quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Concentração na corrente é fundamental

Eu sou Umbandista - por Etiene Sales.

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Eu sou Umbandista...Mas o que é isso? O que é ser Umbandista?
É não ter vergonha de dizer: "Eu sou Umbandista".
É não ter vergonha de ser identificado como Umbandista.
É se dar,acima de tudo a um trabalho espiritual.
É saber que um terreiro,um centro, uma casa de Umbanda é um local espiritual e não a Religião de Umbanda em seu todo, mas todos os terreiros,centros e casas de Umbanda, representam a Religião de Umbanda.
É saber respeitar para ser respeitado,é saber amar para ser amado,é saber ouvir para ser escutado,é saber dar um pouco de si para receber um pouco de Deus dentro de si.
É saber que a Umbanda não faz milagres,quem os faz é Deus e quem os recebe os mereceu.
É saber que uma casa de Umbanda não vende nem dá salvação,mas oferece ajuda aos que querem encontrar um caminho.
É ter respeito por sua casa, por seu sacerdote e pela Religião de Umbanda como um todo: irmandade.
É saber conversar com seu sacerdote e retirar suas dúvidas.
É saber que nem sempre estamos preparados. Que são necessários sacrifícios,tempo e dedicação para o sacerdócio.
É entrar em um terreiro sem ter hora para sair ou sair do terreiro após o último consulente ser atendido.
É mesmo sem fumar e beber dar liberdade aos meus guias para que eles utilizem esses materiais para ajudar ao próximo, confiando que me deixem sempre bem após as sessões.
É me dar ao meu Orixá para que ele me possua com sua força e me deixe um pouco dessa força para que eu possa viver meu dia-a-dia numa luta constante em benefício dos que precisam de auxílio espiritual.
É sofrer por não negar o que sou e ser o que sou com dignidade, com amor e dedicação.
É ser chamado de atrasado, de sujo,de ignorante, conservador, alienígena,louco. E ainda assim,amar minha religião e defendê-la com todo carinho e amor que ela merece.
É ser ofendido físico,espiritual e moralmente, mas mesmo assim continuar amando minha Umbanda.
É ser chamado de adorador do Diabo, de Satanás, de servo dos encostos e mesmo assim levantar a cabeça,sorrir e seguir em frente com dignidade.
É ser Umbandista e pedindo sempre a Zambi para que eu nunca esteja Umbandista.
É acreditar mesmo nos piores momentos,com a pior das doenças,estando um caco espiritual e material,que os Orixás e os guias,mesmo que não possam nos tirar dessas situações, estarão ali, ao nosso lado,momento a momento nos dando força e coragem; ser Umbandista é acima de tudo acreditar nos Orixás e nos guias, pois eles representam a essência e a pureza de Deus.
É dizer sim, onde os outros dizem não!
É saber respeitar o que o outro faz como Umbanda, mesmo que seja diferente da nossa, mas sabendo que existe um propósito no que ambos estão fazendo.
É vestir o branco sem vaidade.
É alguém que você nunca viu te agradecer porque um dos seus guias a ajudou e não ter orgulho.
É colocar suas guias e sentir o peso de uma responsabilidade onde muitos possam ver ostentação.
É chorar, sorrir, andar,respirar e viver dentro de uma religião sem querer nada em troca.
É ter vergonha de pedir aos Orixás por você,mas não ter vergonha de pedir pelos outros.
É não ter vergonha de levar uma oferenda em uma praia ou mata,nem ter vergonha de exercer a nossa religiosidade diante dos outros.
É estar sempre pronto para servir a espiritualidade, seja no terreiro,seja numa encruza, seja na calunga,seja no cemitério, seja na macaia,seja nos caminhos. Seja em qualquer lugar onde nosso trabalho seja necessário.
É se alegrar por saber que a Umbanda é uma religião maravilhosa,mas também sofrer porque os Umbandistas ainda são tão preconceituosos uns com os outros.
É ficar incorporado 5, 6 horas em cada uma das giras, sentindo seu corpo moído e ao mesmo tempo sentir a satisfação e o bem estar por mais um dia de trabalho.
É sentir a força do zoar dos atabaques, sua vibração, sua importância, sua ação, sua força dentro de uma gira e no trabalho espiritual.
É arriar a oferenda para o Orixá e receber seu Axé.
É ver um consulente entrar no terreiro chorando e vê-lo mais tarde sair do terreiro sorrindo.
É ter esperança que um dia, nós Umbandistas,acharemos a receita do respeito mútuo.
É ser Umbandista mesmo que outros digam que o que você faz, sua prática,sua fé, sua doutrina, seu acreditar, sua dedicação, seu suor, suas lágrimas e sacrifício, não sejam Umbanda.
É saber que existe vaidade mesmo quando alguém diz que não têm vaidade: vaidade de não ter vaidade.
É saber o que significa a Umbanda não para você,mas para todos.
É saber que as palavras somente não bastam. Deve haver atitude junto com as palavras: falar e fazer,pensar e ser,ser e nunca estar.
É saber que a Umbanda não vê cor, não vê raça, não vê status social, não vê poder econômico, não vê credo. Só vê ajuda,caridade, luta, justiça, cura, lágrima… e bom,mal e bem...Os problemas,as necessidades e a ajuda para solucionar os problemas de quem a procura.
É saber que a Umbanda é livre; não tem dono, não tem Papa, mas está aí para ajudar e servir a todos que a procuram.
É saber que você não escolheu a Umbanda, mas que a Umbanda escolheu você.
É amar com todas as forças essa Religião maravilhosa chamada Umbanda.

