quinta-feira, 25 de agosto de 2016

TIPOS DE UMBANDA



TIPOS DE UMBANDA

•  Umbanda Branca: O termo pode ter surgido da definição de Linha Branca de Umbanda usada por Leal de Souza e adotada por tantos outros. A idéia era de que a Umbanda era uma “Linha” do Espiritismo ou uma forma de praticar Espiritismo, na qual a Linha Branca se divide em outras Sete Linhas. Ao afirmar a Umbanda como  Branca  subentende-se  muitas  coisas,  entre  elas que  possa  haver  outras  umbandas,  de  outras  cores  e “sabores”. Mas a questão de ser branca está muito mais ligada ao fato de associar ao que é “claro”, “limpo”, “leve” ou simplesmente ausente do “preto”, “escuro” ou “negro” – há um preconceito subentendido – afinal é uma Umbanda mais “branca” que “negra”, mais européia que afro e,  porque não, mais Espírita. Geralmente usa-se esta qualificação, “Umbanda Branca”, para definir trabalhos de Umbanda com a ausência do que chamamos de “Linha da Esquerda”, para Leal de Souza uma “Linha Negra”. Ainda hoje muitos se identificam desta forma e geralmente o usam como um “recurso” para “livrar-se” do preconceito de outros... como a dizer: Sou Umbandista, mas da Umbanda Branca – como quem afirma pertencer à “Umbanda boa”. Não há uma “Umbanda Negra” ou uma “Umbanda Ruim”, toda Umbanda é Boa. 

•  Umbanda  Pura:  Ao  propor  o  Primeiro  Congresso  de  Umbanda  em  1941  o  grupo  que assumiu  esta responsabilidade esperava apresentar uma “Umbanda Pura” (“desafricanizada” e “orientalizada”), praticada pela classe média no Rio de Janeiro. É a Umbanda praticada pelo “grupo fundador da Umbanda”  ou simplesmente  o  grupo  intelectual  carioca  que  lutou  pela legitimação  da  Umbanda,  criando  a  Primeira Federação  Espírita  de  Umbanda  do Brasil,   Primeiro  Congresso  Brasileiro  do  Espiritismo  de  Umbanda  e  o Primeiro Jornal de Umbanda. Este grupo pretendia uma “codificação” da Umbanda em seu estado mais puro de ser. Embora a idéia de uma “Religião Pura” sempre será algo a ser questionado, independente de qual tradição lhe  tenha  dado  origem.  Do  ponto  de  vista  Histórico,  Sociológico,  Antropológico  e até  Filosófico,  não  há “Religião Pura”. Por trás de uma cultura sempre há outras culturas que lhe deram origem, sucessivamente desde que o Homem é homo sapiens também é homo religiosus. O Antropólogo Arthur Ramos afirma que: “As formas mais adiantadas de religião, mesmo entre os povos mais cultos, não existem em estado puro. Ao lado da religião oficial, há outras atividades subterrâneas...”.  E o já citado Historiador das Religiões, Mircea Eliade, afirma: “Mas nunca será demais repetir que não há a menor probabilidade de se encontrar, em parte alguma do mundo ou da história, um fenômeno religioso ‘puro’ e perfeitamente ‘original’.” “Nenhuma religião é inteiramente ‘nova’, nenhuma mensagem religiosa elimina completamente o passado; trata-se,  antes,  de reorganização, renovação, revalorização, integração de elementos – e dos mais essenciais! – de uma tradição religiosa imemorial.”  

•  Umbanda Popular: É a prática da religião de Umbanda sem muito conhecimento de causa, sem estudo ou interesse em entender seus fundamentos. É uma forma de religiosidade na qual vale apenas o que é dito e ensinado de forma direta pelos espíritos. O único conhecimento válido é o que veio de forma direta em seu próprio ambiente ritualístico. Não se costuma fazer referências a outras filosofias ou justificar suas práticas de forma “intelectualizada”. Eximindo-se  de  auto explicar-se  reforçam  a  característica  mística  da  religião,  em que, independente de “racionalizações” a prática se sustenta devido à quantidade de resultados positivos alcançados.  Podemos  dizer  que  os  adeptos  muitas  vezes  não  sabem  ou  têm  certeza  de como  as  coisas funcionam,  mas  sabem  que  funcionam.  É  aqui  que  muitas  vezes  nos deparamos  com  médiuns  que  afirmam, sobre  a  Umbanda,  que  não  sabem  de  nada  o que  estão  fazendo,  mas  que  seus  guias  espirituais  (caboclo  e outros) sabem e isto lhes basta. Outrora, alguns, afirmam que médium não pode saber de nada de Umbanda para  não mistificar.  Muitos  caem  na  armadilha  do  tempo,  em  que  jovem  de  outrora  agora  já sabe  de  muita coisa que finge não saber para manter esta idéia de que nada deve saber. Enfim para nós que acreditamos no estudo dentro da religião é muito difícil abordar um seguimento que não se interesse pela leitura, embora se deva reconhecer, para não incorrer ao erro, que muitos estudam e conhecem muito das realidades espirituais que nos cercam e ainda assim preferem manter-se junto a uma forma pura de contato espiritual. 

