as características de cada Terreiro, a egrégora, a vida, o axé de cada casa. Não podemos de maneira alguma aceitar os absurdos que muitas vezes acabam na coluna policial dos jornais, mas precisamos neste momento em que existe uma grande intolerância para com a nossa religião nos unirmos e respeitarmos a maneira de trabalhar de cada Terreiro. Se estudarmos a história do Movimento Umbandista, verificaremos que embora os homens tenham insistido, durante vários anos, em enquadrar a Umbanda dentro de um sistema hierárquico autoritário (através de Federações, doutrinas, códigos etc...), ela sempre resistiu mantendo sua estrutura em rede. Precisamos entender que a Umbanda é uma religião nova, brasileira e que os Orixás nos presentearam com esta maravilhosa religião. Podemos afirmar categoricamente que a UMBANDA é uma religião do futuro. Uma religião que permite que cada um busque aquele Terreiro que fale mais alto ao seu coração sem deixar de ser umbandista. Se lembrarmos as palavras do Caboclo das 7 Encruzilhadas, veremos que os alicerces da Umbanda são a liberdade e a igualdade, gerando as mesmas oportunidades para todas as pessoas e espíritos virem trabalhar e evoluir. Manoel Lopes – Dirigente do Núcleo Mata Verde www.mataverde.org São Vicente, 30/08/2009
É muito comum ouvirmos de pessoas que não são umbandistas, que a umbanda é uma grande confusão. Algumas chegam a falar que a umbanda é “casa da mãe Joana”, onde cada um faz o que quer. Não conseguem entender o motivo de um Terreiro não utilizar atabaques enquanto outros utilizam; outros usam roupas coloridas enquanto outros usam somente o branco, outros não trabalham com exus, enquanto outros fazem questão de trabalharem, outros criticam com rigor o uso de sangue e sacrifícios de animais, enquanto outros utilizam estes elementos. Chamamos isto de Diversidade de Rituais. Quando iniciamos nossa caminhada na umbanda na década de setenta, tivemos oportunidade de visitarmos alguns terreiros e naquela época já percebemos a grande diferença existente entre os rituais de cada Terreiro. Infelizmente existia naquela época um grande preconceito, e eram comuns comentários de que determinada casa não era de umbanda, outros falavam que determinada casa era mais forte que a outra, o estudo era muito raro e na maioria das vezes desprezado pelos dirigentes. O tempo passou e por volta de 1997 começamos um trabalho de divulgação da umbanda pela internet através da lista de debates Saravá Umbanda. Foi a partir desta experiência que percebemos o grande preconceito existente entre os umbandistas. A Internet veio facilitar o contato, o estudo e a divulgação das várias formas de se trabalhar na umbanda. A diversidade de rituais era desconhecida por muitos, e tivemos oportunidade nestes 12 anos de presenciar terríveis disputas e choques entre umbandistas, cada um querendo afirmar que a “sua” umbanda era a verdadeira umbanda. Em alguns momentos as agressões chegavam ao extremo, passando de agressões verbais para processos judiciais. Com o passar do tempo e com o convívio nas listas, algumas pessoas passaram a entender que a umbanda, embora seja única, não possui uma única doutrina. Que não existe umbanda melhor ou mais forte que outra. Estas pessoas começaram então a respeitar e entender a diversidade de rituais existentes em nossa religião. Em 2006 criamos a RBU que atualmente possui mais de 10.300 integrantes (agosto/2009) e é com tristeza que continuamos a verificar que a grande maioria das pessoas ainda desconhece esta realidade de nossa religião. Este pequeno texto tem a finalidade de mostrar para as pessoas de uma maneira simples e racional como que entendemos a Diversidade de Rituais existentes na umbanda. O conteúdo deste texto é apresentado no curso de doutrina umbandista “Umbanda Os Sete Reinos Sagrados” que desenvolvemos de forma gratuita no Núcleo Mata Verde e agora através do portal EAD do Núcleo Mata Verde ( www.mataverde.org/ead ), no curso a distancia é cobrada uma pequena taxa para ajudar na manutenção do site. Qual a diferença entre