Respeito ao Templo Sagrado de Umbanda - por Claudete A. H. Andrade






Nós, umbandistas conscientes estamos sempre buscando conhecimento através do estudo da nossa religião; primeiro porque é inerente ao ser humano a busca pelo conhecimento, e segundo, que um médium bem preparado se entrega mais facilmente ao amor e caridade de nossos orixás e guias na realização de um trabalho (gira). Buscamos esse conhecimento não para satisfação própria, mas por amor à nossa religião. Somos o espelho de nossa religião dentro de fora do terreiro. Se amo a minha religião, quero bem representá-la.
Me lembro que, no início da campanha do Censo 2010 era para que todos os umbandistas assumissem sua religião quando perguntado. Quase fiquei no portão aguardando a visita do recenseador, e qual não foi a frustração quando soube que para a pergunta “qual a sua religião?” a resposta só caberia a alguns.
Tenho orgulho de ser umbandista. Sinto que a Umbanda corre junto ao sangue de minhas veias; é nela que busco força, coragem, determinação, inspiração e, sendo assim, quando vemos qualquer ação de preconceito ou desrespeito à Umbanda, entristecemo-nos.
E por isso, meu pedido hoje de conscientização não é para que o médium bem preparado ou que busca sua preparação, nem ao sacerdote dedicado, nem ao cambone que serve com amor ou aos ogãs que dão força às giras com seus toques e cantos, mas à assistência, para que saibam de sua importância na participação de um trabalho (gira).
Sim, senhores freqüentadores assíduos ou não, participantes de um Terreiro de Umbanda, a vossa participação e o vosso respeito são muito importantes para a realização de um bom trabalho.
Há que se conscientizar que um terreiro de Umbanda é um espaço sagrado, onde acontece um dos mistérios de Deus, um mistério transformador, que transforma o profano em sagrado.
Por isso o silêncio, no momento em que você se interioriza, busca dentro de si a verdadeira razão que o levou até ali, afinal, o trabalho já começou.
Ao cruzar a porta de entrada, já um trabalho de amor e caridade espiritual vem acontecendo; então mantenha seu celular, pager ou qualquer outro aparelho eletrônico desligado, para que você possa desligar-se do profano e conectar-se ao sagrado.
Sua roupa deve ser sóbria e comportada, como dita a boa conduta; e conversa paralela, ah, essa também jamais deve existir.
Seu pensamento agora é para Deus, elevado ao Altíssimo, aos Divinos Orixás, Guias, Mestres e Mentores, colocando-se na oração e humildade, para que a misericórdia de Deus lhe conceda aquilo que você foi buscar.
Há, hoje em dia, campanhas e campanhas de conscientização lançadas o tempo todo; uma delas é a campanha de conscientização no trânsito. Esse diferencial não tem que ser só na religião, no trânsito há que se trabalhar para nos tornarmos seres humanos melhores. Então por que não tomar essa postura também na Umbanda?
Não estou aqui ditando regras e deveres a ninguém, muito menos a terreiros de Umbanda, mas acredito que todos gostam de ser tratados com respeito e dignidade, como diz a máxima do cristianismo: “Portanto tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”. Jesus Cristo, durante o Sermão da Montanha, em Mateus 7, 12.
E só para terminar, como exemplo do que acabei de escrever, segue uma experiência:
Outro dia fui à uma Igreja Católica participar de uma missa de sétimo dia. Na hora do sermão, o celular de alguém tocou dentro da igreja e a pessoa que estava sentada nos bancos logo levantou-se e saiu para atender, tendo que cruzar toda a igreja.
Nesse momento o padre parou o sermão e fez-se um silêncio na igreja enquanto a pessoa se retirava. Em seguida o padre fez a seguinte observação:
“Gostaria de lembrá-los, caros fiéis, que é de extrema falta de educação e respeito deixar o celular ligado e atendê-lo dentro de local sagrado. Manda a boa educação que se desligue o celular em um ato de respeito, nos lugares sagrados, templos, igrejas, sinagogas, e em fóruns judiciais”.
Assim, caros irmãos em Oxalá, gostaria de citar as palavras de meu irmão e mestre Alexandre Cumino ao término da “Palavra do Editor”, no JUS de outubro de 2010:
“Afinal, quem não incorpora, camboneia; quem não camboneia, toca; quem não toca, canta; quem não canta, dança... todos dançam, todos vibram, todos participam do sagrado com seu poder e mistério”.
Autora: Claudete A. H. Andrade
Publicado originalmente no Jornal de Umbanda Sagrada – novembro de 2010.

Um diálogo entre Exu e Oxalá - por Douglas Fersan



O céu e a terra fundiam-se no horizonte distante, parecendo uma coisa só, como se não houvesse separação entre o mundo espiritual e o material, a consciência individual e a cósmica. 

Sentado sobre uma pedra em uma enorme montanha, de cabeça baixa e olhos apenas entreabertos, Exu observava o fenômeno da natureza e refletia sobre o seu interminável trabalho. 

_Como é difícil a humanidade – pensou em certo momento – parece nunca estar satisfeita, está sempre querendo mais e, em sua essência egoísta desarmoniza tudo, tudo... Tudo que era para ser tão simples acaba tão complicado.

Com os olhos habituados a enxergar na escuridão e na distância, Exu observou cada canto daqueles arredores. Viu pessoas destruindo a si mesmas através de vícios variados, viu maldades premeditadas e outras praticadas como se fossem atos da mais perfeita normalidade. Viu injustiças, principalmente contra os mais fracos e indefesos. Com seus ouvidos, também atentos a tudo, ouviu mentiras, palavras de maledicência, gritos de ódio e sussurros de traição.

Exu suspirou.

_Serei eu o diabo da humanidade? – pensou ironicamente, ao lembrar o quanto era associado à figura do demônio. Passou horas observando coisas que estava habituado a ver todos os dias: mentiras, fraudes, corrupção, traições, inveja, e uma gama enorme de sentimentos negativos.

Foi quando estava imerso nesses pensamentos que Exu ouviu uma voz ao seu lado, dizendo naquele tom austero, porém complacente:

_Laroyê, Senhor Falante.

Exu ergueu os olhos e vislumbrou a figura altiva de Oxalá.

_Èpa Bàbá – respondeu Exu, fazendo um pequeno movimento com a cabeça, em sinal de respeito.

_Noto que está pensativo, amigo Exu – falou Oxalá. 

Exu respirou fundo, contemplou novamente o horizonte e respondeu:

_Trabalhamos tanto... e incansavelmente, mas os homens parecem não valorizar nosso esforço.

Oxalá moveu os lábios para dizer algo, mas antes que isso acontecesse, Exu, como que prevendo o que seria dito, continuou:

_Não falo em tom de reclamação, sou um trabalhador incansável e o amigo sabe disso. É com prazer que levo o que tem ser levado e retiro o que deve ser retirado. É com satisfação que abro ou fecho os caminhos, de acordo com a necessidade de cada um, é com resignação que acolho sobre minhas costas largas a culpa do mal que muitos espíritos encarnados e desencarnados fazem, não reclamo do meu trabalho. Sou Exu, para mim não existe frio ou calor, cansaço ou preguiça, existe apenas a necessidade de cumprir a tarefa para qual fui designado.

_Se mostra tão resignado e, no entanto, parece que deixa-se abater pelo desânimo – comentou Oxalá, apoiando-se em seu paxorô.

Exu soltou uma gargalhada, ao que Oxalá deu um leve sorriso, com um movimento quase imperceptível no canto direito dos lábios.

_Não sou resignado nem tampouco estou desanimado – falou Exu – estou pensativo sobre pouca inteligência dos homens. Veja só: como responsável pela aplicação da Lei Cármica observo muita coisa. Observo não apenas o sofrimento que alguns homens impõem a si mesmos, mas vejo também as incessantes oportunidades que o Universo dá a cada um dos seres que habitam a Terra. O aprendizado que tanto precisam lhes é dado por bem, mas quase nunca enxergam pelo amor, então lhes é dada a oportunidade de aprender pela dor, mas geralmente só lembram a lição enquanto a dor está a alfinetar sua carne. Com o alívio vem o esquecimento e todos os erros e vícios voltam a aflorar.

Oxalá fez menção de dizer algo, mas com o dedo em riste entre os lábios, novamente Exu o impediu de falar.

_Ouça – disse Exu, colocando a mão em concha na orelha, como se ele e Oxalá precisassem disso para ouvir melhor. E ambos ouviram o som que vinha da Terra. O som da inveja, dos maus sentimentos, da maledicência, da promiscuidade, da ganância. Exu deu outra gargalhada e disse:

_Percebe? Temos trabalho por muitos séculos ainda.

_E isso não é bom? – perguntou Oxalá, que dessa vez não deixou Exu responder e continuou:

_Pobres homens, ignorantes da própria grandeza espiritual e da simplicidade do Universo. Se não desconhecessem tanto o funcionamento das coisas, seriam mais felizes.

_Não estão preocupados em discernir o bem do mal – resmungou Exu.

_E você está, Senhor Falante? – tornou Oxalá. 

Mais uma vez Exu gargalhou.

_Para mim não existe o bem ou o mal. Existe o justo, bem sabe disso.

_Então por que tenta exigir esse discernimento dos pobres homens?

_Eu conheço os caminhos – respondeu Exu um tanto irritado – para mim não existem obstáculos, todos os caminhos se abrem em encruzilhadas. Para mim as portas nunca se fecham e as correntes nunca prendem. Conheço o sutil mistério que separa aquilo que chamam de bem daquilo que chamam de mal. Não sou maniqueísta, não sou benevolente, pois não dou a quem não merece, mas também não sou cruel, pois sempre ajo dentro da Lei. Os homens, coitados, acreditam na visão simplista do bem e do mal, como se todo o Universo, em sua “complexa simplicidade” se resumisse apenas entre o bem e o mal. 