•  Umbanda Tradicional: Esta qualificação serve tanto para identificar a “Umbanda Branca”, “Umbanda Pura” ou “Umbanda Popular”. Que são as formas mais antigas, mais conhecidas e mais populares de praticar Umbanda, muito embora este perfil esteja mudando. Creio que hoje os terreiros que se adaptaram para uma linguagem mais jovem,  mais intelectualizada e racional estão em franco crescimento,  na medida em que no local de desinformação e/ou bagunça a Umbanda ainda vai secar. E neste mesmo solo vai ressurgir, nas novas gerações, que quando crianças, em algum momento, visitaram um terreiro. Estas crianças de ontem, adultos de  hoje,  podem  nos  dizer  o  quanto  foi  importante  o  trabalho  da  linha  das  crianças  para a  multiplicação da religião.  Tantos  se  perguntam  como  criar cursos para as crianças na Umbanda, como um “catecismo” de Umbanda, ou umbanda para crianças, preocupados em como preparar e ensinar religião a nossos filhos. Se os terreiros mantivessem um trabalho periódico com a incorporação das crianças, bastava que este se torne o dia de  nossos  filhos  na Umbanda,  e  que  nesse  dia  nossos  filhos  aprenderiam  sobre  Umbanda  direto com  estas entidades. A curiosidade levaria nossos filhos a questionar e querer aprender mais sobre a Religião... Portanto, a idéia de estudar Umbanda está na base de crescimento e multiplicação da mesma. 

•  Umbanda  Esotérica  ou  Iniciática:  É  uma  forma  de  praticar  a  Umbanda  estudando  os fundamentos ocultos, conhecidos apenas dos antigos sacerdotes egípcios, hindus, maias, incas, astecas etc. O conhecimento esotérico, ou seja, fechado e oculto dos arcanos sagrados, é desvelado por meio de iniciações. 

•  Umbanda Trançada, Mista e Omolocô: São nomes usados para identificar uma Umbanda praticada com influência maior dos Cultos de Nação ou do Candomblé Brasileiro onde se combina os fundamentos e preceitos oriundos  das  culturas  africanas  com  as  entidades  de Umbanda. Podem-se  ter  os  tradicionais  rituais  de Camarinha,  Bori,  Ebós  e  oferenda animais  com  seus  respectivos  sacrifícios.  Muitos  chamam  esta  variação  de Umbandomblé

•   Umbanda  de  Caboclo:  É  uma  variação  de  Umbanda  onde  prevalece  a  presença  do caboclo,  muitas vezes acreditando que a Umbanda é antes de tudo a prática dos índios brasileiros revista pela cultura moderna e doutrinada com conceitos que foram sendo absorvidos com o tempo. •  Umbanda de Jurema: No nordeste existe um culto popular chamado Catimbó ou Linha dos Mestres da Jurema,  que  combina  a  cultura  indígena  com  a  cultura católica,  somando  valores  da  magia europeia e  de quando  em vez  algo  da  cultura  afro.  O principal  fundamento  é  o  uso  da  Jurema  Sagrada,  como  bebida  e também misturada no fumo, que vai ao fornilho do tradicional cachimbo, também chamado de “marca”, feito de Jurema ou Angico. As entidades que se manifestam são chamadas de Mestres e da Jurema. Umbanda herdou a  manifestação  do  Mestre  Zé  Pelintra,  que  pode  vir  como  Exu,  Baiano, Preto-Velho  ou  Malandro.  Quando  se combinam os  fundamentos  de  Umbanda  e  Catimbó temos  esta  modalidade,  que  pode  ser  uma  Umbanda regional de Pernambuco ou praticada de forma intencional pelo umbandista que se interessou pela Jurema e descobriu a Linha de Mestres dentro de sua Umbanda.

