quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Osóssi
É chamado de Aláqueto, título oficial dos reis de Ketu, Rei da caça, Senhor das veredas, sua história e culto são dos mais ricos. Sua dança é o Aguerê e é também considerdo com Ashéshé: a origem das origens, dos descendentes. Rege as árvores, a fauna e a flora. Segundo algumas lendas, Osóssi é o filho de Yemanjá com Osalá e irmão mais novo de Ògún. Ele não é o Deus da floresta, como muitos pensam, ele é o rei da caça. Dada é a deusa da floresta. Está associado com a vida ao ar livre e com os elementos da natureza. Como bom caçador, é solitário e individualista. Mas não dispensa o contato com pessoas no convívio social. E nunca vive sem um grande amor.
É costume dizer-se que existe apenas uma qualidade desse Orisa, todavia pesquisamos várias outras: Ode, Otin, Inle, Ibualama e Logunede (filho de Inle e Osum).
Inlè-Ibualama ou Erinlè - Em Ijesá, onde passa o rio Erinlè, há um deus da caça com o mesmo nome. Segundo Verger, seu templo principal é em Ilobu, onde dois cultos teriam se misturado: o culto do rio e o do caçador de elefantes, que por diversas ocasiões, viera ajudar os habitantes de Ilobu a combater seus adversários. O culto a Erinlè realiza-se às margens de diversos lugares profundos (Ibu) do rio.
Cada um desses lugares recebe um nome, mas é sempre Erinlè que é adorado sob todos esses nomes. Um desses lugares profundos de Erinlè é chamado de Ibùalamo (Ibualama) nome pelo qual também é cultuado na Bahia, que durante sua dança traz nas mãos o símbolo de Oxóssi, o arco e a flecha de ferro, e uma espécie de chicote (bilala), com o qual ele se fustiga a si mesmo.
Lendas
... ele não morreu
Diz uma das lendas que certo dia Osóssi chegou a sua aldeia, quase arriando pelo peso da capanga, das cabaças vazias e pelo cansaço de rastrear a caça rara. Osún, sua mulher e mãe de seu filho, olhou para ele e pensou: ''só caçou desgraça". Pois a desgraça para Osóssi foi prevista por Ifá, que ele alertou Osún. Porém, quando ela contou a Osóssi sobre essa previsão, ele disse que a desgraça era a fome, a mulher sem leite e a criança sem carinho. E que desgraça maior era o medo do homem. Quando Osóssi se aproximou de Osún, ela notou que ele trazia algo na capanga, sentiu medo e alegria. Havia caça na capanga do marido e ela imaginou se seria um bicho de pelo ou de pena. Ansiosa, perguntou a ele, que respondeu: "Trago a carne que rasteja na terra e na água, na mata e no rio, o bicho que se enrosca em si mesmo''. Falando isto retirou da capanga os pedaços de uma grande Dan (cobra). O bicho revirava a cabeça e os olhos, agitava a língua partida e cantava triste: "Não sou bicho de pena para Osóssi matar". A grande Dan pertencia a Sàngó e Osóssi não poderia matá-la. Osún fugiu temendo a vingança de Sàngó, indo até Ifá que disse: "A justiça será feita, assim o corpo de Osóssi irá desaparecer, desaparecerá da memória de Ossunmaré e a quizila desaparecerá da vingança de Sàngó".
Fazia também parte da punição que ele saísse da memória do povo de Ketu. Assim, Osóssi ficou sete anos esquecido. No dia de Orunkó (o nome de santo de cada um), ao ser dado as diginas aos Orixás, o povo de Ketu começou a chorar por não se lembrar do nome de seu rei. Abaixaram os olhos e tentaram compreender por que nunca se lembravam dele. Então, Ifá ensinou-lhes um orô (reza que se faz para o sacrifício de animais):

Omo - Odé - Lailai
Omo - Odé - Kosajô
Abaderoco Koisô
Omo - Odé - Kosajô
Após o orô, o povo começou a se lembrar dele. Ifá disse que esse era o orô de Osóssi, o Orixá caçador, corajoso Rei de Ketu e rei da caça, que nada temia e preservava a vida de seus filhos e dos filhos dos filhos de seus filhos.
OSÓSSI não morreu, ele encantou-se para sempre, pois tem medo de frio, por isso não gosta de EKU, a morte.
... caçador de uma flechada
A cada ano, apos a colheita, o rei de Ijexá saudava a abundância de alimentos com uma festa, oferecendo a população inhame, milho e côco. O rei comemorava com sua família e seus súditos; só as feiticeiras não eram convidadas.
Furiosas com a desconsideração, enviaram a festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada.