_Pobres homens – repetiu Oxalá.

_Pobres homens – concordou Exu – mesmo olhando o Universo de uma forma tão simplista, dividido apenas entre bem e mal, acabam sempre demonizando tudo, achando que o mal é o melhor caminho para conseguir o que desejam ou então acreditam que são eternas vítimas do mal. E o que é pior, quase sempre eu é que sou o culpado.

_Mas é você o responsável pelo mal? – perguntou Oxalá, admirando o horizonte.

_Sou justo, apenas isso – respondeu Exu.

_Não seria a justiça uma prerrogativa de Xangô? – tornou o maior dos orixás.
Exu olhou fundo nos olhos de Oxalá e respondeu:

_Estou a serviço do Universo, de cada uma das forças que o compõe, inclusive do Senhor da Justiça.

_Isso significa que trabalha em harmonia com o Universo, caro Exu?

_Imaginei que soubesse disso – respondeu Exu, irônico como sempre.

_Acho que sempre soube. Quando observo o horizonte e vejo o céu fundindo-se à Terra, percebo o quanto o material pode estar ligado ao espiritual. Mas também lembro que o sol vai raiar e acredito que apesar de todas as dificuldades que os próprios homens criam, é possível acender a chama da fé em seus corações. Percebo o quanto eles são falhos, mas percebo também o quanto são frágeis e precisam de nós – e nesse momento pousou a mão sobre o ombro de Exu – sejam dos que trabalham na luz ou na escuridão, pois tudo faz parte do Uno e se inter-relacionam. O mesmo homem que hoje está nas profundezas mais abissais, amanhã pode ser o mensageiro da luz.

Exu olhou para os olhos de Oxalá, como se não estivesse concordando, mas dessa vez foi Oxalá quem não deixou que o outro falasse, prosseguindo com sua narrativa:

_Se não fossem os valorosos guardiões que trabalham nas regiões trevosas, dificilmente os que ali sofrem um dia alcançariam o benefício da luz. Se houvesse apenas a luz, não haveria o aprendizado, que tem como ponto de partida o desconhecimento, as trevas. O Universo tão simples é ao mesmo tempo tão inteligente, que mesmo nós, que observamos os homens a uma distância grande, às vezes nos surpreendemos com sua magnitude. Os homens são frutos que precisam amadurecer e você, amigo Exu, é a estufa que os aquece até o ponto certo da maturação e eu sou a mão que os colhe como frutos amadurecidos.

_Quem diria que trabalhamos em harmonia? – disse Exu em meio a um sorriso – acreditam que vivemos a digladiar quando na verdade trabalhamos em busca de um mesmo objetivo: o aprimoramento da raça humana.

Oxalá só não soltou uma gargalhada porque não era esse seu hábito (e sim o de Exu), mas disse sem conseguir esconder o contentamento:

_Então, companheiro Exu, não temos porque lamentar. A ignorância em que vivem os homens é sinal de que ainda temos trabalho a realizar. A pouca sabedoria que possuem significa que ainda estão muito próximos ao ponto de partida e cabe a nós, não importa se chamados de “direita” ou “esquerda”, auxiliá-los em sua caminhada, que é muito longa ainda. Apenas contemplar as mazelas dos corações humanos não irá auxiliá-los em nada. Sou a luz que guia os olhos da humanidade e você é o movimento que não a deixa estática. Se pararmos por um segundo sequer, atrasaremos em séculos e séculos o progresso da raça humana, que tanto depende de nós.

Nesse momento o sol começou a raiar timidamente no horizonte, separando o céu e a Terra. Exu levantou-se da sua pedra e se pôs a caminhar montanha abaixo.

_Aonde vai, Senhor Falante? – perguntou Oxalá, como se não soubesse.

_Vou trabalhar, Senhor dos Orixás – respondeu Exu gargalhando novamente – Esqueceu que sou um trabalhador incansável e que trabalho em harmonia com o Universo, mesmo que ele me imponha a luz do sol?

Oxalá não respondeu, mas esboçou um sorriso tímido. Assim trabalhava o Universo: sempre em harmonia. Os homens, mesmo ainda presos a tantos conceitos primários, trilhavam os primeiros passos em direção ao progresso, pois não estavam órfãos de seus orixás e protetores.

Douglas Fersan – outubro de 2010

Contatos: douglasfersan@uol.com.br

É tudo culpa do Exu - por Douglas Fersan




É tudo culpa do Exu.
Comecei a ouvir essa frase dita em tom de brincadeira, pois nos fóruns de debate umbandistas sempre que algo era questionado e não se encontrava uma explicação plausível, saía-se com a máxima de que “tudo é culpa do Exu”. Tratava-se de uma brincadeira, mas percebi que as pessoas não tinham uma compreensão sobre o real papel de Exu no mundo espiritual. Nem convém aqui descrever novamente a importância de Exu na segurança de uma casa espiritualista – ou mesmo de uma igreja (vide o texto “O Exu na Igreja Evangélica”) – e nas esferas espirituais mais densas. Trata-se de questionar o umbandista acerca de sua compreensão sobre o Exu.
Não é de hoje que noto irmãos umbandistas referindo-se a Exu como entidade negativa, sem luz, possuidora de uma personalidade ambígua e duvidosa. Da mesma forma imputam à pombogira um estereotipo totalmente voltado à sexualidade, muitos afirmando até que foram prostitutas quando viveram na terra, como se isso fosse via de regra.
Ainda somos muito pequenos perante a imensidão complexa e ao mesmo tempo tão simples da espiritualidade. Não conseguimos compreender as coisas mais óbvias e saímos por repetindo impropérios sobre aquilo que deveríamos ter o mínimo de conhecimento.
Nenhum mistério é tão grande que possa resistir à fragilidade da luz. Buscar o entendimento da própria religião deveria ser um dever de cada umbandista, porém é mais fácil acreditar no senso comum, sem nada questionar, repetindo apenas coisas que mais parecem lendas do que realidades lógicas do mundo espiritual.
Quantas e quantas vezes o Exu leva a culpa pelas desgraças que acontecem na vida das pessoas? Estariam nossos compadres tão propensos ao mal? Não se trata de querer dar ao Exu características angelicais, as quais creio que os próprios refutariam, mas também não podemos cair naquela conversa infantil que sempre caminha no sentido de demonizar o Exu.
O universo e seu funcionamento é dual, mas Exu é coerente. Sendo um espírito na condição de nos auxiliar (e como auxiliam), caíram na contradição de auxiliar na vida e nos trabalhos umbandistas e, em seguida, tornarem-se obsessores que forçam as suas vítimas a procurar ajuda em outra casa umbandista? Exu não é burro, nem sequer ingênuo, mas infelizmente muita gente não sabe distinguir Exu de kiumba.
Mas como dizem, é tudo culpa do Exu. Os mesmos que o acusam de espírito obsessor lotam os terreiros nas chamadas giras de esquerda. Sim, pois é a ele que recorrem quando a água bate na bunda. E lá estão os Exus, a aconselhar, a orientar e, dentro do merecimento e da permissão da Lei Universal, a ajudar os mesmos que dali a alguns dias dirão que era tudo culpa do Exu.
Apesar dos modos rudes, os Exus são resignados, pois mesmo com tudo isso, continuam exercendo sua tarefa com dignidade e paciência. E os templos continuam lotados nas giras de Exu, porque eles fazem, eles ajudam sem muitas delongas. E se os terreiros estão cheios, também a culpa é do Exu.

