sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Tatuagens e Umbanda

tatuagem-aquarela-8Umbanda: o que diz a Umbanda sobre tatuagens?
Antes de tudo é bom considerar o seguinte: diferente do Espiritismo, a Umbanda não tem codificação ou um livro-base onde estão descritas suas crenças ou práticas.
Grande parte da doutrina Umbandista se perpetuou pelo tempo através da prática. Cada um que aprendia ensinava a outro, que ensinava a outro, até nossos tempos.
Por essa razão, ao longo deste mais de um século de existência, a Umbanda ganhou coloridos e formas de acordo com os expoentes que a representaram em cenário local ou nacional. Isto explica a grande variedade de cultos e formas observadas na religião que, embora bastante diversa, conseguiu, pela experiência do tempo e graças aos guias espirituais, manter um tronco comum sem necessidade de codificação ou de entidades federativas para isso.
Bem entendido isso, é preciso considerar que, sobre todos os assuntos referentes à Umbanda, sempre cabe uma opinião pessoal ou, pelo menos, o senso-comum em relação a determinado assunto. Logo, quase todos eles, se não estão explicitamente inclusos dentro dos ensinos básicos e bem conhecidos do Caboclo das Sete Encruzilhadas (como a caridade, a gratuidade, etc), são e sempre serão de natureza opinativa e pessoal…
Tive a oportunidade de conversar com algumas entidades sobre as tatuagens e, para todas elas, não havia nada de mais em possuí-las. Aliás, uma das entidades, um caboclo, tinha o corpo todo coberto por tatuagens, feitas em sua última passagem pela Terra, dentro do agrupamento indígena em que havia reencarnado.
Sim, após a morte, o espírito leva consigo a aparência da última encarnação. Logo, se ele foi um índio todo tatuado, deverá se apresentar como um índio todo tatuado no além. As tatuagens faziam parte da sua identidade visual e da sua imagem corporal, portanto, ele as carrega além-túmulo.
Neste sentido, observei que, diferentemente do Espiritismo, onde o assunto é tratado com temor e receio quanto a possíveis danos ao perispírito, as tatuagens são bem aceitas dentro do Movimento Umbandista. Não é raro encontrarmos médiuns cujos corpos estão grafados com os nomes de seus Orixás de cabeça ou mesmo com os nomes e/ou símbolos das entidades com as quais trabalham.
Nenhuma entidade com quem pude conversar fez qualquer pontuação negativa sobre as tatuagens, recomendando, apenas, bom-senso sobre o que tatuar e onde se tatuar, já que símbolos, conforme bem sabemos, possuem força e – convém não esquecer -, nossa sociedade é, ainda, muito preconceituosa com determinadas tatuagens, ainda mais quando plenamente visíveis.
As entidades apenas pontuaram que, respeitando o corpo (portanto, nada de virar um gibi…), que nos foi emprestado para nossa evolução, as tatuagens podem muito bem representar valores importantes à pessoa e, por isso, não há problema algum em fazê-las em si mesmo.

Causa dos sofrimentos

imagesBasicamente, segundo os espíritos*, há dois tipos de sofrimento: de causas passadas (isto é, cuja causa está ligada uma encarnação passada) e de vida presente (ou seja, os motivos para o sofrimento se encontram na vida atual).
Muitas pessoas que estão iniciando-se no Espiritismo buscam uma forma clara e rápida de fazer essa distinção. Mas, antes de abordar isso diretamente, pergunto: qual a diferença? Se sofro por causa de um passado que não posso mudar ou se sofro em razão do presente, isso muda o meu sofrer?
Grande parte das pessoas que encontrei com essa dúvida queriam, no fundo, encontrar uma justificativa maior. Uma justificativa que justificasse o seu presente ou que lhes desses o impulso necessário para seguir adiante ou desistir de vez. Alguém ou alguma coisa com que pudessem dividir a responsabilidade pela atitude tomada.
É assim que, frequentemente, encontro mulheres que se entregam às paixões com homens casados e que buscam no espiritismo uma justificativa para seus comportamentos e atos. Seria muito mais rico se o que a impele a manter essa relação não fosse o seu caráter, mas, sim, o fruto de um amor prejudicado no passado, pensam…
É desta forma, também, que tenho encontrado homens casados e que vão à busca de aventuras sexuais, dizendo-se infelizes no casamento e que não separam por conta dos filhos. Os filhos, aqui, servem bem de muleta à falta de coragem do pai. Grande parte dos nossos sofrimentos é causada por nós mesmos, cavados com a própria mão.
Certa vez encontrei uma senhora queixosa que dizia ter sido traída pelo marido. Ela contava, tristemente, sua humilhação.  Choro, arrependimento, raiva, angústia… Quando inquirida, porém, sobre seu histórico com o marido, revela que apenas durante o namoro ela o pegou, flagrantemente, em três traições. Ainda assim, contudo, casou-se e os anos passaram, até que nova traição lhe saltou às vistas e tudo ruiu.
Sua dúvida? A de sempre: Isso está ligado ao passado? Sim, está! Mas, qual passado? Ora, ao namoro! A vida não lhe deu três sinais claros de que o futuro marido não estava em condições de honrar o compromisso? Contudo, ainda assim, ela não quis ver ou, se viu, guardou esperanças de melhoria. Comprou, ela mesma, um título cuja rentabilidade era incerta. Arriscou-se.
Tudo poderia ter dado brilhantemente certo. Mas, não foi assim que aconteceu. Ela investiu e não obteve lucro… Agora, sofre. Contudo, poderá protestar ignorância? Poderá protestar injustiça Divina? Não quero, com isso, dizer que a culpa é dela. Não é. Mas, que tampouco é vítima inocente.
Os sofrimentos ligados à vida passada são aqueles sofrimentos que nada podemos fazer contra. São as consequências dos atos passados que repercutem, agora, na vida atual. Eles surgem, misteriosamente, a despeito das nossas ações. Passam por nós como uma locomotiva em linha reta sem parar para subirmos. Só podemos tentar viver com resignação e fazer todo o possível para abrandá-lo. Mas, como diz a velha música, ele chega “sem pedir licença, muda a nossa vida, e depois nos convida a rir ou chorar”.
Assim, quando em dúvida se os sofrimentos atuais provem de uma vida passada ou da vida presente, interrogue-se, sinceramente, se poderia ter feito algo para atenuá-los ou se não foi através das próprias atitudes (ou falta delas) que as coisas tomaram tal rumo.
Esse processo é doloroso, pois, muitas vezes, seremos obrigados a nos confrontar diretamente e deixar o coitadismo e o vitimismo que arranca lágrimas dos outros, mas não resolve nossos problemas.
Este é o único método mais ou menos seguro para sabermos a origem do sofrimento.
 * O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V – Causas atuais das aflições e causas anteriores das aflições.

Ambiente espiritual de uma casa de prostituição

– Seu Lira – perguntei –, como é o ambiente espiritual de uma casa de prostituição?
– É um lugar geralmente alegre, onde você bebe muito, dança muito, se diverte muito, mfestaesmo que não se envolva com ninguém, você se distrai, ri, brinca, se alegra… Porém, há muitos espíritos obsessores, muitos vampiros que se ligam às pessoas que estão ali para poder beber junto deles, para poder fazer amor junto deles, para poder se drogar junto deles… Mas, também tem muita mãe, muito pai, muito filho, dizendo para seus familiares que lá estão ou lá trabalham: Não faça isso, por favor, saía daqui… Aqui não é o seu lugar!
Seu Lira.

Compreendendo os vícios que nos impedem de evoluir

  


    Você sabe o que é vício?

    Você sabe o que é evolução espiritual?

    Quem acompanha uma casa de Umbanda, seja como filho de Santo, como
consulente ou como assistência, por muitas vezes já ouviram falar que
se deve deixar os vícios de lado para podermos evoluir.

    Quando se ouve isso logo nos vem a mente a bebida alcoólica, o
fumo, os entorpecentes, porém não é só desses vícios que se é referido
na Umbanda, apesar deles fazerem parte de uma grandiosa lista de
vícios.


    Os vícios na verdade podem ser definidos da seguinte forma:

    Vício é o uso costumeiro de toda e qualquer coisa que nos acarrete
prejuízo. É o costume de proceder mal. Vício é uma doença complexa,
que exige muita força de vontade e de fé para se libertar dela.

    Para nos curar dos vícios devemos lutar constantemente contra ele,
enfrentá-lo e vencê-lo.

    O vício quando não vencido, a pessoa que carrega esse mal, se
torna escrava dele, fazendo assim com que nos percamos nos caminhos
que deveremos seguir para que possamos evoluir, ser alguém melhor, e
assim estarmos em contato com Deus.