O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro conhecido como òsótògún tinha vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. Então o rei aborreceu-se, e mandou-o embora.
Um segundo caçador conhecido como òsótogí se apresentou, este com quarenta flechas; o fato repetiu-se e o rei mandou prendê-lo. Osótododá, o caçador de 50 flechas, também não foi feliz.
Bem próximo dali vivia òsótokansósó, um jovem que costumava caçar à noite, antes do sol nascer. Ele usava apenas uma flecha vermelha. O rei mandou chamá-lo para dar fim ao pássaro. Sabendo da punição imposta aos outros caçadores, a mãe de òsótokansósó, temendo pela vida do filho, consultou um babalaô que aconselhou que se fosse feita uma oferenda para as feiticeiras, assim ele teria sucesso.
A oferenda consistia em sacrificar uma galinha e na hora da entrega dizer três vezes: que o peito do pássaro receba esta oferenda! Nesse exato momento, òsótokansósó deveria atirar sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem no peito. O povo então gritava: oxó wussi, (oxó é popular) passando a ser conhecido por oxóssi. O rei, agradecido pelo feito, deu ao caçador metade de sua riqueza e a cidade de ketu, "terra dos panos vermelhos", onde osóssi governou até sua morte, tornando-se depois um Orixá.
... Yemonja desolada
Conta-se no Brasil que Osóssi era o irmão mais jovem de Ogun e Esu, todos três filhos de Yemonjá. Esu, por ser indisciplinado, foi por ela mandado embora. Ogun trabalhava no campo e Osóssi caçava nas florestas vizinhas. A casa encontrava-se, assim, abastecida de produtos agrícolas e caça.
No entanto, um Babalaô alertou Yemonjá para o risco de Ossanyin, aquele que possuía o conhecimento das virtudes das plantas e vivia nas profundezas da floresta, enfeitiçar Osossi e obrigá-lo a ficar em sua companhia. Yemonjá ordenou então ao filho que renunciasse às atividades de caçador.
Ele, porém, de personalidade independente, continuou suas incursões pela floresta. Tendo encontrado Ossanyin, que o convidou a beber uma poção de folhas maceradas, caiu em estado de amnésia. Ficou, pois, vivendo em companhia de Ossanyin, como previra o Babalaô.
Ogun, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Yemonjá irritada, não quis receber o filho desobediente. Revoltado com a intransigência materna, Ogun recusou-se a continuar em casa. Quanto a Osóssi, este preferiu voltar para a floresta, para perto de Ossanyin.
Yemonjá desesperada por ter perdido os três filhos, transformou-se em um rio.
Obaluayê / Omulu
Obaluaiyê quer dizer "rei e dono da terra" sua veste é palha e esconde o segredo da vida e da morte. Está relacionado a terra quente e seca, como o calor do fogo e do sol - calor que lembra a febre das doenças infecto-contagiosas. O lugar de origem de Obalúayé é incerto, há grandes possibilidades que tenha sido em território Tapá (ou Nupê) e se esta é ou não sua origem seria pelo menos um ponto de divisão dessa crença. Conta-se em Ibadã (ver mapa), que Obalúayé teria sido antigamente o Rei dos Tapás. Uma lenda de Ifá confirma esta última suposição. Obalúayé era originário em Empê ( Tapá ) e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatros cantos da terra. Uma ferida feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas.
OBALÚAYÉ representa a terra e o sol, aliás, ele é o próprio sol, por isso usa uma coroa de palha (AZÊ) que tampa seu rosto, porque sem ela as pessoas não poderiam olhar para ele. Ninguém pode olhar o sol diretamente. Esta forte mente relacionado os troncos e os ramos das árvores e transporta o axé preto, vermelho e branco. Sua matéria de origem é a terra e, como tal, ele é o resultado de um processo anterior. Relaciona-se também com os espiritos contidos na terra. O colar que o simboliza é o ladgiba, cujas contas são feitas da semente existente dentro da fruta do Igi-Opê ou Ogi-Opê, palmeiras pretas. Usa também bradga, um colar grande de cauris. OBALÚAYÉ é o patrono dos cauris e do conjunto dos 16 búzios, que reina do instrumento ao sistema oracular: o brendilogun, que lhe pertence. Seu poder está extraordinariamente ligado a morte. OBA significa Rei (Oni), ILU espíritos e AIYÊ significa terra, ou seja, Rei de Todos os Espíritos do Mundo. Ele lidera e detém o poder dos espíritos e dos ancestrais, os quais o seguem. Oculta sob o saiote o mistério da morte e do renascimento (o mistério do gênesis). Ele é a própria terra que recebe nossos corpos para que vire pó.
OBALÚAYÉ mede a riqueza com cântaros, mas o povo esqueceu-se de sua riqueza e só se lembra dele como o Orixá da moléstia.
Afirmam-se em registros bibliográficos ser Omolu e Obaluaiye um só Orixá em dois estágios: Obaluaiye (o Moço), significa o "Dono da Terra da Vida"; Omolu (o Velho) significa o "Filho-da-Terra". É o médico dos pobres; o senhor dos cemitérios. Usa o aze (capacete de pele da Costa) ou o filah (capuz de palha da Costa) e carrega na mão o xaxara (feixe de fibra de palmeira, enfeitado com búzios) Seu dia é a segunda-feira. Sua comida forte é o doburu (pipocas sem sal, coco fatiado e regado com mel). Registram-se 12 qualidades atribuídas a esse Orixá, que também é considerado o mais antigo do Panteão Afro, sendo as mais conhecidas: Sapata, Xapanan, Xankpanan, Babalu, Azoane, Ajagum, Ajunsun e Avimage.
Lendas
... tranquilizando o guerreiro
Era um guerreiro terrível que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do mundo. Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste. Assim, chegou Xapanã em território Mahí, no Daomé. A terra dos Mahis abrangia as cidades de Savalú e Dassa Zumê. Quando souberam da chegada iminente de Xapanã, os habitantes desta região, apavorados, consultaram um adivinho. E assim ele falou: "Ah! O Grande Guerreiro chegou de Empê! Aquele que se tornará o senhor do país! Aquele que tornará esta terra rica e próspera, chegou! Se o povo não o aceitar, ele o destruirá! É necessário que supliquem a Xapanã que os poupe. Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste: inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, picadinho de carne de bode e muita, muita pipoca! Será necessário também que todos se prosternem diante dele, que o respeitem e o sirvam. Logo que o povo o reconheça como pai, Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!"