Douglas Fersan – Setembro de 2010

Exu: tão maravilhoso, tão controverso, tão enigmático e tão atraente - por Jordam Godinho



Não podemos iniciar este blog sem a proteção de Exu “Laroyê Exu”, e devemos sempre entender ou pelo menos saber um pouco mais desta maravilhosa entidade na Umbanda bem como Orixá no Candomblé. Este texto trata do que acumulamos e no que se baseia nossa convicção, mesmo que contrárias a muitos irmãos umbadistas, mas temos respeito e admiração por todos, como já publicamos nesse espaço quem somos, reafirmamos aqui que existe somente uma Umbanda, que evoluiu com o tempo e nos mostra uma riqueza de aprendizado e doutrina.

NO CANDOMBLÉ:



Exu é o orixá da comunicação. É o guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano. A palavra Èsù em yorubá significa “esfera” e, na verdade, Exu é o orixá do movimento, o sentido de guardião é muito parecido com a Umbanda, representado pela trunqueira de Exu. Ele é quem deve receber as oferendas em primeiro lugar a fim de assegurar que tudo corra bem e de garantir que sua função de mensageiro entre o mundo material e espiritual seja plenamente realizada.


Historicamente tanto no Brasil como na África, os cristãos sincretizaram Exu como o Diabo, por sua personalidade irreverente, e também por sua representação africana com o pênis ereto, representando a sensualidade e a fertilidade. É importante saber que a história distorce no período colonial e catequizador muitos detalhes que acabamos não descobrindo por ter os enviados da Santa Sé, corrompido ou simplesmente usurpado de relatos de suma importância das religiões.


Por ser provocador, indecente, astucioso e sensual é confundido com Satanás, na teologia yorubá, Exu não está em oposição a Deus, e também não é a personificação do Mal.Mesmo porque nas Matrizes Africanas não existem diabos e nem entidades encarregadas única e exclusivamente por coisas ruins como fazem as religiões cristãs. O Diabo ou Satanás era um anjo que buscava ter mais poder que Deus e foi dado a ele o reino da terra para que assim tivesse poder, outra afirmação do cristianismo é que tudo o que acontece de errado é culpa do Diabo, ao contrário na mitologia yorubá, bem como no Candomblé os Orixás tem sua porção positiva e negativa assim como o próprio ser humano.


O universo possui de um modo geral dois lados: o positivo e o negativo. Exu também funciona de forma positiva ou negativa de acordo como é tratado. Por isso Exu é comparado ao mais humano dos orixás, pois o seu caráter lembra o do ser humano que é de um modo geral muito mutante em suas ações e atitudes.


Exu consegue ser o mais sutil e astuto de todos os orixás. E quando não é tratado como se deve, simplesmente provoca mal entre as pessoas como desentendidos e discussões entre elas e prepara-lhes inúmeras armadilhas. 


Por ser astucioso, vaidoso, culto, sábio, e grande conhecedor da natureza humana e dos assuntos mundanos, os cristãos fizeram o dele símbolo da maldade e do ódio. Porém " … nem completamente mau, nem completamente bom … ", na visão de Pierre Verger Exu age favoravelmente quando tratado convenientemente, identificado no jogo do merindilogun pelo odu okaran.


No Brasil, Exu é um dos mais importantes Orixás nada se faz sem ele, é o primeiro a ser saudado, antes de todos os Orixás, antes de qualquer cerimônia ou evento. Daí a semelhança com a Umbanda, que nada faz sem antes saudar Exu.


NA UMBANDA:



Encontramos aqueles que crêem que os Exus são entidades (espíritos) que só fazem o bem, e outros que crêem que os Exus podem também ser neutros ou maus. Na Umbanda não se manifesta o próprio Orixá, por meio da incorporação. Em breve faremos um artigo sobre a diferença entre entidades e orixás, mas não é errado tratar os Exus na Umbanda como entidades, como também deveríamos aceitar que Exu é um Orixá, a falta do conhecimento ou mesmo do intercâmbio entre as religiões podem trazer aos praticantes muitas confusões.


A entidade Exu não deve ser confundida com o (obsessor), apesar de transitar na mesma Linha das Almas, a função do Exu (entidade) é a de mensageiro, o que leva os pedidos e oferendas dos homens aos Orixás, assim podemos constatar que a função é a mesma do Exu Orixá, a diferença é que o corpo do ser humano é coligado ao seu Exu por meio dos chacras, entrando em contado com a pessoa que procura sua ajuda. 


É ele quem traduz as vontades e desejos humanos para os Orixás ou seres superiores. É imprescindível a sua presença para a realização de qualquer trabalho, porque é o único que efetivamente assegura em uma dimensão o que está acontecendo na outra, abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem dos locais onde estão sendo cultuados. Possuem a função também de proteger o terreiro e seus médiuns.


Vemos aqui o elo de ligação que faz Exu, independente de ser Umbanda ou Candomblé, a função é a mesma, lembrando que no Candomblé é o Orixá do Movimento, e quando falamos das dimensões estamos falando do movimento entre uma e outra dimensão, fazendo a ligação com os Orixás. Mesmo que muitos não concordem não podemos fechar os olhos para estas similaridades. 


A dualidade de Exu confere a ele também a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Possibilita a construção, também permite a destruição. Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu (entidade) habitar as encruzilhadas, cemitérios, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas de entradas e saídas.


As diferenças de ver Exu no Candomblé e na Umbanda. No Candomblé, Exu é como os demais Orixás, uma personalização de fenômenos e energias naturais. O Candomblé considera que as divindades, ou seja, os Orixás, incorporam nos médiuns. Na Umbanda, quem incorpora nos médiuns, além dos Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, entre outros, são os Falangeiros de Orixás, representantes deles, e não os próprios.


A Umbanda não considera Exu como Orixá, mas como entidade que está em uma linha tênue entre o baixo astral e o mundo terreno propriamente dito, esta nas cosias erradas de nosso mundo terreno, o que particularmente não acreditamos, como também não acreditamos que sejam espíritos em evolução, mas estão em uma missão a qual escolheram vir, nós acreditamos e respeitamos o Orixá Exu, e entendemos que a função seja no Candomblé ou na Umbanda são muito similares, guardadas as devidas proporções de culto. 


As entidades são energias mais "densas". Essas entidades podem realizar trabalhos benignos, como curas, orientação em todos os setores da vida pessoal dos consulentes e praticar a caridade em geral. A condição de Exu para um espírito é transitória, na Umbanda entendemos que esta entidade poderá e deverá evoluir de acordo com suas ações ou também por sua vontade permanecer nesta condição, para continuar a ajudar outras entidades que necessitam, como também fazer a caridade.


Os Exus (entidades) são confundidos com os Kiumbas, que são espíritos trevosos ou obsessores, são espíritos desajustados que podemos definir como não aceitam a condição em que se encontram por não terem se desligado da vida terrena, provocando os mais variados distúrbios morais e mentais nas pessoas. Exu é neutro, não é bom nem mau. Os Kiumbas, assim como o Diabo dos Cristãos, são espíritos que se comprazem na prática do mal, apenas por sentirem prazer ou por vingança, calcada no ódio doentio. 

O verdadeiro Exu não faz o mal, para Umbanda muitos foram pessoas como políticos, médicos, advogados, trabalhadores, vadios, prostitutas, pessoas comuns, padres etc., na sua maioria cometeram alguma falha ou escolheram - ou foram escolhidos para - vir nessa forma a fim de redimir seus erros passados. Em seus trabalhos de magia, Exu corta demandas, desfaz trabalhos malignos, feitiços e magia negra, feitos por espíritos obscuros, sem luz (Kiumbas). Ajudam a limpar, retirando os espíritos obsessores e os encaminhando para luz ou para que possam cumprir suas penas em outros lugares do astral inferior.