a Umbanda e as demais religiões tradicionais? O que é uma estrutura piramidal hierárquica autoritária? Várias organizações possuem como forma de organização e comando uma estrutura autoritária (centralizadora). Podemos citar como exemplo, a Igreja Católica que segue rigidamente as orientações de Roma, do Vaticano e que possui no Papa o chefe da igreja. Outro exemplo é o dos militares (Forças Armadas), que possuem uma hierarquia rígida e um comando único. Podemos enquadrar dentro desta estrutura hierárquica autoritária aquelas religiões ou filosofias que possuem uma doutrina rígida. Normalmente seguem algum livro ou livros e possuem muita dificuldade em fazer qualquer alteração doutrinária em função do modelo hierárquico autoritário. Por exemplo, o “Espiritismo” (chamado popularmente de Kardecismo) No ápice da Pirâmide está a "doutrina", o Pentateuco Kardequiano, e que por condição dos próprios espíritos que apresentaram a doutrina, não pode ser alterado em hipótese alguma sem a “concordância universal dos espíritos”. A doutrina espírita é do século XIX ( 1857). Este autoritarismo doutrinário se reflete em várias situações. É do conhecimento público os vários autores espíritas que ficaram proibidos de publicarem suas obras por serem considerados “não doutrinários”. Espíritos foram taxados de enganadores e mistificadores e seus livros psicografados deixaram de ser considerados espíritas. Não vamos citar os nomes, mas basta realizarem uma pesquisa na Internet e encontrarão vários casos. O uso de recursos como cromoterapia, uso de cristais, incensos, banhos, equilíbrio dos chakras, magia, apometria, reiki, e muitos outros assuntos não são considerados “doutrinários”, portanto os Centros que utilizam alguns deste recursos não são casas espíritas, podendo no máximo serem chamados de centros espiritualistas. Estrutura em rede. O que é Estrutura em rede? Desde a década de 20, quando os ecologistas começaram a estudar teias alimentares,o padrão de rede foi reconhecido como o único padrão de organização comum a todos os sistemas vivos:"Sempre que olharmos para a vida, olhamos para redes" (Fritjof Capra - A Teia da Vida). As redes, basicamente descritas como conjuntos de itens conectados entre si são observadas em inúmeras situações, desde o nível subatômico até as mais complicadas estruturas sociais ou materiais concebidas pela humanidade. Átomos ligam-se a outros na formação de moléculas, seres vivos dependem de intrincadas redes de reações químicas e de interações protéicas. Vasos sangüíneos e neurônios formam redes essenciais para organismos complexos. Construções humanas como a distribuição de água, energia elétrica e telecomunicações podem ser vistas como redes, da mesma forma que estradas, rotas marítimas e aéreas, percursos feitos para entrega de bens e serviços. Relações sociais e negócios conectam pessoas e organizações segundo os mais variados padrões. Computadores, bancos de dados, páginas web, citações bibliográficas e tantos outros elementos compõem suas redes cotidianamente. Foi a partir destes conceitos que criamos a RBU – Rede Brasileira de Umbanda. ( www.rbu.com.br ) Todos sabem que a umbanda possui vários fundamentos, entre eles: Fundamentos Africanos, Espíritas, Católicos, Indígenas, Teosóficos, Hinduístas, etc... “A Umbanda é uma religião universalista”. Vamos voltar nossa atenção para a imagem acima. Fizemos um desenho de uma rede plana e para ilustrar o que foi dito acima incluímos somente quatro fundamentos básicos de nossa religião: Africano, Católico, Espírita e Indígena. Reparem que existem alguns “pontinhos” escuros nesta rede, são os “nós” da rede e que representam os diversos Terreiros de Umbanda existentes. Cada “nó” ou Terreiro tem um conjunto diferente de fundamentos, o que acaba refletindo no ritual seguido pelo Templo. Por exemplo: Terreiro (1) O Terreiro identificado por (1) tem uma forte influência Católica. São Terreiros que possuem no congá muitas imagens de Santos, Anjos, Arcanjos, Jesus, Espírito Santo, etc... É comum nestes Terreiros as