quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Conversando sobre Exu


Conversando sobre Exu  
Por Fernando Sepe  

Dizem  que  Exu  é  um  homem  sério,  castigador,  espírito  sem  compaixão  alguma.  Muitos  falam  que  nem  mesmo sentimento  essas  entidades  apresentam.  Muitos  temem  Exu,  relacionando  –  o  com  o  Diabo  ou  com  algum  monstro cavernoso que a mente humana é capaz de criar.  
 Bem, dia desses, no campo santo de meu pai Omulu, vi algo inusitado que me fez pensar...  
 Um  desses  Exus  Caveiras,  que  apresentam  essa  forma plasmada  como  meio  de  ligação  a  falange  pertencente, chorava sobre um túmulo. Discretamente, isso devo dizer, afinal os Caveiras em sua maioria são de natureza recatada e introspectiva, mas chorava sim.  
 Engraçado pensar nessa situação, não é mesmo? Ele chorava pelos erros do passado, chorava por uma pessoa a qual  amava  muito,  mas  não  mais  perto  dele  estava.  Claro,  sabia  que  ninguém  morria,  mas  a  saudade  e  o  remorso apertavam fundo seu coração. 
 Isso  acontece  muito  no  plano  espiritual,  onde  muitas  vezes  os  laços  são  quebrados  devido  às  diferenças vibratórias. Na verdade o laço não se quebra, apenas afrouxam-se um pouco... 
 Mas, voltando a nossa história, fiquei a pensar muito sobre aquele tipo de visão. Pensei que ninguém acreditaria em mim caso eu contasse esse “causo”, afinal, Exu é homem acima do bem e do mal, exu não tem sentimento, exu não chora... 
 E para aqueles então que endeusam “seu” Exu, pensando ser ele um grande guardião, espírito da mais alta elite espiritual, espírito corajoso, sem medos, violento guerreiro das trevas. Exu acaba assumindo na Umbanda um arquétipo, ou mito, tão supra–humano, que muitas vezes ele deixa de ser apenas o mais humano das linhas de Umbanda. Arquétipo esse, diga–se de passagem, muito diferente do Orixá Exu, arquétipo base para a formação do que chamamos de Linha de Esquerda dentro do ritual de Umbanda.  
É, eu acho que todo Exu chora. Assim como eu e você também. Inclusive, todo mundo chora, pois todos temos dores, remorsos e tristezas. Isso é humano. Mas, voltando ao campo santo... 
 Logo vi um Exu, vestindo uma longa capa preta, se aproximar do triste amigo Caveira. O que conversaram não sei, pois não ouvi, e muito menos dotado da faculdade de ler os pensamentos deles eu estava. Mas uma coisa é certa: Os dois saíram a gargalhar muito!  
 “Engraçado, como é que pode? Tava chorando até agora, e de repente sai rindo de uma hora pra outra?” _ pensei contrariado. 

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