Se observarmos existem muitas similaridades entre o Exu no Candomblé e na Umbanda, claro que os cultos são totalmente distintos, claro que estamos falando de duas formas de energias diferentes, mas temos que prestar a nossa atenção na função que tem tanto em uma quanto em outra. Sabemos que a Umbanda é uma religião jovem em vista do culto africano, devemos respeito uns aos outros, mas é muito importante vermos quanto de próximos estamos.


É nisso que devemos nos apegar, pois a prática sempre será diferente, mas aprendemos muito uns com os outros, Exu é maravilhoso, é o que mantém aguçada a curiosidade das pessoas, e desmistificar a demonização é dever da Umbanda e do Candomblé e de todas as religiões de culto africano e afro-brasileiro.


Algumas Considerações:


Èsù é um Orixá africano, também conhecido como: Exu, Esu, Eshu, Bara, Ibarabo, Legbá, Elegbara, Eleggua, Akésan, Igèlù, Yangí, Ònan, Lállú, Tiriri, Ijèlú. A palavra elegbara significa “aquele que é possuidor do poder (agbará)” e está ligado à figura de Exu.


Exus de Umbanda, de acordo com a crença religiosa, são espíritos de diversos níveis de luz que incorporam nos médiuns de Umbanda, Omolokô, Catimbó, Batuque, Santo Daime, Xambá e Candomblé de caboclo.


O chamado “Exu Pagão” é tido como o marginal da espiritualidade, aquele sem luz, sem conhecimento da evolução, trabalhando na magia para o mal, embora possa ser despertado para evoluir de condição.


Já o Exu Batizado, é uma alma humana já sensibilizada pelo bem, evoluindo e, trabalhando para o bem, dentro do reino da Quimbanda, por ser força que ainda se ajusta ao meio, nele podendo intervir, como um policial que penetra nos reinos da marginalidade.


Existem 7 hierarquias de 7 exus, denominados como Exu Coroados; São eles: Exu Sete Encruzilhada, Exu Veludo, Exu Tranca Rua, Exu Caveira, Exu Tiriri, Exu Marabô e Pomba Gira ou Pombo gira (Exu Feminino).


Alguns Exus na Umbanda: Exu Arranca Toco,Exu Asa Negra,Exu Belzebu,Exu Brasa,Exu Brasinha,Exu Calunga,Exu Calunguinha,Exu Capa Preta da Encruzilhada,Exu Capa Preta,Exu Capa Preta do Cemitério,Exu Capoeira,Exu Carranca,Exu Catacumba,Exu Caveira,Exu do Cemitério,Exu Cobra,Exu Corcunda,Exu Corrente,Exu Desmancha Tudo,Exu Destranca Ruas,Exu Duas Cabeças,Exu Quebra Galho,Exu Maré,Exu Facada,Exu Ganga,Exu Gato Preto,Exu Gira Mundo,Exu João Caveira,Exu da Campina,Exu da Morte,Exu do Lodo,Exu do Tronco,Exu Lorde da Morte,Exu Lúcifer,Exu Mangueira,Exu Marabô,Exu Matança,Exu das Matas,Exu Meia Noite,Exu Morcego,Exu Mulambo,Exu Pedra Preta,Exu Pimenta,Exu Pinga-Fogo,Exu Pirata do Mar,Exu Ponto Maioral,Exu Porteira,Exu Quebra Galho,Exu Rei,Exu Rei das 7 Encruzilhadas,Exu Rei das Trevas,Exu Sete Brasas,Exu Sete Buracos,Exu Sete Caminhos,Exu Sete Campas,Exu Sete Catacumbas,Exu Sete Caveiras,Exu Sete Covas,Exu Sete Cruzes,Exu Sete Encruzilhadas,Exu Sete Estradas,Exu Sete Facadas,Exu Sete Garfos,Exu Sete da Lira,Exu Sete Montanhas,Exu Sete Poeiras,Exu Sete Porteiras,Exu Sete Queimadas,Exu Tatá Caveira,Exu Teimoso,Exu Tiriri,Exu Toquinho,Exu Tranca-Gira,Exu Tranca-Ruas,Exu Tranca-Ruas das Almas,Exu Tranca-Ruas de Embaré,Exu Tranca-Ruas das Encruzilhadas,Exu Tranca-Ruas das Matas,Exu Tranca-Ruas do Mar,Exu Tranca Tudo,Exu Tronqueira.Exu Veludinho,Exu Veludo da Encruzilhada,Exu Veludo da Mata,Exu Veludo das Almas,Exu Veludo das Sete Encruzilhadas,Exu Ventania,Exu Vira-Mundo,Exu Quebra-Barranco,Exu Cascavel.


Desejamos a todos muito Axé.


Referencias: 
African intellectual heritage Por Molefi K. Asante, Abu Shardow Abarry Publicado por Temple University Press, 1996 ISBN 1566394031;
Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos e na antiga costa dos escravos na África Por Pierre Verger Publicado por EdUSP, 1999 ISBN 8531404754;
Africa Por Phyllis Martin, Patrick O'Meara Publicado por Indiana University Press, 1995 ISBN 0253209846
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia - rito nagô. SP: Companhia das Letras.
BENISTE, José. As águas de Oxalá. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
BENISTE, José. Orun-Aiye. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Salvador: Corrupio.
Caboclo Araribóia, Mãe Maria da Ladeira, Exu Veludo, Preto Velho Tião D’Angola, Caboclo Cobra Coral, Exu Marabô, e a todas as linhas da Umbanda.

Publicado originalmente no Blog http://umbandadexango.blogspot.com em 11/07/2010.