    Para que nossa caminhada terrena para a vida espiritual, e claro
para a evolução de nosso espírito, fique de uma forma liberta e
aceitável dentro das regras espiritualistas evolutivas, devemos estar
em compreensão que não devemos carregar tais vícios, pois estando eles
conosco nunca seremos verdadeiramente libertos para seguir o caminho
de luz que deveríamos nos entregar.

    Todos os vícios são nocivos para quem os tem, e muitas vezes um ou
dois desses vícios encobrem todas as virtudes que adquirimos no
caminhar de nossa vida terrena.

    Sabemos que são muitos os vícios, e devemos lutar persistentemente
para vencer a todos, pois  se deixarmos em nossa vida um restinho de
qualquer um deles, podemos estar certos que vai nos atrapalhar em
demasia.

    A essa altura muitos de nós podemos estar refletindo, quais os
vícios que tenho, ou que quantidade tenho.

    Para esclarecimento, vou citar alguns abaixo, que certamente
muitas pessoas tem, são os mais conhecidos, e que estão em um grau
intenso dentro da humanidade, e que dentro da linha espiritualista umbandista
atrapalha em muitas ações, fatos, como por exemplo o que já dissemos
acima, a evolução do espírito, mas mesmo dentro de uma Gira, quando
se ocorre certos vícios, podem atrapalhar intensamente os trabalhos,
fazendo assim com que o Terreiro perca a firmeza, dando abertura a
espíritos sem luz, como Kiumbas, Eguns, Zombeteiros, que dominam o
médium vicioso, fazendo-o assim mistificar, e por consequência
atrapalhar uma consulta a uma pessoa que esteja necessitada de auxílio
verdadeiro.

    Os vícios mais conhecidos são:

Agressividade.
Alcoolismo.
Ambição.
Apego material.
Avareza.
Calúnia.
Ciúme.
Cólera.
Entorpecente.
Fumo.
Ganância.
Gula.
Inconformação.
Inveja.
Jogo.
Maledicência.
Mentira.
Ociosidade.
Orgulho.
Pornografia.
Queixa.
Roubo.
Vaidade.


    Temos outros tipos de vícios, porém frisamos esses por serem os
mais conhecidos.


    Dentro da linha umbandista, temos a convicção da reencarnação, e
entendemos que os vícios danificam extremamente o perispírito,
fazendo assim que danifiquemos o que temos de perfeito, e assim sendo
podemos vir em uma próxima reencarnação com alguma deficiência para
que possamos ter o aprendizado sobre o mau hábito, ou seja,
entendermos, espiritualmente falando, que temos que nos livrar dos
vícios.

    E para esclarecimento, só nos livramos de um vício, se provarmos a
nós mesmos que somos capazes, e por nossa livre e grandiosa vontade,
sendo assim devemos lutar contra ele para vencê-lo, e assim seguirmos
o caminho da evolução.

    Devemos compreender que todo e qualquer vício atrapalha
grandiosamente a evolução de um espírito, e maltrata e danifica
extremamente o perispírito, contudo sabendo que as próprias ações
danificam essa caminhada rumo ao objetivo de evolução, temos na
consciência que a reencarnação poderá nos tirar dessa roda gigante,
que seria as más ações, ou seja vícios que carregamos em nossa vida
terrena, eliminando-as para prosseguirmos em paz, aos braços do amado
Deus.


    Lembremos que o Pai Maior é justo e amável, quando desejamos com
fé e perseverança, sempre teremos auxílio para sairmos desses vícios
tão nocivos a nossa evolução, portanto temos que ter em mente, que
dependerá exclusivamente de nosso livre arbítrio.

    Devemos evitar os vícios com compreensão, sabemos que não é nada
fácil abandonar um vício, seja ele qual for. É de extrema necessidade
nos conscientizarmos que temos tal vício, para assim, tentar
combatê-lo.

    Para quem ainda está se perguntando sobre a relação de alguns
vícios mencionados acima, não compreendendo o porque estão nessa
relação, pois quando falamos de vícios as primeiras coisas que nos
vem a mente é fumo, álcool e drogas. E em nossos pensamentos um tanto
atrasados, imaginamos que apenas esses vícios, que apesar de serem
extremamente prejudiciais a nosso corpo físico, além de destruir boa
parte de nosso perispírito, são os únicos ou os principais vícios que
podemos adquirir, mas que na verdade não é bem assim, pois outros
relacionados acima, são tão grandes ou piores vícios a nossa
caminhada, tanto terrena quanto espiritual, falando de evolução e dos
cuidados com a enorme deterioração do perispírito.

    Resumidamente, apenas para esclarecer e para que todos nós
possamos refletir sobre tais vícios, vamos mostrar onde esses agridem
com maior proporção as partes equivalentes ao perispírito, sendo que
nessa demonstração levaremos em conta que o corpo físico é uma cópia
idêntica ao nosso perispírito, portanto vamos indicar essa
deterioração como se estivéssemos observando a matéria, o corpo
físico.

Agressividade: Deteriora o cérebro, sistema cardíaco e o sistema
nervoso, podendo deixar a pessoa que tem esse vício vir a ter
problemas nessas partes em uma reencarnação futura.

Alcoolismo: Ataca principalmente o cérebro, sistema nervoso, órgãos
como fígado e coração, podendo ainda trazer danos gravíssimos aos
olhos, trazendo a cegueira em uma encarnação próxima.

Ambição: Podem trazer males respiratórios em uma próxima encarnação,
por lesar em demasia todo o sistema respiratório, além de problemas
mentais.

Apego material: Da mesma forma que a ambição, esse vício lesiona o
sistema respiratório e o cérebro, podendo também trazer extremas dores
estomacais, levando a gastrite.

Avareza:  A avareza tem ligação deteriorativa diretamente com os
neurônios, fazendo assim que possamos ter males cerebrais incuráveis.

Calúnia: Esse vício tem o poder de deteriorar as cordas vocais,
fazendo assim em uma próxima reencarnação a pessoa caluniadora vir a
ser muda. Podem deteriorar também partes da laringe e faringe, além de
fazer com que aumente os batimentos cardíacos, de uma tal forma levando
a pessoa a ter uma taquicardia extrema.

Ciúme: Vício que parece não ter tanta importância, muitos dizem que é
tempero do amor, porém esse vício leva a termos graves lesões
cardíacas, cerebrais, renais e pulmonares. Temos que ter extremo
cuidado com esse sentimento que parece inofensivo, pois ele toma conta
da maioria da humanidade.

Cólera: Assim como a agressividade: Deteriora o cérebro, sistema
cardíaco e o sistema nervoso, podendo deixar a pessoa que tem esse
vício vir a ter problemas nessas partes em uma reencarnação futura.

Entorpecentes: Deteriora todos os sistemas e órgãos do corpo humano,
em especial o cérebro.

Fumo: Ataca todos os órgãos do corpo, podendo fazer crescer a
quantidade de células doentes (câncer), em encarnações futuras poderá
vir com todo sistema respiratório lesionado.

Ganância: Assim como a avareza: A ganância tem ligação deteriorativa
diretamente com os neurônios, fazendo assim que possamos ter males
cerebrais incuráveis.

Gula: A Gula é um vício bastante difícil de ser combatido, mas devemos
lutar extremamente contra ela, pois ataca todo o sistema circulatório,
cardíaco, lesiona órgãos como pâncreas, fígado e rins. Em uma próxima
reencarnação podemos retornar com várias doenças nessas partes por
termos nosso perispírito danificado nesses órgãos.

Inconformação: Vício de achar que tudo está sempre ruim, que todos
estão contra você. Nos traz depressões crônicas, lesiona o cérebro de
uma tal maneira que em uma próxima reencarnação o inconformado poderá
retornar com paralisia cerebral grave.

Inveja: Vício que lesiona o sistema imunológico, cardíaco e
circulatório.

Jogo: Lesiona várias partes do cérebro.

Maledicência: Deteriora a faringe e laringe, podendo também atacar o
sistema cardíaco.

Mentira: Vício comum entre os seres humanos, que traz males a todo
sistema nervoso.

Ociosidade: Traz lesões aos membros inferiores e superiores, ao
sistema cardíaco, e a todo sistema neurológico. 

Orgulho: Lesiona o cérebro, e órgãos como o coração, pulmão, rim e
fígado.

Pornografia: Ataca todo sistema imunológico, sistema nervoso, além de
deteriorar o cérebro e poder deixar partes da genitália com lesões
irrecuperáveis.

Queixa: Assim como a inconformação, nos traz depressões crônicas,
lesiona o cérebro de uma tal maneira que em uma próxima reencarnação o
inconformado poderá retornar com paralisia cerebral grave.

Roubo: Ataca todo sistema nervoso, podendo trazer também lesões
graves nos membros superiores.

Vaidade: Traz diversos defeitos físicos por todo corpo em uma
próxima reencarnação.