Quando Xapanã chegou, conduziu seus ferozes guerreiros, os habitantes de Savalú e Dassa Zumê reverenciaram-no, encostando suas testas no chão, e saudaram-no: "Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!" "Respeito e Submissão!" Xapanã aceitou os presentes e as homenagens, dizendo: "Está bem! Eu os pouparei! Durante minhas viagens, desde Empê, minha terra natal, sempre encontrei desconfiança e hostilidade. Construam para mim um palácio. É aqui que viverei a partir de agora!" Xapanã instalou-se assim entre os Mahis. O país prosperou e enriqueceu e o Grande Guerreiro não voltou mais a Empê, no território Tapá, também chamado Nupê.
Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio
... a vingança
Por prudência, é preferível chamá-lo Obaluaê, o "Rei, Senhor da Terra" ou Omulú, o "Filho do Senhor". Quando Xapanã instalou-se entre os Mahis recebeu, em uma nova terra, o nome de Sapatá. Aí, também, era preferível chamá-lo Ainon, o "Senhor da Terra", ou, então, Jeholú, o "Senhor das pérolas". O fato de ser chamado Jeholú e Ainon causou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé, pois eles também usavam estes títulos. Enciumados, os Jeholú de Abomey expulsaram, várias vezes, Jeholú Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar momentaneamente, à terra dos Mahis. Jeholú Ainon vingou-se: vários reis daomeanos morreram de varíola! Atotô!
Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio
... o mel de Ósun
Obaluaiê era muito mulherengo e não obedecia a nenhum mandamento que fosse. Numa data importante, Orunmilá advertiu-o que se abstivesse de sexo, o que ele não cumpriu. Naquele mesmo dia possuiu uma de suas mulheres.
Na manhã seguinte despertou com o corpo coberto de chagas. Suas mulheres pediram a Orunmilá que intercedesse junto a Olodumare, mas este não perdoou Obaluaiê, que morreu em seguida.
Orunmilá usando o mel de Osun, despejou-o por sobre todo o palácio de Olodumare. Este, deliciado, perguntou a Orunmilá quem havia despejado em sua casa tal iguaria. Orunmilá disse-lhe que havia sido uma mulher. Todas as divindades femininas foram chamadas, mas faltava Osun, que confirmou ao chegar que era seu aquele mel. Olodumare pediu-lhe mais, ao que Osun lhe fez uma proposta. Osun daria a ele todo o mel que quisesse, desde que ressuscitasse Obaluaiê. Olodumare aceitou a condição de Osun, e Obaluaiê saiu da terra vivo e são.
... o belo
Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Omulu viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os Orisás. Omulu não podia entrar na festa, devido à sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro. Ogum, ao perceber a angústia do Orisá, cobriu-o com uma roupa de palha, com um capuz que ocultava seu rosto doente, e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Omulu entrou, mas ninguém se aproximava dele. Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado.
Os Orisás dançavam alegremente com suas equedes. Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de palha, levantou-lhe as palhas que cobriam sua pestilência. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Omulu pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão. Omulu, o deus das doenças, transformara-se num jovem, num jovem belo e encantador.
Omulu e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
Ossain
OSSAIN, O SENHOR DAS FOLHAS.
Originário de Iraô, atualmente na Nigéria, não fazia parte dos 16 companheiros de Odùdùwa quando na chegada de Ifá (Orunmilá). Patrono da vegetação rasteira, das folhas e de seus preparos, defensor da saúde, é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas. Cada Orixá tem a sua folha, mas só Ossain detém seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há axé, portanto sem ele nenhuma cerimônia é possível. Osanyin usa uma cabaça chamada Igbá-Osanyin. Fuma e bebe mel e pinga.
Osanyin também é um feiticeiro, por isto é representado por um pássaro chamado Eleyê, que reside na sua cabaça. As proprietárias do pássaro do poder são as feiticeiras. Ele carrega também sete lanças com um pássaro em cima da haste, o qual é seu mensageiro e voa para trazer-lhe notícias. Osanyin está extremamente ligado a Orunmilá, Senhor da Adivinhações. Estas relações, hoje cordial e de franca colaboração, atravessaram no passado período de rivalidade.
Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Ossain para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
As folhas de Osanyin veiculam ao axé oculto, pois o verde é uma das qualidades do preto. As folhas e as plantas constituem a emanação direta do poder da terra fertilizada pela chuva. São como as escamas e as penas, que representam o procriado. O sague das folhas é um dos axés mais poderosos, que traz em si o poder do que nasce e do que advém.
OSANYIN existe em todas as folhas, por isso quando as queimam as matas ele fica revoltado com o ser humano, que destrói a força da natureza, que é a cura de todas as doenças que existem e que vão existir.
Lendas
... Ossain foi escravo
A história revela que ossain era escravo de orunmilá e recusava-se a cortar as folhas que teriam inúmeras utilidades na manutenção da saúde das pessoas: ervas que curam febre,as dores de cabeça e as cólicas. Tomando conhecimento do fato, Orunmilá quis ver quais eram as ervas de tão grande valor. Convencido do conhecimento de Ossain, Orunmilá percebeu que ele poderia lhe ser útil e o manteve para sempre a seu lado para as consultas.
... os segredos das folhas lhe pertence
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e impetuoso, irritado por não deter os conhecimentos secretos sobre a utilização das folhas, usou de um ardil para tentar usurpar de Ossain a propriedade das folhas. Falou dos planos à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de Iroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. "Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.
Iansã aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E, assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto. Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
... o nome das plantas
Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das plantas. Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas ? Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho.
Perguntou: Òsanyìn onde vai? Òsanyìn disse; "Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios". Òrúnmílá disse, muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsanyìn pode apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas porém não conhecia seus nomes. Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia. Ele disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos.
Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas.
... livre para o mundo
Desde pequeno Òsanyìn andava metido mata adentro. Conhecia todas as folhas, sabendo empregá-las na cura de doenças e outros males. Um dia Òsanyìn resolveu partir pelo mundo. Por onde andava era aclamado como o grande curandeiro.
Certa vez salvou a vida de um rei, que em recompensa deu-lhe muitas riquezas. Òsanyìn não aceitou nada daquilo; disse que aceitaria somente os honorários que seriam pagos a qualquer médico.
Tempos depois, a mãe de Òsanyìn adoeceu. Sendo procurado por seus irmãos e para espanto destes, Òsanyìn exigiu o pagamento de sete cauris por seus serviços, pois não poderia trabalhar para quem quer que fosse no mundo, sem receber algo. Mesmo contrariados os irmãos pagaram-lhe os sete cauris e sua mãe foi salva. Òsanyìn curou a mãe e seguiu caminho, pois ele é a folha e tinha que estar livre para o mundo.
... novamente Sango
Òsanyìn havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Sangô se queixou à sua mulher, Yansan-Oyá, senhora dos ventos, de que somente Òsanyìn conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir poder sobre nenhuma planta.
Oyá levantou as saias e agitou-as, impetuosamente. Um vento violento começou a soprar. Òsanyìn guardava o segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de iroco. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e que esta tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou "Ewê O!! Ewê O!" (Oh! as folhas!! Oh! as folhas!!)
As folhas voaram pelo mundo e os Orisás se apoderaram de algumas delas, mas Òsanyìn continuou dono do segredo das suas virtudes e dos cantos e palavras que devem se dizer para que sua força, Axé, apareça.
Obá
É a princesa guerreira, Orixá feminino de Nagô (Iorubá), nascida de Orungá e do ventre de Yemanjá, depois de um incesto de Orugan. Em toda a África Obá era cultuada como a grande deusa protetora do poder feminino, por isso também é saudda como Iyá Agbá, e mantém estreitas relações com as Iya Mi. Era uma mulher forte, que comandava as demais e desafiava o poder masculino. Terceira mulher de Sàngó, depois de Oya e Osun. Considerada por alguns como a irmã de Iansã. Ela desafiou e venceu as lutas, sucessivamente contra Osalá, Sàngó e Orunmilá. Obá era uma mulher vigorosa e cheia de coragem. Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento. Mas ela não temia ninguém no mundo. Seu maior prazer era lutar. Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão. Obá saiu vencedora de todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrotou Obatalá, tirou Oxossi de combate, deixou no chão Orunmilá. Oxumaré não resistiu à sua força. Ela desafiou Obaluaê e botou Exú prá correr. Guerreira, veste vermelho e branco, usa escudo e lança. Altiva, sombria e muito respeitada.
Obá é a representação dos ancestrais femininos, anciã e guardiã da sociedade Eleekô. Está associada à água e à cor vermelha. Representa o mais antigo e arcaico. Símbolo genitor, capaz de grandes sacrifícios próprios, lutadora, guerreira e companheira inseparável de L'Oya.
- Obasy, rio revolto
- Obasy, mística e idosa, com bons costumes, porém, grosseira.
- Obasy, mulher valente, orixá de uma orelha só.
- Obasy, quando em fúria transborda, agita-se.
Obasy é a senhora da sociedade elekoo, porém no Brasil esta sociedade está muito restrita, sendo assim, esta sociedade passou a cultuar egungun. Deste modo, obasy é a senhora da sociedade lesse-orixa.
Tudo relacionado a Obasy é envolto em um clima de mistérios, e poucos são os que entendem seus atos aqui no Brasil. Certas pessoas a cultuam como se fosse da família ji, ao passo que outras a cultuam como se fosse um Xangô fêmea. Obasy e ewa são semelhante, são primas e ambas possuem oro omi osun. Ela usa ofá (arco e flecha) assim como Ewa e ambas são identificadas também com Odé. Obasy usa a festa da fogueira de xangô para poder levar suas brasas para seu reino, desta forma é considerada uma das esposas de xangô mais fieis a ele.
OBA é ORIXÁ ligado a água, guerreira e pouco feminina. Suas roupas são vermelhas e brancas, leva um escudo, uma espada, uma coroa de cobre. Usa um pano na cabeça para esconder a orelha cortada. Conta e lenda que OBA, repudiada por XANGÔ. vivia sempre rondando o palácio para voltar.
Notas bibliográficas
Candomblé. A panela do segredo - Pai Cido de Osun Eyin - 2000
Lendas
... obá versus ogum
Seu maior prazer era lutar. Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão. Obá saiu vencedora de todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrotou Obatalá, tirou Oxossi de combate, deixou no chão Orunmilá. Oxumaré não resistiu à sua força. Ela desafiou Obaluaê e botou Exú prá correr. Chegou a vez de Ogum! Ogum teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta. Os adivinhos lhe disseram para fazer oferendas, compostas de duzentas espigas de milho e muitos quiabos. Tudo pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia. Esta substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam. Ogum seguiu, fielmente, estas instruções. Na hora da luta, Obá chegou dizendo: "O dia do encontro é chegado". Ogum confirmou: "Nós lutaremos, então, um contra o outro". A luta começou. No início, Obá parecia dominar a situação. Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a oferenda. Obá pisou na pasta viscosa e escorregou. Ogum aproveitou para derrubá-la. Rapidamente, libertou-se do seu pano e a possuiu ali mesmo, tornou-se, dessa maneira, seu primeiro marido.
... obá enganada por amor
Mais tarde, Obá tornou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa. A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã que era bela e fascinante. A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa. Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum. Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô. Obá procurava, sempre, surpreender o segredo das receitas utilizadas por Oxum quando esta preparava as refeições de Xangô. Esta era jovem e elegante Obá era mais velha e usava roupas fora de moda. Nem chegava a se dar conta disto, pois pretendia monopolizar o amor de SÀNGÓ. Com este objetivo, sabendo o quanto SÀNGÓ era guloso, procurava surpreender os segredos das receitas na cozinha, utilizadas por OSUN quando preparava as comidas de SÀNGÓ. OSUN, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça.