procissões para São Jorge, Nossa Senhora Aparecida e demais Santos Católicos. Os Pontos Cantados sempre relacionam os Orixás aos Santos, e muitos chegam a afirmar que o Santo e o Orixá são a mesma coisa. As cerimônias são semelhantes aos da igreja católica: Batismo, Confirmação (Crisma), Casamento etc... Sempre lembrando as cerimônias católicas. Algumas casas não trabalham com Exú, algumas chegam a identificar o Exú ao demônio. Terreiro (2) O Terreiro identificado como (2) está bem próximo dos fundamentos africanos, isto significa que naquele Terreiro os rituais africanos estão presentes de forma significativa. São Terreiros de umbanda que tem uma forte influência do Candomblé e do Culto Omoloko, alguns cultuam os Orixás de forma bem próxima ao do Candomblé, oferecem animais, usam inclusive sangue em alguns rituais, alguns chegam a afirmar que não são cristãos. Possuem rituais como: borí, deitada, mão de pemba, mão de faca, etc.. Exú é cultuado como um Orixá. O uso dos atabaques é imprescindível. Terreiro (3) Os Terreiros identificados como (3) tem uma forte influência da doutrina espírita. A doutrina espírita é estudada pelos seus integrantes. Caboclos, Pretos Velhos, Baianos, Exús, etc... são considerados espíritos em evolução e que já estão libertos do ciclo reencarnatório. No congá não fazem uso do sincretismo religioso, ou seja, não existem imagens de Santos; normalmente Orixás são entendidos como espíritos de muita evolução, sendo considerados pura energia. Orixás nunca incorporam. De forma alguma aceitam o uso de sangue ou sacrifício de animais como oferenda para os Orixás. Nestes Terreiros utilizam somente roupa branca; rituais de origem africana são totalmente desconhecidos nestes Terreiros. Conceitos como mediunidade, passes, vibrações, obssessores são muito comuns. Em alguns os Caboclos e Pretos Velhos fazem uso do fumo. Terreiro (4) Nestes Terreiros a presença de rituais de origem indígena é muito forte. Normalmente Caboclos comandam todos os Trabalhos, é comum o uso de charutos para defumação ou pajelança. Em alguns os nomes utilizados internamente são de origem Tupy antigo, e valorizam muito a tradição indígena brasileira. Conclusão: Como podem verificar não esgotamos as possibilidades, os fundamentos existentes na umbanda são muitos e naturalmente que não se apresentam de forma única como descrevemos acima, eles se fundem em proporções diferentes e dão as características de cada Terreiro, a egrégora, a vida, o axé de cada casa. Não podemos de maneira alguma aceitar os absurdos que muitas vezes acabam na coluna policial dos jornais, mas precisamos neste momento em que existe uma grande intolerância para com a nossa religião nos unirmos e respeitarmos a maneira de trabalhar de cada Terreiro. Se estudarmos a história do Movimento Umbandista, verificaremos que embora os homens tenham insistido, durante vários anos, em enquadrar a Umbanda dentro de um sistema hierárquico autoritário (através de Federações, doutrinas, códigos etc...), ela sempre resistiu mantendo sua estrutura em rede. Precisamos entender que a Umbanda é uma religião nova, brasileira e que os Orixás nos presentearam com esta maravilhosa religião. Podemos afirmar categoricamente que a UMBANDA é uma religião do futuro. Uma religião que permite que cada um busque aquele Terreiro que fale mais alto ao seu coração sem deixar de ser umbandista. Se lembrarmos as palavras do Caboclo das 7 Encruzilhadas, veremos que os alicerces da Umbanda são a liberdade e a igualdade, gerando as mesmas oportunidades para todas as pessoas e espíritos virem trabalhar e evoluir. Manoel Lopes – Dirigente do Núcleo Mata Verde www.mataverde.org São Vicente, 30/08/2009
MEDIUNIDA
DE E A EVOLUÇÃO DO PSIQUISMO
Fonte: Revista "Presença Espírita", jan./fev.de 1994 Dr. Jorge Andrea