    Dentre vários vícios, vamos apenas destacar esses como exemplo,
porém devemos ficar sempre atentos a não nos deixarmos ser levados a
sermos conduzidos por eles, para que não percamos nossa evolução
espiritual, e não soframos em uma próxima reencarnação nenhum tipo de
mal por não termos conseguido nos livrar desses diabólicos vícios.

    Frisamos também que não necessariamente uma pessoa que tenha algum
mal desses descritos acima tiveram alguns desses vícios na encarnação
passada, pois são vários os motivos que podem levar a um mal. Cada
caso é um caso, as causas podem ser diferentes para o mesmo efeito.
Lembre-se, somos o que construímos no passado e Seremos no futuro o
que Construirmos no presente.

    Reflitam e lutem contra esses erros, que podem nos fazer sofrer
por uma encarnação inteira.

Paz e vitórias sobre nossos vícios.

Carlos de Ogum

História do Caboclo Rompe Mato

                  

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Salve o Caboclo, salve Seu Rompe Mato!

Okê Caboclo, Okê Arô Oxossi!

Seu Rompe Mato lá nas matas sem fronteiras,
Seu Rompe Mato tem Oxossi na cabeça,
eu vi Caboclo eu vi Xangô lá nas pedreiras,
com seu bodoque sete pedras são certeiras.

A sua força sua magia na Umbanda
traz a cura de Aruanda com a fé dos Orixás.

Okê Caboclo sua tesa é vermelha
nessas matas não cai folhas sem as ordens de Oxalá.

Pedi a ele para trazer mais alegria,
pedi a ele para tirar toda a agonia,
ele soprou sete vezes no meu peito,
Okê Caboclo salve as matas da Jurema.
Okê Caboclo nessas matas não se brinca,
Okê Caboclo Rompe Mato na aldeia,
Okê Caboclo suas ordens são supremas,
Okê Caboclo com Oxossi não bambeia.
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    Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar esclarecido que o
Caboclo Rompe Mato não é o mesmo que Ogum Rompe Mato, apesar de ser um
Caboclo de Ogum, vindo a trabalho
pela Falange de Ogum Rompe Mato, o Caboclo Rompe Mato está sobre a
irradiação vibracional de Oxossi, e por esse motivo traz as cores
vermelho e verde, em suas guias ou algumas roupagens. Ele costuma se
apresentar austero e bem rigoroso, contudo é muito amoroso e
aconselhador.

    Ele se apresenta em trabalho nos terreiros de Umbanda trazendo a
paz, conselhos, boa conduta, saúde, tranquilidade, caridade a todos
que buscam auxílio mediante ao merecimento de cada um.

    A história que vamos relatar é do Caboclo Rompe Mato
pela Caridade vindo na irradiação de Oxossi dentro da Falange de Ogum
Rompe Mato.


    No final do século XVIII já entrando no século XIX, se criou uma
lenda na região Norte do Brasil, na qual se acreditava entre os homens
brancos que iniciavam o devastamento da floresta fechada, para
cultivar grandes roças e também extrair das seringueiras o látex para
a fabricação da borracha. Essa lenda se destinava a acreditar que
espíritos da floresta levavam as crianças brancas adoentadas para o
interior das matas, para que essas crianças tivessem a cura, caso isso
acontecesse eram devolvidas aos pais, caso não, eram sacrificadas.

    Contudo essa lenda não era bem assim, existia sim um teor de
verdade nessa história, porém não havia nenhum sacrifício em nome de
algo ou alguém da floresta.

    Tudo começou quando um pequeno índio bastante curioso começou a
rondar as terras onde os brancos fixaram moradia para introduzir as
grandes roças nas margens da floresta.

    Com a chegada desses homens brancos, também chegaram as doenças,
que logo se espalharam por entre os índios, dentre eles o pequeno
índio curioso.

    Seu corpo febril, sua pele ressecada, seus olhos inertes fizeram
com que seu pai, o Cacique da tribo, ficasse em desespero, pois não
entendia bem os fatos dos acontecimentos de seu pequeno filho.

    Rapidamente o cacique levou o garoto a oca do poderoso Pajé, com
esperanças de salvar a vida de seu menino.

    Chegando nas mãos do Pajé, e ao observar os males passados pelo
menino, o Pajé demonstrou uma grande preocupação, acreditando ser a
moléstia um castigo dos deuses da floresta ao pequeno índio, por ele
ter tido contato com homens brancos.

    O Pajé pega o menino aos braços, e parte para o interior mais
sombrio da floresta, onde poucas pessoas conheciam. Chegando lá,
juntamente com o cacique, ele, o Pajé, se põe a fazer sua dança
invocando as forças espirituais da floresta, para que assim tenha uma
resposta sobre aqueles males, que na sua visão eram feitiçarias.

    O cacique, bravo guerreiro, dominador dos perigos da floresta,
grande e respeitado por todos os índios de sua tribo, não podendo
fazer nada com sua força, no momento se sentia fraco, sua alma estava
triste em ver seu menino ali, inerte. E em um ato de humildade, o
cacique se pôs de joelhos, de braços abertos, olhar perdido, em busca
de uma resposta dos céu.

    Sua face, antes de um poderoso guerreiro, se transformava em um
rosto abatido, entristecido. E de seus olhos brotaram lágrimas,
lágrimas teimosas que sem pedir permissão rolavam em sua face, rolavam
de acordo com a dor que o poderoso cacique tinha na alma e no coração.

    Clamou desesperadamente aos deuses da floresta, clamou sem receio,
sem orgulho, apenas demonstrando o desespero de um pai desconsolado,
de um simples homem que sabia que estaria perdendo seu maior bem. Seu
filho.

    O Pajé se entranhou por entre as árvores, em mata fechada, em
busca de ervas, raízes, folhas, para tentar reverter a condição do
indiozinho.

    E nesse instante o cacique apanha o filho no colo, afaga sua
cabeça, chora copiosamente, lamenta a sua dor.

    E nessa hora de grande desespero, o guerreiro cacique sente um
leve toque em seu ombro. Acreditando ser o Pajé, olha para cima
rapidamente, se surpreendendo com a visão.

    De baixo para cima, o cacique contempla a imagem de um índio
desconhecido. De olhos grandes e serenos, sua face jovial, seu
sorriso amigo, trouxe uma certa sensação de paz ao cacique.

    Sua voz era forte, porém mansa, que num tom de sabedoria disse a
nosso pai desesperado:

    "Filho, seu desespero, sua fé e seu amor paternal me trouxeram até
aqui. Suas lágrimas verdadeiras me mostraram quanto amas seu filho, e
esse grandioso amor não ficará sem uma resposta do céu. Sou Oxossi,
meu reino é as matas, as mesmas matas que buscou abrigo para sanar
todo mal de seu menino.
    Poderei lhe ajudar, poderei mostrar como curar seu curumim, porém
você deverá mostrar a ele o bem, ensinar-lhe a fazer o bem, sem
escolher a quem fazer.

    Se ensinar-lhe de forma correta, esse menino será a luz da
floresta escura, se não o ensinar de maneira correta, ele se perderá
na escuridão e nos braços da morte eterna."

    Dizendo isso, a imagem de Oxossi, estende a mão ao cacique, que
deixa o corpo do menino sobre as folhagens estendidas ao chão. Se
levanta, e segue o Pai das Matas para o interior da mata. Lá o
poderoso médico das florestas mostra algumas ervas e raízes que deverão
serem levadas para fazer a maceração, e assim fazerem o remédio para
a cura, não só do pequeno Curumim, mas de todos que passavam pelo
mesmo mal.

    O cacique fez tudo que fora ensinado por Oxossi, e após fazer as
compressas, chás, e banhos, o menino reage, seu estado febril não mais
existe, seus olhos voltam a brilhar, sua vida de criança nasce
novamente.

    Com isso, quando menos se esperava o cacique se encontra só
novamente, o Pai das Matas se foi, deixando apenas a sensação de paz
em toda a floresta.

    O Pajé retorna, se surpreende ao ver o curumim brincando pelas
árvores gigantescas, e logo o cacique lhe conta o acontecido.

    Os três retornam para a aldeia, com uma grande quantidade das
ervas, raízes e tudo mais indicado pelo senhor da floresta, fazem todo
o trabalho aprendido, e todos que estavam com os males dos brancos se
recuperam.

    O cacique faz o prometido, ensina cada passo da cura a seu filho,
que presta atenção a cada detalhe, aprendendo todos os passos, e já
fazendo todo o tratamento sozinho.

    Os anos se passam, o curumim agora já é um belo e grande índio
guerreiro. Ele que tem a responsabilidade de ir em buscas das  ervas e
raízes indicadas por Oxossi, a cada necessidade. Como todas essas
ervas ficavam no interior extremamente fechado das florestas e matas,
o índio passou a ser conhecido como Rompe Mato, e assim se manteve em
busca de cura, não só para aquela moléstia principal, mas para todas
as moléstias que por ventura aparecessem.

