quinta-feira, 31 de março de 2016

Minha Umbanda é melhor do que a sua



O terreiro que você frequenta é melhor do que o meu, ou o meu é melhor do que o seu? Afinal, qual é o melhor terreiro para se frequentar?
Tais dúvidas já afrontaram diversos membros e frequentadores da Umbanda e muitos desses ainda acham, ou afirmam categoricamente, que a sua umbanda é a única e verdadeira.
Vamos analisar para entender quem está com a razão e, acredito que as afirmações abaixo valham para o terreiro de quem está lendo este texto.
O terreiro que frequento não pratica o mal e não deseja o mal de ninguém. Lá não é feito amarração para o amor e muito menos é feito magias para as pessoas ganharem na loteria ou afins. O respeito às pessoas é o mínimo exigido. Sempre que possível, é praticada a caridade de doação de materiais ou alimentos aos mais carentes. Os guias espirituais dão bons conselhos e enchem de luz e força o ambiente quando estão presentes. A natureza também é respeitada e as matas, cachoeiras, praias, pedreiras, campos floridos, lagos, lagoas, rios, vento, raio, chuva, estrelas, o sol e a lua, são considerados pontos de força sagrados. Nenhum animal é maltratado. Não há racismo ou exclusões sociais. As crianças e os idosos são benvindos.
Somente por esses poucos exemplos, consigo mostrar que o terreiro que frequento é bom e se o seu se encaixa na maioria dos itens, ele também é bom. Mas ainda não consegui responder qual umbanda é a melhor.
A umbanda, no geral, é baseada em outras fontes de crença: kardecismo, catolicismo, cultos africanos, neopaganismo, crenças indígenas (do Brasil), entre outras. Cada terreiro dosa mais ou menos cada uma dessas crenças e, por isso, há a diferença entre os terreiros. A umbanda de Omolokô e os chamados Umbandomblés, adotam mais os cultos africanos do que o kardecismo em seus rituais. Os mestres e as umbandas de jurema, lá do nordeste, incluem mais catolicismo e rituais indígenas do que o africanismo. A umbanda de mesa branca tem muito mais kardecismo em seus rituais do que as outras vertentes. Há terreiro que não canta para Orixá. Outros não cultuam Exú e Pombagira. Tem aquele terreiro que só faz oração e ladainha para os santos. O outro, não tem atabaques. Tem terreiro sem altar e tem também o que não tem tronqueira. Existe terreiro que sacraliza o Santo Daime, ou ayahuasca. Há, inclusive, terreiro de uma pessoa só.
Ora, se cada terreiro, ou umbanda, é diferente, de acordo o seguimento escolhido pelo sacerdote responsável, não existe maneira de dizer qual deles é melhor do que o outro, pois todos estão corretos, baseados naquilo que direcionam sua fé. A escolha de frequentar este ou aquele terreiro é de cada pessoa, também de acordo com sua crença e ideais. A umbanda, ou as umbandas, assim como as demais religiões refletem aquilo o que cada frequentador busca em sua vida, então o gostar de um templo, se identificar com ele ou não, pode representar o indivíduo se encontrando com um grupo que pensa e compreende a vida e o universo de maneira similar.
Então, se uma umbanda é diferente de outra, por causa de seus rituais, assim como seus frequentadores escolheram aquilo que é melhor para eles, não podemos afirmar, em nenhuma hipótese, que esta umbanda é melhor do que a outra, menos ainda, que este terreiro pratica a verdadeira umbanda e o outro não! Não existe uma única umbanda verdadeira, pois todas são verdadeiras! Isso é, inclusive, um paradoxo: essa umbanda é tão verdadeira quanto à outra, apesar de suas diferenças.
O ponto que quero chegar é o seguinte: tente, aos poucos, tirar o véu de competição que os homens carregam na frente de seus olhos. Tente ver e entender as diferenças, mantendo o devido respeito, e um novo horizonte se abrirá. Ao visitar um terreiro, que não o seu, não busque encontrar os erros e os problemas, mas procure ver as coisas boas que podem fazer por sua vida ou para a sua fé na umbanda; não critique se este parece ser kardecista ou se o outro se parece com o Candomblé; não duvide da opinião de um sobre a fundação, ou não, da Umbanda por Zélio Fernandino de Moraes, ou quem quer que seja. As diferenças entre as umbandas e o respeito entre elas é que fazem a Umbanda se tornar una. A única crença que talvez possa ser taxada de "errada" é aquela que não permite aos seus frequentadores o direito de saber seus fundamentos e intenções.