Outro mundo é possível? - por Alexandre Cumino

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As sociedades mais antigas nos ensinavam a ter um olhar de encanto para com o desconhecido. Todas as mitologias nos apresentam o Sagrado de duas formas: “mistério fascinante” e “mistério tremendo”.
Os deuses encantam e fascinam, pois sua manifestação está em toda parte, além de nosso controle, em toda a natureza. Eles habitam um outro mundo e deste mundo controlam nossas vidas, se ocupando de nossos destinos. Desta forma, as pessoas mais afortunadas, como reis e heróis passam a ser consideradas filhas dos deuses. Como Hércules, o filho de Zeus, ou ainda Akenaton, filho de Aton.
Na cultura nórdica Odin recebia pessoalmente os guerreiros desencarnados para um banquete em sua morada celestial. Com o fim das culturas mitológicas imperou o pensamento racional filosófico, onde o “outro mundo” é explicado por meio da Teologia e da Metafísica.
Porém, não nos esqueçamos que os pais da cultura ocidental são os filósofos gregos, que valorizavam o ser humano, e de certa forma, plantaram a semente do desencanto religioso, tão nítida nos dias atuais.
Sócrates, quatro séculos antes de Cristo, no leite de morte, explica a seus discípulos que a alma é imortal e reencarnante. Seu discípulo Platão dedicou parte de sua vida ensinando a existência de um mundo perfeito, o mundo das idéias, do qual este mundo é apenas uma cópia.
Santo Agostinho bebeu da obra platônica para descrever sua Cidade de Deus e fundamentar a idéia de um Céu Católico em oposição ao Inferno para onde iriam os não-católicos.
Allan Kardec também “criou” o seu céu e o seu inferno no mundo astral superior e inferior, onde todos vão se encontrar por afinidade, reciclando algumas das idéias de Platão e Sócrates.
Ainda hoje continuamos nos perguntando se há um outro mundo possível e como será este outro mundo.
O que é real e o que é ilusório nesta vida? Sócrates procurava a Verdade.
Cristo silenciou quando Pilatos lhe perguntou qual era a Verdade. Ao ser questionado sobre o fato de ser um Rei, afirmou que seu reino não era deste mundo.
Seria o outro mundo um outro lugar físico, ou este lugar mesmo com outros valores?
Quando as caravelas de Cabral aportaram na América, os índios pensaram que se tratavam de Deuses, pois apenas Deuses poderiam vir de outro mundo.
Eles estavam certos em uma coisa: eles realmente vinham de outro mundo, pois naquela época, um outro continente era outro mundo. Os índios não conheciam os conceitos de pecado da cultura judaico-cristã. Seria este mundo (a América) o paraíso perdido de Adão e Eva?
Alguns se perguntam se há “outros mundos”, outros quetionam se há vida em outros planetas, se há vida em outras dimensões ou realidades, e ainda outros, se há vida além da vida.
Quem sabe onde está um outro mundo? Outro mundo é possível? Onde?
Devemos construir um outro mundo?
Ou será que quando começarmos a nos esforçar, estaremos competindo uns com os outros, e logo estragando os planos de um mundo melhor? Afinal, o mundo das disputas não pode ser mesmo um mundo melhor...
Qual é a postura que o ser humano tem assumido para si e para os outros?
O que fazemos deste mundo está relacionado com nossa natureza ou com nossa cultura? Até onde somos um produto do meio em que vivemos? Até onde a sociedade determina nosso destino?
Como interpretar o livre arbítrio, quando somos tão fortemente influenciados e persuadidos a seguir um modelo? Até onde as religiões e filosofias nos despertam para um outro mundo?
Até onde a busca por um mundo pode ser uma alienação de nossa realidade? Até onde as religiões nos alienam?
A Umbanda é uma religião em formação, logo temos uma oportunidade única de trazer estes questionamentos para nosso dia a dia. Vamos aproveitar tudo o que há de bom como herança de todas as culturas. Mas, vamos jogar limpo com as pessoas, sem enganar, sem iludir, sem criar novos tabus. Sem promessas de céu ou inferno, sem assustar, fascinar ou criar dependências.
A Umbanda tem a oportunidade única de nos mostrar um caminho de liberdade e responsabilidade. Um outro mundo só é possível quando nos tornarmos outras pessoas e não importa onde estivermos, encarnados ou desencarnados, um outro mundo nunca será um lugar físico, um outro mundo só pode ser um outro estado de consciência. Durante a história da humanidade conhecemos pessoas que estando aqui neste mundo físico mostraram pertencer a outro mundo. Como Cristo, Krishna, Ramakrishna, Madre Tereza, Zélio de Moraes, Chico Xavier e São Francisco, entre outros.
Eles são a prova viva de que um outro mundo é possível!

DESDOBRAMENTO

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Durante o sono o Espírito desprende-se do corpo; devido aos laços fluídicos estarem mais tênues. A noite é um longo período em que está livre para agir noutro plano de existência. Porém, variam os graus de desprendimento e lucidez. Nem todos se afastam do seu corpo, mas permanecem no ambiente doméstico; temem fazê-lo, sentir-se-iam constrangidos num meio estranho (aparentemente).Outros movimentam-se no plano espiritual, mas suas atividades e compressões dependem do nível de elevação. O princípio que rege a permanência fora do corpo é o da afinidade moral, expressa, conforme a explanação anterior, por meio da afinidade vibratória ou sintonia.O espírito será atraído para regiões e companhias que estejam harmonizadas e sintonizadas com ele através das ações, pensamentos, instruções, desejos e intenções, ou seja, impulsos predominantes. Podendo assim, subir mais ou se degradar mais.Para esta maravilhosa doutrina, conforme tais considerações, o sonho é a recordação de uma parte da atividade que o espírito desempenhou durante a libertação permitida pelo sono. Segundo Carlos Toledo Rizzini, interpretação freudiana encara o sonho como apontando para o passado, revelando um aspecto da personalidade.Para o Espiritismo, o sonho também satisfaz impulsos e é uma expressão do estilo de vida, com uma grande diferença: a de não se processar só no plano mental, mas ser uma experiência genuína do espírito que se passa num mundo real e com situações concretas. Como vimos, o espírito, livre temporariamente dos laços orgânicos, empreende atividades noturnas que poderão se caracterizar apenas por satisfação de baixos impulsos, como também, trabalhar e aprender muito. Nesta experiência fora do corpo, na oportunidade do desprendimento através do sono, o ser, poderá ver com clareza a finalidade de sua existência atual, lembrar-se do passado, entrevê o futuro, todavia a amplitude ou não dessas possibilidades é relativa ao grau de evolução do espírito.


Preparação para o Sono


Verificando o lado físico da questão, vamos ver a importância do sono, pelo fato de passarmos 1/3 de nosso dia dormindo, nesta atividade o corpo físico repousa e liberta toxinas. Para o lado espiritual, o espírito liga-se com os seus amigos e intercambia informações, e experiências.Façamos um preparo para o nosso repouso diário:Orgânico – refeições leves, higiene, respiração moderada, trabalho moderado, condução de nosso corpo quanto à postura sem extravagâncias.Mental Espiritual - leituras edificantes, conversas salutares, meditação, oração, serenidade, perdão, bons pensamentos.Todavia não nos esqueçamos que toda prece se fortifica com atos voltados ao bem, pois então, atividades altruístas possibilitam uma melhor afinidade com os bons espíritos.DesdobramentoÉ o nome que se dá o fenômeno de exteriorização do corpo espiritual ou perispírito.


perispírito ainda ligado ao corpo, distancia-se do mesmo, fazendo agora parte do mundo espiritual, ainda que esteja ligado ao corpo por fios fluídicos. Fenômenos estes, naturais que repousam sobre as propriedades do perispírito, sua capacidade de exteriorizar-se, irradiar-se, sobre suas propriedades depois da morte que se aplicam ao perispírito dos vivos (encarnados).Os laços que unem o perispírito ao corpo temporal, afrouxam-se por assim dizer, facultando ao espírito manter-se em relativa distancia, porém, não desligado de seu corpo. E esta ligação, permite ao espírito tomar conhecimento do que se passa com o seu corpo e retornar instantaneamente se algo acontecer. O corpo por sua vez, fica com suas funções reduzidas, pois dele foram distanciados os fluidos perispirituais, permanecendo somente o necessário para sua manutenção. Este estado em que fica o corpo no momento do desdobramento, também depende do grau de desdobramento que aconteça.


Os desdobramentos podem ser:


a) conscientes : Este, caracteriza-se pela lembrança exata do ocorrido, quando ao retornar ao corpo o ser recorda-se dos fatos e atividades por ele desempenhadas no ato do desdobramento. O sujeito é capaz de ver o seu “Duplo”, bem próximo, ou seja, de ver a ele mesmo no momento exato em que se inicia o desdobramento. Facilmente nestes casos, sente-se levantando geralmente a cabeça primeiramente e o restante do corpo, depois. Alguns flutuam e vêem o corpo carnal abaixo deitado, outros vêem-se ao lado dos corpos, todavia esta recordação é bastante profunda e a consciência e altamente límpida neste instante. Existe uma ligação ainda profunda dos fluidos perispirituais entre o corpo e o perispírito, facilitando assim, as recordações pós-desdobramento.b) inconscientes: Ao retornar o ser de nada recorda-se. Temos que nos lembrar que na maioria das vezes a atividade que desempenha o ser no momento desdobrado, fica como experiências para o próprio ser como espírito, sendo lembrado em alguns momentos para o despertar de algumas dificuldades e vêem como intuições, idéias.Os fluidos perispirituais são neste caso bem mais tênues e a dificuldade de recordação imediata fica um pouco mais árdua, todavia as informações e as experiências ficam armazenadas na memória perispiritual, vindo à tona futuramente.Em realidade a palavra inconsciente, é colocada por deficiência de linguagem, pois, inconsciência não existe, tendo em vista o despertar do espírito, levando consigo todas as experiências efetivadas pelo mesmo, então colocamos a palavra inconsciente aqui, é somente para atestarmos à temporária inconsciência do ser enquanto encarnado.c) voluntários: Se a própria pessoa promove este distanciamento. Analisemos algo bastante singular, nem todos os desdobramentos voluntários há consciência, pois como dissemos acima poderão haver algumas lembranças do ocorrido, existem ainda muitas dificuldades, no momento em que o espírito através de seu perispírito aproxima-se novamente de seu corpo, pela densidade ainda dos órgãos cerebrais é possível haver bloqueio dessas experiências. É necessário salientar que o ser encarnado na terra, ainda se encontra distante de controlar todos os seus potenciais, e por isso também há este esquecimento. Haja vista, algumas pessoas até provocarem o desdobramento e no momento de consciência terem medo e retornarem ao corpo apressadamente, dificultando ainda mais a recordação.Os desdobramentos podem também ocorrer nos momentos de reflexões, onde nos encontramos analisando profundamente nossos atos e cuja atividade nos propicia encontrar com seres que nos querem orientar para o bem, parte de nosso perispírito expande-se e vai captar as experiências e orientações devidas.d) provocados: Através de processos hipnóticos e magnéticos - Apometria -, agentes desencarnados e encarnados podem propiciar o desdobramento do ser encarnado. Os bons Espíritos podem provocar o desdobramento ou auxiliá-los sempre com finalidades superiores. Mas espíritos obsessores também podem provocá-los para produzir efeitos malefícios. Afinizando-se com as deficiências morais dos desencarnados, propiciamos assim, uma maior facilidade para que os espíritos mal-feitores possam provocar o desligamento do corpo físico atraindo o ser encarnado para suas experiências fora do corpo. A lei que exerce esta dependência é a de afinidade.e) emancipação Letárgica: Decorre da emancipação parcial do espírito, podendo ser causada por fatores físicos ou espirituais. Neste caso o corpo perde temporariamente a sensibilidade e o movimento, a pessoa nada sente, pois os fluidos perispiríticos estão muito tênues em relação à ligação com o corpo. O ser não vê o mundo exterior com os olhos físicos, torna-se por alguns instantes incapaz da vida consciente. Apesar da vitalidade do corpo continuar executando-se.Há flacidez geral dos membros. Se suspendermos um braço, ele ao ser solto cairá.e) emancipação Cataléptica: Como acima, também resulta da emancipação parcial do espírito. Nela, existe a perda momentânea da sensibilidade, como na letargia, todavia existe uma rigidez dos membros. A inteligência pode se manifestar nestes casos. Difere da letárgica, por não envolver o corpo todo, podendo ser localizado numa parte do corpo, onde for menor o envolvimento dos fluidos perispirituais.


É bastante conhecido o fenômeno da catalepsia, no qual o sujeito permanece, sem que haja cansaço, com todo o corpo, ou parte deste, rígido e imóvel. As manifestações religiosas em que há comunicação verbal (comumente acompanhada de fenômenos da musculatura estriada), como as incorporações, comunicação dos demônios, etc, em verdade, seriam apenas manifestações do transe hipnótico do tipo sonambúlico, quando toda ou parte da musculatura do indivíduo permanece em condição propícia para produzir movimentos, e do tipo letárgico, quando toda ela se encontra tencionada, impedindo determinados deslocamentos. Alguns indivíduos, quando apresentam estas manifestações, ficam com todo seu sistema muscular rígido, exceção feita aos músculos que possibilitam a fonação. Nestas condições, desenvolvem todo o fenômeno, adotando outra personalidade e comunicando-se através da fala. Outras vezes apenas o braço, ou outro membro, permanece naquela condição de rigidez. Como se nota, são nítidas reproduções da catalepsia.


APOMETRIA E OS ESPIRITOS DA NATUREZA


Apometria é uma técnica de desdobramento que pode ser aplicada em todas as criaturas, não importando a saúde, a idade, o estado de sanidade mental e a resistência oferecida.É um método fácil de ser utilizado por todas as pessoas que têm AMOR e CARIDADE a oferecer, mesmo não sendo médium de incorporação. É um método onde há necessidade de muito ESTUDO, pois a corrente mental deverá ser forte, as Leis Apométricas deverão ser cumpridas e as técnicas dominadas.Essa técnica trabalha a cura espiritual, o equilíbrio mental e emocional, que por meio de desdobramento se é detectado traumas, aflições, fobia, desentendimentos, mágoa, ódio, que muitas vezes trazemos de vidas passadas. AFINAL, SOMOS HERDEIROS DE NOSSO PRÓPRIO PASSADO.Além do maravilhoso trabalho de desobsessão e de quebra de magias negras, onde são retirados aparelhos, como chips, do baixo astral que são colocados em nosso corpo espiritual, aparelhos esses que causam descontroles emocionais e dores não identificáveis à medicina.




Texto: Jordam 2009

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

               Umbandista em extinção 





UMBANDISTA EM EXTINÇÃO


"Se você, ao entrar em um terreiro, pede licença e saúda os assentamentos e firmezas da casa;
*Se você, ao ficar diante de um Preto Velho se ajoelha e pede sua benção;
*Se você, ao se afastar de um guia ou do altar, sai de costas e permanece de frente para o altar;
*Se Você, ao conversar com uma entidade, se curva e abaixa o olhar em sinal de respeito;
*Se você, ao tomar um passe, agradece de coração a entidade que o atendeu;
*Se você, ao ganhar de um guia um gole de sua bebida, pega sempre o copo com as duas mãos;
*Se você, ao ser convocado para um trabalho difícil, não se envaidece e se prepara com amor;
*Se você, ao ser corrigido por seu Pai/Mãe de santo não se enfurece, mas entende que é para sua evolução;
*Se você, ao encontrar seu Pai/Mãe de santo, toma sua benção, seja onde for;
*Se você, ao cantar determinados pontos de umbanda ainda se emociona como no início;
*Se você, ao perceber um erro de alguém, não critica, mas procura orientar da forma adequada;
*Se você, ao não entender um ensinamento ou doutrina, questiona,pergunta,ao invés de fingir que entendeu;
*Se você, ao ouvir comentários desnecessários dentro do terreiro os ignora e não se envolve;
*Se você, ao faltar ao gira ou em algum trabalho, pede desculpas aos seus guias por sua falta;
*Se você, ao fim de um culto ou trabalho fica feliz e ansioso pelos próximos compromissos;
*Se você, ao invés de priorizar as amizades com irmãos de santo, prioriza a casa que o desenvolve;
*Se você, ao se sentir fraco, busca a ajuda de sua casa ao invés de se afastar dela;
*Se você, ao presenciar algum problema em sua casa, não se omite e toma as devidas providências,mostrando-se atuante;
*Se você, preocupa-se tanto com o seu próprio desenvolvimento quanto com o dos outros;
*Se você, tem respeito e amor verdadeiro por sua casa e entende o quão é difícil em vários momentos mantê-la...


PARABÉNS POR SUA POSTURA, MAS CUIDADO, VOCÊ É UM UMBANDISTA EM EXTINÇÃO..."


Por Robson Andreani

Malditos sacerdotes!



MALDITOS SACERDOTES!!!