    Em um certo período, já na época do grande estouro do ciclo da
borracha, uma grande quantidade de pessoas vinham da região Nordeste
do Brasil para a região Norte em busca das seringueiras e do látex.
Com isso a disseminação de doenças se expandiram extremamente, não só
entre os índios, mas também entre os brancos, principalmente nas
crianças.

    Com a guerra da ganância dos seringueiros, os índios foram
afastados, sendo expulsos, e obrigados a viverem no fundo da floresta,
locais de matas muito fechadas, onde os seringueiros não se arriscavam
em entrar.

    As doenças continuavam a matar as crianças, filhos de
seringueiros. Sem piedade, dezenas delas eram tomadas pelos braços
malignos da morte, sem que ninguém pudesse fazer nada.

    Certa noite, longe da aldeia, bem próximo da região tomada pelos
homens brancos, o índio Rompe Mato observa uma mulher, com uma
criança no colo. Essa mulher chorava desesperadamente, pois sua filha
estava a beira da morte. Uma menina de uns 3 a 4 anos, inerte, febril,
sem chances de vencer a guerra contra a moléstia, se encontrava
envolvida em um pano branco, demonstrando que já a preparavam para seu
sepultamento, logo após o desencarne.

    A mulher chorava, solitária, frágil, desolada. Cansada de tanto
sofrimento, a mulher adormece, sem notar que estava sendo observada
pelo índio Rompe Mato. Esse foi até ela, com seus passos leves, sua
agilidade e sua vontade de poder curar aquela criança, e numa ação
rápida pegou a menina e a levou para o interior mais inacessível da
mata. E lá com a ajuda das ervas e raízes de Pai Oxossi, curou a
menina de sua moléstia.

    Ao acordar e não ver a menina, a mulher que antes desesperada,
fica enlouquecida, sai gritando em busca de ajuda, para que
trouxessem a sua filha de volta.

    Alguns seringueiros, armados com seus facões, saíram em busca da
menina, porém sem o menor resultado positivo. Ao retornarem as suas
choupanas, a conversa virou apenas um só tema: "Espíritos da floresta
levaram a menina".

    Enquanto seringueiros debatiam o fato, o índio Rompe Mato,
aproveitando a oportunidade, leva a menina curada de volta, deixando-a
muito próxima da choupana de sua mãe, que logo encontra a criança.

    Ao indagar a pequena sobre o que tinha acontecido, todos os
moradores da aldeia dos seringueiros, ficaram perplexos com os relatos
da menina, dizendo ela que ela só lembrava de um lugar lindo, de um
anjo vestido de índio, que voava pelas árvores, que deu a ela um
remédio um pouquinho amargo, mas que ela se sentia bem em tomar. E o
remédio fez com que ela ficasse forte, e então o anjo trouxe ela de
volta pra casa.

    A partir dali todos acreditaram que o anjo era um espírito da
floresta, que com sua bondade curava as crianças, e mandava o chá
sagrado aos adultos.

    Muitas mães deixavam seus filhos sobre a mesma pedra na qual Rompe
Mato pegou a menina, para que assim ele levasse outras crianças
também, e as curassem. E assim ele fazia. constantemente.

    O tempo passou, Senhor Rompe Mato continuava com sua missão de
cura, crianças, adultos, homens e mulheres da aldeia dos seringueiros
eram curados pelas mãos e a fé do índio. Que mesmo vendo seu povo ser
expulso das terras que nascera, ele não se deixava enfurecer, não
deixava o ódio tomar conta de sua alma, e peregrinava, dia e noite na
busca das ervas e raízes para salvar todo aquele povo dos males.

    Porém certa noite quando o índio ia para a aldeia em busca de
auxiliar mais um grupo de adoentados, fora capturado pelo chefe dos
seringueiros e seu bando, sendo colocado amarrado, e em uma intensa
tortura física e moral. Sem saberem que era ele o autor das curas
feitas, nas caladas noites sombrias, a intensidade do açoite se
estendeu por dias, e a pretensão dos seringueiros era saber sobre
outras riquezas daquela região, além do látex.

    E assim se passaram dias e dias de intensa covardia sobre o nosso
amado Rompe Mato, até que aconteceu o inesperado, a filha do chefe dos
seringueiros contraiu a moléstia devastadora.

    Ele, o chefe dos seringueiros, acreditando que a cura viria do
espírito das matas, levou a menina ao local onde o índio Rompe Mato
sempre buscava as crianças para tratamento. Porém por estar ele, o
índio, preso nas garras perversas dos gananciosos seringueiros, não
tinha como levar a cura a pequena menina adoentada.

    Se passaram duas noites e era visível a piora da menina, e visível
também era o desespero de sua mãe, que clamava ao marido que buscasse
orientação com o índio que se encontrava preso pelos seringueiros,
pois sendo ele da região, talvez soubesse algo sobre o "espírito das
matas" que curava tantas pessoas.

    O chefe dos seringueiros, não tendo mais esperanças, e nem mais o
que fazer foi até o índio torturado, e num gesto de prepotência e
ódio, ordenou a ele que dissesse tudo que sabia sobre o tal curador
das matas. Rompe Mato sem entender muito bem o que era falado, clamou
ao chefe dos seringueiros que ele o explicasse melhor sobre que
espírito das matas ele se referia, sem saber que ele próprio era visto
assim por aquele povo.

    Ao ser explicado melhor sobre os fatos acontecidos, Rompe Mato
entende que era sobre as curas feitas por ele que era falado, e em sua
inocência e cultivador da caridade, ele se expressa dizendo que era
ele próprio que levava as crianças até certo ponto da floresta e as
curava com ervas e raízes que colhia após serem abençoadas pelo Pai
das Matas, o grande rei Oxossi.

    O seringueiro chefe fica irradiando ódio pelos olhos com a
resposta, pois acreditava que o índio estava mentindo, e estaria
usando do fato da doença de sua filha para sair da situação que se
encontrava.

    No instante seguinte,sem refletir sobre a situação, o chefe crava
um punhal de aço no peito do índio, que cai inerte nos braços da mãe
terra.

    Os olhos do índio se cerraram, sua respiração se finda, seu
coração, que já não batia mais dentro do peito, despejava lágrimas de
sangue. Ele estava desencarnado.

    Do alto de uma imensa árvore sai a imagem de Oxossi, que plaina
junto ao corpo inerte de Rompe Mato, diante dos olhos de todos.

    E dessa imagem sai uma voz forte, porém serena, dizendo aos
seringueiros que aquele índio era o caminho para a cura de todos que
ali se encontravam, porém a ganância, a prepotência, a falta de
humildade e o ódio, dissiparam todas as esperanças que poderiam ter
naquela região.

    Dizendo isso Oxossi estende a mão, e em sua direção o espírito do
índio se apresenta, não mais com os sinais de tortura que havia
passado, mas como um poderoso guerreiro das matas, que além de ser
abençoado pela proteção de Oxossi, tinha a grandiosa proteção de Ogum,
o senhor das guerras. E essa proteção ia ser usada para retirar das
matas todo aquele ódio deixado pelos seringueiros gananciosos.

    Nesse instante apareceu do lado de Oxossi e de Rompe Mato a imagem
onipotente de Ogum, demonstrando toda a força contida naqueles seres
para lutarem contra o mal.

    Os três partiram para o interior inexplorável da mãe floresta, e
lá Oxossi e Ogum entregaram o índio Rompe Matos aos cuidados da
sagrada e bela Cabocla Jurema, que encaminharia o índio as terras do
Juremá, para que assim esse pudesse ser coroado mais um rei das matas
e poder trabalhar em prol da caridade na linha espiritual da Umbanda.

    A partir desse acontecimento muitas crianças daquela região
tiveram a moléstia, e para desespero de todos os pais a cura não mais
acontecia. Várias delas desencarnaram, inclusive a filha do
seringueiro chefe, que passou a ser odiado por todos seus seguidores,
pois entenderam que ele fora o culpado do desencarne do índio Rompe
Mato, sendo assim não havendo esperanças de cura para ninguém daquela
região, principalmente as crianças.

    O índio passou a ser conhecido como Caboclo Rompe Mato, e era ele
que protegia o espírito de cada criança que desencarnava com a
moléstia pecaminosa, e assim se cria a lenda de que o Caboclo Rompe
Mato é o cuidador e protetor de todas as crianças. E dizem que a cada
manifestação desse Caboclo nos Terreiros de Umbanda, ele vem em
companhia de vários Erês, que mesmo sem se manifestarem em
incorporação, estão dentro do Terreiro para a proteção de todos.