A dinâmica mediúnica revela um estado alterado de consciência; portanto, um autêntico estado de transe. Transes existem de vaiada natureza, razão porque devemos estar atentos para as devidas distinções e avaliações. Assim é que podemos presenciar os transes ligados a ausência de oxigênio no sangue (anóxia), as doses oscilantes de glicose no sangue comuns dos diabéticos, além de outros transes causados por distúrbios metabólicos. Também substâncias farmacológicas, tais como álcool, drogas diversas (cocaína, maconha, heroína, etc.) são desencadeadoras de tal processo. Ainda mais, estão inclusos nestes parâmetros o transe hipnótico e aqueles observados nas distonias mentais(epilepsia, histeria, etc.). O transe mediúnico, por ser condição fisiológica e absolutamente hígida, ou seja, saudável, necessita de avaliações e apreciações cuidadosas, a fim de não ser confundido com outros setores, principalmente o patológico, aliás o que já deu margem a intensos desencontros. A dinâmica mediúnica, por se desenvolver em vários setores do psiquismo humano, é fenômeno de extrema complexidade, onde muitas nuanças nos escapam. ‘Quando a entidade espiritual procura comunicar-se com a organização psíquica do médium, ambos em sintonia buscam entrosamento. De um lado, o Espírito (vontade-apelo), do outro, o médium (vontade-resposta), a fim de que o mecanismo de ideação possa desencadear-se, nos diz André Luiz. Inicialmente os campos de entrosamento se fazem através das respectivas zonas perispirituais - irradiações perispirituais do Espírito e recepção perispiritual do médium - que, assim enredados, dirigem-se aos campos físicos do receptor para as devidas elaborações psicológicas. Dessa forma, haverá necessidade de transformações nos respectivos campos do psiquismo. As energias vindas da dimensão hiperfísica (campos perispirituais) sofrerão transformações no psiquismo do médium, a fim de que o processo intelectivo se instale fornecendo a informação - mensagem. Ante as informações espirituais, principalmente de A. Luiz, e os estudos realizados em França pelo dr. Thiebault, a glândula pineal está sendo novamente reconhecida como elemento valoroso nos processos nobres do psiquismo. Não seria apenas uma glândula passageira a controlar o sexo nos primeiros anos de vida, com posterior apagamento funcional, mas uma unidade endócrina de grande valor a responder por autêntico campo de filtragem, onde os dígitos de características perispirituais (dimensão hiperfísica) fossem transformados e adaptados para as recepções neuroniais da base cerebral(tálamo e hipotálamo). Daí as impulsões seriam direcionadas para a região cortical onde a intelecção se processará, proporcionando condições para o nosso entendimento intelectual. É bem possível que as coisas se passem dessa forma, acompanhando processos sutis, e ainda não definidos, de neurotransmissão. Assim, a impulsão perispiritual da entidade perispiritual, captada pelo perispírito do médium, em acoplagem de mútua aceitação, passaria aos campos físicos da intelecção, após processo de seleção e autocrítica realizado nos campos perispirituais do médium ou zona inconsciente. Este processo seletivo e auto-crítico estaria relacionado ao grau de moralização do médium, cuja elaboração se faria, compreensivelmente, sem a análise ou conhecimento da zona consciente. É como se fora um mecanismo de automatismo inconsciente. O médium moralizado e ajustado jamais deixará passar a mensagem em termos grosseiros e agressivos. As retificações serão elaboradas sem modificações da essência das mensagens, porém demonstrando o "colorido" do médium. Não haveria inserções anímicas do próprio médium, mas uma filtragem de ajuste a demonstrar as características[ individuais que o receptor possui. As mais perfeitas e ajustadas mensagens, sempre mostram o "selo" da máquina onde foram operadas. Com isso, jamais queremos dizer que o fenômeno autêntico seja combinado com fatores anímicos do médium, embora existindo mensagens que demonstram tais condições. Isso vem mostrar a importância do estudo da Doutrina Espírita, por ter sido quem melhor elaborou as condições de exercício da mediunidade, como um dos adequados caminhos de evolução psicológica. Exercício de mediunidade será o constante impulso de aperfeiçoamento a buscar todas as