Um belo dia pediu-lhe que viesse assistir um pouco mais tarde a preparação de um determinado prato, que segundo ela disse maliciosamente, realizava maravilhas junto a SÀNGÓ, o esposo comum. Obá apareceu na hora indicada. Osún tendo a cabeça atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa, na qual boiava dois cogumelos. Osun mostrou-os a sua rival, dizendo-lhe que havia cortado as próprias orelhas e colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar o prato predileto de SÀNGÓ. Este chegando logo depois tomou a sopa com apetite e deleite e retirou-se gentil e apressado na companhia de Osun.

Na semana seguinte era a vez de Obá cuidar de SÀNGÓ e ela decidiu por em prática receita maravilhosa. Cortou uma das orelhas e a cozinhou em uma sopa destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la com a orelha decepada e achou repugnante o prato que lhe serviu. Osun apareceu neste momento, retirou seu lenço e mostrou que as suas orelhas jamais haviam sido cortadas, nem devoradas, por SÀNGÓ. Começou então a caçoar da pobre Obá, que, furiosa, precipitou-se sobre sua rival. Seguiu-se uma luta corporal entre elas. SÀNGÓ, irritado, fez explodir seu furor. Osun e Obá, apavoradas, fugiram e transformaram-se nos rios que levam seus nomes. No lugar da confluência dos dois cursos de água as ondas tornam-se muito agitadas em consequência da disputa das duas divindades pelo amor de Xangô.
...Obá provoca a morte do cavalo de Xangô
Xangô era um conquistador de terras e de mulheres, vivia sempre de um lugar para o outro. Em Cossô fez-se rei e casou-se com Obá. Obá era sua primeira e mais importante esposa, Obá passava o dia cuidando da casa de Xangô, moía a pimenta, cozinhava e deixava tudo limpo.
Xangô era um conquistador de terras e de mulheres. Uma vez Xangô viu Oyá lavando roupa na beira do rio e dela se enamorou perdidamente. Com Oiá se casou, mas Xangô era um conquistador de terra e de mulheres e logo se casou de novo.
Oxum foi a terceira mulher. As três viviam às turras pelo amor do rei, para deixar Xangô feliz, Obá presenteou-lhe um cavalo branco, Xangô gostou muito do cavalo, Tempos depois Xangô saiu para guerrear levando Oiá consigo, seis meses se passaram e Xangô continuava longe, Obá estava desesperada e foi consultar Orunmilá, Orunmilá aconselhou Obá a oferecer em sacrifício um iruquerê, espanta-mosca feito com rabo de um cavalo, mandou pôr o iruquerê no teto da casa.
Para fazer a oferta prescrita pelo oráculo, Obá encomendou a Eleguá um rabo de cavalo, e Eleguá induzido por Oxum, mais que depressa cortou o rabo do cavalo branco de Xangô, mas não cortou somente os pêlos e sim a cauda toda e o cavalo sangrou até morrer.
Quando Xangô voltou da guerra, procurou o cavalo e não encontrou, deparou então com o iruquerê amarrado no teto da casa e reconheceu o rabo do cavalo desaparecido, soube pelas outras mulheres da oferenda feita pela primeira esposa.
Xangô ficou irado e mais uma vez repudiou Obá.
Osun
Dona das águas. Na áfrica, mora no rio oxum. Senhora da fertilidade, da gestação e do parto, cuida dos recém-nascidos, lavando-os com suas águas e folhas refrescantes. Jovem e bela mãe, mantém suas características de adolescente. Cheia de paixão, busca ardorosamente o prazer. Coquete e vaidosa, é a mais bela das divindades e a própria malícia da
mulher-menina. É sensual, exibicionista, consciente de sua rara beleza. Se utiliza desses atributos com jeito e carinho para seduzir as pessoas e conseguir seus objetivos.
Osun é chamada de Yalodê, título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre todas as mulheres da cidade, além disso, ela é a rainha de todos os rios e exerce seu poder sobre as águas doces, sem a qual a vida na terra seria impossível. Dança de preferência sob o ritmo de sua terra: Igexá. Sua dança lembra o comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora.

Ela faz a qualquer um o que o médico não faz, é a Orixá que cura o doente com a água fria. Se cura a criança, não apresenta honorários ao pai. É a Orô, um pássaro que tem uma pena brilhante na cabeça, e a Yalodê, que ajuda as crianças a terem uma mãe. Manda a cabeça má ficar boa. Osun é doce e poderosa como Oni. Osun não concede as más coisas do mundo. Ela tem remédios gratuitos e faz as crianças tomarem mel. Sua palavra é meiga e deixa a criança abraçarem seu corpo com as mãos. A mão da criança é suave, Osun é afável. É cliente dos vendedores de cobre. Agita sua pulseira para ir dançar. Ela é elegante e tem muito dinheiro para divertir-se. Suas jóias são de cobre e é proprietária do pente de cobre e de muitas penas de periquito. Não há lugar onde não se conhece Osun, poderosa como um rei.
Quando Orumilá estava criando o mundo, escolheu Oxum para ser a protetora das crianças. Ela deveria zelar pelos pequeninos desde o momento da concepção, ainda no ventre materno, ate que pudessem usar o raciocínio e se expressar em algum idioma. Por isso, Oxum é considerada o orixá da fertilidade e da maternidade.