    Que o Caboclo Rompe Mato nos proteja, proteja nossa família e
nossas crianças.

    Salve todos os Caboclos!

    Salve a Cabocla Jurema!

    Patacori Ogum!

    Okê Arô Oxossi!

    Okê Seu Rompe Mato.


Carlos de Ogum

HISTÓRIA DA CABOCLA JANAÍNA.



    História da Cabocla Janaína.

    Eu vi um peixe,
na beira d'água,
solte os cabelos Janaína,
e caia na água.

    Ela é princesa,
ela é feminina,
vamos saravar,
a Cabocla Janaína.

**********************************************************************

    Nos primórdios tempos em que o homem branco colocou a ganância
acima de seu bom senso e partiu em massacre contra os índios, para
lhes roubarem as terras e suas riquezas, nascia uma pequena índia no
meio da floresta, e entre guerras desordenadas entre o homem branco e
índios e a beleza do reino de Pai Oxossi, vinha a esse mundo sem lei a
pequena índia Janaína.

    Seu pai, o cacique daquela tribo de índios e índias valentes, em
um grande ataque dos brancos, lutou pela sua gente até que fora
assassinado covardemente, entregando seu espírito ao Rei das
florestas, Pai Oxossi, Orixá no qual o guerreiro cacique tinha tanta
adoração.

    Sua mãe, uma guerreira de uma tribo valente, que tinha uma vida de
luta, para junto com suas amazonas guerreiras, defenderem suas terras
e sua gente custasse o que custasse, mesmo estando sobre a grande
pressão de um ataque dos homens brancos e grávida, ainda lutava. Mas
ao ver o corpo inerte de seu amado cacique, pai de sua filha, a jovem
índia guerreira desabou. E com a sua gestação já chegando ao dia
limite, ela teve que naquele momento fazer algo que dentro de si
achava impossível, fugir, deixar para trás seu povo, suas terras
sagradas, sua vida.

    Mas deveria preservar a vida de sua filha, deveria partir dali,
buscar um lugar tranquilo para quando chegar o momento do parto, ela
ficasse segura, para assim dar segurança a sua pequena menina.

    E assim foi feito, a jovem índia, com as dores do parto, com as
dores de uma perda, com as dores em seu coração dilacerado pela
maldade dos homens brancos sobre seu povo, ela partiu se embreando
pela floresta que no mesmo momento que era encantadora era
assustadora.

    Ao chegar em um certo ponto da floresta fechada, onde se ouvia
apenas o som dos ventos nas folhagens das árvores e os ruídos de
vários animais que habitavam aquele espaço, a índia, fraquejada, se
deita ao chão, pedindo aos espíritos da floresta que a ajudassem a ter
sua criança, e que conseguisse sobreviver para ver essa criança
crescer e ser uma guerreira, que lutaria em prol de seu povo.

    O parto aconteceu, após algum tempo de dores intensas, a criança
veio ao mundo. Era uma linda menina, uma indiazinha de rosto meigo e
belo. E após tantos acontecimentos, após a grande pressão de um ataque
dos homens brancos, e estando sozinha no meio da floresta, fica
encantada ao ver pela primeira vez o rosto angelical da pequena
indiazinha

    Raios de sol atravessavam as densas folhagens das árvores,
gigantescas, esses raios chegavam até a pequena menina, como parecendo
a proteger de tudo e todos.

    A índia sabia que não deveria ficar ali por muito tempo, deveria
buscar abrigo. Animais selvagens, homens brancos gananciosos, tudo
poderia acontecer. E ela em um esforço tremendo, partiu para a busca
de um abrigo.

    Com a menina nos braços, a índia caminhou por algumas léguas, até
que na saída da floresta e entre uma linda praia, seguiu até uma gruta
nas pedras que daria para o mar. E lá ela ficou, para descansar,
alimentar-se e alimentar a pequena índia.

    Alguns dias se passaram, a índia mãe já estava bem mais forte, sua
pequena estava linda. A índia mãe passava seus dias admirando sua
filha, buscando alimento para ela e sentada nas rochas observando, de
um lado a imensidão do mar, e do outro a extraordinária beleza da
floresta. Até que certo dia, a índia se encontrava de olhos fixos no
mar, sem perceber que a seu lado havia uma linda mulher envolvida em
um manto azulado. De olhos fixos também para o mar, a mulher diz em
voz meiga e serena:

"A grandeza das águas do mar, quando junta-se com a imensidão do azul
do céu, transforma-se em um grande poder, um poder que só é comparado
ao amor de uma mãe por um filho."

    Ao ouvir isso a índia deu um sobressalto, envolvendo sua pequena
menina nos braços, em um abraço de proteção.

    A bela mulher com seu manto azulado então diz:

    "Não se assuste minha filha, não lhe farei mal. Cá estou para
pedir-lhe que se afaste daquela gruta essa noite. O mal vai nela
chegar em busca de descanso, para reabilitação e assim terem forças
para novos povos massacrarem. Contudo enquanto nesse descanso
estiverem, o mar vai julgar e dar a sentença de cada um desses
assassinos. Não queria que você e sua princesa estejam lá,
principalmente nas mãos dos homens brancos, que a ganância os fizeram
seres das profundezas, e também não desejaria que estivessem na
sentença da calunga grande. Por isso peço que se afaste essa noite
dessa gruta, levando sua criança. Criança essa que eu me sentiria
imensamente feliz que tivesse o nome de Janaína."

    A índia agradeceu a proteção, obedeceu a linda mulher e partiu.

    A noite chega, do alto de um monte a índia observava a praia e a
gruta. Seus olhos estavam cansados, seu corpo fatigado pelo extenso
tempo que andara para chegar naquele ponto. Acreditava que algo ia
acontecer. Ficava tentando se lembrar de cada palavra que a mulher
lhe teria dito.

    Mas quem seria aquela mulher?
    Porque ela queria que sua menina tivesse o nome de Janaína?

    Perguntas sem respostas.

    E no meio dessa reflexão, a índia se assusta, observando vários
homens brancos, trazendo tochas acesas nas mãos, falando alto,
gargalhando, e chegando a praia, indo direto para a gruta, gruta essa
que a algum tempo atrás ela estaria se apropriando.

    Ela agradece por não está lá, agradece aos deuses das matas, e
agradece mentalmente a bela mulher de manto azul.

    A madrugada chegou, na gruta os homens já não faziam mais
barulhos, pareciam que todos dormiam. Sem que ela percebesse do local
que estava, a maré começa a subir, e quando ela deu por si, toda a
gruta estava encoberta, numa rapidez intensa, que não foi dado a menor
chance daqueles homens saírem.

    O cansaço tomou conta da índia, que adormeceu. Quando desperta o
Sol estava intenso, o céu azul, o mar lá embaixo estava tranquilo, e a
seu lado a linda mulher de manto azul.

    Ela olha para a mulher sorrindo, que lhe retribui. A mulher diz a
ela que deverá voltar a gruta, e lá deveria ficar até a sua pequena
filha começar a dar seus primeiros passos.

    A índia teme pelo novo aumento da maré, mas a mulher a tranquiliza
dizendo que não vai mais acontecer esse fato, e que a partir daquele
dia aquela gruta seria o local onde a sua pequena menina iria se
transformar em uma guerreira, e iria usar disso para salvar seu povo
da ganância dos homens brancos.

    O tempo passou, a menina cresceu, e já ensaiava seus primeiros
passos. E foi aí que a mulher novamente vem a mãe índia e diz:

    "Já é hora de partir desse lugar, essa foi a primeira gruta que
deveríamos ficar com a sua pequena guerreira. De um total de sete
devemos passar por elas até a menina completar seus 13 anos."


    E assim foi feito, a menina Janaína passou por sete grutas,
chamadas de "grutas mágicas", desde o seu nascimento até completar
seus 13 anos. Em cada uma dessas grutas ela tinha a companhia de sua
mãe, e da mulher de manto azul, que por diversas e diversas vezes, a
ensinava a magia de trazer as energias o mar e das florestas.

    A menina acabara de completar seus 13 anos, quando a bela mulher
veio até ela e disse:

    "Jovem Janaína, você está pronta para voltar e libertar seu povo.
Agora você é uma guerreira das matas. Você tem o sangue guerreiro de
seu pai da terra e de sua mãe que era uma amazona. Ambos tinham a
proteção do Orixá Ogum e do Orixá Oxossi. Essa proteção agora está
com você, mas com um teor diferente, pois hoje você tem a proteção e
os ensinamentos de Iemanjá. Você é uma guerreira diferenciada, tem o
dom de lutar e vencer, e tem o dom de dar a força e as energias do mar
e das florestas as suas guerreiras comandadas. Você hoje não é só uma
amazona guerreira, você é o caminho e a luz que todas as amazonas
guerreiras deverão seguir."