Você faz parte do seu terreiro?

Fazer Parte de um terreiro de Umbanda

Para você, o que significa "fazer parte de um terreiro"?

Se sua resposta for algo do tipo "É ir nas giras, incorporar, me dedicar e respeitar o congá", vocês está redondamente enganado.

Para explicar isso melhor, vamos quebrar a frase em duas partes e explicar cada uma delas.


  • Fazer parte = participar. Se você vai ao terreiro, você tem que ser ativo, tem que fazer de tudo para que aquela chama continue acesa, afinal é a sua casa espiritual, é o seu lar, sua escola e seu abrigo. Seja ativo! Não se esqueça de que o terreiro não deixa de existir após a gira, participe de todas as suas atividades, converse com seus irmãos, ensine quem está começando, aprenda em conjunto. Mais uma vez: seja ativo!

  • Terreiro = propósito. Já falamos várias vezes aqui que o terreiro não é um conjunto de paredes e um teto, terreiro não é um endereço. terreiro é o propósito que une as pessoas, que as tornam uma família. O propósito não deixa de existir entre uma sessão e outra, você não deixa de ser filho e irmão de santo entre os trabalhos. não é porque você vai à gira e incorpora muito bem, não é porque seus Guias estão bem desenvolvidos, que sua missão está cumprida, que suas obrigações para a manutenção do propósito estão reduzidas.
Fazer parte de m terreiro é, em suma, participar de um propósito, é fazê-lo acontecer. É ajudar, se preparar, treinar, estudar e - acima de tudo isso - compartilhar, ajudar seus irmãos.

Então não se limite a ir às giras, participe das atividades de seu terreiro. Não é porque você sabe cantar um os pontos, por exemplo, que você pode se recusar a ir em um encontro da casa cujo propósito é aprender a cantar. Não é porque sua aura está limpa, que você vai se recusar a ir em uma sessão de descarrego. E assim vai.

Participar é semear, não é colher e exibir os frutos.

Axé para vocês.

quarta-feira, 30 de março de 2016

      O que a Umbanda tem a oferecer?


 Hoje em dia, quando falamos em religião, os questionamentos são diversos. 
A principal questão levantada refere-se à função da mesma nesse início de milênio.

Tentaremos nesse texto, de forma panorâmica, levantar e propor algumas 
reflexões a esse respeito, tendo como foco do nosso estudo a Umbanda.

O que a religião e, mais especificamente, a religião de Umbanda, pode oferecer
 a uma sociedade pós-moderna como a nossa? Como ela pode contribuir junto
ao ser humano em sua busca por paz interior, desenvolvimento pessoal e 
auto-realização?

Quais são suas contribuições ou posições nos aspectos sociais, em relação
 aos grandes problemas, paradoxos e dúvidas, que surgem na 
humanidade contemporânea?

Existe uma ponte entre Umbanda e ciência (?) _ algo indispensável e
 extremamente útil, nos dias de hoje, a estruturação de uma espiritualidade sadia.

O principal ponto de atuação de uma religião está nos aspectos
 subjetivos do “eu”. Antigamente, a religião estava diretamente ligada à Lei, 
aos controles morais e definição de padrões étnicos de uma sociedade _ 
vide os dez mandamentos e seu caráter legislativo, por exemplo. Hoje,
 mais que um padrão de comportamento, a religião deve procurar 
proporcionar “ferramentas reflexivas” ou “direções” para as questões 
existenciais que afligem o ser humano. Em relação a isso, acreditamos 
ser riquíssimo o potencial de contribuição do universo umbandista, mas,
 para tanto, necessitamos que muitas questões, aspectos e interfaces entre 
espiritualidade umbandista e outras religiões e ciência sejam desenvolvidos,
 contribuindo de forma efetiva para que a religião concretize um pensamento
 profundo e integral em relação ao ser humano, assumindo de vez uma
 postura atual e vanguardista dentro do pensamento religioso. Entre
 essas questões, podemos citar:

_ Um estudo aprofundado dos rituais umbandistas, não apenas em 
seus aspectos “magísticos”, mas também em seus sentidos culturais,
 psíquicos e sociais. Como uma gira de Umbanda, através de seus ritos,
 cantos e danças, envolve-se com o inconsciente das pessoas? Como 
podem colaborar para trabalhar aspectos “primitivos” tão reprimidos
 em uma sociedade pós-moderna como a nossa? Como os ritos ganham
 um significado coletivo, e quais são esses significados?