Por sua beleza, Oxum também é tida como a deusa da vaidade, sendo vista como uma orixá jovem e bonita, mirando-se em seus espelhos e abanando-se com seu leque (abebê).
A deusa das águas doce, símbolo da riqueza, do charme, da elegância, foi a segunda esposa de Sàngó, antes, porém, esposa de Osossì, sua grande paixão. Patrona do ventre. Governa as ervas antissépticas e desinflamatórias. Seu domínio é subsolo do universo, suas características são a vaidade e a faceirice. Divindade única, genitora, ligada à procriação, patrona da gravidez, do desenvolvimento do feto, coloca o bebê sob sua proteção até que adquira o conhecimentoda línguagem. Foi a primeira Iyami encarregada de ser Olotoju Anon Omi (aquela que vela pelas crianças e cura). O seu axé principal é a atividade que rege esse conhecimento. Mãe ancestral suprema, Osun é considerada a patrona dos peixes, mas é também representada pelos pássaros. O ovo é um dos seus símbolos.
Orê Yeyê ô! Oxum era muito bonita, dengosa e vaidosa. Como o são, geralmente, as belas mulheres. Ela gostava de panos vistosos, marrafas de tartaruga e tinha, sobretudo, uma grande paixão pelas jóias de cobre. Este metal era muito precioso, antigamente, na terra dos iorubás. Se uma mulher elegante possuía jóias de cobre pesadas. Oxum era cliente dos comerciantes de cobre. Omiro wanran wanran wanran omi ro! "A água corre fazendo o ruído dos braceletes de Oxum!" Oxum lavava suas jóias, antes mesmo de lavar suas crianças. Mas tem, entretanto, a reputação de ser uma boa mãe e atende às súplicas das mulheres que desejam ter filhos. (1)
(1) OXUN (Do livro "Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio)
Registram-se 16 qualidades, sendo as mais conhecidas: Yaba-Omi (Mãe d'Água), Abae, Ioni, Acare, Bauira, Timi, Aquida, Ninsim, Oponda (a mais nova), Loba (a mais velha), Abote, Apara (usa espada e vive nas estradas com Ogum) e Abalo (muito vaidosa e usa leques).
Lendas
... a primeira Yaba
Filha de Orunmilá e Yemanjá, conta-se ainda que ela foi a primeira Yaba, ou seja, a primeira zeladora de santo, raspando a cabeça da galinha de angola e que colocou o primeiro adocho (coroa), dando assim aos seus descendentes a forma atual. Por isso em todos os fundamentos dos Eleguns, o adocho faz parte do ritual.
... a dona do rio
Oxum foi a segunda mulher de Xangô. A primeira chamava-se Oiá-Iansã e a terceira Obá. Oxum tem o humor caprichoso e mutável. Alguns dias, suas águas correm aprazíveis e calmas, elas deslizam com graça, frescas e límpidas, entre margens cobertas de brilhante vegetação. Numerosos vãos permitem atravessar de um lado a outro. Outras vezes suas águas, tumultuadas, passam estrondando, cheias de correntezas e torvelinhos, transbordando e inundando campos e florestas. Ninguém poderia atravessar de uma margem à outra, pois ponte nenhuma as ligava. Oxum não toleraria uma tal ousadia! Quando ela está em fúria, ela leva para longe e destrói as canoas que tentam atravessar o rio.
Olowu, o rei de Owu, seguido de seu exército, ia para a guerra. Por infelicidade, tinha que atravessar o rio num dia em que este estava encolerizado. Olowu fez a Oxum uma promessa solene, entretanto, mal formulada. Ele declarou: "Se voce baixar o nível de suas águas, para que eu possa atravessar e seguir para a guerra, e se eu voltar vencedor, prometo a você nkan rere", isto é, boas coias. Oxum compreendeu que ele falava de sua mulher, Nkan, filha do rei de Ibadan.
Ela Baixou o nível das águas e Olowu continuou sua expedição. Quando ele voltou, algum tempo depois, vitorioso e com um espólio considerável, novamente encontrou Oxum com o humor perturbado. O rio estava turbulento e com suas águas agitadas. Olowu mandou jogar sobre as vagas toda sorte de boas coisas, as nkan rere prometidas: tecidos, búzios, bois, galinhas e escravos. Mel de abelhas e pratos de mulukun, iguaria onde suavemente misturam-se cebolas, feijão fradinho, sal e camarões. Mas Oxum devolveu todas estas coisas boas sobre as margens. Era Nkan, a mulher de Olowu, que ela exigia. Olowu foi obrigado a submeter-se e jogar nas águas a sua mulher. Nkan estava grávida e a criança nasceu no fundo do rio.
Oxum, escrupulosamente, devolveu o recém-nascido dizendo: "É Nkan que me foi solenemente prometida e não a criança. Tome-a!". As águas baixaram e Olowu voltou tristemente para sua terra. O rei de Ibadan, sabendo do fim trágico de sua filha, indignado declarou: "Não foi para que ela servisse de oferenda a um rio que eu a dei em casamento a Olowu!" Ele guerreou com o genro e o expulsou do país.
OXUN (Do livro "Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio)
... a gratidão de Laro
O Rio Oxum passa em um lugar onde suas águas são sempre abundantes. Por esta razão é que Larô, o primeiro rei deste lugar, aí instalou-se e fez um pacto de aliança com Oxum. Na época em que chegou, uma de suas filhas fôra se banhar. O rio a engoliu sob as águas. Ela só saiu no dia seguinte, soberbamente vestida, e declarou que Oxum a havia bem acolhido no fundo do rio. Larô, para mostrar sua gratidão, veio trazer-lhe oferendas.
Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer, em sinal de aceitação, os alimentos jogados nas águas. Um grande peixe chegou nadando nas proximidades do lugar onde estava Larô. O peixe cuspiu água, que Larô recolheu numa cabaça e bebeu, fazendo, assim, um pacto com o rio. Em seguida ele estendeu suas mãos sobre a água e o grande peixe saltou sobre ela. Isto é dito em iorubá: Atewo gba ejá. O que deu origem a Ataojá, título dos reis do lugar. Ataojá declarou então: "Oxum gbô!" "Oxum esta em estado de maturidade, suas águas são abundantes." Dando origem ao nome da cidade de Oxogbô.
Todos os anos faz-se, aí, grandes festas em comemoração a todos estes acontecimentos.
OXUN (Do livro "Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio)
... a fertilidade como recompensa
Diz a lenda que quando os Orixás chegaram à terra, organizaram reuniões onde mulheres não eram admitidas. Osun ficou aborrecida por ter sido posta de lado, por não poder participar de todas as decisões. Para se vingar, tornou as mulheres estéries e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis.
Desesperados, os Orixás dirigiram-se a Olodumaré e explicaram-lhe que as coisas íam mal sobre a terra, apesar das decisões que tomavam em suas assembléias. Olodumaré explicou-lhes então que, sem a presença de Osun e seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderia dar certo. De volta à terra, os Orixás convidaram Osun para participar de seus trabalhos, o que ela acabou aceitando, depois de muito lhe rogarem. Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizes resultados.
... arte da adivinhação
Conta-nos uma lenda, que Òsùn queria muito aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, para tanto, foi procurar Èsù, para aprender os princípios de tal dom.
Èsù, muito matreiro, falou à Òsùn que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Òsùn sobre os domínios de Èsù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo, em troca ele a ensinaria. E, assim foi feito, durante sete anos Òsùn foi aprendendo a arte da adivinhação que Èsù lhe ensinará e consequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èsù. Findando os sete anos, Òsùn e Èsù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Òsùn resolveu ficar em companhia desse Òrìsà.