    Ela compreende, e mesmo sendo uma menina na idade terrena, já era
uma guerreira vencedora e dominadora na vida espiritual, pois ela
tinha dentro de si todas as energias dadas pelo mar e pelas matas,
afim de comandar uma legião das mais belas e lutadoras guerreiras de
todos os tempos nas florestas de Pai Oxossi.

    E assim ela se foi, junto a sua mãe para o interior da imensidão
da floresta.

    Tempo a tempo, ela se embrenhava nas matas, indo ao encontro de
novas amazonas, de várias idades e tribos, e após algumas palavras e
gestos, as guerreiras entendiam que a Cabocla Janaína era a líder que
buscavam a tanto tempo.

    Assim sendo a Cabocla Janaína formou seu exército de amazonas
guerreiras, dando um grande orgulho a sua mãe.

    E enfim chegou o grande dia, a de libertar os povos índios das
garras malditas dos homens brancos. Tudo foi preparado pela Cabocla
guerreira, toda a sua legião de amazonas aguardavam as ordens de
ataque em vários pontos da floresta, que foram tomadas pelos homens
brancos, que escravizavam os índios de uma forma cruel e covarde.

    E foi dada a ordem de ataque, cada passo dado acima do grandioso
número de brancos era uma vitória para a Cabocla Janaína.

    Aquela guerreira de grito poderoso, de ações intensas e certeiras,
de demonstração de força, não parecia ter a pouca idade que tinha. Era
uma águia atacando suas presas, um leão que dominava todo seu bando,
sua força contagiava todo o grupo de lutadoras, fazendo assim com que
fosse quase impossível de dominá-las.

    Mas os homens brancos quando são tomados pela ganância não tem
limites, em uma junção de centenas de homens dispostos a matar ou
morrer pelas riquezas da terras indígenas, e claro continuar
escravizando os índios, se fecharam em cerco , fazendo assim com que
um grupo de amazonas que estaria um pouco distante da maioria delas
fossem cercadas. Com um sorriso sarcástico no rosto, o líder dos
homens brancos, manda seus comparsas eliminar todas que ali estavam.
Diante disso, ao observar a cena, a guerreira Janaína se coloca na
frente do grupo de guerreiras, e se utilizando dos ensinamentos de sua
protetora Iemanjá, busca um campo de energia do mar, da floresta e das
sete grutas, fazendo assim uma grande camada de energia que protege
todas as guerreiras das centenas de armas de fogo que foram usadas
contra elas.

    O líder dos homens brancos fica apavorado ao ver aquele feito, com
um grande receio, acreditando em uma possível magia vinda dos
espíritos da floresta, ele bate em retirada, junto com toda sua tropa
de assassinos e ladrões.

    As amazonas venceram, com a liderança e toda a sabedoria da
Cabocla Janaína, e todas festejaram essa grande vitória.

    Nos festejos e nas junção das tribos, diante de uma grande
fogueira, onde se encontrava a Cabocla Janaína, a sua mãe e alguns
caciques de tribos vizinhas, poderiam ser visto por todos as lindas
imagens de Pai Oxossi, senhor das matas, de Pai Ogum, senhor da guerra
e paz e da linda Iemanjá, protetora das amazonas, e claro da linda
Cabocla Janaína.


    Hoje essa linda Cabocla guerreira trabalha em prol da caridade nos
Terreiros de Umbanda, trazendo paz, justiça, vitórias, quebrando
magias e usando a energia dos mares, das florestas e das sete grutas
para proteção de seus filhos e consulentes.

Saravá a Cabocla Janaína!

Okê Cabocla linda e guerreira!

Carlos de Ogum.

História da Erê Mariazinha da Praia

              

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Mariazinha da beira da praia,
como é que balança a saia?

É assim, é assim, é assim,
é assim que balança a saia.
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Mariazinha nasceu na beira do rio,
na beira do rio lá no Juremá.
Mariazinha nasceu na beira do rio,
na beira do rio lá no Juremá.
Aonde a lua brilha, clareia cambina.
Clareia mata pra Ibeijada brincar.
Aonde a lua brilha, clareia cambina.
Clareia mata pra Ibeijada brincar.
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    Mariazinha da Praia é uma Entidade da linha das crianças que traz
sua meiguice e sua alegria para os Terreiros de Umbanda, e neles faz a
caridade a quem necessita de ajuda espiritual.

    Como toda linha de Ibeijada ela adora brincar, balançar seu
vestidinho, sorrir, e claro comer seus docinhos e balas enquanto faz
seus trabalhinhos para a caridade.

    Muitas são as Entidades de luz que usam o nome de Mariazinha da
Praia, mas hoje esse texto vai demonstrar a história de uma
específica, a história de Mariazinha da Praia, a pequena menininha
que curava os males das pessoas necessitadas com a água do mar, areia
e conchinhas. Essa linda menininha de olhar carinhoso, de sorriso
tímido, de ar um tanto envergonhado, e a nossa amada Entidade de Luz,
que busca fazer a caridade no Terreiro Pai Ogum Megê (TUPOM),  e que
vamos contar um pedacinho de sua história, que nos foi revelado pelos
nossos amados Pretos Velhos da casa, além da própria Mariazinha.


    Mariazinha nasceu em uma região praieira do Sudeste do Brasil, no
início do século XX. De uma família sem muitos recursos, seus pais
eram pescadores e trabalhavam sobre o domínio de grandes negociadores
de peixes e frutos do mar, com esse fato a linda menina de olhar
tímido passava a maioria do tempo de seu dia admirando a beleza
encantadora do mar, e relembrando o que sua avó, que já tinha partido
para os braços de Oxalá, dizia sobre as magias e as bençãos daquela
imensidão de águas cristalinas, e também sobre a linda rainha dos
mares, na qual a velha senhora a chamava de "princesa Janaína".

    Mariazinha, ainda uma pequenina criança, ficava encantada com
tudo aquilo, seus olhos negros brilhavam de emoção ao se aproximar da
areia fina e das águas dançantes pelo poder das ondas, seu coração
palpitava quando ouvia o som das ondas e sentia o cheiro
inconfundível da maresia.

    Certa tarde em que o Sol já estava se pondo, a maré baixa, os
pescadores se encaminhando a suas choupanas para uma noite de
descanso, Mariazinha sentada a beira do mar, brincando na areia, com
seus pensamentos voltados a aquele momento de paz, se surpreende ao
escutar uma voz feminina, doce, meiga e amável chamando por seu nome,
por um instante ela imaginou ser a sua mãe, mas ao levantar seus olhos
fintou uma linda imagem de mulher, de lindos cabelos longos, sorriso
encantador, vindo em sua direção, parecendo plainar sobre as águas do
mar.

    A menina nem por um instante teve medo, apenas se levantou, sorriu
de volta a bela mulher, sentiu seu coração acelerar em uma emoção
indescritível.

    A mulher levando as mãos até as mãos da menina, as pegou com
carinho, acariciou-as e disse com uma voz amável quase sussurrando:

    "Menina Maria, sei que é uma criança especial e iluminada, sei que
apesar de sua pouca idade vai compreender muito bem o que vou lhe
dizer nesse momento. Você é uma escolhida de Deus, uma criança de
grau espiritual elevado, tem a proteção de todos os Orixás,
principalmente a minha, sua Mãe Iemanjá, ou como dizia sua amada avó,
a "princesa Janaína".

    Você minha doce criança, tem uma missão em sua caminhada, com seu
gesto de amor, carinho e fé, vai auxiliar a compreensão dos seres
desse vilarejo. Com sua fé e seu amor, vai salvar centenas de vidas de
crianças inocentes, mulheres sem proteção e homens que buscam viver em
paz. Isso não vai demorar acontecer, logo deverá demonstrar seu poder
de amar e de curar. A cura deverá vir através da magia das águas dos
Oceanos, através dos alimentos que os mares oferecem, das algas que
brotam nos fundos desses mares. Com essas coisas você vai auxiliar o
combate a uma grande peste que cairá sobre todos desse vilarejo, sendo
bem afortunados ou não. Essa peste além de trazer muitas mortes em
todo povo, vai trazer discórdias entre os homens, fazendo assim que
aqueles que sobreviverem a peste, morrerão por intermédio do ódio
espalhado pelos próprios homens.

    Você deverá curar a maioria dos adoentados, sejam eles do lado dos
trabalhadores ou dos negociantes, não deve se deixar enganar por
falsos profetas, ou pessoas que não veem o desespero de seus
semelhantes. E após isso, vai ter uma grande decisão a tomar, se tomar
a acertada acabará com a peste e com o ódio, fazendo assim os homens
trabalharem em conjunto para a salvação de seus semelhantes. Mas
lembre-se, ao tomar essa decisão, mesmo sendo uma criança em tenra
idade, não deverá ser tomada pelo medo, estarei sempre a seu lado, e
no momento certo você virará um Anjo iluminado a serviço da caridade
em nome de Deus, e eu estarei aqui para lhe ajudar a entender esse
caminho.