Grandes contribuições a sociologia e a antropologia podem dar à Umbanda.

_ Uma ponte entre as ciências da mente – como a psicanálise, 
psicologia – e a mediunidade, utilizando-se da última também como
 uma forma de explorar e conhecer o inconsciente humano. Mais do que 
isso, os aspectos psicoterápicos de uma gira de Umbanda e suas
 manifestações tão míticas-arquetípicas. Ou será que nunca perceberemos 
como uma gira de “erê”, por exemplo, além do trabalho espiritual realizado,
 muitas vezes funciona como uma sessão de psicoterapia em grupo?

_ A mediunidade como prática de autoconhecimento e porta para
 momentâneos estados alterados de consciência que contribuem para
o vislumbre e o alcance permanente de estágios de consciência superiores.
 Além disso, por que não a prática meditativa dentro da Umbanda (?) _ 
prática essa tão difundida pelas religiões orientais e que pesquisas 
recentes dentro da neurociência demonstram de forma inequívoca 
seus benefícios em relação à saúde física, emocional e mental.

_ Uma proposta bem fundamentada de integração de corpo-mente-espírito. 
Contribuição muito importante tanto em relação ao bem estar do indivíduo,
 como também dentro da medicina, visto que a OMS (Organização
 Mundial da Saúde) hoje admite que as doenças tenham como causas 
uma série de fatores dentro de um paradigma bio-psíquico-social 
caminhando para uma visão ainda mais holística, uma visão 
bio-psíquico-sócio-espiritual.

_ O estudo comparativo entre religiões, com uma proposta de tolerância 
e respeito as mais diversas tradições. Por seu caráter sincrético, 
heterodoxo e anti-fundamentalista, a Umbanda tem um exemplo
 prático de paz as inúmeras questões de conflitos étnico-religiosos que
 existem ao redor do mundo.

_ A liberdade de pensamento e de vida que a Umbanda dá as pessoas
 também deveria ser mais difundido, visto que isso se adapta muito 
bem ao modelo de espiritualidade que surge como tendência nesse começo 
de século XXI. Parece-nos que a Umbanda há muito tempo deixou 
de lado a velha ortodoxia religiosa de “um único pastor e único rebanho”,
para uma visão heterodoxa de se pensar espiritualidade, onde ela assume
 diversas formas de acordo com o estágio de desenvolvimento 
consciencial de cada pessoa, o que vem de encontro – por exemplo 
– com as idéias universalistas de Swami Vivekananda e seu 
discurso de “uma Verdade/Religião própria para cada pessoa na Terra”.
 E a Umbanda, assim como muitas outras religiões, pode sim 
desenvolver essa multiplicidade na unidade.

_ O resgate do sagrado na natureza e o respeito ao planeta como um
 grande organismo vivo. Na antiga tradição yorubana tínhamos um Orixá
 chamado Onilé, que representava a Terra planeta, a mãe Terra. Mesmo
 que seu culto não tenha se preservado, tanto nos candomblés atuais 
na Umbanda, através de seus outros “irmãos” Orixás, o culto a natureza 
é preservado e, em uma época crítica em termos ecológicos, a visão 
sagrada do planeta, dos mares, dos rios, das matas, dos animais,
 etc - ganha uma importância ideológica muito grande e dota a 
espiritualidade umbandista de uma consciência ecológica necessária.

_ O desenvolvimento de uma mística dentro da Umbanda, onde elementos
 pré-pessoais como os mitos e o pensamento mágico-animista, possam 
ser trabalhados dentro da racionalidade, levando até mesmo ao 
desenvolvimento de aspectos transpessoais, transracionais e trans-éticos
dentro da religião. A identificação do médium em transe com o Todo
 através do Orixá, a trans-ética que deve reger os trabalhos magísticos
 de Umbanda, os insights e a lucidez verdadeira que levam a mente 
para picos além da razão e do alcance da linguagem, o fim da ilusão
 dualista para uma real compreensão monista através da iluminação, 
são exemplos de aspectos transpessoais que podem ser (e faltam ser) 
desenvolvidos dentro da religião.

_ Os aspectos culturais, afinal Orixá é cultura, as entidades de Umbanda 
são cultura o sincretismo umbandista é cultura. Umbanda é cultura e é
 triste perceber o descaso, seja de pessoas não adeptas, como de 
umbandistas, que simplesmente não compreendem a importância cultural
 da Umbanda e da herança afro-indígena na construção de uma identidade
 nacional. A arte em suas mais variadas expressões tem na Umbanda um 
rico universo de inspiração. Cabe a ela apoiar e desenvolver mais aspectos 
de sua arte sacra.