angulações no bem. Nessa síntese, tentativa de descrição do fenômeno mediúnico, conhecido, comumente, como sendo mediunidade de incorporação (termo inadequado), são imensas e incontáveis as variações que, por sua vez, estariam atadas aos biótipo psicológicos de cada ser. Conforme as zonas dos centros corticais(no cérebro) que fossem mais solicitados, teríamos as variações mediúnicas refletidas nas conhecidas psicografias, psicofonias (zonas da linguagem), vidência(centro visuais) e tantas outras modalidades onde as ativações de locais específicos se mostrem mais contundentes. Como não existem, no panorama da vida, posições estáticas, a dinâmica mediúnica avança em constante desenvolvimento, onde o processo de incorporação em suas variedades - consciente, semiconsciente e inconsciente - estarão na dependência da solicitação e dominância do comunicante (entidade espiritual). Desse modo, o processo mediúnico vai sendo como que, a pouco e pouco, substituído, sem apagamento definitivo, por mecanismo em que o próprio médium tem uma atuação mais dominante e efetiva. Na mediunidade de incorporação, a irradiação da entidade espiritual que se comunica é bem mais ativa do que a posição do médium, que se torna mais passiva. Esta condição pode ser denominada de mediunidade receptiva - o médium com sua passividade recebe o que lhe é imposto pelo comunicante. No segundo caso, onde o médium exerceria, pela sua vontade, uma espécie de procura sobre as condições dos seus porquês, ele impõe, mesmo de modo inconsciente, forte carga afetiva-emocional, o que propiciaria alargamento e ampliação de suas antenas mediúnicas (campo de irradiação perispiritual). Com isso, passaria a trafegar nas correntes superiores de pensamento, buscando idéias mais precisas na definição das suas inquirições. Neste caso, teríamos a outra variedade mediúnica que poderíamos chamar de mediunidade captativa. A região cerebral mais adequada a tal cometimento seria a dos lobos frontais, onde centros nervosos específicos devem existir em virtude de suas apuradas funções, ao lado da ajuda e ativação do hemisfério cerebral direito; enquanto que, no outro tipo mediúnico(processo receptivo), as zonas do centro cerebral seriam as mais solicitadas. No mecanismo receptivo prepondera o processo analítico, no mecanismo captativo o processo sintético; no receptivo, portanto, o intelecto, no captativo a intuição. Hoje temos como assertiva que o lado esquerdo do cérebro, onde existem os centros de linguagem, é região da programação racional, dos fatos analíticos que compõem o nosso dia-a-dia da pesquisa intelectiva. O lado direito do cérebro estaria ligado aos processos criativos, imaginativos, aos dons artísticos e todos os componentes da intuição. Desse modo, o fator evolutivo que acompanha a vida na sua eterna busca do Infinito também estaria presente na dinâmica mediúnica, onde a variedade denominada incorporação, de características analíticas, iria avançando para uma posição mais abrangente de totalidade, de síntese, a desembocar nos fatores da intuição. Será bem lógico de compreender-se que os degraus evolutivos terão de ser experienciados, e que não se pode ter as antenas da intuição ativadas e bem ajustadas se não houver passagem pelos degraus das posições analíticas que, por sua vez, em esgotando os potenciais por maturação de vivências, despertariam no degrau superior, onde a intuição mostra uma nova gleba a ser trabalhada e elaborada. A mediunidade que vem acompanhando o homem, através das conhecidas civilizações se irá beneficiando dos imensos fatores aquisitivos, reconhecidos no dia-a-dia pelas pesquisas da ciência e da filosofia. Esta última, por sua vez, oferece no desfile dos pensamentos as condições éticas para um estado de religiosidade. Assim, o homem inquieto dos dias presentes, na busca de seu próprio estado de religiosidade, não mais atende moldes religiosos constituídos de aparatos externos, mas, sim, a busca de um Deus na intimidade de sua própria consciência.
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