    Também será concedida a alegria, de enquanto você auxilia seus
semelhantes, a presença espiritual de sua caridosa avó, senhora que
tanto lhe ama e deseja lhe dar proteção nessa caminhada. Portanto
nunca estarás só.

    Aqui lhe dou a benção e a proteção, ao se sentir receosa, basta
apenas rezar com sua fé infantil."

    E assim a linda Mãe Iemanjá partiu plainando sobre as águas
azuladas do grande mar, indo em direção ao horizonte até desaparecer
dos olhos da menina que estava extasiada.

    Ela com lágrimas nos olhos, ainda sem saber o que viria realmente
pela frente, por um instante sentiu medo, suas lágrimas rolaram como
gotas de cristal, entrelaçou seus dedinhos das mãos uns com os outros
demonstrando a verdadeira idade infantilizada daquela menina tão
pequenina, mas que deveria ser uma grande guerreira a partir desse
momento.

    Ela se vira para a direção do vilarejo e caminha, se sente um
tanto fragilizada e temerosa, acreditaria que não seria capaz de uma
missão tão grande, sendo ela apenas uma criancinha. Suspirou
profundamente, secou as lágrimas que teimavam em cair, e se sentou
novamente nas areias finas da linda praia cercada de palmeiras
verdejantes. Teve medo de retornar ao vilarejo, teve medo de estar em
delírio, teve medo de falhar.

    Sentada ao chão arenoso, de pernas entrelaçadas uma a outra,
levou as mãos ao rosto meigo e angelical, como se tentasse se esconder
do mundo. Sentiu um afago em seus cabelos longos e negros, assustada
deu um sobressalto e viu a seu lado a sua doce avó que tanto amava,
que lhe disse com carinho:

    "Venha meu Anjo, vamos retornar a choupana de seus pais, deverá
dormir e descansar bastante. Esses dias serão de reflexão, e dentro de
alguns dias o trabalho árduo se iniciará, você deverá ter forças para
essa jornada, até chegar o dia que estará junto a mim."

    E juntas se foram para o vilarejo. Ao chegar na choupana em que
residia, olhou aos lados, viu várias crianças de todas as idades
brincando, homens e mulheres refazendo suas redes de pescas
danificadas por algum motivo durante a lida no mar, seus pais na porta
do pequeno casebre em conversas sobre a rotina do dia a dia. E nisso a
menina entendeu que era uma missão grandiosa, mas que ela deveria
fazer com a força e o amor de Deus e dos Orixás.

    Ela correu ao encontro dos pais e os abraçaram, como o inicio de
uma despedida. E ali entendeu que seu destino já estaria traçado.

    Os dias se passaram, e conforme esperado a peste começava a tomar
o corpo físico de várias pessoas do vilarejo, se espalhando
rapidamente entre todos, inclusive pelos senhores de grandes posses
que ali vinham negociar os pescados.

    A primeira morte foi anunciada com temor entre os moradores do
vilarejo, todos buscavam soluções mas sem nenhum êxito. Os males se
espalhavam como fogo em pólvora. Homens, mulheres, crianças, idosos,
ricos, pobres, de todas as crenças e de todas as raças, ninguém
escapava da veracidade da peste maligna.

    Com o domínio da peste sobre todos, os grandes negociadores, com
suas prepotências, seus desamores e suas ganâncias, determinaram que
deveriam encontrar culpados pela grandiosa desgraça que estava
acontecendo. Com isso abriram uma guerra contra os enfraquecidos
pescadores, dizendo que eles teriam trago a peste a região, e deveriam
ser expulsos dali, e os que teimassem em ficar deveriam ser mortos e
terem os corpos queimados para evitar a disseminação da doença.

    Os pescadores não tendo para onde ir, e como trabalharem para
sustentarem suas famílias, decidiram ficar e guerrear contra os
grandes senhores de poder aquisitivo elevado, e assim começara uma
guerra maior que a guerra contra a peste maligna.

    Com esses fatos a menina Mariazinha foi em busca das forças dos
mares para poder tentar paralisar a peste, assim como teria dito a sua
amada Mãe Iemanjá.

    E assim ela o fez, no meio de mortes pela doença ingrata e pelo
ódio entre os homens, ela se ajoelhou diante do mar, pediu
ensinamentos, e o que deveria levar e fazer para auxiliar os doentes.

    Do mar saíram várias Sereias, filhas de Iemanjá, e em suas mãos se
encontravam peixes, crustáceos, algas, e várias outras coisas do fundo
do mar, entre essas Sereias uma trazia um grande jarro com água, e
outra trazia nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua.

    Chegaram bem próximas a orla, Mariazinha adentrou nas águas do
mar, recolheu os peixes e algas, por um instante não sabia muito bem o
que fazer com eles, mas ao seu lado estava a sua amada avó, que foi
lhe dando instruções de como proceder.

    Com a ajuda de sua querida avó, Mariazinha ia pegando das mãos de
cada Sereia um elemento e colocando no jarro, já com as águas sagradas
do mar.

    Macerou algas de diversos tipos, colocou vários peixinhos e
pequenos crustáceos no jarro, que quando eram colocados em seu
interior se transformavam em minúsculos fachos de luzes brilhantes e
coloridas, fazendo com que a linda menina sorri-se se distraindo
deixando aquele momento de ajuda ao próximo ainda mais gratificante.

    Ao acabar a mistura da água, peixes, crustáceos e algas, foi
pedido a menina que ela fizesse uma oração com toda fé de seu coração
e com todo amor de sua alma, e assim ela o fez. Nesse instante as duas
Sereias que traziam nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua,
imantaram a doce menina com eles, e das pequenas mãozinhas da criança
saiu pequenos raios indo de encontro com o jarro sagrado. Após alguns
minutos assim, as Sereias retornaram para o fundo do mar, deixando a
menina apenas com o espírito de sua avó.

    A doce senhora, em luz espiritual, instrui a neta a colocar a água
do jarro em pequenas moringas de barro e levar para o vilarejo o mais
rápido possível, afim de mostrar a todos o poder de cura existente
naquela água, e tentar buscar a paz entre os homens que guerreavam
buscando um culpado pela disseminação da peste.

    A menina foi de volta ao vilarejo, distribuindo a água da moringa,
e ao beberem as pessoas adoentadas logo demonstravam melhoras, abrindo
os olhos, se levantando de seus leitos, controlando a respiração que
antes se apresentava pesada e muito difícil.

    Os moradores do vilarejo entenderam que era uma água sagrada que
vinha curar a todos, e por intermédio das mãos daquela menina
abençoada pelas forças do mar, chegaram até eles para disseminar a
cura e a paz.

    Muitos que já se sentiam fortalecidos, correram para junto da
menina, demonstrando a vontade em ajudá-la, com moringas nas mãos, a
seguiram até o local onde se encontrava o jarro sagrado, enchiam com a
água preparada, e corriam de volta ao vilarejo, e em toda a região em
torno dele, onde também se encontravam várias pessoas sofredoras pelos
males da peste. Pessoas essas que antes desejavam aniquilar todo o
vilarejo, alegando que era dali que se espalhava todo o mal.

    Os ânimos, que antes exaltados, ficaram mais tranquilos com a
notícia de que estava acontecendo um "milagre".

    A menina Mariazinha, juntamente com o espírito de sua avó, ia até
a linda praia, refazia com amor e fé toda a mistura de água, peixes e
ervas, trazidas pelas Sereias, além de imantar com os raios do Sol e
o brilho da Lua, como da primeira vez.

    O trabalho foi intenso e árduo, mas o resultado foi uma vitória a
todos. As pessoas, nitidamente estavam fortalecidas, agradecidas,
felizes e com a fé e as esperanças elevadas.

    Dentre todos os adoentados se encontravam a família de um grande
negociador, de muitas posses, de estrema intolerância e
prepotência. Esse negociador, com seu poder de indução, e poder maior
econômico, foi que levou o aumento do ódio das pessoas que rodeavam a
região do vilarejo, contra os seus moradores, fazendo assim com que a
guerra da intolerância e ódio crescessem. Mas tão debilitado quanto
todos, agora se arrastava em sua residência, sofrendo os males da
peste.

    Ao saber das curas que estavam ocorrendo pela região, pelo
intermédio da água sagrada e pela pequena criança, ordenou a um de
seus serviçais que fosse com urgência até o vilarejo e trouxesse a
cura a ele e a sua família.

    Dentre as pessoas da família desse famigerado negociador, tinha
sua filha, menina doce e meiga, com apenas 5 anos de idade, na qual a
peste atacou com toda a força e sem piedade.