•  Umbandaime: O Santo Daime é uma religião nativa do Amazonas, é uma variação da Ayuasca, que é um  chá  preparado  com  duas  ervas  de  poder,  o  cipó  Mariri  e  a  folha  da Chacrona.  De  tanto  ter  visões  de entidades de Umbanda e Orixás em rituais do Daime é que alguns grupos de umbandistas passaram a praticar Umbandaime, ou seja, trabalhos de Umbanda ingerindo o Daime ou rituais de Ayuasca, para se comunicar com as entidades de Umbanda. A Umbanda em si não tem em seus fundamentos o uso de bebidas enteógenas, além dos  tradicionais  café, cerveja, vinho, “pinga”, batida de coco e outros que servem apenas como “curiador” (elemento  usado  para  potencializar  alguma  ação  espiritual  ou  magística),  cada linha  de  trabalho  tem  sua “bebida-curiadora”, no entanto nem a bebida nem o fumo são carregados  de  erva  que  induza  o  estado  de transe. A própria bebida deve ser  controlada. Podem,  no entanto ser  consideradas bebidas de poder  como o “vinho da jurema”, no entanto a bebida não é o centro do ritual, apenas um elemento auxiliar. No caso do Daime,  este está no centro do culto,  o poder  que se manifesta por  meio do chá é que conduz o adepto. Na Umbanda quem conduz o trabalho são os espíritos guias, com daime ou sem daime.  

•  Umbanda  Eclética:  Chama-se  de  Eclética  a  Umbanda  que  mistura  de  tudo  um  pouco fazendo  uma bricolagem  de  Orixás  com  Mestres  Ascensionados  e  divindades  hindus  por exemplo.  Recorrem à conhecida Linha  do  Oriente  para  justificar  a  presença  de  tantos elementos  diferentes  do  Oriente  e  Ocidente  junto  ao esoterismo, ocultismo e misticismo.

 •  Umbanda  Sagrada  ou  Umbanda  Natural:  Quando  começou  a  psicografar  e  dar palestras,  Rubens Saraceni sempre fazia questão de se referir à Umbanda como Sagrada. Não havia intenção de criar uma nova Umbanda,  apenas  ressaltar  uma  qualidade  inerente  à mesma.  Na  apresentação  de  seu  primeiro  título doutrinário Umbanda – O Ritual do Culto à Natureza, publicado em 1995, afirma que o livro em questão guarda uma  coerência  bastante grande,  o  de  trilhar  num  meio  termo  entre  o  popular  e  o  iniciático,  ou  entre  o exotérico e o esotérico. Já no Código de Umbanda, no capítulo Umbanda Natural, cita: Umbanda Astrológica, Filosófica,  Analógica,  Numerológica,  Oculta,  Aberta,  Popular,  Branca,  Iniciática, Teosófica,  Exotérica  e Esotérica.  Para então afirmar  que:  Natural é a Umbanda regida pelos Orixás, que são senhores dos mistérios naturais, os quais regem todos os polos umbandistas aqui descritos. Muitos optam por substituir a designação de “Ritual de Umbanda Sagrada”, dada à Umbanda Natural. Fica  claro  que  para  o  autor  a  Umbanda  é  algo natural e sagrado, adjetivos que se aplicam ao todo da Umbanda, e não a um segmento em particular. No livro As  Sete  Linhas  de  Umbanda volta a citar as várias “umbandas” e comenta que na verdade, e a bem da verdade, tudo são segmentações dentro da religião Umbandista [...]. Ainda assim, sem a intenção de criar uma nova segmentação dentro do todo, trouxe muitos temas novos e novas abordagens para outros tantos, criando toda uma Teologia de Umbanda. Seus conceitos se expandiram muito rapidamente assim como a popularidade de títulos como O Guardião da Meia Noite e Cavaleiro da Estrela da Guia. Sua forma de apresentar, entender e explicar a Umbanda ficou identificada ou rotulada de Umbanda Sagrada. Palavra que para este autor engloba toda a Umbanda, como um Todo também chamado de Umbanda Natural. 