Em um belo dia, Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Òsùn. Foi-se a tal ponto que Sàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó . Òsùn rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù.
Sàngó então irado e contradito, sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Èsù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência. Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Òsùn, triste e a chorar por sua prisão e permanencia na cidade do Rei.
Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe sedeu uma poção de transformação para Òsùn desvencilhar-se dos dominíos de Sàngó.

Èsù, atravez da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção. Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voôu e pode então retornar a casa de Esù.


... linda pomba dourada
Òrìsà do Amor, Mágia e da Beleza !
Osun era filha de Orunmilá. Um dia casou-se com Sango, indo viver em seu palácio. Logo Sango percebeu o desinteresse de Osun pelos afazeres domésticos, pois a rainha vivia preocupada com suas jóias e caprichos.
Aborrecido, Sango mandou prendê-la numa torre, sentindo-se livre novamente. Esú, vendo a situação de Osun correu e contou a seu pai Orunmilá que, fazendo deste seu mensageiro, entregou-lhe um pó mágico que deveria ser soprado sobre Osun.
Esú, que se transforma no que quer, chegou ao alto da torre e soprou o pó sobre Osun que, no mesmo instante, transformou-se num lindo pombo chamado Adabá, ganhando a liberdade e voltando à casa paterna.
Yemoja
Yemoja na Africa Iemanjá, cujo nome deriva de Yèyé omo ejá ("Mãe cujos filhos são peixes"), é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemoja. As guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokutá, no início do século XIX. Evidentemente, não lhes foi possível levar o rio, mas, em contrapartida, transportaram consigo os objetos sagrados e os suportes do àse da divindade O rio Ògùn 
(ver mapa)
, que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Yemanjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser confundido com Ògún, o deus do ferro e dos ferreiros, contrariamente à opinião de numerosos que escreveram sobre o assunto no fim do século passado.
O principal templo de Iemanjá está localizado em Ibará, um bairro de Abeokutá (ver mapa). Os fiéis desta divindade vão todos os anos buscar a água sagrada para lavar os axés, não no rio Ògùn, mas numa fonte de um dos seus afluentes, o rio Lakaxa. Essa água é recolhida em jarras, transportada numa procissão seguida por pessoas que carregam esculturas de madeira (ère) e um conjunto de tambores. O cortejo na volta vai saudar as pessoas importantes do bairro, começando por Olúbàrà, o rei de Ibará.
Yemanjá seria a filha de Olokun, Deus em Benin, ou deusa, em Ifé, do mar. Numa das histórias ela aparece casada pela primira vez com Orunmilá, o Senhor das Adivinhações, depois com Olofin, o Rei de Ifé. Com este último teve dez filhos, cujos nomes enigmáticos parecem corresponder a outros tantos Orixás.
Deusa das águas, mares e oceanos, esposa de Oxalá e mãe de todos os Orixás, é a manifestação da procriação, da restauração, das emoções e símbolo da fecundidade. Yemanjá: Ye-Omo-Yá_mãe de todos os peixes, que são seus filhos e estão contidos em suas estranhas de água. Está associada ao poder genitor, a interioridade, aos filhos contidos em si mesma. Seu adedé (leque) simboliza a cabeça mestra. Ela é muito bonita, vaidosa e dança com o obebé (espelhinho) e pulseiras. Em alguns mitos ela é considerada como sendo mulher de Oranyan, descendente de Odùdùwa, fundador místico de Oyo, de quem ela concebeu Sàngó (o Orixá patrono do trovão e ancestral divino da dinastia dos Alafins, reis de Oyo). Desta forma ela se vincula ao fogo, o fogo aparece como uma interação de água e ar. Na Nigéria ela é patrona da sociedade Geledes, sociedade feminina ligada ao culto das Yamis, as feiticeiras. No Rio de Janeiro, Santos e Porto Alegre, o culto a Yemanjá é muito intenso durante a última noite do ano, quando centenas de milhares de adeptos vão, cerca de meia noite, acender velas ao longo das praias e jogar flores e presente no mar.



No Novo Mundo Iemanjá é uma divindade muito popular. Principalmente no Brasil e em Cuba. Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, guardadas numa porcelana azul.

O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, juntamente com outras divindades femininas. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e
vestem-se, de preferência, de azul-claro.

Diz-se na Bahia que há sete Iemanjás: Iemowô, que na África é a mulher de Oxalá; Iamassê, mãe de Xangô; Euá (Yewa), rio que na África corre paralelo ao rio Ògùn e que frequentemente é confundido com Iemanjá em certas lendas; Olossá, a lagoa africana na qual deságuam os rios. Iemanjá Ogunté, casada com Ogum Alagbedé. Iemanjá Assabá, ela é manca e está sempre fiando algodão. Iemanjá Assessu, muito voluntariosa e respeitável, mensageira de olokun.

Em Cuba, Lydia Cabrera dá sete nomes igualmente, especificando bem que apenas uma Iemanjá existe, à qual se chega por sete caminhos. Seu nome indica o lugar onde ela se encontra.



Lendas
... indo para perto de seu pai
Yemanjá, conta uma das lendas, era "casada pela primeira vez com Orunmilá, senhor das adivinhações, depois com Olofin, rei de Ifé", cansada de sua permanência em Ifé, fugiu em direção ao oeste. Outrora, Olokun lhe havia dado, por medida de precaução, uma garrafa contendo um preparo, pois não se sabia o que poderia acontecer amanhã, com a recomendação de quebrá-lo no chão em caso de extremo perigo. E assim Yemanjá foi instalar-se no entardecer da terra oeste. Olofin, Rei de Ifé, lançou seu exército à procura de sua mulher. Cercada, Yemanjá ao invés de se deixar prender e ser conduzida de volta a Ifé, quebrou a garrafa, segundo as instruções recebidas. O criou-se o rio na mesma hora levando-a para Okun (o oceano), lugar de residência de Olokun, seu pai.
... símbolo de maternidade fecunda
Ela é representada nas imagens com o aspecto de uma matrona, de seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva. Esta particularidade de possuir seios mais que majestosos - ou somente um deles, segundo outra lenda - foi origem de desentendimentos com seu marido, embora ela já o houvesse honestamente prevenido antes do casamento que não toleraria a mínima alusão desagradável ou irônica a esse respeito. Tudo ia muito bem e o casal vivia feliz. Uma noite, porém, o marido havia se embriagado com vinho de palma e, não mais podendo controlar as suas palavras, fez comentários sobre seu seio volumoso. Tomada de cólera, Iemanjá bateu com o pé no chão e transformou-se num rio a fim de voltar para Olóòdun, como na lenda precedente.

