quinta-feira, 6 de outubro de 2016


Uma das mais sublimes funções do Evangelho do Senhor - e do Espiritismo - é a de preparar o homem para que saiba viver com dignidade em quaisquer circunstâncias.
Na riqueza, ou na pobreza, encontrará o ser humano, nas lições de Jesus e nos ensinos da Codificação, que harmoniosamente se identificam e se completam, os meios de viver, lutar e vencer com hombridade.
Jesus não preconizou a miséria por condição indispensável à vida do homem, do mesmo modo que não indicou a fortuna por meio ideal, exclusivo, de o homem transitar, com êxito, pelos caminhos do mundo.
A missão do Evangelho foi e é a de preparar a Humanidade para que ela possa viver dignamente, quer na carência, quer na prosperidade.
O que nos tem faltado, em nossas consecutivas experiências, é o fator ``preparação´´.
Não sabemos comportar-nos, cristãmente, numa ou noutra situação: na riqueza ou na pobreza.
Quando os ventos conduzem o barco de nossa vida aos portos engalanados de fortuna, tornamo-nos egoístas e, por vezes, cruelmente impiedosos ante o sofrimento que se desdobra, ante nós, como se fora sugestão divina, suave e doce convite para que ajudemos aos mais necessitados. Mas a riqueza quase sempre, oblitera os sentimentos do homem.
Sufoca-lhe os germens da solidariedade. Insensibiliza-o de tal modo que, enquanto a Bondade vai fugindo, sutilmente, humilhada, por uma das janelas do nosso coração, por uma de suas espaçosas e largas portas vai entrando o Egoísmo, via de regra acompanhado do seu dedicado pajem, do seu vigilante companheiro: o Orgulho. E não é só: mais atrás, espreitando, outra comparsa: a Prepotência.
Quando o frio da adversidade, por sua vez, nos bate à porta, levando-nos às estações da pobreza, da dificuldade, caímos na paisagem da inconformação.
Confiamo-nos, de imediato, à rebeldia.
Entregamo-nos, levianamente, à revolta.
Substituímos a prece humilde - de ontem, pela blasfêmia irreverente, desrespeitosa.
Recusamos, assim, inconsequentes, uma experiência que, muita vez, poderia representar a manifestação da Vontade do Senhor, que nos dá segundo o que necessitamos, e não segundo o que almeja a nossa mente.
O que nos falta, portanto, é a preparação evangélica. É Cristianismo em nosso coração e em nossa inteligência, para que saibamos viver na opulência - sem esquecer os deveres de solidariedade; e na pobreza - sem olvidarmos a obediência a Deus e o aspecto, essencialmente educativo, altamente educativo, de semelhante prova.
A pobreza, tanto quanto a riqueza, como expressivos e complexos fenômenos sociológico-espirituais de um mundo desajustado - de um mundo que demonstra ainda não conhecer a Deus -, nada valem em si mesmas intrinsecamente. A forma por que nos conduzimos, numa ou noutra experiência é que falará por nós - acusando-nos ou defendendo-nos - no tocante à destinação espiritual. O rico generoso, o rico que não repudiou o seu próximo, receberá da Lei, mais cedo ou mais tarde, o que  Lei reserva, igualmente para o pobre de coração compassivo, de alma misericordiosa.
O afortunado cruel, explorador da necessidade alheia, o rico que se encastelou na torre do egoísmo avassalante, receberá da Lei, em qualquer  tempo, o que a Lei reserva para o pobre revoltado, insubmisso e blasfemo. A Lei é impessoal. A Lei está na consciência humana e nela estabelece o seu augusto e solene tribunal.
A Lei do Amor, ensinada e vivida por Jesus, que  a interpretação espírita veio colocar ao alcance do homem, é para que o homem a utilize, a desfrute, através da união com Deus, do encontro pessoal com Jesus. Nem o Evangelho preconiza a mendicância, nem o Espiritismo lhe apoia a existência.
O Cristianismo e o Espiritismo preconizam uma sociedade em que os pobres saibam e possam conquistar, honestamente, o pão de cada dia, tanto quanto o rico saiba e queira transformar os seus patrimônios, de que, em última análise, é apenas administrador, em oportunidade de trabalho e prosperidade para todos.
É tão infeliz o pobre que se revolta diante da dificuldade, quanto o rico que se compraz, simplesmente, na satisfação do seu exclusivo interesse.
É tão feliz o rico que dá com alegria, e faz da sua fortuna um instrumento de prosperidade e justiça, visando o progresso e ao engrandecimento da coletividade onde a Divina Bondade o situou, quanto o pobre que, na simplicidade de sua vida, no anonimato de suas lutas, compreende e aceita as circunstâncias, por mais penosas e difíceis, que a Paternal Sabedoria lhe reservou.
Quem faz a felicidade do homem é o próprio homem. A felicidade não vem de fora para dentro, da periferia para o centro. A tempestade pode estar rugindo, implacável, lá fora, mas o mundo interior de cada indivíduo pode estar sereno e plácido, como plácida e serena é a superfície de um lago.
Se o homem deseja, efetivamente, ser feliz, deve, sem embargo do seu trabalho, da sua luta, do seu empenho na sustentação de si mesmo e da sua família, guardar fidelidade à própria consciência. Utilizar, com nobreza e confiança, a oportunidade que o Pai lhe confiou: na riqueza ou na pobreza.
Na riqueza, tornando-se generoso e bom, dinâmico e progressista. E dizer: ``Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado´´.
Na pobreza, tornando-se honesto e digno, correto e sincero na execução de seus deveres. E dizer: ``Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado´´.


Do Livro: Estudando o Evangelho (Martins Peralva)

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