•  Umbanda  Cristã:  A  Umbanda,  fundada  no  dia  15  de  Novembro  de  1908,  tem  no Caboclo  das  Sete Encruzilhadas a entidade que lançou seus fundamentos básicos, logo na primeira manifestação esta entidade já esclareceu  que  havia  sido,  em  uma  de  suas encarnações,  o  Frei  Gabriel  de  Malagrida,  um  sacerdote  cristão queimado na “Santa Inquisição”, por ter previsto o terremoto de Lisboa, e que posteriormente nasceu como índio no Brasil.  Ao  dizer  qual  seria  o  nome  do  primeiro  templo  da  religião,  Tenda  Espírita  Nossa Senhora  da  Piedade, porque “assim como Maria acolheu Jesus da mesma forma a Umbanda acolheria seus filhos”, já dava uma diretriz cristã à nova religião. Há um conto sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas que diz ter sido chamado por Maria, Mãe de Jesus, para semear a nova religião.  Todo  trabalho  e  doutrina  de  Zélio  de  Moraes  têm  este  perfil  cristão, subentendendo  Umbanda  Cristã, antes de ser “Umbanda Branca” ou “Umbanda Pura”, outros adjetivos que já foram associados a sua forma de praticá-la. Jota Alves de Oliveira escreveu um título chamado Umbanda Cristã e Brasileira, no qual encontrarmos a citação abaixo: “A Orientação  Doutrinária  do  evangelizado  Espírito  do  Caboclo  das  Sete  Encruzilhadas  nos levou  a considerar  e  historiar  seu  trabalho  enriquecido  das  lições  do  evangelho  de  Jesus, com  a  legenda:  Umbanda Cristã e Brasileira.”  Outro elemento que endossa a qualidade cristã da Umbanda é o arquétipo dos Pretos e Pretas-velhas, são ex-escravos batizados com nomes católicos e que trazem muita fé em Cristo, nos Santos e Orixás. As  qualidades  cristãs  e  a presença  dos  santos  católicos  confortam  e tranqüilizam quem  entra  pela primeira vez em um templo umbandista, muito embora não se limite a adornos e sim a uma presença espiritual dos mesmos. 

Qualificar ou não qualificar?

 Quase  todos  os  assuntos  doutrinários  e  teológicos  da  Umbanda,  quando  aprofundados, criam  polêmicas pelo  fato  de  nos  encontrarmos  em  uma  religião  nascente,  ainda  em formação,  que  em  muito  lembra  o cristianismo primitivo com suas divergências internas. Vejamos a questão de Cristo na Umbanda, na qual para um ex-católico Cristo é Deus, para um ex-espírita Cristo é um mestre ou irmão mais velho da humanidade, já um ex-muçulmano vê em Cristo um profeta. Este é um  dos  exemplos  pelos  quais  surgem  as  Umbandas,  outro  seria  o fato  de  sua  constante  evolução  e transformação.  A  Umbanda  ainda  possui  esta flexibilidade,  não  impõe,  antes  aceita  as  diferentes  formas  de interpretar os mistérios de Deus. Ali  está  uma  boa  parte  dos fundamentos  da  Umbanda,  seu  ritual  é  aberto  ao aperfeiçoamento constante... E por que isso? Simples: tudo o que as grandes religiões castram nos seus fiéis o ritual umbandista incentiva nas pessoas que dele se aproximam [...]. 

 Fica  fácil  entender  que  as  formações  religiosas  anteriores  influenciam  o  ponto  de  vista do  umbandista gerando seguimentos, assim como suas áreas de maior interesse cria todo um campo a ser explorado dentro da própria  Umbanda,  como  ferramenta  para  alcançar  certos mistérios  da  criação. No  entanto, a  Umbanda  não pode  ser  contida,  ou  apreendida  no  seu todo  por  quem  quer  que  seja.  O  mais  que  alguém  poderá  conseguir será captar partes desse todo.   Por mais válidas que sejam as segmentações, por mais que se auto afirmem ser “a verdadeira” Umbanda ou a “Umbanda Pura”, nenhuma destas “umbandas” dá conta do TODO que é Umbanda.  Particularizar, segmentar, é reduzir, para entender o todo há de se buscar um “mirante” privilegiado, no qual se possa vislumbrar todas as umbandas e “A” Umbanda ao mesmo tempo. Pela “parte” não se define o “todo”, mas pela “unidade” se busca uma “essência”, um fundamento e base. No  fundo  é  possível  praticar  Umbanda,  Simplesmente, livre  de  qualificações,  adjetivos,  atributos  ou atribuições. Basta dizer-se umbandista, e quando perguntarem: “- De que Umbanda você é?” É mais do que suficiente responder apenas: “- Umbanda.”  Da  mesma  forma  é  possível  a alguém  ser  cristão  independente  de Catolicismo,  Protestantismo, Luteranismo,  Metodismo,  Calvinismo,  Pentecostalismo,  mas não  é possível  negar  que  existam  diferentes vertentes dentro do Cristianismo, e da mesma forma com a Umbanda.

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