Essas são, ao nosso entendimento, algumas das “questões-desafios” que a 
Umbanda tem pela frente, principalmente por ser uma religião nova,
 estabelecendo-se em um mundo extremamente multifacetado como o 
nosso. Muito mais poderia e com certeza deve ser discutido e desenvolvido
 dentro dela.

Apenas por essa introdução já se pode perceber a complexidade da
 questão e como é impossível ter uma resposta definitiva a respeito de tudo
 isso. Muitos podem achar que o que aqui foi dito esteja muito distante da
 realidade dos terreiros. Mas acreditamos que a discussão é pertinente,
principalmente devido ao centenário, onde muito mais que festas,
 deveríamos aproveitar esse momento para uma maior aproximação 
de ideais e pessoas, além de uma sólida estruturação do pensamento 
umbandista. Esperamos em outros textos abordar de forma mais 
profunda e propor algumas idéias a respeito das questões e 
relações aqui levantas. Esperamos também que outros umbandistas


Por Fernando Sepe
Batuque de Aleluia Realizado no dia 27/03/2016
No Yle Ogum e Iemanjá























 
















Bará...Obrigado por ter mantido meu ânimo, minha alegria 

para que

eu pudesse encarar as coisas que acontecem de forma

serena e sem

preconceitos, 



Ogum...Obrigado por ter me inspirado a viver sempre com 

tenacidade, determinação e sem medo de enfrentar os

obstáculos, 


Oxossi...Obrigado por ter me estimulado a conquistar o 

sucesso, prosperidade e a fartura em todos os setores da 

minha vida, 


Ossain... Obrigado por ter me fornecido o bálsamo e a seiva

 revitalizante que restaura minhas energias,  


Obaluayê... Obrigado por me abrigar embaixo de suas 

palhas, quando me sinto ferido e por curar as minhas 

chagas, permitindo me reerguer 


Xangô... Obrigado por consolidar a justiça em meus 

julgamentos e decisões, 


Iemanjá...Obrigado por me deixar penetrar nos teus 

domínios e jogo-me feliz em teus braços.


Tanto medo tinha de vós porque não sabia que tudo o que

me oferecia era o seu imenso amor.



Obá... Obrigado por tornar-me forte nas horas necessárias,



Iansã... Obrigado por iluminar meus caminhos com seus 

raios, 


Oxum... Obrigado por ter me dado serenidade para agir de 

forma consciente e equilibrada,

Obrigado por renovar minhas esperanças 

diariamente, 






quarta-feira, 23 de março de 2016

DUAS PERGUNTAS




Olá queridos filhos, amigos, irmãos e leitores. Vou confessar para vocês que eu não me planejo muito na hora de escrever. Realmente não defino uma pauta semanal com assuntos importantes. Não, eu me deixo guiar pelo acaso e curiosamente a vida me planta nos sentidos algo interessante para discutir. E foi exatamente isso que me aconteceu ontem.

Em uma conversa trivial com uma filha, ela me relembrou uma pergunta crucial a todo umbandista: 

"O que você espera de um terreiro?"

E é exatamente sobre isso que conversaremos hoje. A minha opinião é simples: não espere nada! Porque é exatamente este o propósito da Umbanda, você não ganhará absolutamente nada da instituição ou de qualquer pessoa lá, seja ela carnal ou espirito. O umbandista está na fé para se doar, ele tem a consciência de que faz parte de uma grande máquina chamada vida e sabe que ali ele representa uma dentre milhões de engrenagens que precisa funcionar perfeitamente para que toda a estrutura siga em frente sem danos ou excesso de pressão na engrenagem seguinte. E ele faz mais, ele trabalha mais do que realmente pode para que alguma peça próxima que, por ventura esteja com alguma dificuldade, não sofra tanto com o peso do trabalho.

Isso é ser umbandista: é dar sem esperar receber. Não falo de dar algo material, algum objeto ou valor, eu refiro-me a dar-se, a se entregar de corpo e alma ás atividades do templo afim de aliviar o sofrimento alheio. Fazendo isso vocês sentir-se-ão mais recompensados do que se fossem aplaudidos de pé por uma multidão, isso eu posso apostar!

"Mas como eu faço isso mesmo estando cheio de problemas?"