    A menina inerte em seu leito, demonstrava que sua vida se findaria
em poucas horas, despejando assim um grandioso desespero ao negociador
e sua esposa. Vendo o sofrimento da sua pequena filha, o homem
determina que seja trago, o mais rápido possível, o santo remédio para
aliviar suas dores.

    Assim foi feito, o serviçal saindo como um relâmpago em seu baio,
foi até o vilarejo e retornou com uma moringa com a água da cura.

    Todas as pessoas da família do negociador e mais alguns serviçais,
tomaram a água, e logo após sentiam a melhora de uma forma
inexplicável. Porém a menina, filha do poderoso homem, não obteve
nenhuma reação. De olhos fechados, muito debilitada, febril,
continuava inerte, para desespero do homem e sua esposa, que já se
encontravam extremamente mais fortes.

    A febre da menina não cessava, e a cada instante parecia aumentar,
já causando convulsões, sua pele ressecada, pálida, trazia uma imagem
terrível aos olhos de seus pais, que choravam de desespero.

    O homem negociador então sai em disparada com a menina em seus
braços, e a galopes vai em direção do vilarejo, chegando lá aos
gritos de desespero pedindo ajuda a quem pudesse salvar sua filha.

    Mariazinha corre em direção ao homem, que ao vê-la se atira de
joelhos a seus pés, pedindo perdão pela intolerância com o povo do
vilarejo, pedindo que todos o perdoassem por ser ele o culpado de
iniciar uma guerra entre os ricos, contra o povo menos afortunado.
Pedia perdão a Deus, pedia a salvação da sua inocente filha, clamava
intensamente com lágrimas nos olhos pela cura da menina.

    Pegou nas mãos de Mariazinha com carinho, seu jeito arrogante
agora se transformava em plena humildade, beijou as mãos da menina,
sussurrando que já tinha dado a água sagrada a sua filha, mas não teve
efeito sobre ela. E com um choro verdadeiro e de dor, perguntava a
menina, como ela poderia o ajudar.

    Mariazinha se afasta do homem, se vira em direção ao mar, se
ajoelha e começa a fazer sua oração mentalmente a Mãe Iemanjá, que
logo aparece com sua face serena, bondosa, com um sorriso meigo no
rosto, dizendo a menina:

    "Minha doce Mariazinha, para salvar essa menina da garras cruéis
da morte, deverá acrescentar uma nova alga, que deverá ser pega no
interior de uma caverna que fica submersa. Essa caverna vai estar a
vista com a maré baixa, mas terá pouco tempo para entrar lá, apanhar a
alga correta, que você vai reconhecer logo que a vir, e sair antes da
maré subir novamente. Nesse local só poderá ser você, com seu coração
puro e amoroso, deverá entrar. Nesse local vai entender sobre a
maldade e a injustiça dos homens sem coração. Mas não temas, estarei
aqui para te levar a um caminho no qual, sua luz e sua caridade
amorosa vai lhe entregar nas mãos de nosso amado Deus."

Com isso Mariazinha explica as pessoas presentes o que ela deverá
fazer para trazer a menina adoentada a se restabelecer. Explicando
também sobre a nova alga, a caverna, e que deveria ir só.

    O negociador se levanta deixando toda aquela humildade passageira
no chão, esbravejando diz que ele próprio iria buscar a tal alga, que
não deixaria a vida de sua filha nas mãos daquela criança.

    Algumas pessoas contiveram o negociador que parecia esbanjar ódio
em seu coração, mas Mariazinha, sabendo que o tempo era curto, tanto
para salvar a menina, quanto para a baixa e a subida da maré, saiu
correndo, sem dar atenção ao que o homem esbravejava.

    Chegando nas pedras que levavam a caverna, ela aguardou alguns
minutos, e diante de seus olhos via as águas se abaixarem mostrando a
entrada da caverna um pouco mais abaixo de onde ela estava. Ela desceu
até lá, e entrou, começando a busca pela alga.

    Enquanto isso, por um descuido dos pescadores, o negociador saindo
as escondidas, vai em direção da caverna, para que assim conseguisse,
no pensamento dele, trazer a tal alga rapidamente para salvar sua
filha.

    Parecendo outra pessoa de quando de joelhos estava a pedir perdão
pelas suas atrocidades, o negociador se lembrava dos momentos de dor
que passou pela disseminação da peste, na qual ele julgava os
pescadores culpados.

    Sua mente trabalhava uma vingança tão logo assim sua filha se
restabelecesse. Deveria ele expulsar toda aquela "gente suja" dali
antes que trouxessem mais males e pestes a todos da região.

    Chegando nas pedras acima da entrada da caverna, ele já ia descer
quando notou que as águas começavam a subir, avistou a menina
Mariazinha, que nesse momento já estava com as algas nas mãos, na
entrada da caverna.

    Ele ao vê-la gritou, para que ela se apressasse, pois estava
ansioso para levar a cura a sua filha, e claro, na mente dele, iniciar
uma nova guerra contra os pescadores.

    Mariazinha ao prestar atenção no esbravejamento do homem se
distrai, pisando em uma pequena loca nas pedras da entrada da caverna,
na qual seu pé fica preso.

    Tentando de todas as maneiras se soltar, ela pede ajuda ao cruel
negociador, que diz a ela para lhe entregar as algas, pois ela poderia
deixá-las cair nas águas dançantes do mar. E logo que pegasse as algas
ele iria puxá-la para cima, fazendo assim que seu pé se desprendesse
da loca.

    Ela esticou os bracinhos em direção do homem, a maré já estava
alta, as águas que teimavam em encobrir a entrada da caverna já
estava perto da linha da cintura da pequena criança. Ele esticou os
braços a ela, e com uma ação rápida e covarde pegou de suas mãos as
algas, deixando a menina presa.

    Ele olhou para ela com um olhar de desprezo, as águas da maré já
estava chegando ao rosto angelical da menina, ele deu as costas, e
saiu em passos largos, levando nas mãos as algas e deixando Mariazinha
entregue as forças descomunais das águas do mar, que nesse momento já
tinha encoberto toda a caverna.

    O homem andando sobre as pedras, por um instante se descuida,
escorrega e deixa as algas caírem. Desesperado verifica que ficou
algumas algas presas em algumas pedras logo abaixo de si. Com um
esforço descomunal tenta pegá-las, e ao deitar sobre as pedras e
levar a mão em direção as algas, não nota uma enorme onda de tamanho
desproporcional que vem em direção das pedras, arrastando tudo e todos
a sua frente. Com isso o homem e puxado para dentro do mar, e sem a
menor chance de se salvar, tem seu desencarne de um modo trágico e
dolorido.

    Com o sumiço do negociador do vilarejo, alguns pescadores foram
também em direção a caverna, quando avistaram todo o acontecido.
Retornaram desolados por acreditarem que Mariazinha tinha sido
engolida pela enorme onda também, sem saberem da crueldade feita pelo
negociador.

    Ao chegarem ao vilarejo, relataram os fatos a todo povo, não
sabiam o que fazer com a menina adoentada, que nessa altura sua
respiração estava intensamente fraca. A mãe da menina, esposa do
negociador, sentada ao chão, chorava intensamente, clamava a Deus pela
sua menina, e nesse momento o céu abriu um lindo facho de luz azulada,
e desse facho apareceu a linda imagem de Mãe Iemanjá de mãos dadas com
a linda e sorridente Mariazinha, que trazia em uma das mãos algumas
algas, que foram entregues a sua mãe. E essa adicionou no grande
jarro,que brilhou como que se soltasse raios do Sol.

    Deram a água sagrada a menina, que como em um passe de mágica abre
os olhos, olha para sua mãe e sorri. Seu estado febril chega ao fim,
suas dores se acalmam, ela se levanta e abraça a mãe. Como fosse por
encanto a menina se fortaleceu imediatamente, fica de pé, corre até a
luz que envolvia Mariazinha e Iemanjá, e se ajoelha em agradecimento,
fazendo uma linda oração.

    De mãos dadas a Iemanjá, a menina, que agora era chamada de
Mariazinha da Praia, segue para o mar, recanto que agora seria seu
novo lar.

    Todos ficam encantados com aquela imagem, até mesmo os pais de
Mariazinha, que mesmo com a tristeza de saber do desencarne da menina
na vida terrena, entenderam que ela estaria nos braços e na proteção
da Rainha do Mar, e assim teria a caminhada iluminada para o lado de
Deus, sendo ela mais um anjinho que trabalharia em prol da caridade
divina.

    E realmente foi assim, hoje a doce Mariazinha da Praia tem sua
presença em terreiros de Umbanda, trazendo carinho, amor, paz,
ensinamentos, fé e caridade a seus consulentes.


    Salve a Erê Mariazinha da Praia.

    Oni Ibeijada.



Carlos de Ogum