Rainha do mar, direta, carinhosa e intolerante
... cuida de todas as cabeças
Para Yemonjá, Olodumare destinou os cuidados da casa de Osalá, assim como a criação dos filhos e de todos os afazeres domésticos.
Yemonjá trabalhava e reclamava de sua condição de menos favorecida, afinal, todos os outros deuses recebiam oferendas e homenagens e ela, vivia como escrava.
Durante muito tempo Yemonjá reclamou dessa condição e tanto falou, nos ouvidos de Osalá, que este enlouqueceu. O ori (cabeça) de Osalá não suportou os reclamos de Yemonjá.
Osalá ficou enfermo, Yemonjá deu-se conta do mal que fizera ao marido e, em poucos dias, utilizando-se de ori (banha vegetal), de omi-tutu (água fresca), de obi (fruta conhecida como nóz-de-cola), eyelé-funfun (pombos brancos) e esò (frutas) deliciosas e doces, curou Osalá.
Osalá agradecido foi a Olodumare pedir para que deixasse a Iemanjá o poder de cuidar de todas as cabeças. Desde então Iemanjá recebe oferendas e é homenageada quando se faz o bori (ritual propiciatório à cabeça) e demais ritos à cabeça.
... Yemonja se apaixona
Orunmilá que tinha os segredos da noite precisava ser detido com seus feitiços desenfreados. Era um dos homens mais bonitos e encantadores, tinha todas as mulheres, mas não queria nenhuma e não amava nenhuma. Osalá queria tirar a maldade e os segredos de Orumila mas só havia um jeito de conseguir tal feito pedindo a mulher mais bonita que o encantasse e tirasse todos os segredos dele.

Então o povo Orisá duvidou e Osalá chamou Yemonja, que não tinha filhos e família e nem um amor para seduzí-lo e conhecer os seus segredos. Então Osalá fez com ela um trato no qual ela só teria essas intençoes e que depois voltaria para reinar ao lado dele novamente. Yemonja foi e com o tempo eles se apaixonaram.

Yemonja e Orunmilá já nao conseguiam viver longe um do outro... ela conseguiu tirar todos os segredos e feitiços dele e eles tiveram muitos filhos Orisás...
Sango
Deus do raio, do trovão, da justiça e do fogo. Sàngó é símbolo do rei Deus em Benin. É o deus do raio e do trovão. Contrariamente a Ògún (Deus dos Ferreiros) que emprega o fogo artificial, Sàngó manipula o fogo em estado selvagem, o fogo que os homens não sabem utilizar. É um orixá temido e respeitado, é viril e violento, porém justiceiro. Costuma se dizer que xangô castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores. Seu símbolo principal é o machado de dois gumes e a balança, símbolo da justiça. Deus do fogo, que pune aos que lhe querem mal com febres e ervas que lhe são atribuídas. Joga sobre os inimigos sua bola de fogo através dos raios, chamadas edunara (pedra de raio que representa o corpo de SÀNGÓ, seu símbolo por excelência, pela mitologia do elemento procriado por um lado e que irmana SÀNGÓ a Esú por outro lado). SÀNGÓ é o antisímbolo da morte, ele não fica aonde há mortes. Sua dança preferida é o Alujá, apresentado com toques diferentes, a dança do machado, a dança da guerra. Branda orgulhosamente o seu Oxé (uma de suas armas) e assim, na cadência, faz o gesto de que vai pegar as pedras de raio e lançá-las sobre a terra, demonstrando seu lado atrevido. Em certas festas traz sobre a cabeça uma gamela de madeira, que contém fogo que começa a engolir, revelando a origem de seu fundamento.

Oxé, usado na Dança de Xangô
 
Tudo que se refere a estudos, a justiça, demandas judiciais, ao direito, contratos, pertencem a xangô. Ambicioso, chega ao poder destronando seu meio irmão ajaka. Passa, então, a reinar com autoritarismo e tirania, não admitindo que sua atitudes fossem contestadas, o que possivelmente levou-o a cometer injustiças em suas decisões. Usa o poder do fogo como seu símbolo de respeito. Galante e sedutor, desperta a paixão da divindade oya(esposa de ógum), uma de suas três esposas - as outras são oxum e obá - .

Circulam a seu respeito, às vezes contradições, mas todos são unânimes em reconhecer seu caráter violento e fogoso. Mesmo se ignoradas em seus detalhes constatamos que sua magia profunda consiste em suprir a tempo os acontecimentos que se superpõem, ao invés de desenrolarem-se ao longo tempo linear e irreversível, ao longo de um tempo mensurável. Seu tempo não tem começo e nem fim, é um tempo reversível que supre sua duração.

Sàngó pode estar morto no rio e ao mesmo tempo estar vivo diante do rei. Está morto... e morto estar vivo. Nele as oposições existem simultaneamente. Para o ser humano tal situação é ambígua e fora de lógica, dois termos contraditórios excluem um ao outro na sincronia. Na lógica de SÀNGÓ os dois coexistem, pois ela é caracterizada pela sincronia e pela interpolaridade. Mortal em seu corpo, imortal em sua essência, o OBA de BENIN é o único soberano de dupla natureza: humana e divina.
"Xangô, como todos os outros imolè (orixás e ebora), pode ser descrito sob dois aspectos: histórico e divino." 
Como personagem histórico,

Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, "Rei de Oyó", filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso, que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì. Dadá-Ajaká, filho mais velho de Oranian, irmão consanguíneo de Xangô, reinava então em Oyó. Dadá é o nome dado pelos iorubás às crianças cujos cabelos crescem em tufos que se frisam separadamente. "Ele amava as crianças, a beleza, e as artes; de caráter calmo e pacífico... e não tinha a energia que se exigia de um verdadeiro chefe dessa época". Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em Igboho, durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de búzios, chamada adé de baáyàni. Depois que Xangô deixou Oyó, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele mostrou-se agora valente e guerreiro, voltou-se contra os parentes da família materna de Xangô, atacando os tapás.

KÁ WÒÓ, KÁ BIYÈ SÍLE : Podemos olhar vossa real majestade.

Xangô, no seu aspecto divino,

Permanece filho de Oranian, divinizado porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oya, Oxum e Obá. Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vêm procurar nos escombros os èdùn àrá (pedra de raio) lançados por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido. Esses èdùn àrá (na realidade, machado neolíticos) são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó), consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas emanações de Xangô e contém o seu àse (axé), o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo sacrifício mais lhe convém.

Fazendo-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição. Na Bahia, diz-se que exitem doze Xangôs: Dadá; Oba Afonjá; Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; Aganju; Baru; Oranian; Airá Intilé; Airá Igbonam, e Airá Adjaosi. Reina uma certa confusão nessa lista, pois Dadá é irmão de Xangô; Oranian é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também na Bahia acredita-se que Ogodô é originário do território Tapá, e que segura dois "oxés" quando dança, sendo o seu èdùn àrá composto de dois gumes. Os Airá seriam Xangôs muito velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savê (ver mapa).
Texto de Aulo Barretti Filho
O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que se fala de Sàngó, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.
Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam, pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà Yemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, e muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar a acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras distintas.
Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que o acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o "ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por paixão.
mulheres de Sango
Osun, Oya e Obá. Mulheres de Sango
Esta afirmação é facilmente notada, pois Sàngó é a única divindade do panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é, em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar. Leia em artigos : O Culto dos Egúngún
Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Sàngó, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sàngó chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sàngó. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.
Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.
NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana. Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foram achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.