É uma questão de visão. Uma outra amiga (creio que já posso me referir á ela assim) me mandou hoje uma linda mensagem que, em suma, diz que a vida é uma questão de escolhas. Você escolhe estar feliz ou triste, viver ou morrer, ajudar ou esperar auxílio mesmo sabendo que Oxalá lhe deus plenas condições físicas e mentais de vencer as demandas? A escolha é sua, o livre arbítrio é uma dádiva que Deus nos deu para que possamos fazer de nossas vidas o que bem entendermos e arcar com as consequências. Por isso eu digo a vocês que escolham estar bem, firmes e dispostos, que vão ao terreiro ou ao templo de sua fé para ajudar e fazer o bem, para contribuir com a sua força de espírito. Você sentirá como as energias do local mudarão, como tudo fluirá melhor e mais gracioso. E se você tem problemas, não se preocupe porque você não está só. Todos temos em menor ou maior grau, mas temos! Só que na Umbanda cremos em duas Leis que convergem: a Lei do Retorno e a Lei do Trabalho. Então ajude e a vida lhe mostrará a sua gratidão.

Com base neste pensamento eu deixo duas  questões a vocês:
  1. O que você espera de seu terreiro (leia-se sua religião)?
  2. O que você acha que seu terreiro espera de você?

A todos vocês um forte abraço e que Zambi os ilumine. Axé.

PAIS E FILHOS



Era festa de Ogum, um grande retorno depois de quase 4 anos sem sessões naquele pequeno terreiro, também fazia praticamente o mesmo tempo que eu não pisava ali - foi quando comecei a faculdade e as tarefas no Portal dos Orixás se tornaram mais árduas. Adentrei na casa junto com meus filhos, mãe e irmãos e pude rever pessoas muito importantes para mim, dentre elas meu padrinho Petrolino e a minha madrinha Maria, pessoa que me deu um dos conselhos mais profundos para meu desenvolvimento espiritual: "se segure firme, porque assim os Guias fazem mais força para agir e ficam mais presentes. E nunca mude, você é o que Deus quer e se orgulhe de suas virtudes sem ficar vaidoso".

Já deu para sentir o quão pequenino eu era ali naquela casa, não? E eu estava feliz por isso. Feliz por estar lá como filho, como aprendiz observando os grandes trabalharem com a garra de meninos. Uma viagem ao passado, me via uma criança novamente com minhas dúvidas e aquela euforia por saber quem eram meus pais de cabeça, Orixás protetores e demais linhas. Um garoto ávido por conhecimento cantando e batendo palmas, com os olhos brilhando a casa manifestação espiritual, aquela Cláudio que chegava em casa depois da gira comentando com os irmãos "Meeeeeeu, eu quase ão lembro de nada! Como o baiano dançou o hoje, você viu?". Eu estava feliz por não ter comigo a responsabilidade de ser um pai de santo.

Mas nada é como a gente imagina. O dever que nos é conferido pelo astral não pode ser abandonado, sequer temporariamente. Quando a gira começou tudo estava diferente, eu era outra pessoa, uma versão diferente do Cláudio de outrora, mais duro e atencioso, chamando a responsabilidade para mim da mesma maneira que minha Mãe de Santo e meu irmão, Pai Peninha. Os olhares eram inquietos sobre nossos filhos que nos acompanhavam, queríamos saber se estavam bem, se estavam firmes e se precisavam de algo. A gira seguia e eu não me sentia filho como eu queria, eu era ali um visitante na casa em que um dia fui hóspede.

Saí de lá com uma certeza: eu estava feliz. Não da maneira que eu esperava ficar, mas feliz por ter o que eu tenho, por ter sido escolhido pelos Orixás e recebido deles filhos ímpares que, via de regra, me fazem querer largar tudo e desaparecer e logo em seguida aplaudi-los de pé por seus acertos. Estava feliz por poder enxergar as coisas com mais clareza, por ver que sou um bom produto de de minhas experiências - principalmente as negativas como as passagem de Belzebú e a festa de Exú de quatro ou cinco anos atrás, fatos que prometo um dia contar a vocês. Principalmente fiquei feliz por rever grandes amigos e poder, novamente, me espelhar em sua sabedoria.

Umbanda é isso, é visão, admiração e uma surpresa a cada dia.

Axé.

Arquétipos, estereótipos e personalidades.




Três itens de grande importância na psicologia, vou conceitua-los para que possamos dar continuidade a nossa leitura de hoje. 

