Caminho longo e porta estreita
Trazemos estas reflexões neste dia de hoje, a fim de nos fazer
pensar a respeito de nossas escolhas, das propostas de vida
que afirmamos trilhar e encarar, dos trajetos que necessitaremos trilhar
para alcançar nossos objetivos espirituais ou não.
A frente de uma novidade em nossas vidas, de uma notícia otimista
e de resultados salutares e benéficos na vida de outrem, muitas vezes
decidimos que iremos seguir em determinada jornada, gritamos para
Deus e o mundo que é aquilo que queremos, contamos para todos
aqueles que julgamos e não julgamos importantes em nossas vidas,
e assim começamos nossas jornadas, ou deveríamos.
Com muita empolgação e entusiasmo apontamos novas tarefas para nós,
classificamos ações, pessoas e situações que devem surgir em nossos
caminhos, mas na maioria das vezes é somente fogo de palha. Sim,
chama rápida, que no meio da escuridão pode até marcar aos olhos,
mas que não aquece o frio da alma, não ilumina a consciência e não
representa poder de realização. Queremos, sonhamos, idealizamos mas
não sai do papel, pois pra isso é necessária ação.
Como já dizia um amigo espiritual, "movimentação não significa trabalho".
A questão aqui não é criticar boas idéias que surgem em nossas mentes,
não é nos fazer achar que sentir-se entusiasmado e empolgado é ruim,
pois é muito bom, o detalhe é somente que, devemos, antes de fazer uma
série de especulações, antes de afirmar externamente elas, devemos
pensar no que elas implicam em nossas vidas, no que elas representam
para o nosso mundinho.
Acreditamos que algumas perguntas podem nos ajudar, tais como:
"Eu quero mesmo fazer isso?"; "Isso tudo é para que eu sinta ou para
que os outros vejam?"; "O que terei que sacrificar para isso?"; "Na
minha opinião, estes sacrifícios valem a pena para o determinado fim?".
Seja em qualquer âmbito que decidimos mudar nossas vidas para melhor,
sermos mais felizes conosco e com nossas atividades, necessitamos
realizar a "morte do homem velho", ou seja, abrir mão dos hábitos que
impedem ou prejudicam nosso objetivo, e vivenciar o "nascimento do
homem novo", onde seria o momento que alcançamos e
experimentamos aquilo que decidimos realizar.
Quando se trata de mudanças em âmbito emocional e espiritual,
isto se torna bem nítido, onde se começa a busca pela bendita e
idealizada "Reforma Íntima". Esse caminho SEMPRE será estreito,
SERÁ longo, DARÁ trabalho, mas não precisa ser um martírio, uma
tortura. Nós, que pela falta de coerência em nossas vidas, o tornamos
um tormento, onde insistimos em manter os mesmos hábitos, a mesma
metodologia de vida, para alcançar um fim, um objetivo, um resultado
diferente do qual já estamos cansados de obter. Ou será que estamos mesmo?
Uma frase que nos marcou muito, dita por um amigo e irmão de caminhada,
nos fala que "Para subir a montanha é necessário deixar o bosque".
Pode-se interpretar essa afirmativa de diversas maneiras, mas de
uma forma bem simples, vemos o bosque como nossa zona de conforto,
e a montanha o nosso objetivo.
Não se chega a montanha sem sair do bosque, muito menos ela irá vir
até nós por somente "namorar" a mesma. Que coloquemos nossa
mochila em nossas costas, que avisemos aqueles queridos que se
encontram no bosque conosco que estamos de partida, e que se
quiserem andar ao nosso lado são muito bem vindos, mas se não,
que pena, nos vemos adiante, e caminhemos!
Pra fazer essa caminhada é necessário despedidas, é necessário
abnegação. Não terá como caminhar para a montanha, e começar
a namorar o bosque, ou vez ou outra, querer fazer uma visitinha
"ao velho bosque". Ou se vai ao bosque, ou se vai à montanha.
Nesse momento, acreditamos que nada melhor do que uma passagem
bíblica, seguida de uma poesia para concluir essa reflexão.
"Todas as coisas me são lícitas, porém nem todas me convém. Todas
as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma
delas." (Paulo, 1 Coríntios 6:12)
"Vem por aqui — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí... Se vim ao mundo, foi
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí... Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"(José Régio - Cântico Negro)
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"(José Régio - Cântico Negro)
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