Causa dos sofrimentos
Basicamente, segundo os espíritos*, há dois tipos de sofrimento: de causas passadas (isto é, cuja causa está ligada uma encarnação passada) e de vida presente (ou seja, os motivos para o sofrimento se encontram na vida atual).
Muitas pessoas que estão iniciando-se no Espiritismo buscam uma forma clara e rápida de fazer essa distinção. Mas, antes de abordar isso diretamente, pergunto: qual a diferença? Se sofro por causa de um passado que não posso mudar ou se sofro em razão do presente, isso muda o meu sofrer?
Grande parte das pessoas que encontrei com essa dúvida queriam, no fundo, encontrar uma justificativa maior. Uma justificativa que justificasse o seu presente ou que lhes desses o impulso necessário para seguir adiante ou desistir de vez. Alguém ou alguma coisa com que pudessem dividir a responsabilidade pela atitude tomada.
É assim que, frequentemente, encontro mulheres que se entregam às paixões com homens casados e que buscam no espiritismo uma justificativa para seus comportamentos e atos. Seria muito mais rico se o que a impele a manter essa relação não fosse o seu caráter, mas, sim, o fruto de um amor prejudicado no passado, pensam…
É desta forma, também, que tenho encontrado homens casados e que vão à busca de aventuras sexuais, dizendo-se infelizes no casamento e que não separam por conta dos filhos. Os filhos, aqui, servem bem de muleta à falta de coragem do pai. Grande parte dos nossos sofrimentos é causada por nós mesmos, cavados com a própria mão.
Certa vez encontrei uma senhora queixosa que dizia ter sido traída pelo marido. Ela contava, tristemente, sua humilhação. Choro, arrependimento, raiva, angústia… Quando inquirida, porém, sobre seu histórico com o marido, revela que apenas durante o namoro ela o pegou, flagrantemente, em três traições. Ainda assim, contudo, casou-se e os anos passaram, até que nova traição lhe saltou às vistas e tudo ruiu.
Sua dúvida? A de sempre: Isso está ligado ao passado? Sim, está! Mas, qual passado? Ora, ao namoro! A vida não lhe deu três sinais claros de que o futuro marido não estava em condições de honrar o compromisso? Contudo, ainda assim, ela não quis ver ou, se viu, guardou esperanças de melhoria. Comprou, ela mesma, um título cuja rentabilidade era incerta. Arriscou-se.
Tudo poderia ter dado brilhantemente certo. Mas, não foi assim que aconteceu. Ela investiu e não obteve lucro… Agora, sofre. Contudo, poderá protestar ignorância? Poderá protestar injustiça Divina? Não quero, com isso, dizer que a culpa é dela. Não é. Mas, que tampouco é vítima inocente.
Os sofrimentos ligados à vida passada são aqueles sofrimentos que nada podemos fazer contra. São as consequências dos atos passados que repercutem, agora, na vida atual. Eles surgem, misteriosamente, a despeito das nossas ações. Passam por nós como uma locomotiva em linha reta sem parar para subirmos. Só podemos tentar viver com resignação e fazer todo o possível para abrandá-lo. Mas, como diz a velha música, ele chega “sem pedir licença, muda a nossa vida, e depois nos convida a rir ou chorar”.
Assim, quando em dúvida se os sofrimentos atuais provem de uma vida passada ou da vida presente, interrogue-se, sinceramente, se poderia ter feito algo para atenuá-los ou se não foi através das próprias atitudes (ou falta delas) que as coisas tomaram tal rumo.
Esse processo é doloroso, pois, muitas vezes, seremos obrigados a nos confrontar diretamente e deixar o coitadismo e o vitimismo que arranca lágrimas dos outros, mas não resolve nossos problemas.
Este é o único método mais ou menos seguro para sabermos a origem do sofrimento.
* O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V – Causas atuais das aflições e causas anteriores das aflições.
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