Arquétipo
O Psiquiatra Carl Jung definiu o termo arquétipo como sendo o molde resultante da somatória de experiências vividas pela humanidade de maneira inconsciente em cada ser. 

O que ???

Falando de uma maneira mais simples, nossa amigo Jung diz, que arquétipos são concepções adquiridas não exclusivamente por você leitor, ou pela sua mãe ou só pelo seu pai, esse molde ideológico é construído através de todas as experiências que a humanidade já teve embasadas, na crença, nos valores, na moralidade etc..

Um exemplo disso; ainda quando atuava como analista, Jung tinha pacientes que tinham sonhos e alucinações com mitos que nem se quer conheciam devido a idade que tinham, porém tais mitos já eram muito conhecidos historicamente, como ainda são hoje Hércules, Zeus e toda sua cúpula de deuses. Outro exemplo mais palpável é a forma inconsciente de crença num ser supremo que crianças de 5 a 7 anos tem, mesmo que seus pais nunca tenham falado sobre Deus, Jesus ou qualquer divindade, todas irão questionar, sobre o que existe no céu, ou pra onde iremos depois de morrermos, o famoso consciente coletivo atuando. 

Isso é um arquétipo e ele varia de acordo com o contexto que a humanidade estiver inserida. 

Estereótipos
Simples de ser explicado, quer ver ? 

Filhos de Ogum, são valentes, guerreiros, impulsivos, tem porte forte, são altos, muito de seus filhos seguem profissões que são regidas por alta disciplina e com grande inclinação para o militarismo. 

Viu ? Isso é um estereótipo, é caracterizar alguém por determinadas condições que a pessoa possui, um outro exemplo mais simples. 

Defina um corintiano: Maloqueiro, tatuado, sofredor e mora na Zona Leste.

Personalidade:
A grosso modo é o conjunto de características que determinam o jeito de pensar, sentir e agir de cada ser, em suma junte um arquétipo e um estereótipo e terá uma personalidade. 

Ufa, quanto blá blá blá Arruda, pra que tudo isso ? 

Bom vamos lá, já sabidos do que é e o que significa cada termo acima, podemos dar continuidade a nossa leitura.

Como todo bom ser humano, em determinadas situações é muito fácil agente externar a causa do problema do que assumirmos que ele está dentro de nós, culpar agentes externos nos da aquela falsa sensação de alivio e de estarmos livres de culpa. 

"Hoje meu dia foi uma droga por causa desse transito terrível que já me estressou pela manhã". 

Não, o transito sempre esteve lá todas as manhãs, hoje você estava mais apto a se estressar e assim o fez, seu dia todo foi muito ruim e para se livrar da culpa unicamente sua, externalizou para o transito. 

E não é que o mesmo acontecem com nossos queridos Orixás ? Por diversas vezes, já vi acontecer de pessoas externalizarem seus vacilos para o santo. 

"Ah desculpe, sou filho de Ogum, não me contive e explodi com você por conta disso" ou "Ah é difícil ter perdoar, sabe como é minha mãe Oxum né sou igual ela, sou rancorosa." 

Temos nosso arquétipo, o qual não está inserido diretamente no contexto africano, tais mitos não fazem parte de nosso consciente coletivo, não estamos dentro desse cenário, por lógica esse moldes foram acoplados à nossa personalidade por vivencias mais atuais, pelo ambiente em que se foi educado e formado, afinal nem todos os filhos de Ogum são pessoas violentas, todo filho de Xangô é gordo e todo filho de Oxóssi é magro e introspectivo, alias sou a prova viva disso. 

Assumir totalmente o esteriótipo de nosso pai e de nossa mãe, não é a forma mais saudável de reconhece-los, vamos lembrar que a nossa reforma intima é constante, é a luta diária contra nossos instintos mais bruscos, apresentar tonalidade explosiva por ser filho de Ogum ou de Iansã não é motivo de orgulho, alias está ai a grande prova para o filho de fé, se bem sabem que tem essa tendencia, e que também sabem que isso não faz parte de seu arquétipo, sua verdadeira luta estará em conter tais características sua reforma intima agora já pode ser melhor margeada.

A formula é simples porém a aplicação é difícil mas vai uma frase que ouvi essa semana do meu grande amigo Cláudio, e que pode ajudar vocês a lapidarem seus próprios instintos. 

"Foque nos seus aspectos positivos e apenas corrija aquilo que não é".

É isso meus amados irmãos, que meu pai Oxóssi ilumine a caçada de todos vocês.