Se um Sacerdote cobra o serviço que faz é um vigarista,
Se ele não cobra, não sabe nada.
Se não ensina é um ignorante,
Se ensina, exige muito, demasiadamente.
Se pede uma contribuição aos membros do Templo é um “bon vivant”,
Se não pede, reclamam que no Templo nunca há nada.
Se as sessões são curtas, sua incorporação é débil ou está cansado,
Se as sessões são longas é um charlatão, só quer se mostrar.
Se não dá aulas descuida dos seus, quer todos ignorantes,
Se dá aulas, não assistem, não acompanham, reclamam que o nível é muito alto.
Se não faz uma visita, não liga para os seus,
Se o faz é porque quer se meter na vida dos outros.
Se diariamente os procura, não para de encher o saco,
Se não o faz, não “dá bola” para ninguém.
Se faz muitas cerimônias, rituais e reuniões é porque não tem vida social e não quer que ninguém tenha,
Se não faz, não está nem aí com a religião e com as pessoas.
Se tem personalidade e temperamento fortes é um arrogante exibido,
Se for ao contrário não se impõe, é um fraco!
Malditos Sacerdotes!!
Que nos escutam
Que nos dão atenção
Que nos consolam
Que nos recebem em suas casas
Que nos dão seu tempo
Que nos abrem suas portas
Que nos dão conselhos
Que nos dão consolo
Que toleram e perdoam nossos erros
Malditos Sacerdotes !!!!
(Awo Korede Odupawo)

Sou eu ou a entidade que está falando?



“Sou eu ou a entidade que está falando?” Como se livrar da eterna dúvida?

Esta é talvez a dúvida mais comuns aos médiuns iniciantes. E se sua resposta fosse simples, não seria mais dúvida alguma. Na verdade, a interferência de médiuns no contexto da incorporação é muito comum no princípio do desenvolvimento e deve ser encarado como algo normal. Somente com o exercício, o médium diminui sua ansiedade e cede espaço para que a entidade se manifeste com liberdade e clareza. Durante este período o médium precisa de entrega absoluta esta experiência. Ignorar o julgamento alheio e recorrer sempre aos dirigentes do terreiro para ajustar o que for preciso.

Não há regras absolutas. Contudo, há alguns indicadores típicos de interferência dos médiuns seja na comunicação, seja na movimentação do corpo. O médium está comumente travado, restringindo a ação da entidade, quando:

A entidade incorporada não fala nada, mal se move nem sai do lugar;
O médium tropeça, se desequilibra ou cai com frequência no processo de aproximação;
O médium inicia o processo de incorporação mas ele se rompe “no meio do caminho”.
Por outro lado, são indicadores de animismo, de exacerbação da ação do espírito, quando:

A entidade grita muito, fala muito alto ou se movimenta exageradamente;
Quando há um excesso de tiques nervosos, sotaques ou ações incompreensíveis;
Quando o que ele diz não corresponde com a realidade ocorrida;
Quando o espírito manifesta opiniões que na verdade são do médium e não dele.

Este último caso é sempre uma questão delicada de se analisar. Contudo há uma dica que pode ajudar: A palavra de um espírito de luz possui um tipo de sabedoria claramente identificada em seu discurso, mas que dificilmente pode ser vista no discurso do encarnado. Eles não tomam partido em conflitos terrenos.
Guardam uma imparcialidade ímpar nestes conflitos, mesmo quando seus aparelhos estão envolvidos, pois reconhecem todos como filhos de Deus carentes de esclarecimento e auxílio nesta terra. Esteja atento a este tipo de sabedoria. Onde você encontrá-la, estará falando com um guia autêntico.

Umbandista de internet 


Internet é terra de ninguém, isso é fato.

Posso escrever aqui o que eu quiser sem que se comprove a veracidade.  Qualquer um pode publicar os maiores absurdos em blogs, sites pessoas, facebook, sem que ninguém fiscalize e comprove se as informações ali contidas são fidedignas.  Essas informações podem se espalhar livremente (ou viralizar, como se diz em linguagem de internet) e muitos podem tomá-las como autênticas.  Alguns passam até a defender esses impropérios como verdades absolutas e questionáveis.

Quando se trata da nossa religião, a Umbanda, a situação fica ainda mais perigosa.
Muitos caem na ilusão de buscar informações via internet.  Em primeiro lugar se esquecem do que foi dito logo acima: que a internet é livre, é terra de ninguém e cada um publica nela o que bem entender, inclusive informações falsas.  Esquecem também que já que a Umbanda não possui uma "Bíblia" ou um código de conduta, cada casa possui suas particularidades.  Então, se você busca informações na internet, pode até encontrar algumas que sejam sérias e verdadeiras, mas que não se adaptam à liturgia da casa que você frequenta.

A situação fica pior quando a pessoa passa a buscar informações sobre a "sua" entidade na internet.  Experimentem encontrar a história do Exu Caveira, do baiano Zé do Coco ou de qualquer outra entidade.  Encontrarão pelo menos três histórias diferentes para cada uma delas (lembre-se que as entidades trabalham em falanges e cada uma delas que pertence a essa falange possui sua própria individualidade e história).

Só é possível piorar a situação se você tentar descobrir o ponto riscado da sua entidade via internet. Aí o caldo entorna de vez...   Pontos riscados, além de serem a assinatura das entidades, são os portais abertos por elas.  Aí você "estuda" (sim, entre aspas mesmo) pela internet e passa a reproduzir o ponto que viu em um site, mas esse site não é confiável e aquele ponto não corresponde à realidade.
Lascou...  você sabe para quem abriu um portal?
Nem eu. E prefiro não saber.  Deixe que a própria entidade risque seu ponto, jamais tente passar à frente dela para isso.

Esses foram apenas alguns exemplos dos perigos que se corre quando se fala em estudar a Umbanda pela internet.  Claro que não podemos descartar totalmente esse instrumento tecnológico, mas jamais o substitua pela experiência.

Então se você quer estudar a Umbanda, o faça  em seu terreiro.  Sente-se aos pés de alguma entidade e converse com ela.  Observe a forma de agir e trabalhar quando elas estiverem em terra.  Camboneie bastante (esse deveria ser o estágio obrigatório dessa faculdade chamada Umbanda), pergunte aos mais velhos e experientes.  Mas jamais pense que você sabe muito por ter pesquisado na internet, pois você ter perdido seu tempo e pior, pode estar reproduzindo rituais e comportamentos que não condizem com a realidade da nossa religião.

Douglas Fersan

No vale da sombra e da morte - por Douglas Fersan


Ainda que eu ande pelo vale das sombras e da morte terei meu guardião a me cuidar.

Essa afirmação refere-se claramente aos nossos guardiões Exus e Pombogiras, ou como são chamados mais comumente, ao povo da esquerda, e certamente pode soar como blasfêmia, já que é uma nítida referência ao Salmo 23:4, bíblico. Trata-se, na realidade de uma questão de interpretação.

Ao contrário do que se propaga (irresponsavelmente) por aí, os nossos guardiões "da esquerda" não são anjos decaídos subordinados aos demônios e suas leis. Os verdadeiros exus trabalham dentro da Lei Divina, sendo responsáveis inclusive pela sua aplicação. Portanto, não são cruéis, são justos, e assim sendo, estarão sempre prontos a cuidar daqueles que procuram caminhar na estrada da retidão.

Nos momentos e nos locais de sombras e escuridão serão eles a nos proteger, desde que sejamos merecedores. Portanto, a analogia com o texto bíblico não se trata de blasfêmia e sim da consciência de que Deus, sendo onipresente, tem seus trabalhadores espalhados em todos os cantos do Universo, inclusive no "vale das sombras e da morte". Ali, os merecedores serão protegidos pela capa e pela lança de exu, pois como trabalhadores do Astral, estarão atentos para que aqueles que se esforçam para cumprir os princípios morais das leis divinas não sejam vítimas dos seres das sombras.

Douglas Fersan