Pertences dos entes queridos.
Quando nossos entes queridos “morrem”, será que há um tempo certo para se desfazer de seus pertences.
– Luiz, acho falta de respeito, ninguém vira santo de um dia para outro e o espírito, quando deixa o corpo fisico, busca, junto a ele, os apegos, as lembranças, as saudades. Não é justo o que fazem muitas pessoas: julgando ajudar, iniciam o inventário do “morto”; dão o chinelo para o fulano, o cobertor que ele tanto gostava para outro; enfim, vão-se desfazendo de tudo o que era dele. Alguém já parou para pensar o que se passa na cabeça e no coração do recém-desencarnado? Não basta a separação do corpo fisico e ainda a família o deserda?
– Então deve a família guardar tudo o que foi do desencarnado?
– Não, Luiz, não é guardar, mas conservá-los por uns seis meses, para depois começar a distribuí-los. Devemos lembrar que poucos desencarnados, ao deixarem o corpo fisico, sentem-se felizes e libertos. A grande maioria desencarna mal e leva para o mundo espiritual as lembranças e as saudades das suas coisas. Por que não dar um tempo para distribuir os seus pertences? Com esse gesto repentino de caridade, a família não salvará aquele que partiu, ao contrário, irá fazê-lo sofrer. Vemos viúvas desesperadas no cemitério, mas na mesma noite do enterro reviram os pertences do marido em busca de documentos com receio de não receberem a pensão. Abrem gavetas, mexem em pastas, sem qualquer respeito, só em busca do seguro, da poupança, enfim, mais preocupadas em não ficar na miséria.
– Mas em nosso país, se a família não abrir os olhos, a viúva fica até sem receber a pensão do marido!
-Não creio que no Brasil a família não possa esperar alguns dias para buscar os seus direitos. Tem de ser logo após o enterro? Acho que não. Isso, Luiz, é muito triste. O desencarnado, doente no mundo espiritual, necessitado de conforto, tamanha a saudade no seu coração, continua com seu perispírito muito ligado àqueles que conviveram com ele durante anos. O que não é justo é o desrespeito àquele que mudou de plano. Portanto, não é certo o que muitos vêm fazendo.
– Irmão, mas em muitas Casas Espíritas existem orientadores que mandam a família doar tudo, para a melhoria espiritual do desencarnado.
– Seria muito fácil se a família encarnada, quando tivesse um filho no erro, fosse aconselhada a doar tudo dele para receber a graça de vê-lo regenerado. Não, Luiz, não é assim. Para ajudar alguém que partiu, temos de buscar os abandonados da sociedade – os chamados pobres – e começar a nos preocupar com eles. E uma transformação lenta. Não é a doação de objetos que foram deixados que vai tornar caridosa a alma de quem fica. Os que assim pensam já demonstram falta de amor ao próximo. Muitas vezes esse doar prematuro traduz o desejo da família em mudar a decoração. Já vimos viúvas se desfazendo de tudo, desde as gravatas até as coleções do marido, consideradas como rivais. Esta irmã o estava ajudando? Claro que não. Estava, sim, levando-o ao desespero.
– Complicado, irmão. Muito complicado.
-Não, Luiz, complicada é a alma humana, porque tem apego às coisas da matéria.
Trecho do livro Na Hora do Adeus – pelo espirito Luiz Sérgio – psicografia de Irene Pacheco Machado (vale a pena ler).
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