Lendas
... arrependido sango retorna a orun
Xangô era rei de oyó, terra de seu pai; já sua mãe era da cidade de empê, no território de tapa. Por isso, ele não era considerado filho legítimo da cidade. A cada comentário maldoso xangô cuspia fogo e soltava faíscas pelo nariz. Andava pelas ruas da cidade com seu oxé, um machado de duas pontas, que o tornava cada vez mais forte e astuto onde havia um roubo, o rei era chamado e, com seu olhar certeiro, encontrava o ladrão onde quer que estivesse.
Para continuar reinando xangô defendia com bravura sua cidade; chegou até a destronar o próprio irmão, dadá, de uma cidade vizinha para ampliar seu reino. Com o prestigio conquistado, xangô ergueu um palácio com cem colunas de bronze, no alto da cidade de kossô, para viver com suas três esposas: oyá ( yansã ) amiga e guerreira; oxum, coquete e faceira e obá, amorosa e prestativa.

Para prosseguir com suas conquistas, xangô pediu ao babalaô de oyó uma fórmula para aumentar seus poderes; este entregou-lhe uma caixinha de bronze, recomendando que só fosse aberta em caso de extrema necessidade de defesa. Curioso, xangô contou a yansã o ocorrido e ambos, não se contendo, abriram a caixa antes do tempo. Imediatamente começou a relampejar e trovejar; os raios destruíram o palácio e a cidade, matando toda a população. Não suportando tanta tristeza, xangô afundou terra adentro, retornando ao orun.
... contas de Sango
Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: "- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre.
... contas de sango, uma outra visão
Sango, filho de Obatalá, era um jovem rebelde e vez por outra saía pelo mundo botando fogo pela boca, queimando cidades e fazendo arruaça. Seu pai, Obatalá, era informado de seus atos, recebendo queixas de todas as partes da terra. Obatalá alegava que seu filho era como era por não haver sido criado junto dele, mas que, algum dia, conseguiria dominá-lo.
Certo dia, estando Sango na casa de Obá, deixou seu cavalo branco amarrado junto à porta da casa. Obatalá e Odudua passaram por lá, viram o animal de Sango, e o levaram com eles. Ao sair, Sango percebeu o roubo e enfurecido saiu em busca do animal, perguntando aqui e acolá. Chegando a uma vila próxima dali, informaram-lhe que dois velhos estavam levando consigo seu animal, o que deixou Sango ainda mais colérico. Sango alcançou os dois velhos e ao tentar agredi-los percebeu que eram Obatalá e Odudua. Obatalá levantou seu opaxorô (cajado) e ordenou: "Sangò kunlé, foribalé". Sango desarmado atirou-se ao chão em total submissão à Obatalá.
Sango tinha consigo seu colar de contas vermelhas, que Obatalá arrebentou e misturou a elas suas contas brancas dizendo: "Isto é para que toda a terra saiba que você é meu filho".
Daquele dia em diante Sango submeteu-se às ordens do velho rei.
... arrependido e justiceiro

SÀNGÓ recebeu das mãos de OLODUMARÈ, o Deus supremo, um pilão de prata que representa a união da terra, ÀIYÉ, com o céu, ÒRUN, o plano paralelo a terra onde moram os Òrìsás. Nesta ocasião SÀNGÓ foi elevado a categoria de OBÁ OYO, rei de OYO, passando a ser o quarto ALÁÀÁFÍN de OYO, sendo o único ser vivo a ter o privilégio de ir e vir da terra para o céu para comunicar-se diretamente com ÒRÚNMÌLÀ, recebendo desse Òrìsá ordens e instruções para este melhor orientar-se em suas decisões na terra. Após contar a ÒRÚNMÌLÀ tudo o que se passava na terra ele retornava feliz , pois sabia que era de plena confiança desse Òrìsá. Como ser carnal ele foi possuído pela ambição, cometendo um pecado imperdoável aos olhos de OLÓÒRUN que, por ser muito justo, jamais aceitou uma traição. SÀNGÓ tentou apossar-se, definitivamente, do governo e dos poderes da terra e de todos os poderes que existiam no espaço. OLODUMARÈ sabendo de tudo que se passava castigou-o, tomando-lhe o pilão que lhe dava o poder de transitar, vivo, para o céu e o poder de governar os homens da terra. SÀNGÓ desgostoso e muito arrempendido dos atos que praticara entrou em completo desespero, de joelhos, rogou perdão a todos os seres maiores, que lhe viraram as costas. Triste e magoado subiu num monte existente em OYO e enforcou-se num pé de OBI , a nóz de cola , o pão de ÒÒSÀÀLÀ .
Porém SÀNGÓ não morreu, desapareceu, ficando o seu espírito entre os dois mundos paralelos a terra. OLÓÒRUN começou a sentir a falta de seu servo, mesmo sabendo de sua traição, pois SÀNGÓ foi apedrejado por todos, pois nessa época era a mais terrível das faltas. OLÓÒRUN pensou, pensou muito e tomou uma decisão, foi até OLODUMARÈ e rogou-lhe perdão em nome de SÀNGÓ, pedindo-lhe trouxesse-lhe seu tão amado servo . OLODUMARÈ então concedeu o perdão a SÀNGÓ, mas com uma condição, que não mais viesse como homem, mas sim como Òrìsá e que todas as pedras que lhe foram atiradas servissem para ele castigar os mentirosoa, os ladrões e que fulminasse os traidores. E assim foi feito. SÀNGÓ retornou a terra como Òrìsà e não mais como ARAYILE ( ser humano ) , representando assim, a ira do próprio OLÓÒRUN contra os homens que se comportam mal na terra, passando a ostentar então um pilão de duas bocas, a parte de baixo representando a terra e a de cima o céu, continuando, assim, a exercer o seu governo em forma de Òrìsá. É proibido o uso de OBI em seus assentamentos, pois lembra a sua passagem de vida e de morte na terra, tornando-se o OBI uma se suas grandes KIZILAS.
... Sango é condenado por Osalá comer como os escravos *
Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para levá-lo à festa que faziam em sua cidade. Oxalá era velho e lento, Por isso Airá o levava nas costas. Quando se aproximavam do destino, vira a grande pedreira de Xangô, bem perto de seu grande palácio. Xangô levou Oxalufã ao cume, para dali mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio. E foi lá de cima que Xangô avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela. Era Oiá! Era o amalá do rei que ela preparava!
Xangô não resistiu à tamanha tentação. Oiá e amalá! Era demais para a sua gulodice, depois de tanto tempo pela estrada. Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando Oxalufã em meio às pedras, rolando na poeira, caindo pelas valas. Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos, que atingiram diretamente o povo de Xangô.
Xangô, muito arrependido, mandou todo o povo trazer água fresca e panos limpos. Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá. Oxalufã aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames, que por dias o povo lhe ofereceu. Mas Oxalá impôs um castigo eterno a Xangô. Ele que tanto gosta de fartar-se de boa comida.
Nunca mais pode Xangô comer em prato de louça ou porcelana. Nunca mais pode Xangô comer em alguidar de cerâmica. Xangô só pode comer em gamela de pau, como comem os bichos da casa e o gado e como comem os escravos. Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - 2001